Crítica
Ouvimos: Man/Woman/Chainsaw, “Eazy peazy” (EP)

- Eazy peazy é o EP de estreia da banda Man/Woman/Chainsaw, que se define como “art punk barulhento e puro direto do coração de Londres”. A banda é formada por Vera Leppänen (voz), Billy Ward (voz e guitarra), Clio Harwood (violino), Emmie-Mae Avery (piano) e Lola Cherry (bateria).
- Um papo da banda com a DIY Magazine explica que a banda começou na escola, com Billy e Vera tocando covers do Nirvana. “Lembro-me de nossa primeira conversa sendo na festa de 15 anos de um amigo em comum sobre os Beatles”, relembra Vera. “Nunca pareceu que estávamos em uma banda, parecia estar brincando com amigos”.
- A banda foi se desenvolvendo a partir de seus shows. “As músicas cresceram muito lentamente em torno do nosso set ao vivo. É interessante porque você pode nos ouvir aprendendo durante a coisa toda porque estamos tentando coisas”, diz Billy, citando como referência o noise-rock irlandês da Gilla Band.
Definir o som dessa banda como “pós-punk”, ou até como “rock”, pode ser quase uma prisão. Em seu EP de estreia, o Man/Woman/Chainsaw faz som ruidoso e ágil sem ser exatamente punk, faz uma música quase orquestral (com riffs e convenções que lembram mais a música clássica do que o rock) sem ser progressiva, e se deixa influenciar pelo expermentalismo ou pela casualidade do indie rock por poucos segundos – isso porque pianos, vocais bacanas e excertos muito bem elaborados invadem as músicas de repente.
Em Eazy peazy, tem uma barulheira infernal lá pela metade, a vinheta Meagan, que dá até sustos no ouvinte, mas é uma exceção num álbum marcado por músicas como a bela Ode to Clio, uma curiosa mescla de jazz, rock orquestral, música cigana e de sonoridades aparentadas a bandas como Electric Light Orchestra e ABBA. The boss, a faixa de abertura, é um pós-punk ágil, com batidinha meio motorik, meio ska, e lembranças de uma estranha mescla de Slits e Supertramp, se é que isso é possível.
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Sports day abre tão marcial quanto as músicas de Pixies e Sonic Youth, até ganhar um refrão grandiloquente, e solo de sintetizador. Grow a tongue in time consegue ser simultaneamente tranquila, camerística e ruidosa, como algo que está prestes a explodir. EZPZ é som hispânico clássico e meditativo, lembrando as intervenções violinísticas que rolavam em canções do Jefferson Airplane, e terminando com algo próximo do folk metal.
As letras do grupo conseguem ser tao surreais quanto sua música, unindo imagens como “espalhada pelo chão da minha cozinha/ela tem apenas braços e pernas/seus membros como cabelos/estrelas do mar espalhadas” (em Ode to Clio) e “ela tem algo pelo qual me tornei desesperado/pele esticada sobre seus ossos/clone de mulher de vitrine” (em Grow a tongue in time, lembrando Frank Black ou Kurt Cobain, só que num clima contemplativo e quase romântico).
Criadores da boa definição “art punk barulhento e puro” para bandeirar seu trabalho, o Man/Woman/Chainsaw está mais para um grupo que destroi barreiras e não tem constrangimento nenhum em se deixar influenciar por sons que vão além do punk e do rock.
Nota: 8,5
Gravadora: Fat Possum
Crítica
Ouvimos: Rocket – “R is for rocket”

RESENHA: Rocket, quarteto de Los Angeles estreia com R is for rocket, disco que mistura pós-grunge, dream pop e nostalgia noventista com boas guitarras e letras afiadas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Não tem como não simpatizar com uma banda com um nome desses: Rocket, “foguete”, remete à figura do homem sozinho no espaço, algo que leva direto a David Bowie, ao glam rock, ao Rocket to Russia dos Ramones, até ao Rocket man do Elton John e ao Rocket dos Smashing Pumpkins.
O disco se chama R is for rocket, e aí já surge algo da soletração de The groover, do T. Rex – copiada pelos Pixies no hit Cactus. Você vai acabar sendo obrigado/obrigada a ouvir o disco, e foi meio assim que me senti ao deparar com o debute desse quarteto de Los Angeles. Parece que tem algo aí que conversa com vários anos de memória rocker, de climas sonhadores ligados ao estilo.
Passada a fantasia inicial, tudo (mais ou menos) no lugar. R is for rocket é um bom disco de rock, uma boa estreia, e um álbum que mexe mais na atualização da nostalgia noventista do que em qualquer outra coisa. Mas parece que a vocalista e baixista Alithea Tuttle, os guitarristas Baron Rinzler e Desi Scaglione e o baterista Cooper Ladomade estão trabalhando com um plano musical na cabeça que envolve atacar por vários flancos diferentes.
Ou seja: se você quiser, pode colocar o Rocket na gavetinha do pós-grunge e do “rock alternativo” norte-americano. Mas o grupo é abrangente a ponto de abrir o disco com um pós-punk eletrônico lembrando The Cure, Wire e Sonic Youth (The choice) e de partir para a luta na grande área do dream pop (em Act like your title).
Lá pela terceira faixa, Crossing fingers, rolam ritmos quebrados numa onda pós-hardcore e lembranças do Foo Fighters e dos Smashing Pumpkins do começo. Um clima que surge também na melódica Another second chance (com um som lindo de guitarra do meio para o final) e na vibe anos 90 de One million, que ganha vocais com doçura shoegaze e onda sonora igualmente próxima dos Beach Boys.
Na segunda metade de R is for rocket, o Rocket traz emanações de Fugazi, Velocity Girl e emo midwest (Pretending e o guitar rock Crazy), ganha um clima sombrio (em Number one fan), volta a mexer no espólio do Sonic Youth (Wide awake) e impressiona pela jam guitarrística e meditativa da faixa-título, que dura quase sete minutos e encerra o álbum.
Já as letras, feitas por Alithea Tuttle, mexem num tema que não estará desatualizado nem daqui a cem anos: a verdade por trás dos relacionamentos, sejam de amor ou de amizade, ou até de parentesco. Nesse departamento, é peia atrás de peia: Act like your title fala de expectativas de família, One million fala de fantasias, Pretending traz manipulação em altíssimo grau (“queria que você provasse que estou errada de alguma forma / mudando a mente de todos / você é tão bom em fingir”).
De alguma forma, o Rocket tentou fazer um disco que, no entendimento deles, pode estar sendo discutido e ouvido daqui a vinte anos – e isso é ótimo.
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Crítica
Ouvimos: The Sinks – “Crise de sonho”

RESENHA: Em 17 minutos, o novo disco do The Sinks condensa duas décadas de fúria punk em letras sombrias, guitarras pesadas e um retrato brutal da desesperança.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: DoSol
Lançamento: 26 de agosto de 2025
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A banda potiguar The Sinks já soma duas décadas de estrada, com uma discografia respeitável. De trio que cantava em inglês, virou quarteto punk com letras afiadas e realistas em português, e lança agora o álbum Crise de sonho. A faixa-título, por exemplo, aposta em bases distorcidas e faladas para lembrar que “a gente acorda todo dia para enfrentar uma guerra que a gente sabe que já perdeu”, mergulhando o/a ouvinte num cenário de desesperança, trabalhos ruins e vida sem horizonte – engrenagens que apenas mantêm a máquina girando.
- Ouvimos: Emerald Hill – À queima-roupa
Em faixas como Limiar e Chave, a sonoridade se impõe como blocos de guitarra, baixo e bateria, em sintonia com o peso de bandas como Devotos e Inocentes, mas envolta numa atmosfera mais sombria. Essa mesma sombra aparece em Ninguém duvida, com um riff de guitarra psicodélico que vem lá de trás, e uma letra que fala de barras-pesadas existenciais: “deixa o teu plano infalível pra depois / que a chuva está pesada e não há nada o que fazer”.
O disco não dá trégua e segue com Sociopatia, carregada de peso e de uma energia garageira marcial, onde surge a figura do ser humano palestrinha que “mente com verdade e deixa clara sua sociopatia”. Já Calma aposta no lado mais sombrio, com ecos de Placebo e Suede, um quê glam-punk e versos que narram uma crise de ansiedade. O encerramento vem com Figura bestial, música que flerta com o power pop em guitarras menos intranquilas, vocais melódicos e uma letra que celebra a catarse pelo grito. Um disco rápido (17 minutos!) e visceral.
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Crítica
Ouvimos: Technopolice – “Chien de la casse”

RESENHA: Banda francesa Technopolice estreia com Chien de la casse, mistura feroz de punk, synths decadentes e caos divertido vindo de outra galáxia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Howlin’ Banana Records / Idiotape / Ganache Records
Lançamento: 26 de setembro de 2025
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Banda francesa ligada ao punk, ao rock de garagem e ao chamado egg punk (estilo feroz, com guitarras pesadas, mas com sintetizadores apodrecidos e clima meio experimental), o Technopolice estreia com Chien de la casse, um paraíso de sons pesados e synths de 16 bits. São onze músicas bem curtas, misturando francês e inglês, que soam como um show na garagem. É o caso de faixas como Hellastic mr. Pox e MCB (essa ultima, com algo de The Damned e Buzzcocks), que abrem o álbum, além de Taaaannnnkkk, que surge na segunda metade do disco.
- Ouvimos: Upchuck – I’m nice now
Daí para a frente, o Technopolice adiciona um condimento a mais, que são os climas espaciais propiciados pelos efeitos de guitarra e teclados. A faixa-título, por exemplo, ganha um baixo meio pós-punk, para em seguida embicar num punk de outros planetas. Nuclear (outra música que lembra The Damned, por sinal), Sortir le soir… e …Regretter après, seguem na mesma onda.
Chien de la casse tem também punk-rock com nostalgia dos anos 1950 (a balada Puke), rock garageiro com pandeirola (Human) e sons com rapidez próxima do hardcore (People). Um disco que soa como um caos divertido vindo de outra galáxia.
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