Lançamentos
Urgente!: Sex Noise relança demo que saiu com “defeito especial”

O selo Caravela Records continua focado em lançar nas plataformas todo o material da histórica banda indie carioca Sex Noise. Já saiu a demo Pultanovinzona (da qual falamos há algumas semanas) e dessa vez sai a última demo oficial do grupo, Psychedelic gongolo, gravada em 1995. A demo foi lançada em formato K7 só um ano depois – isso porque a banda quase decidiu engavetar o trabalho para sempre.
Enquanto a banda (com a mesma formação da demo anterior: Larry Antha nos vocais, Alex Dusky na guitarra, Mario Júnior no baixo e Henrique Santos na bateria) gravava a fita no estúdio Quadrante, em Vaz Lobo, os músicos não tinham percebido que havia um problema técnico na guitarra, que punha um som de apito dissonante ressoando em todas as músicas. Sem grana para regravar, o Sex Noise deixou a demo de lado e passou a fazer inúmeros shows.
“Começamos a desbravar novos lugares, que na época foi batizado pelo Tom Leão no Rio Fanzine (caderno indie do jornal O Globo), como circuito-off. Lugares resenhados em matéria de destaque como o Bar do Fusca em São Gonçalo, e o Farol em Piratininga”, relembra Larry.
O Sex Noise só lançou a demo quando decidiram encarar o tal “defeito” na guitarra como um efeito especial – quase como se fosse um pedal usado por uma banda barulhenta tipo My Bloody Valentine. Aliás, em termos de som, o grupo estava bastante influenciado por bandas como Smashing Pumpkins, em faixas como Quero siri e Caixacão dentro. Pixies, Sonic Youth, Hole, Mudhoney, Nirvana e Dinosaur Jr também estavam na lista de bandas ouvidas pelo Sex Noise na época. “Cequiépeixe eu sou bagre é total Sonic Youth, mesmo com a guitarra do Alex emitindo aqueles ruídos, o que acabou encaixando como uma luva”, conta o vocalista.
Um detalhe que chamou a atenção na demo foi a capa, toda colorida – cor em capa de fita demo era algo que, nos anos 1990, parecia privativo das bandas indie da Zona Sul carioca. A galinha sangrenta da capinha foi (pode acreditar!) inspirada por leituras de Perto do coração selvagem, livro de Clarice Lispector.

“Num momento específico do livro a autora falava da inocência das galinhas que mal sabiam de sua curta vida antes de virar um assado. Tudo isso misturado no nosso liquidificador mental, culminou na descoberta de que a banda paulista Vzyadoq Moe, que idolatrávamos, também era influenciada por Clarice Lispector. Então foi só juntar tudo e pedir a um amigo desenhista da Sociedade HQ, o Alexandre Master, que fizesse um desenho com uma galinha, com sua vida sendo transpassada como estrada”, conta Larry.
Uma outra curiosidade relativa a Psychedelic gongolo, é que aquela fitinha que quase foi engavetada acabou dando espaço ao Sex Noise no mainstream: o então adolescente Rafael Ramos, hoje produtor, comprou uma fitinha e sugeriu ao pai, o então executivo da EMI João Augusto (e hoje chefe da gravadora Deck), a entrada do Sex Noise numa coletânea de bandas novas da gravadora, Paredão, que sairia em 1996. A frase “o resto é história”, enfim, cabe como uma luva nisso aí.
Texto: Ricardo Schott – Foto: André Mansur / Divulgação
Crítica
Ouvimos: Katy da Voz e As Abusadas – “A visita”

RESENHA: Álbum novo de Katy da Voz e As Abusadas, A visita mistura funk, punk, metal e synthpop em faixas violentas, sexuais e empoderadas, homenageando Claudia Wonder com energia feroz.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de outubro de 2025
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Travesti ativista do underground paulistano oitentista, Claudia Wonder era chegada em doideiras como cantar banhada de sangue, ou numa banheira de groselha – numa ocasião, a groselha foi parar no olho de João Gordo, segundo o próprio contou em entrevistas. Também esteve à frente de bandas de rock como o Jardim Das Delícias, grupo com sonoridade pós-punk (a música-título Jardim das delícias, que está no YouTube, lembra o Teardrop Explodes) que contava com integrantes do grupo paulistano Kafka na formação.
- Ouvimos: Mia Badgyal – Mucho sexy
Daí que Claudia é bastante lembrada como inspiração em A visita, novo álbum do trio Katy da Voz e as Abusadas – basicamente uma união azeitada de funk, house music, punk e metal, indo além de nomenclauras como electroclash e outras coisas. O disco começa com Santo, synthpop com bateria de escola de samba, spoken word, participação de Lynn da Quebrada, guitarra pós-punk e uma anti-oração na letra (“me traga saúde, saudade, dinheiro / você está me escutando, santo?”). Navalha une metal, funk e batidão dance, numa porrada existencial e musical. Na força do ódio mantém um clima unindo batida forte, sexo e zoeira.
Existencialmente, A visita não é putaria pura e simples – como rola no disco de Mia Badgyal, Mucho sexy, é afirmação, empoderamento, sexo e uma estranha vontade de devolver os maus-tratos do mundo numa moeda bem mais violenta e sexualizada. Daí tem a dance music derretida e pesada de Sufocunty e o metal dance de Salto (com MC Taya, que ajuda a música a quase se transformar em algo parecido com um Ministry Miami-bass).
Tem também a zoação de rolar de rir de QRcude – esta, um funk violento que lembra Cabaret Voltaire e Alien Sex Fiend, e que pede que você escaneie “seu cu na porra do Qrcude / cria um código / põe um foto / para ver sua nude (…) / e já podemos foder ele / a partir de hoje”. No final, Disco inferno, um synthpop vingativo e cheio de altas energias, que preconiza: “eu vou pro inferno / e quando eu achar essa vagabunda no inferno / eu vou matar ela de novo”.
Pode ser que não aconteça com Katy da Voz, Palladino Proibida e Degoncé Rabetão o que elas pedem no funk pesado Famosa (“famosa eu quero ser / acordar às 8h / e aparecer no Mais você”, gritado entre samples do “top de 5 segundos” da Rede Globo). Quem perde é a televisão matinal brasileira, por não programar essa afronta musical e underground.
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Crítica
Ouvimos: Soulfly – “Chama”

RESENHA: Soulfly acerta com Chama, 32 minutos de peso, ambiência e rituais sonoros: thrash, hardcore, doom e groove se misturam num disco curto, intenso e surpreendente.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nuclear Blast
Lançamento: 24 de outubro de 2025
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Enquanto o Sepultura vira discussão de bar (“vai acabar ou não?”, “vai ter reunião com os irmãos Cavalera ou não?”, “poxa, mais uma troca de baterista?”) tem quem não perceba no que o Soulfly, banda criada por Max Cavalera ao sair do grupo, se transformou com o passar dos anos. Boa parte das antigas experimentações do Sepultura foram parar na conta de Max – que, com o grupo “novo”, experimentou grooves, fez thrasheira como no comecinho de sua ex-banda, muita coisa.
Já Chama, décimo-terceiro álbum do Soulfly, é um álbum tão imersivo e tão pesado que fica difícil colocá-lo em alguma categoria comum do heavy metal. Com o filho Zyon Cavalera na produção, o grupo passa a contar com uma mescla de peso e ambiência em que vozes se misturam à música (a rápida Indigenous inquisition, que abre o disco) e instrumentos como guitarra e bateria se transforma em verdadeiros tanques de guerra (Storm the gates, uma porrada funkeada e quase industrial, em que Max destaca-se pelo vocal desesperado e cheio de invocações).
- Ouvimos: Trivium – Struck dead (EP)
Essa tensão de climas permite que Ghenna, iniciando como hardcore, se torne um verdadeiro ritual sonoro e guitarrístico. E cria uma linha do tempo entre o Metallica da primeira fase e o doom metal em Nihilist, além de ir do quase pós-hardcore ao thrash metal nas apocalípticas Black hole scum e Favela / Dystopia. Já No pain = no power, com percussão de samba e guitarras que soam como buzinas ou lâminas, apela para a resistência de cada um ao seu próprio dominador: “Busque o destruidor interior, veja o mundo queimar / para morrer com minha espada / sem dor, não há poder”.
Talvez para dar uma cara diferente ao trabalho de Max – cuja carreira costuma ser marcada por discos de longa duração – Chama é curto e direto: dez faixas, 32 minutos, recado dado. Como já rolou em vários discos do Soulfly e do Sepultura (neste caso, com e sem Max), há surpresas no final. A devoção a Oxóssi e a recordação do extermínio indígena são os temas da quase psicodélica Always was, always will be, que abre com efeitos de gutarra, drones e percussões, e emenda numa citação de Refuse + resist, do Sepultura, num clima sonoro que se eleva ao céu. Soulfly XIII é um instrumental belo e ritualístico. Na faixa-título, que encerra o disco, o peso retorna em forma de rap-groove-metal, mas a música se torna quase um dub-metal das matas. Ficou bonito.
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Crítica
Ouvimos: Sha Ru – “Vibra vibra”

RESENHA: Duo Sha Ru mistura dubstep, drum’n bass e ruído em Vibra vibra, EP cheio de voz tratada, batidas sujas e clima experimental hipnótico.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de outubro de 2025
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O Sha Ru é um duo nômade, que funciona entre Nova York e Berlim, e que se localiza entre estilos como dubstep e drum’n bass, mas sempre acrescentando experimentalismos diversos. Tanto que o EP Vibra vibra é basicamente uma viagem de ruídos, que começa parecendo algo feito para assombrar (em HZ bath), ganhando depois uma batida meio industrial, meio eletrônica. Vibrasun, na sequência, é mais ritmo do que melodia: o beat se aproxima de algo quase reggae, associado ao vocal com efeitos.
- Ouvimos: Stealing Sheep – GLO (Girl Life Online)
Uma experimentação que é marca de Vibra vibra (cujo lançamento abre uma nova série da dupla) é o uso da palavra falada como algo que pode ser transformado e recriado como melodia ou ritmo. Above, below, around é cheia de ruídos que se assemelham a gritos ou cantos, em loop – é um drum’n bass que depois ganha uma aparência de raggamuffin sujo. To know repete o título por toda a faixa, abrindo como um Miami bass apodrecido e herdado diretamente do Kraftwerk do disco Computer world (1981), transformando-se numa dance music psicodélica e hipnótica. Press thirteen (VIP) tem som vindo lá de longe, e vai ganhando mais densidade e mais peso.
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