Crítica
Ouvimos: Jean Caffeine – “Generation Jean”

RESENHA: Jean Caffeine mistura punk, sixties, pós-punk e introspecção em Generation Jean, disco variado, intenso e cheio de humor.
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Nascida em 1960, a cantora e compositora Jean Caffeine participou ativamente da cena punk de San Francisco, tocou numa banda que abria shows do The Clash (o curiosíssimo Pulsallama, um conjunto de percussão de formação variável, chegando a 13 integrantes) e mudou-se anos depois para Austin, no Texas, onde desenvolveu carreira como compositora e, depois, cantora. Só que ela foi para um lado bem diferente do universo com o qual ela estava acostumada: passou a tocar em cafés e a misturar punk rock e sons mais introspectivos.
Generation Jean, seu novo álbum, é uma mescla dessas duas ondas, com referências sessentistas unidas a sons bem mais selvagens – sendo que as próprias viagens 60’s de Jean já são selvagens o suficiente. Love what is it?, na abertura, inicia com batida marcial, ganha ares de música francesa ou hispânica, e embica numa balada meio Beatles, meio Replacements, com ótimas guitarras. Big picture une Byrds e Beatles, com romantismo na melodia, e amor desarrumado na letra. I always cry on thursday, com clima sixties e batidinha eletrônica, parece uma zoação com Friday I’m in love, do The Cure – com Jean admitindo que a quinta-feira só torna o fim de semana mais distante. E ainda por cima ela gravou The kids are alright, do The Who – só que numa versão em que parece que a música era dos Pretenders.
Desenvolvendo um rock estiloso em todas as faixas do disco, Jean abraça o blues, o jazz e a música sombria em Mammogram – sim, ela fez uma música sobre mamografias e conta em detalhes como é o exame. Também volta a visitar o rock sessentista no power pop I don’t want to kill you anymore e I know you know I know, e visita o pós-punk em Circuitous routes. No final, tem You’re fine, dance-punk que lembra uma paródia suja da levada de Psycho killer, dos Talking Heads. Largue tudo e ouça agora.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: FLAK Records
Lançamento: 5 de setembro de 2025.
Crítica
Ouvimos: Continue – “Imenso nada”

RESENHA: Em Imenso nada, o Continue mistura pós-grunge, psicodelia e pós-punk com belas melodias e guitarras cheias de atmosfera.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Coffin Joe Records
Lançamento: 7 de agosto de 2025.
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Vindo do ABC paulista, o Continue é formado por Natália Zanellato (voz), Bruno Molino (baixo), Diogo Marino (bateria), Alê Kaimer (guitarra) e Rafael Fernandes (guitarra). Imenso nada, primeiro álbum do grupo, foca mais em estilos próximos do pós-grunge, mas faz isso inserindo climas ligados à psicodelia (Içar velas, que tem algo do Radiohead no som), ao pós-punk (Imenso nada, Céu do planetário, a união de punk e riffs herdados de Smiths e Billy Idol em Síndrome de harpia) e até punk-pop trevoso com emanações de Hüsker Dü (Mercúrio retrógrado, Cerrando os dentes).
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Ao contrário do receituário comum das bandas pós-grunge, o Continue valoriza melodias bonitas e guitarras com clima elaborado. No blues fantasmagórico Lavadeiras, as guitarras imitam som de rio, e no pós-punk + shoegaze Medo, elas criam uma ambientação sonora tristonha – assim como em Céu do planetário, elas impõem beleza mesmo numa sonoridade abrasiva. Chegando perto do fim do álbum, Áfricamérica une afropop + punk + MPB, trazendo um som bem mais limpo que no restante do disco.
Na real, faz até uma certa falta que o fim de Imenso nada tenha mais peso, ou volte no clima misterioso do início. Ainda assim, o Continue mantém a criatividade do disco em alta, lembrando um Wilco abolerado na desolada Falsa visão, e fazendo uma música mais introspectiva e confessional em Lado certo.
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Crítica
Ouvimos: Zaynara – “Amor perene”

RESENHA: Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Sony Music Brasil
Lançamento: 9 de outubro de 2025
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O beat melody, estilo defendido pela paraense Zaynara, é um primo do tecnobrega, só que mais chegado ainda às raízes do brega paraense: ele tem influências mais demarcadas de calipso, ao mesmo tempo que junta tudo com música eletrônica (ela própria explicou a receita num papo com o Gshow ano passado), e não dispensa a sofrência como assunto de letras e músicas.
Isso tudo junto em doses às vezes iguais, às vezes desiguais, faz com que o som de Amor perene, segundo disco de Zaynara – e sua estreia pela Sony Music Brasil – tenha lá um certo lado pop que se assemelha ao sertanejo. Ou pelo menos à apropriação de gêneros feita pelo estilo, que volta e meia se avizinha do som dela em alguns refrãos – como o de Eu me enganei, uma sofrência bacana que surge na metade do álbum.
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Pra dizer a verdade, tudo isso aí só torna a audição de Amor perene uma experiência mais instigante. Do começo ao fim, ele é um disco de festa e uma investigação particular do encontro entre brega, latinidades, guitarras e até referências do rock e do pop gringo. A faixa-título mistura folk-pop, sons grandiloquentes na onda do Coldplay, e o refrão parece versão de hit estrangeiro. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA.
5 estrelas, música criativa que narra uma conversa romântica entre uma passageira e um motorista de aplicativo, tem participação do baiano Tierry, e é um tema esperando por uma trilha de novela – e quem sabe, por uma personagem. Se vira aí abre com um piano simples e elaborado, e embica numa balada brega. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA. O fim do disco é com a dance music paraense de Perfume da bôta. Essa onda vai pegar.
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Crítica
Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025
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Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.
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O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.
Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.
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