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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Electric Warrior, do T. Rex

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Em 1971, não tinha ser humano com a autoestima maior que Marc Bolan, líder do T. Rex. O sucesso de Electric warrior, segundo disco da banda (e sexto desde o começo como Tyrannosaurus Rex) detonara uma verdadeira Bolanmania na Inglaterra, que marcou profundamente as vidas de uma turma enorme de roqueiros, cujas carreiras começariam entre 1976 e 1980.

Ídolo de garotos e garotas que estavam com 14, 15 anos, e posteriormente descobririam David Bowie e o punk rock, ele se achava com cacife o suficiente para cunhar afirmativas como: “Nem Dylan nem Lennon são melhores do que eu, e eles sabem disso. Eles sabem onde estou: sou diferente, como eles. Eu sabia que era diferente desde o momento em que nasci”, contava.

O entendimento de Bolan era impreciso, óbvio. Isso porque o reinado do T. Rex não duraria muito, e o cantor e compositor viraria um ídolo de outrora em pouco tempo. Mas seu legado perduraria. Morto em 1977 num acidente de automóvel, Bolan pairou nada silenciosamente sobre Ramones, Buzzcocks, The Cure, Sigue Sigue Sputnik, Red Hot Chili Peppers (John Frusciante é fã), Sex Pistols, Stone Temple Pilots, Suzi Quatro, Prince, Rita Lee & Tutti Frutti (Arrombou a festa só existe porque o boogie futurista de Bolan existiu um dia) e tudo o que, no rock pós-1971, soou como se tivesse vindo de galáxias muito distantes. E convidasse para a dança, a roda e a festa.

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E esse é o nosso relatório sobre Electric warrior, marco zero do glam rock. Ouça lendo, leia ouvindo.

VIOLÃOZINHO. O Tyrannossarus Rex, basicamente uma dupla de folk hippie sujinho, era formado por Marc Bolan violão e voz) e um sujeito chamado Steve Peregrin Took, que tocava percussões, sininhos, xilofone infantil e tudo o que mais aparecesse pela frente. Surgiu em julho de 1967 e, como pediam os tempos bizarros da aurora do glam rock, era a terceira tentativa de Bolan de fazer sucesso.

ORGASMO. Marc, antes do Tyrannossaurus, tivera uma carreira frustrada como guitarrista solo de uma banda mais-ou-menos da psicodelia. Era o John’s Children, que em 1970, já sem Bolan, escandalizaria geral gravando um disco chamado Orgasm. Mas o momento mais parecido com um “agora vai!” foi quando ele, munido de algumas canções solo, conseguiu atrair a atenção do empresário e produtor dos Yardbirds, Simon Napier-Bell, no finalzinho de 1966.

NÃO FODE, KEITH! Simon já tinha 27 anos e estava de saco cheio dos Yardbirds. Em especial do cantor Keith Relf, que dava ataques trágicos de estrelismo: ligava o dia inteiro para o empresário para reclamar da turnê australiana do grupo e, certa ocasião, disse que não subiria no palco sem que lhe dessem um par de meias novas (!). Bolan foi como uma lufada de vento na vida do empresário: quando ele adentrou seu escritório, Simon teve a impressão de que estava diante do novo Elvis.

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SÓ QUE… A bendita autoestima de Bolan quase põe tudo a perder. Simon pedira-lhe que levasse uma fita para o encontro. Munido de um violão, o cantor não levou tape nenhum e disse que poderia cantar o repertório para o empresário. “Marc tinha material suficiente para quatro discos, mas não queria gravar. Ele estava numa ego trip bizarra naquela época, achava que era só espalhar uns pôsteres dele por aí, que as pessoas veriam as fotos dele e as coisas aconteceriam”, revelou Simon.

MAS O DISCO FOI FEITO. Bolan disse que faria as gravações, mas só com voz e violão. Saíram 14 músicas, gravadas em oito horas, sem overdubs e sem esconder a técnica precária de Bolan no vocal e no violão.

AO TERMINAR TUDO, segundo Simon, Bolan estava tão confiante que disse “é isso aí, tenho um disco e ele vai acontecer”, muito embora qualquer pessoa soubesse que um álbum vacilante daqueles, gravado numa época em que os estúdios se modernizavam rapidamente, jamais chegaria às lojas. Ele só sairia em 1972, num disco acrescido de faixas bônus chamado Hard on love. O álbum foi relançado em 1974 como The beginning of doves. Em 1981, Napier-Bell acrescentou guitarra, baixo e bateria às músicas e relançou o material como You scare me to death.

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O QUASE HIT DESSE REPERTÓRIO foi essa canção aí de cima, You scare me to death, feita alegadamente como jingle de uma fábrica de pastilhas (“você me assusta até a morte com seu bafo horroroso”, diz o bizarro refrão).

MAS Bolan, na real, lançou um single sob os auspícios de Napier-Bell, Hippy gumbo. Uma canção polêmica, que narrava um crush gay numa época em que homossexualidade era crime na Inglaterra.

A EMI prometeu lançar o disco caso Simon, ainda envolvido com os Yardbirds, desse um jeito na banda, que, gravando um disco pela mesma empresa, passava a maior parte do tempo de estúdio brigando. Saiu, mas fracassou miseravelmente.

CABEÇAS DINOSSAURO. Steve Peregrin Took, cujo nome verdadeiro era Steve Porter (e cujo nome artístico vinha de certa adoração hippie ao livro O Senhor dos Anéis, de Tolkien), fizera parte da primeira e fracassada formação do Tyrannossaurus Rex, quando Bolan tentou montar uma banda de rock formal, com guitarra, baixo e bateria. Ficou apenas na percussão, enquanto Bolan cantava suas canções folk cheias de letras viajantes.

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A OPÇÃO pelo novo set veio, em parte, por restrições orçamentárias: Took devia uns meses de aluguel e precisou vender sua bateria. Bolan também tinha assistido a um show do indiano Ravi Shankar e achou que o formato dava pé.

ALIÁS E A PROPÓSITO, quem ajudou muito a dupla foi o DJ John Peel, da BBC. Peel quase contratou o Tyrannossaurus Rex para seu selo Dandelion. Em 1968, Bolan e Took foram contratados pelo selo Regal Zonophone e sob produção de Tony Visconti, lançaram um primeiro disco de nome bizarro: My people were fair and had sky in their hair… But now they’re content to wear stars in their brows.

O PRIMEIRO DISCO não deu muito certo, mas garantiu algum aiprlay e alguns fãs para o grupo. Quem não ficou muito tempo por lá foi Peregrin. Steve foi saído do Tyrannosaurus Rex por, supostamente, ter jogado doses do alucinógeno STP num ponche preparado para o lançamento da versão inglesa da Rolling Stone – o parceiro Bolan, desavisado, provou da bebida e pagou mico na festa. Obrigado contratualmente a permanecer na banda durante uma turnê norte-americana, aproveitou para tocar o zaralho: caiu de boca nas drogas, deu uma de Iggy Pop (chegou a chicotear-se no palco) e horrorizou geral.

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ATÉ SAIR, Peregrin gravou três LPs com o Tyrannossaurus Rex. O quarto, A beard of stars (1970), já trouxe Mickey Finn, novo parceiro de Bolan, em seu lugar. Finn era tido como um músico bem menos cheio de atributos que Took e a piada era que ele havia entrado só por ter boa aparência e uma moto “maneira”. Mas Finn foi fundamental na transição “elétrica” do grupo, acrescentando baixos ocasionais e bongôs latinos à mistura.

EM MARÇO DE 1970 o Tyrannosaurus Rex foi lançar A beard of stars com um showcase para jornalistas na redação da revista Melody Maker. Deram azar: a dupla apareceu na hora do almoço, e só Chris Welch, um dos jornalistas da publicação, estava na hora do show. Antes que Welch pudesse mostrar o quanto estava gostando do show (e ele estava) algum repórter da revista Cycling, cuja redação era na sala ao lado, bateu na parede e gritou, reclamando do barulho.

UM HIT, ENFIM. A dupla passou por uma diminuição de nome (de Tyrannossaurus Rex para T. Rex), de sonoridade (do folk zabelê para o som eletrificado e roqueiro) e de gravadora: o elenco do selo Regal Zonophone foi para a recém-criada Fly Records. O primeiro disco da nova fase, T. Rex, saiu em dezembro de 1970, com nova imagem na capa: Bolan fez questão de posar com sua guitarra, mostrando que era a hora do som elétrico, e não dos violões da fase anterior. E finalmente a banda conseguiu um hit: Ride a white swan, que saiu em single e estava apenas na versão americana no disco, estourou e levou a dupla ao Top of the pops.

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COM Ride a white swan, o T. Rex virou mania entre adolescentes de uma hora para a outra, e conquistou um número de fãs que a dupla não tinha antes. Bolan, por sua vez, estava felicíssimo com o fato de poder aparecer em pé no palco – o cantor incluía em seus números, além dos mergulhos na guitarra, uma dança lasciva e andrógina, além de aparecer vestido com roupas chamativas e brilhantes, e de adotar o glitter no rosto. Ao Record Mirror, chegou a dizer que estava cansado de aparecer sentado no palco, como na época dos shows com Peregrin Took.

QUEM VIU o T. Rex no Top of the pops e se apaixonou por Bolan (e comprou o single com Ride a white swan) foi a futura cantora Toyah Wilcox, 12 anos em 1970. “Parte da rebelião dele, é que ele era um cara feminino, de verdade. Uau, um cara que usava maquiagem, vestia cetim, era gentil ao falar. Era uma rebelião gentil, poética”, recordou.

TOYAH era uma das fãs da verdadeira legião de admiradoras (e admiradores) que o T. Rex conseguiu, partindo do folk riponga para o boogie futurista que passariam a fazer em Electric warrior. Um disco, por sinal, feito com uma certeza na cabeça: sucesso na Inglaterra, o T. Rex começava a interessar ao mercado americano. Especialmente depois que outro single, Hot love, chegou ao número 1.

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O T. REX fez sua primeira tour nos EUA em abril de 1971, e Tony Visconti, americano radicado na Inglaterra desde 1967, resolveu ir visitar a família em Nova York. Foi ao show do T. Rex e, nos bastidores, já soube por intermédio da dupla Mark Wolman e Howard Kaylan (o Flo e o Eddie dos Turtles) que haviam marcado uma sessão no Media Sound para apresentar os estúdios americanos ao T. Rex.

VISCONTI avisou que se havia um disco para sair disso aí, ele fazia questão de produzir. Bolan já havia gravado coisas em Londres mas não havia exatamente um disco planejado: o músico queria só registrar material que havia acabado de compor. O produtor, vendo que Marc andava para lá e para cá com um caderno cheio de letras e ideias, disse que se ele trabalhasse bem naquilo, teria um disco pronto.

NOSTALGIA. Electric warrior era, vale dizer, um fruto típico de uma era em que o rock, uma arte jovem, estava começando a viver sua primeira era de nostalgia. Uma época em que havia Elvis Presley fazendo turnês, artistas do começo do estilo participando de festivais e todo mundo chorando as mortes de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones. E morrendo de saudades dos Beatles.

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ALIÁS E A PROPÓSITO, Bill Legend, baterista que participou das sessões do disco, recorda-se claramente de Bolan dizendo que queria que a energia do álbum fosse parecida com a dos discos de rock dos anos 1950 que ele ouvia na infância.

LEGEND também credita a energia do disco ao fato de tudo ter sido gravado ao vivo, “com os músicos olhando uns para os outros”. “Você não pode ter isso gravando os instrumentos em separado, não é real”, explica.

SOM PRÓPRIO. Quem viu as gravações de Electric warrior lembra que Bolan trabalhou feito um maluco para conseguir dar ao disco um som com personalidade. Usou amplificação valvulada em todo o álbum, e dispensou vários instrumentos que tinha para usar uma Gibson Les Paul 1958, além de seus pedais com efeitos. Também fazia questão de mostrar alguma faixa emperrada para Visconti quando não chegava a alguma conclusão. Cosmic dancer, por exemplo cresceu bastante com o arranjo de cordas.

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ALIÁS E A PROPÓSITO, desde 1970 o T. Rex já era uma banda de verdade. Enfim, uma banda que era dupla (!), mas que na capa de Electric warrior era representada apenas pelo vocalista e guitarrista (!!). Do disco de 1971 participaram Bolan, Finn, Legend e Steve Currie (baixo), além de Flo & Eddie (vocais), Ian McDonald e Burt Collins (sopros e metais). Visconti fez arranjos de cordas.

RICK WAKEMAN, então um pobre músico de estúdio que estava desesperado para pagar o aluguel, supostamente fez o piano de Get it on, primeiro single do disco. Digo “supostamente” porque testemunhas dizem que o músico galês Blue Weaver (que tocou nos Strawbs, onde Wakeman também tocara) passou igualmente pelo estúdio e tocou tudo o que havia de piano na faixa.

SÓ QUE Wakeman teria encontrado Bolan, e lhe pedira trabalho. Foi convidado a ir ao estúdio e, ao ouvir o material, teria dito a Visconti que o disco não estava precisando de mais piano. Visconti pediu a ele que fizesse os glissandos de piano que aparecem na música, ganhou a grana do aluguel e ficou tudo bem.

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O SINGLE. Get it on saiu em 2 de julho de 1971. Mas nos EUA, mercado importante para o T. Rex àquela altura, a canção mudou de nome para Bang a gong (Get it on). Isso porque havia uma música também chamada Get it on, lançada por um grupo chamado Chase.

QUEM É ESSE TAL DE CHASE? Ok, sabemos o que você está pensando: o T. Rex mudou o nome da sua música por causa de um grupo do qual ninguém nem lembra. Acontece que o Chase era uma banda de jazz-rock bem bacaninha e o bom single Get it on, lançado em maio de 1971, passou nada menos que 13 semanas no Billboard Hot 100. O Chase teve vida curta: em 1974 o vocalista Bill Chase morreu num acidente de avião. Entre 1977 e 1979, a turma da primeira formação se reuniu num grupo de tributo e até gravou um disco novo, Watch closely now.

BOLAN disse que sua grande inspiração ao fazer Get it on foi Little queenie, de Chuck Berry, que ele chegou a pensar em gravar. Fez um pequeno roubo no riff da faixa e acrescentou o “and meanwhile, I’m still thinking”, da canção de Berry, no final. A canção foi uma das faixas gravadas durante as sessões em Londres, no Trident Studios.

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QUEM DEIXOU CLARO que não havia gostado muito da música nova foi… ninguém menos que John Peel, outrora amigo de todas as horas de Bolan. Peel ganhou um single promocional e não tocou a faixa. Apesar de ser amigo de Bolan, Peel não se sentia obrigado a tocar nada de ninguém se não gostasse da música. Os dois se falaram apenas uma vez até a morte de Bolan em 1977. Peel tentou fazer contato com ele em 1971, quando soube que Bolan havia se chateado, e não conseguiu.

IAN McDONALD, o saxofonista que toca em Get it on, era integrante de primeiríssima hora do King Crimson. Tocara na estreia In the court of Crimson King (1969) e, antes disso, tocara como convidado no embrião da banda, Giles, Giles & Fripp, banda formada pelo guitarrista Robert Fripp com os irmãos Michael Giles (bateria) e Peter Giles (baixo). Em 1976, wow, tornaria-se um dos fundadores do Foreigner. Olha ele aí no sax.

EXISTEM DOIS CLIPES de Get it on. Num deles, o T. Rex aparece num cenário poluído visualmente, durante uma apresentação num programa de TV austríaco. Mas no clipe tido como oficial, o T. Rex aparece no palco do Top of the pops e ninguém menos que Elton John está no piano.

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ELTON não estava lá à toa: era muito fã de Marc e considerava o cantor uma espécie de mentor. “Era um grande amigo e um pop star perfeito”, disse Elton. Ano passado, ele e o U2 regravaram a própria Get it on juntos.

ACÚSTICO. O livro Cosmic dancer – The life and music of Marc Bolan, de Paul Roland (uma das fontes desse texto) nota que, apesar das mudanças na sonoridade do T. Rex, a banda não deixou de investir em canções acústicas, como Cosmic dancer e Girl. Também apontou um detalhe sobre Bolan como letrista: ele não era um cara exatamente literato ou irônico, como Bob Dylan ou John Lennon. Mas tinha a capacidade de escrever letras que pareciam com temas infantis, e que geralmente vinham de imagens que batiam em sua mente e logo eram aproveitadas.

E ESSA CAPA AÍ? A biografia também aponta para um detalhe básico: Electric warrior é o único disco de Bolan a não trazer seu rosto na capa. A imagem da capa, que traz a silhueta do cantor, foi feita pela empresa Hipgnosis a partir de uma foto do cantor durante um show no Albert Hall, em Nottingham, dia 14 de maio de 1971. Olha a imagem original aí, antes do tratamento.

Várias coisas que você já sabia sobre Electric Warrior, do T. Rex

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UM CLÁSSICO do cinema pairava como referência em Electric warrior: era 2001 – Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick. O amplificador por trás de Bolan é uma referência ao monolito do filme (o mesmo que inspirou a capa de Who’s next, do Who). E, ora vejam só, o disco tem uma canção sobre “consciência cósmica” chamada… Monolith.

ALIÁS E A PROPÓSITO, Monolith – geralmente tida como uma resposta de Bolan a Space oddity, do amigo-rival David Bowie – tem outra influência básica: o hit pop The duke of Earl, de Gene Chandler. Bolan pegou a melodia original, deu uma ralentada, umas modificações pequenas e fez outra canção na cara de pau.

OUTRA REFERÊNCIA do disco: You’ll be mine, do bluesman Howlin’ Wolf, serviu de inspiração para a letra e a levada de Jeepster.

A ÚLTIMA FAIXA DO DISCO, Rip off, termina com um improviso barulhento de guitarra, sax e cordas. Tony Visconti diz que tudo nessa faixa foi feito quase inconscientemente. “Quando as pessoas dizem que parece que pertence a outro lugar, digo: absolutamente certo! Foi feito com outra parte do cérebro”, contou.

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ALIÁS E A PROPÓSITO, Electric warrior teve algo em comum com outro disco do “várias coisas que você já sabia sobre”, The Who sell out, do Who (1967). Também vinha com um “pôster grátis’, só que trazendo uma imagem de Marc relaxadão numa poltrona, com os outros músicos atrás dele.

DE MODO GERAL, a arte de Electric warrior foi respeitada nos países em que foi lançado. No Irã, uma edição pirata transformou o lay out numa imagem com contornos prateados. Em Israel, o título foi acrescentado à capa, junto de um aviso “inclui Jeepster e Get it on”. Na Alemanha, a versão 8-track passou de preto para branco. No Brasil, a Polydor lançou o disco, mas com uma inscrição “série Rock Power – a nova geração elétrica”, acima do nome da banda. Por causa disso, os pés de Bolan foram cortados da capa.

ESSA TAL SÉRIE Rock Power fez estragos nas capas de discos de Jade Warrior, Manfred Mann’s Earth Band e Audience.

DEU CERTO? E como. Electric warrior saiu em 24 de setembro de 1971 e pôs Bolan na aristocracia do rock mais rápido do que se esperava, com discos vendendo a rodo, entrevistas, adulações de outros grandes astros (Ringo Starr virou quase seu irmão mais velho por alguns anos). Ficou 44 semanas nas paradas da Inglaterra e entrou para a classificação 32 no chart Billboard 200.

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O MINISTÉRIO DO SUCESSO ADVERTE. O livro de Paul Roland diz que nem tudo foram flores na vida de Bolan após o sucesso. Ou melhor: talvez o excesso de flores provocasse problemas. Bolan começou entrar numa egotrip meio bizarra, na qual misturavam-se sentimentos de eu-sou-o-fodão e momentos de inadequação e insegurança. Além de uma ideia, lá no fundo, de que aquilo tudo podia ir embora. Marc em vários momentos afastou-se dos amigos e afogou as mágoas na bebida e na cocaína.

OS AMIGOS afirmam que Marc vivia numa espécie de monastério, bastante perigoso e confuso. Elton John conta que o amigo “vivia num mundo de fantasia do qual não queria sair”. Tony Visconti diz que as pessoas próximas “precisavam alimentar as fantasias de Marc e levá-las adiante, e ninguém podia tirá-lo dessa bolha de plástico”. Steve Currie acredita que alguém perto de Marc alimentava o lado egocêntrico do cantor, “e pôs na cabeça dele a ideia de que ele era a melhor coisa já inventada desde o pão fatiado”.

MESMO ASSIM Bolan não podia reclamar de falta de sucesso. Aliás, era tanto sucesso que a coisa começava a ficar perigosa. No começo da turnê britânica do T. Rex, em maio de 1971 (portanto alguns meses antes de Electric warrior sair), dezenas de meninas adolescentes foram recepcioná-lo. Algumas delas recorriam a uma mania típica daqueles tempos: levavam tesouras para cortar cachos do seu cabelo.

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O EXCESSO DE FÃS nesse primeiro show, no Winter Gardens, mostrou que a equipe de segurança não ia dar conta: algumas adolescentes começaram a forçar tanto para chegar perto do palco, que caíram num fosso e empurraram alguns seguranças com elas. Não foi nada de muito grave, apesar do susto enorme, mas uma dúzia de policiais foi chamada para dar conta da situação.

DURO MESMO foi ouvir o show, prejudicado por causa dos gritos da plateia. E mais duro ainda foi sair do local com fãs de jogando por cima dos carros que levavam os músicos. “A gente estava mais assustado com o fato de que se algum deles se machucasse, seria nossa culpa”, disse Finn. Em outro show, em Newcastle, o percussionista é que sofreria: fãs o puxariam do palco e cortariam até cachos do seu cabelo.

E DEPOIS? O disco seguinte do T. Rex seria o excelente The slider (1972). E seria também o primeiro disco do contrato milionário assinado com a nova gravadora, a EMI. Bolan passaria a ter direitos de licenciamento sobre os masters dos discos, sua própria companhia de produção e edição musical. E, para lançamento no Reino Unido, teria também seu próprio selo, o T. Rex Wax Co. Que se responsabilizaria apenas pelos lançamentos da banda e não faria discos de novos artistas.

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BOLAN e seu grupo entrariam em declínio a certa altura dos anos 1970 e ficariam completamente perdidos em meio às novidades do mercado – até uma tentativa de disco music o T. Rex faria, com Dreamy lady, em 1975. As plateias punks redescobririam a banda, e o T. Rex voltaria a fazer sucesso após 1976. Bolan apareceria na mídia ao lado de grupos como The Damned, Ramones e Buzzcocks, e ganharia até mesmo um programa de TV. Estava reformulando seu som pouco antes de morrer em 1977.

E JÁ QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, pega aí uma versão bastante inusitada de Ride a white swan, do T. Rex. A supermodelo Naomi Campbell gravou a canção em 1995 em seu disco Babywoman.

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4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

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4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

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  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

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Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

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Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

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Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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