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Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

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Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

Se a moda pegar, é provável que vejamos uma febre mística, religiosa e de healing music tomando conta do indie rock e do alt-pop. Para começar, um tema que já vem circulando há alguns dias é o novo single “espiritual” do Car Seat Headrest, uma de nossas bandas preferidas, que aborda nascimento, vida, morte e o contato com aqueles que já partiram.

Gethsemane, a música, é excelente, tem onze minutos, e a letra se passa no campus universitário fictício da Parnassus University (sim, o nome remete ao monte Parnaso, lar de Apolo e suas musas na mitologia grega). Inspirada pelas experiências do grupo na época da pandemia, a faixa segue o dia a dia de uma estudante de medicina, Rosa, que traz de volta à vida um paciente morto, e tem poderes de cura desde a infância.

“Toda noite, em vez de sonhos, ela encontra a dor crua e as histórias das almas que ela toca ao longo do dia. A realidade se confunde, e ela se vê levada para as profundezas de instalações secretas enterradas sob a faculdade de medicina, onde seres antigos que secretamente reinam sobre a faculdade trazem à tona seus planos sombrios”, diz a banda.

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Will Toledo, vocalista do Car Seat Headrest, já abordou temas religiosos com ironia em discos como Teens of denial (2016). No entanto, ele afirma que sua visão sobre espiritualidade mudou ao longo do tempo e que determinadas práticas influenciaram diretamente a concepção do novo trabalho. O próximo álbum da banda, The scholars, será uma ópera-rock de nove faixas e está previsto para 2 de maio pelo selo Matador. Segundo o grupo, o disco marca “uma nova era espiritual” para o projeto.

Outro exemplo de como essa vertente está ganhando espaço vem da cantora alemã Laura Carbone. Conhecida por sua trajetória que transita entre o pós-punk, o power pop e sonoridades mais próximas do post-rock e do progressivo (The cycle, seu disco mais recente, foi resenhado aqui), ela agora explora um caminho diferente em Strength • 5 (Sound Healing). O novo single, com trinta minutos de duração, traz vocalizes e o som etéreo de um sino tibetano – um instrumento de percussão em forma de tigela, tradicionalmente utilizado para meditação e equilíbrio energético.

A música foi gravada ao vivo e “em um take só” por ela – e Laura pretende que a música tenha um objetivo bem mais nobre que a pura fruição pop. “Meu chamado para criar esta canalização foi para nos apoiar a todos na conexão com nossa paixão e força sinceras — a coragem necessária para incorporar e seguir as verdades dentro de nossos corações em nome da justiça e da libertação. Também a paciência que saber que isso pode exigir”, escreve no release. “Sinto que, coletivamente, precisamos nos tornar mais fortes, mais presentes e persistentes em entrar no que defendemos e em defender leis universais para um mundo de cura”, continua ela.

Dois singles, enfim, não configuram uma “onda” – mas, no caos nosso de cada dia, é interessante ver que até a turma indie vem buscando algum tipo de conexão com forças menos terrenas.

Crítica

Ouvimos: Porridge Radio, “The machine starts to sing” (EP)

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Ouvimos: Porridge Radio, “The machine starts to sing” (EP)

Sem muitas explicações, o Porridge Radio chegou ao fim logo após lançar seu melhor álbum – cujo título já sugeria uma despedida, Clouds in the sky they will always be there for me (2024, resenhamos aqui). A intensidade quase gutural dos vocais de Dana Margolin e a sensibilidade extrema do som da banda talvez tenham cobrado um preço maior do que se imaginava. Como último recado, o grupo lança o EP The machine starts to sing, com quatro faixas das sessões do disco final – ainda que a banda britânica rejeite a ideia de “sobras de estúdio”.

A faixa quase-título, Machine starts to sing, com mais de seis minutos, traz uma das especialidades do Porridge Radio: começa soturna e contida, mas cresce em peso, ambiência e intensidade, à medida que a letra soma lembranças dolorosas, sombrias e infantis. Ok, na sequência, é um folk onde o vocal de Dana é um lamento, um gemido, quase choro, com um peso esmagador na garganta. Já Don’t want to dance é um folk triste com aura de rock dos anos 60, tocado no violão e crescendo até um final de intensidade maníaca.

O encerramento vem com os silêncios e esporros de I’ve got a feeling (Stay lucky), onde a letra busca sentido no caos e em mensagens dispersas – outra especialidade da banda. “E eu tenho um sentimento, um sentimento dentro de mim / desenterrando ervas daninhas até que algo comece a acontecer”. De fato, um adeus que não pede explicação, só sentimento.

Nota: 8,5
Gravadora: Secretly Canadian
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: The Murder Capital, “Blindness”

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Ouvimos: The Murder Capital, “Blindness”

O terceiro disco da banda irlandesa The Murder Capital, Blindness, é uma verdadeira tensão entre climas, timbres e gêneros – e é mais um disco que expõe aquela nossa velha tese, de que bandas como Wire e Public Image Ltd estão entre as mais influentes do universo.

O vocal blasé e a sensação de “tudo desabando” provocada por vários arranjos do álbum remetem diretamente a esses dois grupos, especialmente em faixas como Moonshot, That feeling (que abre com um clima à la Brian Eno, ou David Bowie em Berlim) e Can’t pretend to know. Mas o Murder Capital reproduz essas influências com personalidade, incorporando ainda diversas outras referências.

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Em meio ao ruído e ao clima pós-punk, a banda soa como um Duran Duran do mal em Worlds lost meaning, que traz algo misturado ali que também lembra Private dancer, hit de Tina Turner. A distant life remete à fase 1969 do Velvet Underground, enquanto Love of country assume um inesperado tom de rock sulista norte-americano – só que carregado de sombras. A faixa, um cântico contra a guerra e a supremacia, traz tensão nas afinações e versos cortantes: “eu sou apenas uma criança alcançando devaneios de alguns potes desta terra / você poderia me culpar por confundir seu amor pelo país com ódio ao homem?”.

Blindness ainda transita pelo rock dos anos 1990 em faixas como The fall e Death of a giant, que em alguns momentos evocam um Soul Asylum maldito ou um Guided By Voices distorcido – e, no caso dessa última, mexe com climas ligados ao math rock e ao pós-hardcore. Já Swallow abre com um loop hipnótico antes de se transformar em uma faixa na tradição dos Smiths, mas com uma voz grave, descambando depois para um som que parece o lado sombrio do Arctic Monkeys e dos próprios Smiths.

O álbum se encerra com Trailing a wing, uma composição de clima cinematográfico, com guitarras que oscilam entre o casual e o pesado, fechando o disco em tom sombrio.

Nota: 9
Gravadora: Human Seasons Records
Lançamento: 21 de fevereiro de 2025

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Crítica

Ouvimos: Dadá Joãozinho, “1997” (EP)

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Ouvimos: Dadá Joãozinho, “1997” (EP)

Tds bem global, disco de estreia de Dadá Joãozinho (2023), músico de Niterói (RJ) que se radicou em São Paulo, é inclassificável. Mas encontra abrigo justamente em seu experimentalismo, que une rap, jazz, música eletrônica, beatmaking, funk e MPB filtrada por evocações, intencionais ou não, a nomes como Di Melo.

A estreia unia também psicodelia, sambas em desconstrução e música “fluida”, que se desfaz e derrete como num quadro surrealista. Nas letras, o existencialismo pessoal de quem se muda para uma metrópole assustadora e precisa ganhar dinheiro para conseguir não ser engolido e cuspido rapidamente pela cidade grande, e as emoções de quem vive paixões arrebatadoras em meio ao caos.

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1997, EP novo de Dadá Joãozinho (o título é o ano de seu nascimento), oferece uma continuação mais orgânica e mais definível do que no álbum de estreia, trazendo várias sonoridades que, de uma forma ou de outra, giram em torno do samba. Olha pra mim, soft rock gravado com o grupo Raça, sugere uma busca do formato canção, mas com linguagem própria, com experimentalismo dosado. 100 anos, que elege o amor como “uma prática”, é um samba-rock “voador” que tem parentesco com o Azymuth. Subindo em árvore (De qualquer forma é grande) é outro samba-rock, mas que descamba para um clima folk e sonhador, cabendo efeitos de som.

As maiores curiosidades do EP ficam para o final: As coisas, parceria com a cantora carioca Jadidi, tem ar de ciranda, ou de marcha, com tom eletrônico e voz soft – a letra evoca uma tarde calma, e lembra um pouco a poesia de Antônio Cícero. Landa, divulgada como single antes do EP sair, é uma espécie de dream-MPB, com psicodelia e experimentação, mas que lá pelas tantas lembra nomes como Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo. A letra, em clima de oração, espera por dias melhores e recorda entes queridos: “ô minha vó / queria abraçar minha prima/queria que não tivesse briga/briga de família”.

Nota: 9
Gravadora: Innovative Leisure
Lançamento: 18 de fevereiro de 2025.

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