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Radar: Hyldon, Rael, Josyara e mais 5 sons nacionais

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Radar: Hyldon, Rael, Josyara e mais cinco sons nacionais

O Radar nacional de hoje chega com uma ocupação preta de peso: de um lado, um mestre do soul lança single novo; do outro, seu parceiro de longa data é celebrado em uma homenagem musical, feita por três feras ligadas ao estilo. Ainda: climas inspirados no dub surgem em uma faixa recente de rock, enquanto outra faixa mergulha numa fusão envolvente de jazz, blues e rock, e a conexão entre nordestinidade e negritude aparece em uma releitura marcante. Novidades do indie rock e da MPB recifense fecham a seleção. Aperte o play e embarque nessa viagem sonora.

(na foto: Hyldon)

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HYLDON, “FAVELA DO RIO DE JANEIRO”. 2025 vai ser um ano excelente para um dos artífices do soul nacional: são 50 anos do álbum Na rua, na chuva, na fazenda, obra-prima do cantor, e no dia 4 de abril vai rolar o lançamento do álbum comemorativo HyldonJID023, gravado ao lado do produtor Adrian Younge, co-criador da gravadora/projeto musical Jazz Is Dead (daí vem o JID do título do álbum). Como a produção de algumas faixas vem sendo feita há um tempinho, ainda foi possível contar com a participação do baterista do Azymuth, Ivan Conti (mais conhecido como Mamão, morto em 2023), na gravação do clipe de Favela…, que acaba de chegar ao YouTube. “Não há lugar como o Rio, e os bailes da favela são os melhores!”, diz Hyldon, definindo a vibe da faixa.

RAEL, feat MANO BROWN E DOM FILÓ, “A ONDA”. “A dança, o samba improvisado no boteco, a pelada no campinho de terra, os versos de rap cuspidos no improviso ou se arrumar pra ir pro baile black, tudo isso é mais do que lazer. É um ato de resistência, uma arte, um jeito de dizer: ‘Ainda estamos aqui, vivos, rindo, sonhando’”, explicando o som que vai rolar em A onda — uma homenagem a ninguém menos que Cassiano (1943-2021), outro mestre do soul nacional, assim como o já citado Hyldon. A faixa faz referência direta a Onda, clássico que virou ouro nas mãos de DJs, e reforça os alicerces do groove na letra, reafirmando o legado de Cassiano e outros mestres.

JOSYARA feat. PITTY, “ENSACADO”. Quando o LP 20 palavras ao redor do sol chegou às prateleiras em 1979, trouxe com ele o brilho inquieto da paraibana Cátia de França—era um disco que misturava poesia, Brasil profundo e um violão ágil, que mais parecia vento cortando o sertão. Agora, Ensacado, uma das joias desse álbum, ganha nova vida pelas mãos de Josyara e Pitty. A versão, que vem com o violão e o arranjo de Josyara, passeia entre o folk e o rock, e traz a união de duas vozes que, cada uma a seu estilo, carregam força e identidade. Avia, terceiro disco solo de Josyara, chega em abril.

NAIMACULADA, “CHORO DE OUTONO”. MPB, jazz, psicodelia e rock progressivo, entre outros estilos, fazem a cabeça desse grupo paulistano. O Naimaculada lança A cor mais próxima do cinza no dia 28 de março, e o single novo, Choro de outono, é uma amostra de como essa alquimia sonora funciona. A faixa começa com um toque de choro-jazz e depois mergulha num encontro visceral entre rock pesado e blues-MPB na cola de Luiz Melodia. Destaque para o sax jazzístico de Gabriel Gadelha e para os vocais intensos de Ricardo Paes. A banda ainda conta com Luiz Viegas (baixo e voz), Samuel Xavier (guitarra) e Pietro Benedam (bateria) —sim, o filho de João Gordo (Ratos de Porão), trazendo peso e pegada para a mistura.

FLAIRA FERRO feat LENINE, “AFETO RADICAL”. O rock carnavalista e recifense de Afeto radical é “um anseio para transmutar violências e fazer arte”, como afirma Flaira, que prepara novo álbum autoral para o primeiro semestre deste ano. O clipe, filmado no Centro do Recife, captura um Carnaval pessoal e urbano, colorido e vibrante, em meio à selva de lojas abertas, gente passando, muros pixados e prédios antigos. Lenine, uma das maiores inspirações de Flaira, surge na música, dando sua assinatura única à faixa e, com isso, reforçando o peso de uma tradição que se reinventa e se renova. E, ah: prepare-se para decorar o refrão.

MARCELO LOBATO, “O CORTE”. “Fiz essa música durante a pandemia, um momento de introspecção e questionamentos. Acho que é muito oportuno lançá-la agora, em um mundo tão individualista e desumanizado”, diz Marcelo, ex-integrante do O Rappa, que recentemente retornou com sua banda Afrika Gumbe (você leu no Radar nacional da semana passada), e aproveita para retomar sua carreira solo. O corte é um rock com alma dub, cuja letra revela como o silêncio costuma se instalar nos espaços marcados pela dor, pela dúvida e pela solidão. Mais um lançamento do selo de Lobato, Lobo Records.

GABRIEL VENTURA, “FOGOS”. Há clipes que são pura fotografia. Fogos, de Gabriel Ventura, é um deles: cada cena parece uma capa de disco, dessas que a gente vê, guarda e nunca esquece. Dirigido por Isadora Boschiroli e filmado numa casa em Petrópolis, o vídeo captura o que passa despercebido na pressa do dia a dia — roupa no varal, a arquitetura de uma churrasqueira de quintal, uma estante cheia de livros, LPs num canto (com um Gonzaguinha antigo chamando atenção), gotas d’água escorrendo pelas folhas. A música segue esse clima: uma canção emepebística, intensa e indie, que anuncia Pra me lembrar de insistir, novo álbum solo de Ventura, chegando em abril pela Balaclava Records.

ANTIPRISMA, “QUE SEJA”. O terceiro álbum do Antiprisma, Coisas de verdade, já saiu tem um tempinho e ganhou até uma resenha do Pop Fantasma. Que seja, uma das faixas do disco, traz uma curiosa fusão country – pós punk, com guitarras sonhadoras e paredes de som. A letra, bastante contemplativa, soa como escutar um casal narrando questões do dia a dia, mas em forma de música. E quem curtiu a faixa vai adorar o clipe, que traz a banda em clima de live session, mostrando um pouco de seu processo criativo. E vale lembrar que Coisas de verdade vai sair em vinil ainda no primeiro trimestre, em lançamento da Orangeira/Midsummer Madness.

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Ouvimos: Geese – “Getting killed”

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Terceiro álbum do Geese, Getting killed mistura slacker rock, sarcasmo e experimentalismo, unindo Pavement, Stones e Tom Waits num som estranho e cativante.

RESENHA: Terceiro álbum do Geese, Getting killed mistura slacker rock, sarcasmo e experimentalismo, unindo Pavement, Stones e Tom Waits num som estranho e cativante.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Partisan Records / Play It Again Sam
Lançamento: 26 de setembro de 2025

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“O que está ocorrendo com o Geese é mais ou menos parecido com o que tivemos no início dos 00, quando Strokes, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs e LCD Soundsystem nos lembraram que o rock poderia ser, sim, sexy, fresh, carregado de energia e relevante para o agora”, escreveu recentemente o jornalista Thiago Ney na newsletter MargeM, lembrando que a banda de Nova York tem se tornado uma queridinha dos críticos musicais, e tem despertado muito interesse num universo que costumeiramente tem mais coveiros do que parteiros: o do rock.

Cameron Winter, o vocalista do grupo, tem uma voz estranha – o tipo de voz que você não sabe se ama ou odeia ao ouvir pela primeira vez, até porque você ainda não decidiu se o próprio Geese é bom de ouvir ou irritante. Essa dualidade irritação vs prazer parece herdada de Captain Beefheart and His Magic Band, ou de uma hipotética combinação Rolling Stones + Pavement, com o suíngue e a musicalidade do primeiro e o som vertiginoso e despojado do segundo. Getting killed, o terceiro álbum da banda, destaca-se por investir em sustos musicais, em letras repletas de sarcasmo, e numa receita sonora que consegue ser captada por uma antena – e que achou uma antena de longo alcance para chamar de sua.

  • Ouvimos: Guerilla Toss – You’re weird now

Traduzindo: fãs de slacker rock e de bandas mais clássicas (veja bem: falamos em Pavement e Rolling Stones) podem amar o disco, que abre em tom de sonho e pesadelo com Trinidad, marcada por metais desafinados e algo que remete a The Fall e Nirvana. E prossegue com o samba-blues-country místico de Cobra, que tem algo de George Harrison musicalmente encartado. A misteriosa Husbands parece uma música de cerimonial, cuja letra ironiza os comentários normais sobre velhice e morte. Getting killed, a faixa-título, música em que a vida parece fazer mal à saúde, é punk + blues percussivo. Islands of men parece um Steely Dan punk e mágico, enquanto 100 noises corta a magia de tudo o que você puder imaginar: parece Crosby Stills Nash & Young e Jefferson Airplane, mas a letra ensina a “sorrir em tempos de guerra”.

O novo álbum do Geese traz herança do clima bêbado de Tom Waits em Au pays du cocaine, apresenta uma valsa folk que poderia ter sido composta no fim dos anos 1960 (Half real) e também soa como uma demo gravada numa comunidade originária, e deixada guardada por quatro décadas. Nesse caso, em Taxes e no country-gospel-jazz Long Island city here I come – esta, um acid-rock que tem até algo de Mutantes e Secos & Molhados.

A grande diferença entre Getting killed e os discos anteriores do Geese (além de Heavy metal, estreia solo de Cameron) parece vir do espírito do tempo: tudo aqui soa como se o humor e a musicalidade do mundo tivessem finalmente coincidido com o humor e a musicalidade do Geese. Bendita conexão tardia.

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Crítica

Ouvimos: Jeff Tweedy – “Twilight override”

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Jeff Tweedy lança Twilight override, álbum triplo que mistura country-rock e introspecção à la Wilco, Dylan e Harrison — bonito, ainda que exaustivo.

RESENHA: Jeff Tweedy lança Twilight override, álbum triplo que mistura country-rock e introspecção à la Wilco, Dylan e Harrison — bonito, ainda que exaustivo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Dbpm records Inc.
Lançamento: 26 de setembro de 2025

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Um camarada meu afirmou que, no entendimento dele, “Jeff Tweedy tá virando o novo Billy Corgan em termos de cansatividade”. O líder do Wilco não chega a ter um rockstar prolixo e cheio de manias como o déspota dos Smashing Pumpkins, mas é um artista que tem três álbuns duplos solo e acaba de se juntar à turma que lançou um álbum triplo de estúdio. Enfim, por causa do novo Twilight override, Tweedy entra num clube maluco que inclui The Clash, George Harrison, o próprios Smashing Pumpkins, Prince e, no Brasil, Nando Reis e Nelson Gonçalves (!).

O disco novo de Tweedy tem sido pouco comentado aqui no Brasil, seja em sites de cultura pop, seja em conversas informais entre amigos. Não tem ninguém nem falando mal. Pode significar muito, pode não significar muita coisa: vai ver os fãs brasileiros de rock desaprenderam a ouvir discos enormes, vai ver os fãs do Wilco são um nicho bem pequeno, vai ver os fãs do Wilco que curtem os trabalhos solo de Jeff são menos que um nicho. Vale dizer que Twilight ainda por cima não é um disco para se ouvir de bobeira, correndo ou dirigindo. Sem pedir de fato, Tweedy pede que você se recolha a um canto para encarar as quase duas horas de música do pacote, e tente sentir o clima meio desolado, meio doidão das letras.

  • Ouvimos: Cate Le Bon – Michelangelo dying

Com uma cara musical análoga a do Wilco, Twilight override é um disco de country-rock com emanações de Bob Dylan (em especial), George Harrison, Velvet Underground, Pavement, Sonic Youth, Nirvana, Tom Waits – e de iniciativas acústicas e solitárias ao redor do mundo, como Oar (1969), disco de Alexander “Skip” Spence. No primeiro álbum, do set, músicas como One tiny flower, Forever eves ends, Mirror e Betrayed vão quase se desmanchando no ouvido – algumas delas em clima de sonho acordado – e dão um padrão que se repete várias vezes ao longo do álbum. Só que Tweedy também une tons acústicos e vibe punk em vários momentos: tem a onda slacker folk de Secret door e Ain’t it a shame, os climas herdados de White light / White heat (Velvet Underground) e Queen bitch (David Bowie) de Lou Reed was my babysitter – além da vertigem sonora de músicas como Wedding cake, tudo rodando em volta do violão e da voz.

Tweedy parece fazer um movimento de parábola em Override: o álbum vai soando mais introspectivo e angustiado ao chegar no disco 2, que tem o country bandido e angustiado de Better song, o som hipnótico de New Orleans, os voos de Over my head (Everything goes) e da valsa-country Western clear skies e a tristeza mágica de Blank baby, lembrando Davis Crosby e Neil Young. Os sete minutos de Feel free, canção simples e quase sussurrada, soam como se “essa tal liberdade” fosse observada por diferentes lados, num universo em que você pode ser fã de Beatles ou Rolling Stones, imaginar-se como uma semente e “levar seu tempo para ser enterrado”, girar até ficar tonto, fazer som com seus amigos. Tem até um curioso “sinta-se livre / nasça nos EUA / ame com um amor que eles não podem tirar”.

Twilight override é um disco bonito, mas como todo disco triplo, também vai ficando cansativo – uma sensação que bate bastante lá pelo disco 3, onde sobram músicas razoáveis como Saddest eyes, Ain’t it a shame, o folk de rádio AM dos anos 1970 da faixa-título. Compensando quem ficou até o fim, tem faixas como o country-gospel Too real e a bela e hipnótica Enought, feita na cola tanto do George Harrison do triplo All things must pass quanto dos Kinks de Waterloo sunset.

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Ouvimos: Banana Bipolar – “103”

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No álbum 103, o Banana Bipolar mistura psicodelia e peso, existencialismo e protesto, além de estilos como stoner, pós-punk, blues e rock nordestino.

RESENHA: No álbum 103, o Banana Bipolar mistura psicodelia e peso, existencialismo e protesto, além de estilos como stoner, pós-punk, blues e rock nordestino.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 15 de agosto de 2025

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Banda goiana que recentemente fez show nos 30 anos do Goiânia Noise Festival, o Banana Bipolar tem um “quê” progressivo, sem necessariamente afiliar-se ao estilo. Em 103, primeiro álbum, Hatamari (vocais e percussão), Gab Morais (vocais e baixo), Vinni (vocais e guitarra), Júlio (backing vocal e bateria) e Pedro Leon (guitarra solo) lançam músicas extensas – uma delas, Efêmero, tem treze minutos e divide-se em várias partes.

Mas o clima do quinteto está mais para uma visão existencial da psicodelia e do rock pesado, na qual cabem a oração stoner de Haha, a guitarrada lembrando Smashing Pumpkins da feminista e libertária Alicia e o acid rock funkeado de Cigarro. Cicatriz consegue unir pós-punk, metal a la Black Sabbath e psicodelia, numa música que opera nas sombras e, ao mesmo tempo, abre-se em vários climas diferentes.

  • Ouvimos: Mirror People – Desert island broadcast

Esse lado existencial do Banana Bipolar ganha seu auge justamente na quilométrica Efêmero – cuja letra, afirma o grupo, “fala sobre a inconstância das coisas, sobre como tudo é fugaz, transitório, efêmero. É um contraste entre a vida e a única certeza que ela oferece: a mudança”. Mas também cede espaço ao protesto: o blues-rock 103, gravado ao vivo (e com guitarras ótimas), é uma poesia musicada sobre desesperança e desconforto. As duas partes de Cidadão comum, que vão do blues-rock à psicodelia tropicalista, têm lembranças de Mutantes, Titãs e MPB setentista, e angústia questionadora (“quanto vale o seu espírito? / quanto o mercado ganha?”).

Espectros, no final, é rock nordestino psicodélico, com emanações de Belchior e Zé Ramalho (e do space-rock paulistano do Casa das Máquinas). São sete minutos de força na letra e no som, com versos diretos e mobilizados como num rap (“não vale a pena aceitar filho de governante enriquecendo enquanto você se mata de trabalhar”, vociferam). Psicodelia e luta lado a lado.

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