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Crítica

Ouvimos: Marcia Castro, “Roda de samba-reggae vol. 1 – ao vivo”

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Ouvimos: Marcia Castro, "Roda de samba-reggae vol. 1 - ao vivo"

Um detalhe que se perdeu com o tempo: nos anos 1980, a música da Bahia era vista como uma proposta renovadora e redentora, a partir dos primeiros lançamentos de bandas como Olodum e Ara Ketu pela Continental, e de álbuns de artistas como Gerônimo e Lazzo Matumbi. A soma de células rítmicas do samba-reggae é tão original quanto as mesclas que geraram o samba de Jorge Ben – com a diferença de que o desenvolvimento do som baiano passou por várias mãos, vários pais e mães, e seu surgimento não ficou restrito a um só criador.

Roda de samba-reggae vol. 1 – ao vivo, de Marcia Castro, exibe essas “paternidades” do estilo musical numa época em que a música da Bahia, comemorando quatro décadas, ganha festas revivalistas, vira influência de novos astros da música pop e tem seu compromisso com a identidade afro-brasileira cada vez mais celebrado. O repertório une clássicos como Tambores na avenida (Ara Ketu) e Crença e fé (Banda Mel – é a do “vou dar a volta no mundo, eu vou/vou ver o mundo girar”) a canções mais recentes como Coladinha em mim e Que povo é esse (as duas do repertório do disco Axé, lançado por Marcia em 2021). Rosa, sucesso de 1993 do Olodum, ganha a adição de Pierre Onassis no vocal.

Não dá para dizer que são arranjos “minimalistas”, mas o disco de Marcia cria um diferencial por investir num axé pesado, valorizando a guitarra, e às vezes partindo para uma MPB-folk (como no começo de Rosa). Olodum, a banda do Pelô surge em medley com Mariê (Banda Reflexu’s), abrindo com voz-e-percussão como nos primeiros discos do Olodum – e emendando numa guitarra que é pura juju music. Visão do ciclope, sucesso de Luiz Caldas, volta como um reggae-rock com ênfase no “rock”, fiel ao estilo do autor do tema da novela Tieta. No final, as faixas reunidas em pot-pourris, incluindo hits como Faraó, soam bem vigorosas. Roda de samba-reggae é um disco não apenas para festejar o Carnaval, mas para contemplar a exaltação afro-brasileira e o peso dos arranjos.

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 12 de novembro de 2024

Crítica

Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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