Lançamentos
Radar: Nilüfer Yanya, Annapurna, Barking Poets, Jaroslav3000, Jimena Amarillo, Mediopicky, Joan Jett

Não tem só música nova no Radar internacional de hoje, não – lembramos de um clipe de Joan Jett que acaba de retornar melhorado ao YouTube e volta e meia vamos falar de coisas que estão sendo reeditadas. Mas calma que nosso negócio é o que está saindo agora, e tem espaço pra todo mundo aqui. Faça sua playlist e ponha no último volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação (Nilüfer Yanya)
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NILÜFER YANYA, “WHERE TO LOOK”. O single novo da cantora britânica (cujo disco My method actor é uma das maiores surpresas do ano passado – falamos dele aqui) anuncia o EP Dancing shoes, que sai dia 2 de julho, e surgiu de um conjunto de músicas que ela disse ter revisitado após a turnê do disco anterior.
Com guitarras texturizadas e um clima entre o neo soul e a sujeira sonora elegante, a música destaca a voz marcante da artista britânica. Originalmente pensada para My method actor, a faixa só tomou forma após a turnê. “Melodicamente, é uma das minhas favoritas”, disse Nilüfer. Um retorno introspectivo e inventivo.
ANNAPURNA, “METAMORFOSIS”. Essa é a faixa de abertura do novo EP da banda espanhola Annapurna, Golpes, flores. A música explora os contrastes entre força e fragilidade, acertando em cheio no emo ao combinar riffs densos com passagens melódicas, em meio um repertório que inclui influências de post-rock e de rock alternativo experimental. A faixa antecipa a tensão e os climas que marcam o restante do EP, centrado em perdas, mudanças e recomeços. Um cartão de visitas direto e emotivo.
BARKING POETS, “LOSING CONTACT”. Essa banda de Londres já tem dois EPs e um punhado de singles na discografia. Losing contact, novo compactinho, traz 5:30 de punk anos 1990, ágil, com emanações espaciais (a letra fala de um astronauta que vai perdendo o contato com a Terra). A melodia e o arranjo lembram uma mescla de The Clash e Green Day, tudo levado adiante por uma marcação cerrada de guitarra, baixo e bateria. Mas vale dizer que se trata de uma daquelas canções que se sustentam sozinha apenas em voz e violão – e vale destacar os backing vocals, que dão uma beleza especial a uma canção marcada pela simplicidade. Ouça.
JAROSLAV3000, “HEAT”. Não, você não vai ter a mínima vontade de comer a refeição que o cozinheiro esquisitão do clipe de Heat está preparando – pra começar, ele usa uma balaclava enquanto cozinha, os materiais não parecem estar lá muito frescos e o prato provavelmente não vai cair bem. Ao contrário do single da dupla parisiense Jaroslav3000, que desce redondo: une sons indies dos anos 1990 (Strokes, Arctic Monkeys), passagens a la Depeche Mode e eletrorock sujismundo em doses quase iguais.
O mais bacana é a definição que eles dão para o próprio grupo. “É um projeto de dois jovens encrenqueiros que pretendem escapar do trabalho assalariado multiplicando composições ousadas e inebriantes”. Ouça no volume máximo.
JIMENA AMARILLO, “FLOW DESKICIADA”. “Com este álbum, não quero que você chore e, se chorar, quero que faça isso enquanto dança”, diz a espanhola Jimena, que se dedica ao indie pop cantado em seu idioma. Em seu terceiro álbum, Angélika, ela expressa-se o tempo todo por intermédio de seu alter ego trans – a Angélika do título do álbum, que Jimena diz ter sido a responsável pelo clima empoderado e desinibido do disco.
Oscilando entre trap e batidões dance, a criativa e dançante Flow deskiciada une amor platônico, vida urbana e dia-a-dia queer: “Um punhado de flores, ah, que eu trouxe para ela / linda, ela tem tudo, ela não me ama”, diz o refrão. Jimena completa: “Eu só escrevo realidades, escrevo sobre quem eu sou e com quem passo tempo. Quero me divertir em um mundo moderno que nos deixou sufocados por muito tempo”, assevera.
MEDIOPICKY, “LLUVIA”/”MARIELA”. Pablo Alcántara é um artista da República Dominicana que, antes de tudo, prefere desafiar limites de gênero com sua música. Tanto que o EP de seu projeto Mediopicky, Forma de cer, é basicamente textura musical, ruído eletrônico, luz e sombra, transbordando em ritmos quase não-dançáveis. Lluvia abre com 20 segundos de um quase-silêncio, ate que beats e sons de teclados, além da voz de Pablo, vão chegando – formando uma espécie de trap ambient.
Já Mariela, um trap caribenho carregado de texturas, marca o primeiro single lançado após o EP e mergulha em uma paixão adolescente atravessada pela timidez. Trata-se de “um amor não correspondido que existe apenas na mente de quem canta”, como define o texto de divulgação. “Mariela, eu sou um covarde / eu nem consigo falar com você”, diz Pablo na letra, chorando as mágoas.
JOAN JETT AND THE BLACKHEARTS, “REAL WILD CHILD (WILD ONE)”. Gravado em 1998, esse clipe volta ao YouTube com melhorias no som e na imagem, realçando o poder punk dessa cover gravada por Joan Jett e sua banda – e lançada como bônus do relançamento de um álbum da cantora, Flashback (1993), compilação de outtakes e músicas raras. Real wild child foi composta em 1958 pelo pioneiro do rock and roll australiano Johnny O’Keefe, ao lado de Johnny Greenan e Dave Owens, e é considerada por muita gente a estreia da Austrália no universo do rock. Foi também gravada por Iggy Pop no controverso álbum Blah-blah-blah (1986) numa versão quase new wave – mas Joan põe quilos de ferocidade na canção.
Crítica
Ouvimos: Kerub – “Aphantasia”

RESENHA: Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.
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“Sonhos são para aqueles que não os deixam de lado”, afirma o artista canadense Kerub em Dreams, canção eletrônica e hipnótica desse Aphantasia, seu segundo álbum. Um disco em que o envolvimento trance serve quase como um subtexto sonoro, com faixas que soam como fantasias musicais, repletas de efeitos, ecos, ambientações, experimentalismos.
Com raízes no conceito de Eterno Retorno de Nietzsche, e em sensações pessoais experimentadas quando mudou-se para Toronto, Kerub fez de Aphantasia um disco cujos lados mais acessíveis apontam para as fases mais vanguardistas de artistas conhecidos. O David Bowie da fase Berlim e o dos anos 1990 pairam sobre quase todo o disco, que ainda faz lembrar a primeira fase do Ultravox em faixas como Ankle monitor, Bottles (repleta de psicodelia nos vocais e teclados) e Calm. Essa última, um relato de depressões, perdas e constatações (“resiliência é um mito feito por nós / estaria eu com medo da mudança?”, se pergunta), em meio a noites mal-dormidas e tentativas de juntar os pedaços.
- Ouvimos: Ethel Cain – Willoughby Tucker, I’ll always love you
- Ouvimos: Lutalo – The academy (versão deluxe)
- Ouvimos: Alex G – Headlights
Marathon é um ambient que chega a dar nervoso – o barulho de alguém respirando forte após correr uma maratona – note o título, enfim – é o “som de fundo” em alguns momentos). Cicadas é drum’n bass com interferências nos vocais e climas perturbadores. Acid rain soa como um time-lapse do fim do mundo – ganha uma cara dançante depois, mas é um baile no apocalipse. Atavism tem algo que não encaixa totalmente – seria a delicadeza da melodia ou o peso da batida? Ou a combinação de ambos?
No final, Salivary glands e Airport traffic trazem mais sons hipnóticos. A primeira, funcionando como um tema dance; a última soando como uma brincadeira sonora etérea, quase um som de videogame, que até traz leveza para um disco em que eletrônica e existência andam de mãos dadas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Kopi Records
Lançamento: 24 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Astrofella – “Love ever young”

RESENHA: Astrofella estreia com Love ever young: eletrônica gelada, krautrock sensível e pop espacial vindo de Istambul via Berlim.
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O Astrofella é uma banda secretíssima que vem de Istambul, mas que se baseou em Berlim. O som deles é autodefinido como “a personificação de um astronauta melodramático, falando consigo próprio em órbita”. Love ever young, primeiro disco deles, é uma surpresa bem curiosa, misturando tecladeira gélida, guitarras climáticas econômicas e ocasionalmente, percussões e beats variados – sempre apostando na viagem sonora eletrônica.
A Berlin vacation, faixa de abertura, vai subindo para o espaço com órgão, ruídos eletrônicos e guitarra com um só acorde. Segue com uma vibe de pop francês em Modern wedding, com guitarra e bateria patinantes, sintetizador kraftweriano e argamassa de krautrock sensível – e os vocais de Danae Palaka. For Charlotte tem batida afropop e sonoridade minimalista, com um teclado que cresce aos poucos. She just wants to disappear, com vocal feminino que remete a Nina Hagen, vai do meditativo ao tenso.
Love ever young ainda tem climas mais apocalípticos e sombrios em Old times’ sake (canção de ritmo torto, quase jazzístico, e clima oriental) e na sintetizada Time. No Bandcamp, além das músicas, há ainda um vídeo mostrando como a capa de Love ever young, realizada de modo artesanal, foi feita.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Dana and Alden – “Speedo”

RESENHA: Speedo, estreia dos irmãos Dana e Alden McWayne, mistura jazz, psicodelia, política e grooves diversos em 18 faixas luminosas e surpreendentes.
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Demoramos um pouco para resenhar esse disco, lançado em junho. Vindos do Oregon, os irmãos Dana (sax) e Alden McWayne (bateria) fazem em Speedo, seu primeiro álbum, uma espécie de jazz mágico, que não cabe em quase nenhuma definição comum, porque as faixas trazem às vezes várias referências. Norm, a faixa de abertura, parece uma espécie de easy listening espiritualista, como as músicas de Todd Rundgren, e evolui para um jazz voador e bombástico, com beats eletrônicos e tímpanos dando o ritmo. Lisbon in rain ameaça um jazz-fusion na abertura, mas o que vem na sequência são sons que se alternam e brilham como luzes. Já a curta Wyckoff Deli Chicken over rice leva o idioma do jungle para o som da dupla.
Vibes psicodélicas e quase lo-fi, comuns em todo o álbum, vão surgindo aos poucos em faixas como Melange, o funk de garagem Don’t run, a bossa floydiana Fisherman’s dream, o jazz ruidoso e luminoso Charif’s Place, os temas de séries imaginárias Childhood crush e Super Beaver full moon love song, e o soul-reggae de faroeste Obsidian. Além disso, o material de Speedo une música, política e anti-imperialismo, com duas faixas, a já citada Norm e o jazz psicodélico e elegante Leila, feitas em homenagem a ativistas pró-Palestina (Norman Finkelstein e Leila Khaled, respectivamente).
Disco extenso – dezoito faixas, 50 minutos – e cheio de recantos musicais, Speedo invade também as áreas da guitarrada hispânica (Rick Pablo), do dream pop solar (Who do you even talk to me, Daydrinking in Springfield), do easy listening clássico e elegante (Kelp Forest Place) e do jazz-soul latino (Cacio e Pepe, cheia de detalhes psicodélicos e sons que rangem). A faixa-título, melódica, sinuosa e romântica, tem algo do som esparso do Khruangbin, só que reduzido a saxofone, baixo e bateria. No fim, o som voador e luminoso de Babe, you’re gonna miss that plane. Uma ótima surpresa.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Concord Jazz
Lançamento: 27 de junho de 2025
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