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Crítica

Ouvimos: Rose Gray, “Louder, please”

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Ouvimos: Rose Gray, “Louder, please”
  • Louder, please é o primeiro álbum da cantora britânica Rose Gray. Antes, ela havia lançado singles e uma mixtape, e tinha composto músicas para outros artistas. 
  • Rose compõe desde a adolescência e chegou a escrever mais de cem canções para uma gravadora com a qual assinou. Ao sair do selo, perdeu os direitos de todas as músicas. “Eu tive que me encontrar, explorar, fazer muita música. Mas também cometer muitos erros, musicalmente, na vida – tudo”, contou à Dork, deixando claro que prefere hoje estar em um selo independente (a Play It Again Sam).
  • A capa do disco, que mostra Rose na praia ouvindo música de um walkman (sim, daqueles de fitinha), foi feita durante uma viagem a Barcelona. “Com isso, eu estava tipo, eu só quero que seja real. Na verdade, eu quero que estejamos na praia com meus amigos; vamos tocar música. Vamos beber!”, conta.

Britânica como Charli XCX, Rose Gray merece pelo menos uma comparação com a autora do álbum Brat, que é sua dedicação para unir hedonismo, existencialismo e memórias boas – incluídas nessas memórias as noites que nunca deveriam terminar, os clássicos tocados pelos DJs, os amigos e amores conquistados pelo caminho, etc. Louder, please é basicamente um disco conceitual sobre tudo isso aí, e uma espécie de carta de amor à dance music e às diversões na pista e fora dela. Tem batidões que lembram a house music dos anos 1980 e o jungle dos anos 1990, e composições que se aproximam até da disco music (o house pesado de Just two poderia ter saído do estúdio de Giorgio Moroder – e não é que a voz dela nessa faixa soa parecida com a de Donna Summer?).

Damn, a faixa de abertura, pede que tudo seja colocado no volume máximo, desde o som de uma festa até “todas as coisas que você diz para você mesmo (a)”. Free, eletrônica em tom indie pop, com tendências a seguir para um lado caribenho (tem até um sample de steel drum), ganha o ouvinte pelo refrão, que repete várias vezes que “as coisas boas da vida são grátis”. Wet & wild põe sacanagem na história, com refrão em clima “só as melhores da Pan” e feminismo em cima da pinta (“num mundo de homens velhos, sou uma garota selvagem”). Já o single Switch, uma dance music anos 1990, mete mais sacanagem dançante na história, propondo “mudança de papéis” no sexo.

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Das curiosidades do disco, tem as referências que os fãs de música eletrônica dos anos 1980 vão pegar de cara: a sexy e falada Hackney wick fala de amores, companheiros de pista e festas em depósitos abandonados – como acontecia em Manchester nos anos 1980. Party people reconhece que a turma que gosta de festa é a melhor e solta a recordação: “eu ouço a 808 drums dentro da minha mente” (referência à história drum machine TR-808, lançada pela Roland no começo dos anos 1980). Tectonic, um house estilo anos 1990, une, se é que possível, vocais lembrando os de Madonna e os de Alanis Morrisette. Tudo bem feito e bem produzido, encerrando com uma faixa-título que é basicamente uma tentativa de dream pop de pista.

Nota: 8
Gravadora: Play It Again Sam.
Lançamento: 17 de janeiro de 2025.

Crítica

Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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