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Crítica

Ouvimos: Ibibio Sound Machine, “Pull the rope”

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Ouvimos: Ibibio Sound Machine, "Pull the rope"
  • Pull the rope é o quinto disco da banda londrina Ibibio Sound Machine. A frontwoman do grupo é a cantora Eno Williams, nascida em Londres, mas que passou a infância na Nigéria. A banda inteira, por sua vez, é um octeto que inclui também metais, percussão e teclados.
  • O nome do grupo vem de uma população (de mais de seis milhões de pessoas) residente no sul da Nigéria, cujo idioma também se chama ibibio. Era a linguagem falada pela mãe de Eno, por sinal.
  • A banda é sediada em Londres, na Inglaterra, mas os integrantes são oriundos de vários países: Trinidad e Tobago, Austrália e até Brasil (o percussionista e bandolinista baiano Anselmo Netto). “Às vezes nos referimos a nós mesmos como United Colors Of Music. Acho que diz muito que podemos todos nos unir e falar a mesma língua através da música”, contou Eno ao The Quietus.

Tem algo no Ibibio Sound Machine que é facilmente linkável a quem, nos anos 1980, buscava a salvação no pop ligado à música africana. Valia dar atenção a álbuns maravilhosos como Electric Africa, de Manu Dibango (1985), a grupos vocais como Ladysmith Black Mambazo, aos projetos diversificados de Malcolm McLaren, e a formações que uniam reggae e pop-rock como UB40. Ou ao reggae de guerrilha do Steel Pulse e de Peter Tosh.

No geral, o Ibibio faz um ágil afro-funk eletrônico, unido com sabedoria synth-pop. Foi o que ficou bem evidente no disco anterior, Electricity (2022), com produção do grupo inglês Hot Chip, e bastante feliz na hora de combinar tons afro e referências de Depeche Mode, do próprio Hot Chip e de Brian Eno. Em Pull the rope, abrem direto com a faixa-título, um afro-funk sintetizado que remete simultaneamente a Fela Kuti, Prince e Gang Of Four.

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Got to be who U are é um pós-disco desafiador, com belos vocais da cantora Eno Williams (uma das vozes mais legais da música pop atual). Fire abre combinando beats, vocalises e linhas de baixo, num resultado que tem tanto cara de afrobeat quanto de pós-punk na linha do The Sound ou do Dry Cleaning. Them say é afro-funk com sintetizadores circulares e hipnotizantes – o mesmo rolando em Let my yes be yes, só que com batida forte e metais que fazem a canção voar longe.

O Ibibio Sound Machine disse que o disco novo reflete tensões entre o moderno e o tradicional. É verdade: dessa vez, a ideia foi não amarrar o álbum com uma cara de “música eletrônica” nem carregar em influências de pós-punk. Canções como Mama say (uma homenagem às mulheres) são dançantes e pop, mas com certa tensão, e clima guerrilheiro, já dado pela força dos vocais e das batidas. A mesma coisa acontece nos slaps de Far away, uma canção que parece unir Fela Kuti, The Cure e Talking Heads.

Pull the rope tem ainda o progressivismo da balada Touch the ceiling, com sintetizadores em profusão e tom mais modernista ainda que o resto do álbum. E o protesto dançante e afirmativo de Political incorrect e Got to be who U are. No Brasil pouco se fala do Ibibio Sound Machine. E deveriam falar bem mais.

Nota: 8
Gravadora: Merge Records.

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Ouvimos: Rick Wakeman – “Melancholia”

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Em Melancholia, Rick Wakeman retorna ao piano solo com peças de beleza clássica e introspectiva, misturando emoção, cura e memória.

RESENHA: Em Melancholia, Rick Wakeman retorna ao piano solo com peças de beleza clássica e introspectiva, misturando emoção, cura e memória.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Madfish Music / Snapper Music
Lançamento: 17 de outubro de 2025

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Eternamente lembrado como ex-tecladista do Yes e como o autor de peças enormes como Journey to the centre of the Earth (1974), Rick Wakeman é um pouco mais do que isso. É o dono de uma carreira solo estabelecida, é o amigo durango de Marc Bolan que pediu pra tocar em Electric warrior, do T. Rex (1971) porque estava sem dinheiro para pagar o aluguel, é o responsável pelo piano belíssimo de Life on mars?, sucesso de David Bowie. Um caso de músico que deixou lembranças e histórias por todos os lugares em que passou.

Das várias versões pessoais de Rick Wakeman que já circularam pelo universo musical, a que surge em seu novo álbum, Melancholia, é a do pianista influenciado pelo lado romântico da música clássica, que tem aparecido em discos solo recentes. Melancholia tem doze peças solo de piano, e surgiu de uma ocasião em que sua esposa elogiou um rascunho de composição que ele tocava no piano. Rick juntou a isso uma visão pessoal a respeito do papel curativo da música.

Algumas faixas, como Alone e Dance of the ghosts, caso ganhassem letras, vocal e mais músicos no estúdio, dariam boas canções entre o pop e o rock – são músicas que têm algo de Elton John, Cat Stevens, Queen, The Who, até de David Bowie. Já faixas como The morning light, Reflection, 409 e Sitting at the window estão mais próximas da construção de temas clássicos, com variações rítmicas e clima solene.

Músicas como Hidden tranquility e a faixa-título são o tipo de música para ouvir e pensar na vida, algo próximo da proposta de cura da qual Rick fala. E Watching life tem muito do piano do próprio Rick em Life on mars?, soando quase como homenagem ao passado dele e a David Bowie.

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Ouvimos: Michelle – “Kiss/Kill” (EP)

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No EP Kiss/Kill, o Michelle se despede com um pop esperto e irônico, misturando doçura, sexo, caos e autodepreciação com brilho e humor.

RESENHA: No EP Kiss/Kill, o Michelle se despede com um pop esperto e irônico, misturando doçura, sexo, caos e autodepreciação com brilho e humor.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records / Atlantic
Lançamento: 26 de setembro de 2025

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Banda novaiorquina formada por seis integrantes que compõem todo o material (Sofia D’Angelo, Julian Kaufman, Charlie Kilgore, Layla Ku, Emma Lee e Jamee Lockard), o Michelle – devidamente resenhado aqui com o álbum anterior, Songs about you specifically – está entrando em um “hiato por tempo indeterminado”. A despedida é com uma turnê e com um EP, Kiss/Kill, que meio que resume os propósitos do grupo em seis faixas.

  • Ouvimos: Rocket – R is for rocket

Antes de mais nada, o Michelle é uma banda de “música pop com maldade”. O que significa dizer que as canções são doces como qualquer música do Jackson 5, mas o dia a dia narrado nas letras é de discussões, ranços, autoestima profissional baleada, amores que são dispensados após uma única noite de amor, fodelança universitária, relacionamentos cagados. Na real, muito da temática do Michelle vem sendo fagocitada por artistas como Taylor Swift e Sabrina Carpenter, que fazem canções pop aparentemente inofensivas, mas que falam com todas as letras do tamanho do pênis do namorado, de um ex que se comportava como uma criança, de relacionamentos que só se sustentavam na cama, e coisas do tipo.

A diferença é que o Michelle faz isso do ponto de vista não de uma garota com autoestima de showgirl mimada, mas do lugar de jovens universitários merdeiros e felizes. Kiss/Kill abre com um indie-pop cara anos 1980/1990 falando sobre mulheres que não levam desaforo pra casa (Girl is a gun). Prossegue com a dream bossa de Babysitting (que fala justamente sobre uma garota que cansou de bancar a babá de um namorado adulto não-funcional), com a vibe michaeljacksoniana de MVP (r&b com cara noturna e alegre sobre um relacionamento a três em que uma das partes envolvida é o most valuable player, o jogador mais valioso do trisal) e com o ótimo indie rock, lembrando The Killers, de Water on the floor.

O Michelle encerra Kiss/Kill com o pop ágil, bossanovista e bonito de Get 2U (canção sobre relacionamentos que vivem cercados de desculpas e de situações mais do que cagadas) e com o soft rock de amor e ódio da faixa-título, que lembra o som da banda canadense Tops. Por sinal, um grupo que achou um ótima solução para continuar fazendo pop sem virar comida de leão predador das paradas de sucesso – coisa que o Michelle vinha fazendo também.

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Ouvimos: Continue – “Imenso nada”

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Em Imenso nada, o Continue mistura pós-grunge, psicodelia e pós-punk com belas melodias e guitarras cheias de atmosfera.

RESENHA: Em Imenso nada, o Continue mistura pós-grunge, psicodelia e pós-punk com belas melodias e guitarras cheias de atmosfera.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Coffin Joe Records
Lançamento: 7 de agosto de 2025.

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Vindo do ABC paulista, o Continue é formado por Natália Zanellato (voz),  Bruno Molino (baixo), Diogo Marino (bateria), Alê Kaimer (guitarra) e Rafael Fernandes (guitarra). Imenso nada, primeiro álbum do grupo, foca mais em estilos próximos do pós-grunge, mas faz isso inserindo climas ligados à psicodelia (Içar velas, que tem algo do Radiohead no som), ao pós-punk (Imenso nada, Céu do planetário, a união de punk e riffs herdados de Smiths e Billy Idol em Síndrome de harpia) e até punk-pop trevoso com emanações de Hüsker Dü (Mercúrio retrógrado, Cerrando os dentes).

  • Ouvimos: Papôla – Esperando sentado, pagando pra ver

Ao contrário do receituário comum das bandas pós-grunge, o Continue valoriza melodias bonitas e guitarras com clima elaborado. No blues fantasmagórico Lavadeiras, as guitarras imitam som de rio, e no pós-punk + shoegaze Medo, elas criam uma ambientação sonora tristonha – assim como em Céu do planetário, elas impõem beleza mesmo numa sonoridade abrasiva. Chegando perto do fim do álbum, Áfricamérica une afropop + punk + MPB, trazendo um som bem mais limpo que no restante do disco.

Na real, faz até uma certa falta que o fim de Imenso nada tenha mais peso, ou volte no clima misterioso do início. Ainda assim, o Continue mantém a criatividade do disco em alta, lembrando um Wilco abolerado na desolada Falsa visão, e fazendo uma música mais introspectiva e confessional em Lado certo.

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