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Crítica

Ouvimos: Caco/Concha, “Caco/Concha”

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Ouvimos: Caco/Concha, “Caco/Concha”
  • Caco/Concha é o primeiro álbum da dupla de mesmo nome, formada pelos primos André e Felipe Nunes, que moram em São Paulo e Ubatuba (litoral de SP), respectivamente. “Nossa estreia se propõe a acessar as sensações existentes entre o que acolhe e agrada com o que cutuca e tira do eixo”, contam os dois.
  • Entre as influências confessas do trabalho estão David Bowie, Yellow Magic Orchestra, Chico Science & Nação Zumbi, Gilberto Gil, Kraftwerk, Prince e Talking Heads.
  • A capa do disco é assinada pelo ilustrador Kenji Lambert e mostra (segundo o texto de lançamento) “a beleza das conchas e o perigo de seus cacos que ficam espalhados na areia decorando a praia”. “Construímos cada detalhe da ilustração juntos, pensando em todas as cores, ângulos dos vidros e relação da água com a areia da praia, o que foi fundamental para chegarmos em um resultado que traduz em traços cada nota do álbum”, explica Kenji.

Um dos e-mails enviados pela Cavaca Records, a gravadora do Caco/Concha, classificava o álbum epônimo dessa dupla bastante inventiva como “estranhamente pop”. O estranhamento e os contrastes são quase dois outros integrantes no projeto de André e Felipe Nunes, começando pela diferenças entre cidade grande e praia (“caco” e “concha”) e pela mescla de grooves de funk anos 70, boogies oitentistas, letras enigmáticas e gravações “de campo”, com vozes ao acaso e ruídos do dia a dia.

Cassis cornuta, um dos singles do álbum, é um funk que resume essa sonoridade trazendo metais, clavinet e uma letra que basicamente tem fundamento rítmico dentro da melodia. A sonoridade do álbum volta e meia remete a Tim Maia na segunda metade dos anos 1970,  Gilberto Gil no começo dos 1980, ou a discos como o Sábado/domingo do Som Nosso de Cada Dia (1977), em faixas como Chit/Chat, um funk aberto com conversas sobre vida no litoral e na cidade grande, e repleto de efeitos e solos de guitarra. Ou Modo avião, que em meio a ruídos de viaturas, valoriza as linhas de baixo bem na frente.

O jogo de contrastes do disco permite experimentações até mesmo quando os modelos parecem ser Stevie Wonder e Rufus & Chaka Khan (o funk lento de Babel) e o Michael Jackson de Wanna be startin’ somethin’ (em I wonder). Diádromo soa mais próxima do boogie nacional dos anos 1980, São Sebastião leva o Caco/Concha mais perto do samba e do afrobeat e Divino amor, um eletro funk, é a faixa mais tranquila de ser definida como “dance music”, num disco que beira a psicodelia em vários momentos.

Nota: 8
Gravadora: Cavaca Records

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Crítica

Ouvimos: Deerhoof – “Noble and godlike in ruin”

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Ouvimos: Deerhoof - "Noble and godlike in ruin"

RESENHA: Deerhoof lança Noble and godlike in ruin: um Frankenstein sonoro com jazz, prog e crítica social. Barulho pessoal e político dos bons.

O “nobre e divino em ruínas” do título do 19º (uau!) disco da banda norte-americana Deerhood vem do romance Frankenstein, de Mary Shelley – aliás, vem de um trecho em que o ser humano é visto como alguém vil, capaz das maiores mesquinhezas, e simultaneamente alguém nobre e virtuoso. A banda vê o disco como um Frankenstein sonoro, “de baixo orçamento”, cuja capa no estilo “vergonhosamente apresenta” não deixa mentir, com colagens dos rostos dos integrantes feitas com mão de onça.

Seja como for, se você esperava que alguém conseguisse unir referências de Captain Beefheart e Beach Boys fase Pet sounds num mesmo disco, seus problemas acabaram. Em Noble and godlike in ruin, o Deerhoof faz Overrated species anyhow soar como um gospel relaxante, cria um ritmo pseudo-latino desencontrado em Sparrow sparrow, faz uma espécie de jazz rock invertido em Kingtoe, soa jazzístico e ritmicamente pitoresco em Return. Por aí.

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Isso só para ficar na primeira parte do álbum, que ainda apresenta lá pelas tantas uma colagem sonora e rítmica digna de Mutantes em Ha, ha, ha, ha, haaa, espécie de progressivo assustador. Under rats é uma das faixas que poderiam ser chamadas de “progressivas”, mas um progressivo à moda de grupos como Primus, com invocações math rock, vocal que chega perto do rap, experimentações rítmicas – lá pelas tantas cabe até, como se fosse totalmente por acaso, um pedaço de Nessun dorma, ária da ópera Turandot, de Puccini.

O baú de referências do Deerhoof parece fazer Captain Beefheart e Mutantes se encontrarem com o Soft Machine (!) em Disobedience, cobre A body of mirrors com cordas misteriosas e uma erupção sonora e une vibes meditativas e ruidosas nos sete minutos de Immigrant songs. Dando atenção às letras, você percebe que a opção do Deerhoof pelo diferente não é só musical: temas como hostilidade, preconceito e maus tratos a imigrantes surgem em vários momentos das letras. Pode parecer um disco louco demais pra muita gente, mas é barulho pessoal e político dos melhores.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Joyful Noise.
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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Ouvimos: Ator Carioca – “Nada a esconder”

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Ouvimos: Ator Carioca - "Nada a esconder"

RESENHA: Ator Carioca estreia com Nada a esconder, disco de MPB indie-rock com pós-punk, math rock e ecos de Gil, Titãs e Arctic Monkeys.

Com uma filiação “carioca” séria, tanto no nome quanto na sonoridade, a banda Ator Carioca vem, na verdade, do Maranhão. E se dedica, em seu disco de estreia Nada a esconder, a uma MPB solar, ainda que as letras sobre dúvidas existenciais dominem o álbum – e ainda que estilos como pós-punk e math rock apareçam volta e meia como referências para os arranjos.

O duo de Hugo Rangel e Orlando Ezom – acompanhados por um time de músicos – também remete bastante a nomes como Luiz Melodia, Titãs, Beto Guedes e Gilberto Gil, mas sempre com uma pegada indie-rocker, que soa assemelhada também a bandas como Arctic Monkeys em faixas como Nada a esconder, Outra vez, Praia de Boa Viagem (com boas guitarras que lembram a produção de Beto e Lô Borges nos anos 1970/1980) e Novo de novo.

Matéria escura e O sonho do aviador são pós-punk emepebístico e adulto, Baby do coração de carpete manda bala na fusão blues-samba-rock e faixas como Balanço do dia e A dor é a graça chegam mais próximo de um pop adulto, referenciado tanto em Nando Reis quanto em seu ex-grupo Titãs. No final, a surpresa é o instrumental Ao mestre Lincoln, que homenageia Lincoln Olivetti e Robson Jorge com metais, referências de jazz e boogie, e violão solado e cantado, como Robson, influenciadíssimo por George Benson, costumava fazer.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Brisa Records
Lançamento: 11 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Elétricos – “Elétricos” (EP)

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Ouvimos: Elétricos - "Elétricos" (EP)

RESENHA: Elétricos lança EP surf punk com zoeiras sérias e climas psicodélicos pela Baratos Afins.

Elétricos, uma banda surf punk de São Paulo, vem com novidade: um EP epônimo com três faixas, lançado (olha só!) pela Baratos Afins – gravadora que documentou bastante o underground paulistano dos anos 1980.

O material do disco, como bem convém a uma banda do estilo, é bastante provocativo, com zoeiras sérias como a de CHMC?, punk com letra praticamente falada (“coca, heroína, maconha e cola / seu pastor também gosta”) e riff espacial como o de Holiday in Cambodja, dos Dead Kennedys.

Completando, tem o tom surfístico e punk-quase-psicodélico da guitarra de Não vamos perder os dentes e a classe de Homem ao mar, com riff quase oriental. Uma boa estreia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Baratos Afins
Lançamento: 15 de maio de 2025.

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