Lançamentos
Radar: Turmallina, Lau E Eu, Punho de Mahin, Brita, Riviera, Baque!, Elefante Naumann

Tem música que saiu hoje, e que já segue imediatamente pro Radar nacional: o Turmallina, de SP, recria o shoegaze a seu modo com o novo single, Mil pedaços. Algumas coisas que já estão por aí há um tempinho e que chamaram nossa atenção também estão na lista. Já ouviu Punho de Mahin? Lau E Eu? Tá tudo aqui!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Turmallina): Giullia Dora/Divulgação
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TURMALLINA, “MIL PEDAÇOS”. Vindo de São Paulo, o Turmallina dá uma roupagem menos seca e crua para o shoegaze – inspirado por bandas como DIIV, que têm uma abordagem mais elaborada do estilo musical. Preparando um álbum, soltam hoje o single Mil pedaços, uma canção de amor com sonoridade quase celestial, graças aos riffs de guitarra que vão disputando espaço na faixa, aos sintetizadores, e à mixagem que valoriza sons etéreos.
PUNHO DE MAHIN, “EI, MULHER”. Essa banda – que tocou recentemente no palco Quebrada, do festival The Town – está em excelente companhia no estúdio: Clemente Nascimento (Inocentes, Plebe Rude) está produzindo o primeiro disco delas, que sai em breve pela Deck. O Punho de Mahin une afropunk, atitude, feminismo e som (muito) alto. Ei, mulher, primeiro single do álbum, convida as mulheres pretas para entrarem na roda punk. E já ganhou um clipe gravado ao vivo no Sesc Pompeia. Junae Andreazza é diretor de fotografia, edição e pós-produção do vídeo.
“A música funciona como um espelho sonoro. Ela reflete para a mulher negra uma imagem de poder, beleza e resiliência, combatendo estereótipos negativos. É uma ferramenta que encoraja, um instrumento de cura que reconhece a dor para superá-la, e uma celebração da vida, da cor, da poesia e do valor inestimável das mulheres negras. Ela não apenas fala sobre elas, mas fala para e com elas”, apontou a vocalista Natália Matos.
LAU E EU feat MENINO THITO, “O SONHO DE MINELLE…”. Lauckson Melo, cantor, compositor e multi-instrumentista sergipano, usa o pseudônimo Lau E Eu para seu trabalho solo. O som é uma espécie de indie-pop mexido, remexido e experimentado, com referências tanto do r&b quanto da psicodelia. O sonho de Minelle…, com participação de Menino Thito nos vocais, parece uma canção bem tranquila e relaxante, mas só parece – a letra fala dos descaminhos de alguém após o fim de um relacionamento. Temas como preconceito e isolamento surgem ao longo da faixa. A faixa está no EP Feroz comum silêncio entre nós… Pt 1.
BRITA, “SOLARES” / “PASSO EM FALSO”. Com um som ligado ao guitar rock dos anos 1990 – e vocais delicados que chegam a lembrar a MPB jovem do começo dos anos 1980 – o Brita prepara o segundo álbum para este ano (o primeiro, Intrínseco, é de 2023). O single Solares traz experimentações rítmicas e melódicas típicas de estilos como math rock – unidas à vibe introspectiva e à atmosfera solar, típicas de uma banda que tem músicas “inspiradas no mar e nas experiências de crescer em uma pequena cidade litorânea do estado do Rio de Janeiro. Já Passo em falso, outro single do grupo, é um cozidão de riffs que põe o som do Brita mais próximo do pós-punk.
RIVIERA, “LAÇOS”. Já chegou nas plataformas o EP Passado/Presente, primeira parte do álbum Com o passar dos anos, do Riviera, projeto musical conduzido por Vinícius Coimbra. A ideia de Vinicius foi fugir de um som “que gritasse”, valorizando silêncios e tons atmosféricos de guitarra. Laços, um dos singles que antecederam o disco, inspira-se em Death Cab for Cutie e Bon Iver, e é uma balda indie-folk que fala sobre afetos e gestos simples no dia a dia de um casal. Cada faixa de Passado/Presente ganha um videoclipe e, juntos, eles compõem o curta Molduras, dirigido por Vinícius em colaboração com a fotógrafa Bruna Lacerda – Laços é o que abre o vídeo.
BAQUE!, “A FACA E O QUEIJO”. Essa banda paulistana mexe com uma espécie de rock surreal-neopsicodélico, em que referências de David Lynch e sons malditos da MPB surgem em letra, música e imagem. Aliás, eles afirmam que seu som é “rock-rito”, sempre focando em ideias perturbadoras, e num som próximo tanto do punk quanto da psicodelia. A faca e o queijo, novo single, ganhou um clipe 100% independente, misterioso, que tem participação de ninguém menos que Tatá Aeroplano.
ELEFANTE NAUMANN, “FÉRIAS”. Vindo de Guarulhos (SP), o Elefante Naumann decidiu lembrar de épocas em que as coisas pareciam mais simples, ou menos complexas, em seu novo single, Férias. O clima da faixa oscila entre o grunge e a fórmula que deu fama aos Pixies (o loud-quiet-loud, barulho e silêncio), e a letra fala da infância, do relacionamento com os pais, e de uma época em que a glória máxima das férias era viajar com eles.
Lançamentos
Urgente!: Sex Noise relança demo que saiu com “defeito especial”

O selo Caravela Records continua focado em lançar nas plataformas todo o material da histórica banda indie carioca Sex Noise. Já saiu a demo Pultanovinzona (da qual falamos há algumas semanas) e dessa vez sai a última demo oficial do grupo, Psychedelic gongolo, gravada em 1995. A demo foi lançada em formato K7 só um ano depois – isso porque a banda quase decidiu engavetar o trabalho para sempre.
Enquanto a banda (com a mesma formação da demo anterior: Larry Antha nos vocais, Alex Dusky na guitarra, Mario Júnior no baixo e Henrique Santos na bateria) gravava a fita no estúdio Quadrante, em Vaz Lobo, os músicos não tinham percebido que havia um problema técnico na guitarra, que punha um som de apito dissonante ressoando em todas as músicas. Sem grana para regravar, o Sex Noise deixou a demo de lado e passou a fazer inúmeros shows.
“Começamos a desbravar novos lugares, que na época foi batizado pelo Tom Leão no Rio Fanzine (caderno indie do jornal O Globo), como circuito-off. Lugares resenhados em matéria de destaque como o Bar do Fusca em São Gonçalo, e o Farol em Piratininga”, relembra Larry.
O Sex Noise só lançou a demo quando decidiram encarar o tal “defeito” na guitarra como um efeito especial – quase como se fosse um pedal usado por uma banda barulhenta tipo My Bloody Valentine. Aliás, em termos de som, o grupo estava bastante influenciado por bandas como Smashing Pumpkins, em faixas como Quero siri e Caixacão dentro. Pixies, Sonic Youth, Hole, Mudhoney, Nirvana e Dinosaur Jr também estavam na lista de bandas ouvidas pelo Sex Noise na época. “Cequiépeixe eu sou bagre é total Sonic Youth, mesmo com a guitarra do Alex emitindo aqueles ruídos, o que acabou encaixando como uma luva”, conta o vocalista.
Um detalhe que chamou a atenção na demo foi a capa, toda colorida – cor em capa de fita demo era algo que, nos anos 1990, parecia privativo das bandas indie da Zona Sul carioca. A galinha sangrenta da capinha foi (pode acreditar!) inspirada por leituras de Perto do coração selvagem, livro de Clarice Lispector.

“Num momento específico do livro a autora falava da inocência das galinhas que mal sabiam de sua curta vida antes de virar um assado. Tudo isso misturado no nosso liquidificador mental, culminou na descoberta de que a banda paulista Vzyadoq Moe, que idolatrávamos, também era influenciada por Clarice Lispector. Então foi só juntar tudo e pedir a um amigo desenhista da Sociedade HQ, o Alexandre Master, que fizesse um desenho com uma galinha, com sua vida sendo transpassada como estrada”, conta Larry.
Uma outra curiosidade relativa a Psychedelic gongolo, é que aquela fitinha que quase foi engavetada acabou dando espaço ao Sex Noise no mainstream: o então adolescente Rafael Ramos, hoje produtor, comprou uma fitinha e sugeriu ao pai, o então executivo da EMI João Augusto (e hoje chefe da gravadora Deck), a entrada do Sex Noise numa coletânea de bandas novas da gravadora, Paredão, que sairia em 1996. A frase “o resto é história”, enfim, cabe como uma luva nisso aí.
Texto: Ricardo Schott – Foto: André Mansur / Divulgação
Crítica
Ouvimos: Zaynara – “Amor perene”

RESENHA: Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Sony Music Brasil
Lançamento: 9 de outubro de 2025
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O beat melody, estilo defendido pela paraense Zaynara, é um primo do tecnobrega, só que mais chegado ainda às raízes do brega paraense: ele tem influências mais demarcadas de calipso, ao mesmo tempo que junta tudo com música eletrônica (ela própria explicou a receita num papo com o Gshow ano passado), e não dispensa a sofrência como assunto de letras e músicas.
Isso tudo junto em doses às vezes iguais, às vezes desiguais, faz com que o som de Amor perene, segundo disco de Zaynara – e sua estreia pela Sony Music Brasil – tenha lá um certo lado pop que se assemelha ao sertanejo. Ou pelo menos à apropriação de gêneros feita pelo estilo, que volta e meia se avizinha do som dela em alguns refrãos – como o de Eu me enganei, uma sofrência bacana que surge na metade do álbum.
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Pra dizer a verdade, tudo isso aí só torna a audição de Amor perene uma experiência mais instigante. Do começo ao fim, ele é um disco de festa e uma investigação particular do encontro entre brega, latinidades, guitarras e até referências do rock e do pop gringo. A faixa-título mistura folk-pop, sons grandiloquentes na onda do Coldplay, e o refrão parece versão de hit estrangeiro. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA.
5 estrelas, música criativa que narra uma conversa romântica entre uma passageira e um motorista de aplicativo, tem participação do baiano Tierry, e é um tema esperando por uma trilha de novela – e quem sabe, por uma personagem. Se vira aí abre com um piano simples e elaborado, e embica numa balada brega. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA. O fim do disco é com a dance music paraense de Perfume da bôta. Essa onda vai pegar.
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Crítica
Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025
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Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.
- Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!
O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.
Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.
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