Crítica
Ouvimos: Luiza Lian, “7 estrelas/Quem arrancou o céu?”

- 7 estrelas/Quem arrancou o céu? é o quarto álbum da cantora, compositora e artista visual paulistana Luiza Lian. O álbum é produzido por ela com Charles Tixier e sai pelos selos Risco (Brasil) e ZZK Records (fora do país). Céu participa da faixa Tecnicolor.
- As músicas foram feitas antes da pandemia, em 2019, e toda a elaboração foi lenta, com Luiza e Charles respeitando o tempo um do outro, e o tempo do trabalho. “O foco do disco é discutir esse lugar do que é a internet, do que é o fake, dessa hiper-realidade, dessa transformação dos nossos afetos a partir da virtualidade”, explicou Luiza à Folha de S. Paulo, dizendo também que existe uma grande influência da estética de videogames e animes nas faixas.
O disco novo de Luiza Lian nasce sob o signo do pop feito não para grandes massas, mas para um público concentrado, para uma turma de fãs – e com possibilidade de crescer. Mais ou menos o que rola lá fora com Carly Rae Jepsen, e outros artistas que veem o pop como gênero, meio de comunicação. Mas aqui é MPB-pop, com assinatura nacional e influências de pagode baiano, de tropicalismos (referências à voz de Gal Costa surgem aqui e ali), de pop nacional filtrado pelo som brasileiro dos anos 1990 (com um pouco menos de ousadia, Liminha poderia ter assinado a produção de algumas faixas).
Uma curiosidade a respeito de 7 estrelas é que Luiza parece ter fechado as letras para quem se dedicar a prestar atenção nelas de verdade. Em vários momentos, as linhas vocais parecem ser mensagens cifradas e endereçadas, cuja absorção se dá como parte integrante da música, ou como sons embarcados na melodia – me ocorre um pouco o que rolava no rock brasileiro dos anos 1990, em discos de bandas como Charlie Brown Jr e Chico Science & Nação Zumbi. Em músicas como o samba eletrônico Eu estou aqui, o ritmo é dado quase tanto pelas frases da letra quanto pelas batidas.
7 estrelas tem, em doses menores, um lado meio sacana comum ao pop nacional atual, como na boa Homenagem (“quando me vê passar bate uma saudade/chega em casa, pensa em mim e faz uma homenagem”). O tom de algumas faixas, como 7 estrelas, Forca (“todo rei tem uma forca/toda rainha uma forca/cuidado com a corda na subida pra não sufocar”) e Cobras na sua mesa varia entre a psicodelia e a distopia, num cenário quase tão perturbador quanto o da foto distorcida da capa do álbum. Temas como relacionamentos distantes ou mal-explicados, os quases da vida e a busca de novas curas e luzes dominam o álbum. Já a variedade de ritmos aponta para o funk-trap discreto de Tecnicolor (com participação de Céu), para o axé modernizado de Desabriga e para a MPB com design sonoro herdado do hip hop de A minha música é, a faixa de abertura.
Gravadora: Risco
Nota: 7,5
Foto: reprodução da capa do álbum
Crítica
Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.
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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).
Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.
Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1
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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).
Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.
A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.
Leia também:
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- Ouvimos: Negro Leo, Rela
- Ouvimos: Residents, Doctor Dark
- Relembrando: The Residents, Meet The Residents (1974)
Crítica
Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.
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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.
A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.
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