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Crítica

Ouvimos: Eduardo Manso, “Cumulonimbus”

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Ouvimos: Eduardo Manso, "Cumulonimbus"
  • Terceiro álbum do músico carioca Eduardo Manso, Cumulonimbus “gira em torno da noção de repetição, permitindo que sutilezas e minúcias venham à tona por meio da recorrência de sons e movimentos”, como diz o release de lançamento.
  • O álbum sai pelo selo QTV, do qual Manso foi um dos fundadores. O músico tocou em projetos como Rabotnik, Binário, Bemônio e Meia Banda, e trabalhou com nomes como Tono, Ava Rocha e Negro Leo.
  • Além de Eduardo gravando, mixando (ao lado de Fabiano França) e produzindo e tocando sintetizadores, guitarras, samples, harmonium e órgão, o álbum tem Marcelo Callado na bateria e as vozes de Ava Rocha, Nana Carneiro da Cunha e Uma. Cb, a faixa de abertura, já ganhou clipe.

O ARP Odyssey, aquele sintetizador que Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, adotou nos anos 1970 – e que era considerado uma espécie de “meu primeiro synth” por muita gente séria – foi a base para Eduardo Manso criar (junto de um sequenciador e um gravador portátil) as quatro primeiras faixas desse Cumulonimbus. Um álbum  experimental, com sonoridades herdadas do krautrock, mas que volta e meia parece até “progressivo” sem cair nos vícios do estilo musical. Como acontece em Petrichor, três minutos de música girando em torno de notas no sintetizador, que lembram o Kraftwerk de Ralf and Florian (1973) ou os momentos mais viajandões do Neu! ou até de Brian Eno. Ou em Derecho, de introdução quase tão tensa quanto On the run, do Pink Floyd

Ainda que o disco tenha sons de bateria acústica, em algumas faixas ela surge como quase um efeito sonoro a mais, como se fosse só um lembrete – em Haar, a segunda música, ela dá um aspecto de blues kraftwerkiano e em Derecho, a quarta faixa, surge com um aspecto mais roqueiro e tribal. Tabernanthe iboga, por sua vez, fecha o disco com quase quinze minutos de música ritualística, repleta de ruídos, vozes e camadas sonoras – por acaso fazendo referência a uma planta com propriedades curativas e alucinógenas. Na abertura, tem ainda Cb, a mais eminentemente “eletrônica” faixa do disco, por causa da combinação de teclados e batidas em sequência.

Gravadora: QTV
Nota: 8

Foto: Carolina Amorim/Divulgação

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Ouvimos: Finn Wolfhard – “Happy birthday”

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Finn Wolfhard estreia solo com lo-fi torto, entre Lemon Twigs e Weatherday, misturando barulho, charme retrô e zoeira pop.

RESENHA: Finn Wolfhard estreia solo com lo-fi torto, entre Lemon Twigs e Weatherday, misturando barulho, charme retrô e zoeira pop.

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Finn Wolfhard, o Mike Wheeler da série Stranger things, faz – quem diria – música do mesmo mundo invertido do qual seu personagem é frequentador. Seu primeiro disco solo, Happy birthday, é lo-fi purinho, e tem mais cara de mixtape do que de álbum. O volume de experimentações por faixa determina a colocação de Happy birthday numa esquina entre a beleza 60’s 70’s dos Lemon Twigs e a zoeira de estúdio do Weatherday. A faixa-título abre o álbum entre ruídos na abertura e um clima Beach Boys fake, seguida pelo power pop de boas guitarras de Choose the latter, e pelos sons de transmissão que surgem no bubblegum Eat.

Finn contenta-se em soar verdadeiramente mais pop em Objection, balada que lembra bandas como Rapsberries e Badfinger. Mas Happy birthday aposta suas fichas também no slacker rock de Trailers after dark, na grungeira de Crown e em pelo menos três faixas – Everytown there’s a darling, You e Wait – tão grudentas quanto indies, lembrando as produções da gravadora K Records. Provável que os próximos discos de Finn já tragam um equilíbrio maior entre barulho e beleza – depende dele.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Night Shift/AWAL
Lançamento: 6 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Esteves Sem Metafisica – “de.bu.te.”

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Projeto da escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, o Esteves Sem Metafísica estreia com um belo disco de art rock, folk e ecos de Beatles, Stereolab e Bowie.

RESENHA: Projeto da escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, o Esteves Sem Metafísica estreia com um belo disco de art rock, folk e ecos de Beatles, Stereolab e Bowie.

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Com nome tirado de um verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é o projeto musical da escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca. de.bu.te, primeiro álbum, faz lembrar às vezes vozes pouco lembradas, como as de Catherine Ribeiro – e tem uma referência enorme da fase final dos Beatles, em vários momentos. No geral, é um disco de art rock, com vocais que surgem como vento e peças sonoras delicadas, como Proposição, a folk e elaboreada Sóbria (que chega a lembrar Stereolab) e o jazz pop Dar-me de volta e Tenta, que unem noção musical beatle, soins franceses e música popular de Portugal.

Sons que vão encontrando seu próprio ritmo aparecem nos vocais de Não sei ter-te e na vibração celestial de Balada da debutante (que evoca David Bowie). Redenção abre com vocais bem cuidados e ritmo cigano, e ganha tom quase progressivo depois. No final, Montanha isolada vem quase silenciosa, com beleza folk e orquestral, e letra introspectiva. Uma estreia muito bonita.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: FlorCaveira
Lançamento: 20 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Diego Assuf – “Zunindo a gruta da hibernação”

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Ritualístico e psicodélico, o solo de estreia de Diego Assuf mistura folk, MPB, sons mântricos e surrealismo à la Manduka, Lennon e Gismonti.

RESENHA: Ritualístico e psicodélico, o solo de estreia de Diego Assuf mistura folk, MPB, sons mântricos e surrealismo à la Manduka, Lennon e Gismonti.

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O carioca Diego Assuf deixa claro qual é a dele logo no começo de seu primeiro disco solo, Zunindo a gruta da hibernação: sons ritualísticos, referências da psicodelia nordestina e de toda uma onda mântrica de voz e violão que muita gente fiicou conhecendo na era dos blogs de MP3 e do Rapidshare (lembra?). Nomes como Manduka – referência assumida, por sinal -, Hawkwind, Paulo Diniz e Paulo Bagunça, além da banda do disco-jogo Persona, emanam da sonoridade do disco.

Esse tom ritualístico surge logo nos dez minutos da faixa-título – que abre o álbum unindo sons acústicos de poucas notas, ruídos de mata e uma vibe lembrando os momentos calmos do King Crimson. Prossegue na música das matas de Hey searcher e invade também músicas como Chautauqua da nova vida (que lembra os voos instrumentais de Beto Guedes), o folk andino + samba montanhês de Se arrastando e o retropicalismo de Meu amigo Mario Carte.

Entre letras libertárias e alguns instrumentais, Zunindo é também o disco do blues folk Navio zen e da pianística Fim do meu ouvido, desconcertante a ponto de lembrar John Lennon, Arnaldo Baptista e Egberto Gismonti juntos nas teclas. Duas curiosidades no álbum: Hollywood, supostamente gravada ao vivo, traz Diego errando de propósito, tendo “brancos” no palco, e ganhando vaias e gritos de “toca Raul!”. E o forró psicodélico O meu sapato, com diálogos sampleados da pornochanchada sanguinária O cafetão, de Francisco Cavalcanti (1982). O tipo de disco que, se tivesse saído por um selo pequeno em 1971, teria virado raridade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Paraíso Perdido
Lançamento: 4 de janeiro de 2025

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