Crítica
Ouvimos: Joanne Robertson – “Blurrr”

RESENHA: Joanne Robertson lança Blurrr, álbum de folk lo-fi e fantasmagórico, entre improvisos, ecos e dream pop sombrio, com letras noturnas e poéticas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: AD 93
Lançamento: 19 de setembro de 2025
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Poeta, artista plástica e musicista, Joanne Robertson faz música que parece improvisada, mas costuma dizer que musica, de modo geral, é improvisada, como falou numa entrevista recente. “É assim que todo mundo escreve música: eles simplesmente começam a tocar. Não escrevem a música, necessariamente”. Blurrr, seu novo disco, leva essa noção de “improviso” além da composição e atinge gravação, mixagem e preparo de estúdio. As nove canções do álbum soam fantasmagóricas, como se você resolvesse gravar um vizinho tocando guitarra em casa, e de repente os ecos e ruídos ambientes passassem a fazer parte da própria música.
Daria para classificar Blurrr como um disco lo-fi, mas é tudo tão natural que não soa exatamente como uma gravação de baixa qualidade: é só um folk gravado com qualidade de demo, mas cuja produção permite que se veja além do improviso, em faixas como Ghost, Why me (uma espécie de bossa fantasma, que lembra o lado acústico dos Smashing Pumpkins, com vocal etéreo) e o folk tristinho de Friendly e da “canção de adeus” Last hay, que encerra o álbum.
- Ouvimos: The New Eves – The New Eve is rising
Muita coisa em Blurrr soa como um Cocteau Twins das catacumbas – é dream pop, mas é sombrio, é assustador, mas é casual, e quase sempre é psicodélico de uma maneira não tão comum. Exit vendor, por exemplo, é bem nessa onda sombria e sonhadora, assim como Always were. Músicas como Gown e Doubt são um exercício de fantasmagoria e doçura, com cordas (cortesia do violoncelista Oliver Coates) e ruídos por trás.
O som de Blurrr parece não vir desacompanhado, é como se o próprio local em que ela gravou tudo fosse um instrumento musical. Já as letras falam em viagens, saudades, distâncias, lembranças e mistérios, que surgem em versos noturnos e imagéticos como os de Gown: “eles estão lá fora / deitados nos galhos / eles brilham forte e livremente / eles são amigáveis”. Um eles cuja imagem vem tão desfocada quanto a foto de capa, e o próprio título do disco em português.
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Crítica
Ouvimos: Djavan – “Improviso”

RESENHA: Improviso é Djavan íntimo e jazzístico: menos exuberante, mais caseiro, cheio de ganchos poéticos e canções que grudam, provando que ele ainda surpreende.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Luanda / Sony Music Brasil
Lançamento: 11 de novembro de 2025
“Esse negócio de chamar minha música de esquisita me perseguiu por muito tempo”, contou Djavan à Folha de S. Paulo há alguns dias, quando começou a maratona de entrevistas para divulgar Improviso, seu novo álbum. Músicas lindas como Açaí e Se, por exemplo, já renderam mais memes, piadas e incompreensões do que mereciam.
Bom, vamos lá: Tom Zé e Arnaldo Antunes é que fazem música propositadamente esquisita. Djavan é um dos exemplos, ao lado de Gilberto Gil e Caetano Veloso, do quanto a MPB acerta quando larga mão de todo e qualquer trauma relativo ao mundo pop.
Dá certo: a não ser que você tenha ficado longe do Brasil nos últimos dias, ou siga um universo blindado à MPB, provavelmente deparou pelo menos com uma entrevista, uma notinha, qualquer coisa a respeito de Improviso. Um disco que, durante quase todo o tempo, segue uma batuta jazzística, tem clima bedroom (foi gravado no próprio estúdio do cantor, e a vibe reflete o “caseiro” mais do que os álbuns mais recentes dele), num reflexo do tom artístico e à vontade da própria capa do álbum.
Improviso, vale dizer, não é tão exuberante quanto álbuns como D (2022), Vesúvio (2018) e Vidas pra contar (2015), os mais recentes – às vezes soa como uma obra sendo construída na frente do/da ouvinte, da qual você não vai se dar conta de cara. Mesmo assim, boa parte do disco gruda de imediato. Uma dessas músicas é justamente a música não-gravada por Michael Jackson no disco Bad (1987), Pra sempre, soul com cara jazz em que os metais parecem dançar, e que encerra com um scat de Djavan falando “Michael Jackson! Michael Jackson!”.
A faixa-título, o soul-jazz a la Stevie Wonder de Um brinde (a do verso “ir atrás do amor é um jazz”) e de O grande bem – esta, parecendo algo que passou pelas mãos de Quincy Jones – são as outras. Também está nesta lista O vento, balada tipicamente Djavan feita ao lado de Ronaldo Bastos, e gravada por Gal Costa no disco Lua de mel como o diabo gosta (1987). Um affair, a faixa de abertura, põe Djavan quase na categoria de um Cassiano que deu super certo mercadologicamente e musicalmente falando – soul cantado e tocado como jazz (ou seria o contrário?), ótima melodia, vocais ágeis.
Por falar em “canções que grudam”, Djavan, sempre um letrista bastante criativo, voltou cheio de ganchos no novo disco, com frases ótimas que colocam poesia em coisas que você poderia sentir – ou das quais poderia falar. Rola quando ele fala de um harém em que “o pecado não é de ninguém / tudo é de graça, nada se tem” em Um affair, ou quando une sonhos, guerras e desigualdades em Sonhar (“sonhar faz bem e não é da conta de ninguém / já é sonhar para quem quer viver sem praticar”), ou quando diz que “um coração fechado não da resultado, não atrai ninguém” em O grande bem.
Já a boa Falta ralar! fala sobre o relacionamento estranho e desigual de um casal de adolescentes, sob a perspectiva de uma menina de 15 anos. No geral, Improviso é um disco que, entre versos que grudam e histórias que cutucam, mostra que Djavan ainda sabe surpreender no detalhe.
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Crítica
Ouvimos: Charlotte dos Santos – “Neve azul” (EP)

RESENHA: Charlotte dos Santos, cantora norueguesa com raízes brasileiras, une jazz, soul, r&b e bossa em Neve azul, disco elegante e psicodélico que flutua entre João Donato, Marcos Valle e Erykah Badu.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: True Node Record
Lançamento: 17 de outubro de 2025
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Charlotte dos Santos é um cantora nortueguesa de ascendência brasileira, formada em composição e produção de música contemporânea pela Berklee College of Music, e cuja carreira vem se desenvolvendo no jazz – mas com uniões musicais que incluem soul, r&b, bossa nova e algum balanço brasileiro. Dá para escutar ecos de Milton Nascimento, Eumir Deodato, Joao Donato, Marcos Valle e Djavan nas cinco músicas do EP Neve azul.
- Ouvimos: Helado Negro – The last sound on Earth (EP)
A faixa em que todas essas referências ficam mais claras é justamente a música-título – cuja letra não é em português, mas cuja melodia é cheia de balanço. E há também um quase jazz-baião no estilo de Donato e Valle em Within me. Mas de modo geral, Neve azul é um disco de jazz-soul progressivo, com clima psicodélico e sensação de voo musical em I’ve been thinking, lembranças de Marvin Gaye e Roberta Flack em Pot of gold, e easy listening jazzístico nota 10 em Pale moon.
Já os vocais, cheio de criatividade, têm algo dos já citados Marvin e Roberta, mas têm muito também de Erykah Badu e Joyce Moreno – em Neve azul, a faixa-título, ela soa bastante parecida com a autora de Clareana. Neve azul é um daqueles discos que parecem flutuar – elegante, inventivo e cheio de sutilezas.
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Crítica
Ouvimos: Piat Falio – “Trânsito” (EP)

RESENHA: Piat Falio mistura indie, pós-punk e rock carioca com vibração bedroom; faixas cheias de energia e boas ideias mostram um projeto que pode ir longe.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de outubro de 2025
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Vindo de Mesquita, na Baixada Fluminense, o Piat Falio (ótimo nome!) é invenção do músico, cantor e compositor Elvis Gomes, que faz parte também da banda Ventilador de Teto. O som fica entre o indie rock de bandas como The Hives, a musicalidade de grupos mais populares como Foo Fighters e Red Hot Chili Peppers e algo, às vezes, próximo do pós-punk, sempre com sotaque extremamente carioca – em alguns momentos, Elvis soa como Marcelo D2 cantando.
- Ouvimos: Alan James – Solar/Sonhar
Esse clima surge em faixas como 26 km e Me diz – essa última, com um lance quase pós-disco. Só mais uma vez tem baixo à frente e um ritmo que evoca Strokes e Gang Of Four. Costas é um curioso rock-reggae deprê e lento. Se salvar é a melhor letra do EP, falando sobre uma mescla de planos de gente grande e a necessidade de salvar a própria alma, e do contraste entre planos mirabolantes e necessidade de descanso – a melodia tem algo de Red Hot, e se torna um rock abolerado ali pelo meio. Bemmal é quase pós-punk, com batidinha eletrônica, guitarra econômica e teclados.
O material foi gravado no quarto do músico em Mesquita, e mesmo com a vibração bedroom, tem peso e som. Com um trato nos vocais para aumentar a paleta de tons, e uma maior variação nos temas das letras, o Piat Falio vai longe.
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