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Crítica

Ouvimos: Dinosaur Jr, “Farm (15th anniversary edition)”

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Ouvimos: Dinosaur Jr, “Farm (15th anniversary edition)”

Farm (2009) pode até não ser um disco tão lembrado pelos fãs antigos do Dinosaur Jr quanto Green mind (1991) e Where you been (1993). Nem mesmo tão cultuado quanto You’re living all over me (1987), segundo LP, lançado na fase megaindie do grupo. Mas fez sucesso: foi o segundo álbum da banda lançado no século 21, igualmente foi o segundo lançamento do grupo após seu retorno em 2005, e acabou se tornando o LP mais bem sucedido deles nos Estados Unidos.

O nono álbum do Dinosaur Jr também foi marcado por um problema inesperado: a edição europeia de Farm chegou às lojas com um aumento de três decibéis em relação ao master original (!). E o selo Pias, que lançou o álbum no continente, precisou fazer um recall com os compradores. A falha, segundo o grupo explicou na época, rolou por culpa do software usado na masterização, que “duplicou” as camadas sonoras e transformou um álbum que já era ruidoso no que provavelmente deve ter sido um megashoegaze – aliás, o periódico britânico The Guardian zoou a situação na época e publicou que “o My Bloody Valentine deve estar morrendo de inveja” do Dinosaur Jr.

E aí que, além da novidade e da mídia inesperada, Farm se revelou um disco em que o Dinosaur Jr, mesmo mantendo sua integridade, fez um som tão palatável quanto possível. A produção de algumas faixas lembra o que nomes como Ted Nugent e Peter Frampton teriam feito caso tivessem resolvido atingir o mesmo nível, não de técnica, mas de nerdice guitarrística.

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O que soava distorcido, obnubilado e estranho até mesmo nos discos que o grupo havia lançado quando passou por selos indie-major como Sire e Reprise, voltava com peso e sujeira, mas com uma gravação/mixagem que valorizava tudo e dava foco ao som, em faixas como Pieces, Ocean in the way (essa, ao lado do blues-rock Over the people, soa como um Pearl Jam desprovido de qualquer necessidade de agradar), o rock-balada Plans, o stoner sessentista Your weather e o hard rock cromado, de mais de oito minutos, de I don’t wanna go there. O hit Over it traz um lado “pra cima”, quase de surf music anos 1980, do grupo. Nas letras, o vocalista e guitarrista J Mascis une redescobertas a sentimentos de inadequação e incompreensão.

Numa entrevista dada a ninguém menos que Henry Rollins na Magnet Magazine, J Mascis contou que a época de discos como Farm era, antes de tudo, de pisar devagar. Desde o retorno, o grupo estava novamente com sua formação original (além de Mascis, havia Lou Barlow no baixo e Murph na bateria), e tudo tinha que ser bastante pensado.

“Não tínhamos certeza de nada (em relação à volta). Por isso fizemos tudo lentamente. Você sabe, primeiro fazíamos um show e um programa de TV,e aí pensávamos: ‘ah, isso foi legal, talvez façamos mais alguns shows’”, contou o guitarrista, dizendo que a missão do Dinosaur Jr, depois do retorno, era algo bem… Enfim, não daria esperar algo padronizado deles. “Estamos tentando definitivamente não ser tão ruins quanto possível. Não tenho certeza de como tudo funciona”.

A edição nova de Farm traz como bônus algumas surpresas, como as releituras de Houses, música da misteriosa e pouco citada cantora canadense Elyse Weinberg, e de Whenever you’re ready, single de 1965 dos Zombies – ambas lançadas apenas em singles. E duas demos do grupo, a instrumental Creepies e a punk Show. Mesmo não sendo tão bom quanto a parte inicial da discografia do Dinosaur Jr, Farm é um disco que une barulho e beleza em doses iguais.

Nota: 8,5
Gravadora: Jagjaguwar

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Os melhores discos de 2025 até agora!

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Os melhores discos de 2025 até agora!

Mudamos algumas coisas no Pop Fantasma nos últimos tempos – e houve mudanças básicas em março. O site passa a falar cada vez mais de discos novos, e nesse mês que se passou, seções diferentes (Radar e Urgente!) surgiram para dar conta de, respectivamente, lançamentos em singles, e assuntos variados. Em março, o número de textos publicados por semana subiu bastante também. E ideia é que o Pop Fantasma facilite cada vez mais a vida de quem acompanha tudo que sai de música, selecionando os melhores lançamentos (e alguns piores também).

Ainda falta muita coisa acontecer, mas aqui, a casa está sempre em obras, e sempre sendo arrumada. E agora, você fica com os melhores discos de 2025 ouvidos pelo Pop Fantasma até agora, incluindo os meses de janeiro, fevereiro e março. Ouça tudo com a gente!

Arte: Aline Haluch

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TURMA DA NOTA 8
Art D’Ecco, Serene demon
Bartees Strange, Horror
Brian D’Addario, Till the morning
Chest, All good things end (EP)
Drop Nineteens, 1991
Hello Cosmos, Keep digging (EP)
Horsegirl, Phonetics on and on
Jack White, No name live (EP)
Jennie, Ruby
Lathums, Matter does not define
Lilly Hiatt, Forever
Melissa Weikart, Easy (EP)
Olly Alexander, Polari
Panda Bear, Sinister grift
Ringo Starr, Look up
Rose Gray, Louder, please
Sasami, Blood on the silver screen
Sleeper’s Bell, Clover
Squid, Cowards
Swave, Foi o que deu pra fazer
Tunng, Love you all over again
Yo La Tengo, Old joy (EP)

TURMA DA NOTA 8,5
Arnaldo Antunes, Novo mundo
The Backfires, This is not an exit
Bad Bunny, Debí tirar más fotos
Cathedrale, Poison
Circuit Des Yeux, Halo on the inside
Eel Men, Stop it! Do something!
FACS, Wish defense
Far From Alaska, 3
Franz Ferdinand, The human fear
Frog Eyes, The open up
Getúlio Abelha, Autópsia (EP)
Hamilton Leithauser, This side of the island
Heartworms, Glutton for punishment
Japanese Breakfast, For melancholy brunettes (& sad women)
Jethro Tull, Curious ruminant
Kathryn Mohr, Waiting room
Krisj Wannabe, Mirror (EP)
Lady Gaga, Mayhem
Lilywhite, Silver lining (EP)
Menores Atos, Fim do mundo
Mogwai, The bad fire
Paris Texas, They left me with the sword (EP)
Pink Turns Blue, Black swan
Porridge Radio, The machine starts to sing (EP)
Prism Shores, Out from underneath
Rés, Peba
Souls Extolled, Soulsex
Star 99, Gaman
Terraplana, Natural
Véu Sublime, Não é nenhum segredo (EP)
The Wombats, Oh! The ocean
Young Knives, Landfill

TURMA DA NOTA 9
20/20, Back to California
Alessia Cara, Love & hyperbole
Andy Bell, Pinball wanderer
BK’, Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer
BaianaSystem, O mundo dá voltas
Basia Bulat, Basia’s palace
Baths, Gut
Benjamin Booker, Lower
Bob Mould, Here we go crazy
Chalk, Conditions III (EP)
Chloe Slater, Love me, please (EP)
Dadá Joãozinho, 1997 (EP)
Delivery, Force majeure
Dilettante, Life of the party
Divorce, Drive to Goldenhammer
Gang Of Four, Shrinkwrapped (relançamento)
Ichiko Aoba, Luminescent creatures
Lambrini Girls, Who let the dogs out
The Main Squeeze, Panorama
Manic Street Preachers, Critical thinking
Matt Berry, Heard noises
Miya Folick, Erotica Veronica
The Murder Capital, Blindness
Ney Matogrosso & Hecto, Canções para um novo mundo
Paris Texas, They left me with a gun (EP)
Sharon Van Etten & The Attachment Theory, Sharon Van Etten & The Attachment Theory
Skinner, New wave vaudeville
Tátio, Contrabandeado
Thiago Amud, Enseada perdida
Throwing Muses, Moonlight concessions
The Velveteers, A million knives
The Waeve, Eternal (EP)
The Weather Station, Humanhood

TURMA DA NOTA 10!
The Hausplants, Into equilibrium (EP)
Hifi Sean & David McAlmont, Twilight
Marshall Allen, New dawn
Miami Horror, We always had tomorrow
Nyron Higor, Nyron Higor
Paulinho da Viola, 80 anos – Ao vivo

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Ouvimos: Djonga, “Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!”

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Ouvimos: Djonga, “Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!”

Boa parte da audição de Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!, novo disco de Djonga, dá vontade de dizer: “Para! Descansa! Respira!” O rapper mineiro despeja versos em um fluxo incessante, costurando sílabas entre uma frase e outra, fazendo as palavras se encaixarem em uma métrica própria – que, de certa forma, dialoga com o sotaque das Minas Gerais, cheio de abreviações e recriações do português.

Isso não é um problema, longe disso. É, na verdade, impressionante como Gustavo Pereira Marques – nome de batismo de Djonga – empilha histórias e batidas com intensidade. Quanto mais eu como, mais fome eu sinto! pede para ser ouvido com o encarte das letras em mãos. Faixas como Fome, onde a história de Exu é contada pelo próprio rapper, Qq cê quer aqui, Ponto de vista e PRRT! carregam um peso emocional que remete ao rap de BNegão, mas com um fôlego impressionante, como se as rimas fossem fruto de descobertas recentes ou de energias represadas há anos.

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Além da velocidade alucinante, Djonga também brinca com a melodia, variando linhas vocais e deixando diferentes flows coexistirem na mesma faixa. Isso fica evidente em Real demais e João e Maria, onde ele solta o verso guerrilheiro: “Tá pra nascer / alguém que faça essa guerra parar de ter sentido pra mim”. O encontro com a MPB que BK’ realizou em seu disco Diamantes, lágrimas e rostos pra esquecer (resenhado aqui) também acontece aqui em clima mineiro, com Samuel Rosa dando ar de rodinha de violão a Te espero lá e Milton Nascimento (carioca criado em Minas) soltando a voz em Demoro a dormir, canção sobre pessoas que ficaram para trás, com citação do filme Ainda estou aqui.

Bom, tem também o sample de Último romance, dos Los Hermanos, que soa como um enxerto meio excessivo na romântica e emotiva Melhor que ontem. Por outro lado, Dora Morelenbaum dá um ar doce a Ainda, um rap romântico e idealista, de briga, ainda que lembre do amor e das coisas da vida (“ainda que o pouco fosse tudo para nós / a gente teria a gente”). Pode ser que Djonga, em outro disco, queira alinhar uma participação de Gilberto Gil. O baiano, mesmo não cantando no disco, está presente – graças a lembranças de Vamos fugir e Não chore mais nas letras do rapper. E teria sido uma excelente adição ao universo afrobrasileiro e sonhador de Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!

Nota: 9
Gravadora: A Quadrilha
Lançamento: 13 de março de 2025.

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Ouvimos: Rael, “Onda”

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Ouvimos: Rael, “Onda”

Rael disse que Onda é um disco para as pessoas apenas ouvirem – não é um disco de guerra nem de contestação. A guerrilha do disco é sonora: Onda já abre com Simbora, um batidão entre funk e umbanda, com refrão lembrando Gilberto Gil. Prossegue com a faixa-título, que tem sample de Onda (hit de Cassiano), traz Rael e Mano Brown dividindo rimas e citando nomes importantes da cultura musical black brasileira – e encerra com bênção do mestre black nacional Dom Filó. “O filósofo Friedrich Nietzsche declarou: ‘Não acredito num deus que não dance’. E eu, Dom Filó, acrescento, ‘Não acredito num fiel que não se mexa”, diz o produtor e DJ.

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É por aí que vai Onda, disco em que boa parte das canções são românticas, e a maioria dos convidados conduz mais à descontração do que à cara franzida. Ivete Sangalo e Gabriel do Borel dividem vocais no rap-axé indianista Outro nível, Marina Sena surge no rap de paquera Na minha (do excelente verso “tomei coragem, mas também tomei tequila”) e o trio de produtores Los Brasileros se solta no rap-MPB Suave. Um álbum que indica caminhos mais descontraídos para o rap brasileiro, e talvez indique mudanças empresariais cruciais no estilo – já que foi o último disco lançado pelo selo Laboratório Fantasma antes da separação dos sócios e irmãos Evandro Fióti (por sinal, co-produtor de Onda) e Emicida.

Enquanto não rolam as próximas movimentações do selo, a onda de Onda vira para o reggae, o forró e o samba no decorrer do álbum. É o que surge na vibe nordestina de Saudade de lascar e Na minha cabeça (nessa, Mestrinho toca um acordeom virtuosístico, cheio de baixos que chegam a dar um tom roqueiro). E também no samba-trap Vibe, com Ludmilla – a cantora volta como citação na baileira Até o sol raiar, que encerra o álbum. Chá de lírio e Me deparei com a lua guiam Onda para o som praieiro, e o rap romântico Meu iô iô, com Luedji Luna, é uma das raras músicas quase vintage do disco, evocando o boogie nacional oitentista.

Onda não vai, provavelmente, ser um disco histórico para o rap nacional – mais acostumado com guerrilhas e discos solenes. Mas alivia bastante o clima de um estilo musical pesado e trevoso por convicção.

Nota: 8
Gravadora: Laboratório Fantasma
Lançamento: 20 de março de 2025.

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