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Crítica

Ouvimos: Squid, “Cowards”

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Ouvimos: Squid, "Cowards"
  • Cowards é o terceiro álbum da banda britanica Squid. O disco teve produção de Marta Salogni, Grace Banks e Dan Carey.
  • Na formação da banda, estão Louis Borlase (guitarra, baixo, vocais), Ollie Judge (bateria, vocal principal), Arthur Leadbetter (teclados), Laurie Nankivell (baixo, metais, percussão) e Anton Pearson (guitarra, baixo, vocais, percussão).
  • Num papo com o site The Line Of Best Fit, Judge disse que “Cowards parece ser o mais fantasioso dos nossos discos, só porque são muitas histórias, e é tão selvagemente inacreditável e tão distante de tudo que já experimentamos”.

Entre as bandas revivalistas do pós-punk, o Squid é uma das mais recentes. Seu primeiro álbum saiu em 2021, e um ano antes, quando ainda era um grupo de singles e EPs, eles tentaram embarcar em uma turnê – frustrada pela pandemia. Agora, com Cowards, o que mais impressiona é o nível de loucura que a banda se permite explorar, tanto na sonoridade quanto nas letras.

A abordagem do Squid ao pós-punk se alinha mais a nomes como The Fall, Public Image Ltd e The Sound: vocais tensos, eletrônica usada como elemento de desconforto, climas abstratos e dissonâncias que parecem anunciar um colapso iminente. Isso já fica claro na abertura com Crispy skin – seis minutos de rock experimental e alucinado, guiado por guitarras e baixo intrincados, metais que aumentam a tensão e uma letra que sugere, possivelmente, canibalismo. Na sequência, Building 650 insere cordas na equação, mas ainda soa como se o Nirvana estivesse reinterpretando uma canção dos Byrds.

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Para os fãs de lo-fi, Bloon on the boulders é um prato cheio: começa com uma pegada slacker rock clássica, envereda para uma psicodelia hipnótica e traz uma letra que narra uma história de crime bizarra: “Todas as casas neste país são construídas como merda/parede de gesso, bem, eu poderia dar um soco nela se quisesse (…)/aquele sol da Califórnia não é para mim/eu vou para casa e apenas tento dormir/sangue nas pedras.” Já a faixa-título Cowards brinca com um chamber pop desajustado, enquanto Well met (Fingers through the fence), com seu som áspero e imprevisível (incluindo um solo de cravo no meio do caos), soa como um Arcade Fire de péssimo humor.

Por acaso o disco tem uma espécie de Ween feito para assustar: Cro-magnon man, com letra que mistura reflexões sobre a ancestralidade humana e os traços primitivos que persistem até hoje (“eu vou enquadrar minha vida nos ossos que me restam”, repete um dos versos). Já Showtime! é o momento mais ritmado que o álbum ousa oferecer, carregando também um ar psicodélico.

Cowards é um disco que oscila entre a paranoia e a irreverência, a urgência e a ironia. No fim das contas, a sensação é de que o Squid não quer apenas resgatar o pós-punk – eles querem desconstruí-lo, esticá-lo até o limite e, se possível, explodi-lo.

Nota: 8
Gravadora: Warp Records
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

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Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

Curto, tranquilo e girando em torno de variações do alt-country, Automatic, o novo disco do duo norte-americano The Lumineers (Jeremiah Fraites e Wesley Schultz são os integrantes), é um álbum carregado na ironia fina – e ela suplanta, muitas vezes, a própria nova seleção de melodias da dupla, que nem sempre acerta no alvo.

No álbum, dá para destacar a abertura com Same old song, country com referências de punk e até de emo, fala sobre insucessos, canções tristes e lança mão de versos como “ei, mamãe, você pagaria meu aluguel? / você me deixaria ficar no seu porão? / porque qualquer um de nós poderia fazer sucesso ou poderia acabar morto na calçada”. A auto-explicativa Asshole é marcada por um piano nostálgico e alguma grandiloquência, com letra falando de um desencontro bem estranho: “a primeira vez que nos encontramos / você me achou um babaca / provavelmente está certa”.

O lado melódico-ao-extremo do pós-britpop bate ponto na faixa-título e em You’re all I got, e também no piano “voador” de Sunflowers, cujo arranjo impressiona pela beleza. So long tem um clima mais classic rock e estradeiro que o resto do disco, com um arranjo que cresce e vai ganhando outros elementos. A doçura do grupo dá aquela enjoadinha básica no country-gospel de Plasticine e patina de vez nas acústicas e chatinhas Ativan e Keys on the table – para recuperar tudo na mistura de despojamento e rigor pianístico quase clássico de Better day, um anti-hino ao vazio que rege a vida de muitas pessoas (“sonhando com dias melhores / assistindo pornô e programa de imóveis na TV”).

Nota: 7
Gravadora: Dualtone
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

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Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

A estreia solo do mineiro Tátio, produzida por Chico Neves, é um disco curto, direto, que poderia ter sido lançado pela antiga CBS em 1979 ou 1980 – ou seja: quando revelações da MPB eram lançadas a todo momento e encontravam espaço no rádio e nas trilhas de novela. Contrabandeado é um disco de afirmação, que fala sobre progresso sem regalias, amores fluidos e liberdade (sexual, inclusive) nas grandes cidades.

O tom quase mangue-bit de Radar é emoldurado por versos que dizem “vai ser difícil de controlar/tudo o que vive debaixo do sol”. A democracia e a fartura aparecem no samba-reggae-forró Será que eu sou louco. A MPB mineira clássica é evocada em Seres distantes e na meditativa Anhangabaú. A psicodelia surge no tom mutante do blues Sonho antigo e no ambient brasileiro da faixa-título.

A voz impressionante de Tátio ganha destaque em faixas como a balada do ex bem resolvido Longe de mim (com Zeca Baleiro como convidado) e o forrock apocalíptico de Reza milagreira, que ganha uma excelente participação de Juliana Linhares, e um arranjo em que o uso de eco faz parte do cenário. Contrabandeado é uma renovação da MPB da era da abertura, e um disco que funciona como vingança do oprimido.

Nota: 9
Gravadora: Estúdio 304
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

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Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

Banda psicodélica de Novo Hamburgo (RS), o Pedra Lunar é um quarteto formado por Gabrieli Kruger (voz e percussão), Bruno A. Henneman (guitarra e backing vocal), Leonardo Winck (baixo e backing vocal) e Felipe Frodo (bateria, percussão e backing vocal). O caminho rumo ao infinito, primeiro álbum do grupo, revela uma sonoridade que quase sempre está mais para 1966 do que para 1968. Algo entre o mod e o psicodélico em faixas como Tudo está no lugar, a quase-faixa título Caminhando rumo ao infinito (esta, com vocais bastante criativos), Livres por aí e Eterna juventude – essa última, com piano lembrando Nicky Hopkins (Rolling Stones) e clima herdado não só de Kinks como do começo do glam rock (David Bowie, T Rex).

Aumentando a variedade do som, o Pedra Lunar ganha tons progressivos em Chuva passageira, clima estradeiro e rock-barroco em Toda essa confusão, vibe entre o power pop e o country rock em Dias de inverno e um som entre Bob Dylan e Raul Seixas em Eu também quero voar. O saldo do disco do Pedra Lunar é bem positivo e promissor, e pega direto na veia de quem curte rock brasileiro setentista, por causa das letras e da argamassa vintage.

Nota: 7,5
Gravadora: Áudio Garagem
Lançamento: 14 de dezembro de 2024.

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