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Àiyé: experimentalismo 100% solo, ao vivo no Rio

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Àiyé: experimentalismo 100% solo, ao vivo no Rio (na foto: Larissa Conforto)

Baterista, compositora e produtora, Larissa Conforto é a única integrante do projeto experimental Àiyé. Única mesmo: nesta sexta (3), ao abrir o show de Céu no Circo Voador (aqui no Rio), ela deverá estar sozinha na apresentação, cantando e operando a aparelhagem que leva para o palco.

Mais conhecida anteriormente por seus trabalhos no rock (com a Ventre, banda que chegou a tocar no Lollapalooza em 2018) e na MPB (toca com artistas como Paulinho Moska), Larissa se recriou musicalmente na Àiyé, que lançou seu primeiro disco, Gratitrevas, em 2020, pouco antes do isolamento ser decretado no Brasil. O repertório traz o encontro dela com ritmos latino-americanos, experimentalismos musicais e religiosidade afro-brasileira (esse último, um tema que amarra todo o álbum, destacado em faixas como Terreiro).

Criada como um projeto musical prático (“que cabe numa mochila”, diz ela), a Àiyé foi concebida em meio a trabalhos musicais de Larissa em vários lugares, e envolveu mudanças dela para Portugal e para São Paulo. Gratitrevas já estava com uma turnê agendada para o Japão, que não rolou por causa da pandemia. A artista aproveitou para fazer uma turnê de lives, mostrando o trabalho direto do seu estúdio, em casa.

Batemos um papo rápido por Larissa, ao telefone, sobre o show no Circo, a volta aos palcos e sobre como está sendo trabalhar 100% solo.

Como estão sendo os ensaios aí? E como está sendo sua expectativa para o show no Circo Voador?

Cara… pandemia, né? Eu montei uma estrutura aqui em casa. Montei um pequeno estúdio e ensaio tudo no fone. Como sou só eu, é assim que eu ensaio. Deixo montado, às vezes passo todo o show, às vezes volto. O show tem muito improviso, mas para ter improviso você tem que ensaiar muito mais, para conseguir ficar à vontade. Hoje dei uma choradinha, fiquei emocionada (rindo), pensei: “Meu deus do céu, vou tocar tudo isso no Circo Voador sozinha no palco”.

No palco, deve ter muita coisa para ser dita além da música, não? Porque esse tempo todo que a gente passou, nesse desgoverno e em casa… Como você está se preparando para isso?

Eu não sou do tipo que deixa só a música falar, apesar das minhas músicas falarem por si próprias. Eu não programo muito as coisas que eu vou falar, tenho uma ideia do que precisa ser dito para um Circo Voador lotado em tempos de muitas trevas. Temos um fascista no poder, estamos no pós-pandemia, tá vindo outra variante aí, as pessoas querendo ir para o Carnaval… São muitas questões envolvidas, mas sinto que tem muita coisa para ser dita. Talvez tenha mais coisas para serem ditas do que tempo de show (rindo). Mas dei uma organizada nas horas de falar, o que é essencial. Na hora vai sair do coração. Botei alguns temas, mas a emoção vai falar mais forte.

Como você se descobriu como artista solo? Você vinha da Ventre, que foi uma banda independente bem sucedida, tocou no Lollapalooza… E no caso é solo mesmo, porque é você sozinha.

É como se eu fosse uma one woman band. Eu tento explicar isso no release: que eu toco sozinha, que não é só carreira solo com uma banda, que eu realmente toco sozinha. Eu nunca sei explicar sem ser usando essa palavra, apesar de eu achar meio esquisito falar em inglês. Mas eu acho que existe toda uma trajetória, uma história do fazer coletivo. Eu sempre estive em coletivos, comecei a tocar como instrumentista em carreiras dos outros, sempre ajudando os outros a fazer nascer um projeto, um disco, uma turnê.

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Chegou uma hora que… Bom, o retorno de Saturno chega para todo mundo. Mas acho que no fim da Ventre que eu senti isso no peito. Essa necessidade de colocar as minhas ideias, de expressar as minhas coisas. Tudo isso veio quando eu compus a primeira música. Tem a ver com essa necessidade de expressar. E com falta de recursos, porque aí eu fui fazendo em casa, e as músicas eu fui fazendo entre turnês. Quando eu estava no avião e não estava pegando internet, eu ligava o computador, abria o Ableton Live e ia produzindo as músicas. Ia compondo, escrevendo, sempre nesse momento, no ônibus. Viajei para Portugal, fui fazer uma turnê lá. Levei minhas coisas, fiz um show lá meio doideira, instrumental. Acabei me mudando para lá, fiquei seis meses morando lá, terminei o disco lá.

Mas o processo de ser sozinha teve duas vias. A primeira veio do “preciso fazer, e preciso fazer agora, e a única forma que tenho de fazer agora é essa, não vou esperar que venham pessoas!” E a segunda veio do fato de eu precisar fazer de forma viável. Eu precisava de um projeto que coubesse numa mochila, que eu não precisasse nem despachar essa mochila, para eu levá-la comigo em toda em qualquer turnê que eu for fazer com outros artistas. E que assim eu possa levar meu show para outros lugares. Foi assim que eu toquei em Portugal, toquei em Nova York. Aproveitava que estava indo fazer uma turnê, levava o meu projeto na mochila e ia fazendo mais shows. Isso viabilizou também o próprio disco, viabilizou tudo acontecer.

E não à toa, eu dei muito azar mas também dei muita sorte de ter lançado o disco logo no começo da pandemia. Lancei na primeira semana que o Brasil declarou lockdown, dia 20 de março. Caíram todos os shows…

Você tinha uma turnê marcada para o Japão, não era isso?

Exatamente. Eu ia tocar num festival. Enfim: um monte de datas surgindo, eu estava marcando turnê na Europa, ia tocar em três festivais no Brasil. E além de tudo cair, tem a questão das pautas, da assessoria de imprensa… Demora um tempão para se organizar tudo isso, para investir. Eu nem estava mais morando no Brasil, mas estava aqui porque queria lançar o disco aqui, com todo o mundo. De repente tudo fechou, todas as pautas eram sobre covid. Mas por sorte eu tinha um show solo montado. Que eu conseguia fazer de dentro da minha casa. Então eu fiz uma turnê internacional de lives (rindo).

Fiz tudo da minha casa, toquei em Lisboa, Rondônia, Amazonas, no Sul, em tudo quanto era estado do Brasil. E foi meio que me reinventando. Tudo foi meio assim, usando as ferramentas que tinha e surfando na onda do jeito que dava.

E é um projeto que é muito marcado pela reinvenção: você percebe isso nas letras, nas músicas, nas interpretações e na maneira de você fazer, também…

Completamente. Eu também saí de um lugar de baterista, e fui pro lugar de compositora, de protagonista, falando sobre as minhas questões, as coisas que me interessam. Porque muitas vezes me chamavam para fazer coisas de rock. E eu pesquiso ritmos latino-americanos, a identidade latino-americana através dos ritmos e não tinha onde botar isso, escoar as minhas ideias, as minhas pesquisas. Foi tudo para o projeto.

Como você se descobriu produtora? Quando começou a tocar profissionalmente, já pensava em produção?

Eu me formei em Produção Fonográfica. Entrei na faculdade com 18 anos e me formei com 20. E fui trabalhar em gravadora, então sempre trabalhei em produção. Já me formei e fui trabalhar na Biscoito Fino, já estava ali envolvida na produção, no estúdio, na montagem, na gravação. Tive a bênção de acompanhar muito artista grande, medalhão: Maria Bethânia, Gilberto Gil, Moraes Moreira… Depois fui para a Deck, que era uma gravadora muito independente, você tinha que levantar muito mais recursos, e lá fui para A&R mesmo.

Na Biscoito Fino eu era da produção artística e da produção executiva. Estava junto com o A&R, mas não era eu que fazia curadoria ou escolhia repertório. E daí eu acho que sempre meio produtora das minhas bandas também. Comecei a trabalhar como baterista, profissionalmente, aos 17, 18 anos, também. Estava entrando para a faculdade, aprendendo a gravar, comecei a ser DJ porque queria ter um estúdio para poder gravar as bandas. Já tinha essa vontade de tirar som, de fazer as coisas. Mas também por ser mulher, naquela época, eu não conseguia emprego num estúdio. Então fui para o lado da produção, só que sendo assistente.

Mas em todos os projetos em que eu estava, eu sempre fui muito a arranjadora. Mesmo na Ventre, tinha música em que eu fazia as guitarras, pensava nos arranjos, mudava tudo. Sempre gostei muito de interferir nas coisas. Acho que o olhar da instrumentista Larissa já é um olhar de produtora. Mas claro que a realização das ideias, de pegar e botar a mão na massa, foi mesmo com o meu projeto e ele abriu portas para fazer um monte de coisas. Já tinha feito uma trilha ou outra, antes. Mas foi depois que eu fiz um disco inteiro, que eu me coloquei pra produzir outros artistas mais firmemente.

Tem algum trabalho seu vindo aí, de trilhas sonoras, produção?

Tem uma trilha sonora que eu estou fazendo com a Natália Carreira (Letrux), para um série do canal Disney+ chamada Não foi minha culpa, sobre feminicídio. Deve sair no começo do ano. É uma aposta tem forte, tem Malu Mader, Elisa Lucinda. Tem também a carreira solo da Ju Strassacapa, da Francisco El Hombre. O projeto se chama Lazúli, eu produzi uns beats, a Ju animou e acabamos fazendo uma banda. Fizemos eu, a Cris Botarelli, do Far From Alaska, e a Lena Papini, também da Francisco. E tem um monte de pequenos feats, um single ou outro. Também estou produzindo a carreira solo da Roberta Dittz, da Canto Cego. Inclusive mandei pra mix hoje, vai sair ano que vem.

Falando um pouco mais do Gratitrevas, queria que você falasse de O mito e a caverna, que tem um clipe impressionante e é também uma música impressionante. Como surgiram clipe e música?

A música começou a ser feita em 2018. A gente já podia sentir o cheio de enxofre, né? (era a época da última eleição presidencial) A Ventre acabou e eu topei fazer uma turnê com o Vitor Brauer (da banda mineira Lupe de Lupe) que é meu parceiro nessa música. A gente fez uma turnê de três meses num Corsa 96, que foi apelidado de Interceptor (rindo). Fizemos o Brasil inteiro, de Norte a Sul. Foram 36 datas em dois meses e meio, quase três.

Foi muito forte, fizemos a turnê todos vestidos de vermelho, foi bem político. Em cada cidadezinha do interior, de cada estado, fomos falando, “a gente tem que se unir, a gente tem que fazer rede, tem que estar junto, olha isso que tá acontecendo?”. A turnê foi nessa onda, de música de resistência. Eu trouxe várias músicas diferentes que já havia tocado na carreira, não só da Ventre. O Vitor também, e fizemos um show bem assim.

Num desses percursos, se não me engano de Goiânia voltando para Minas, a gente viu um incêndio. Foi uma estrada inteira pegando fogo. Provavelmente era cana, eucalipto que eles botam fogo. Era muito fogo, muito quente. A gente ficou com aquela cena do fogo na cabeça. Passou um tempo, eu fiz essa base, estava produzindo o disco, e falei: “Vitor, bora fazer uma música? Acho que tem que ser meio nervosa, lembra do episódio do fogo?”.

Ele me mandou uma letra, que começava com “corpo sobre corpo”. Eu perguntei: “O que você acha da gente relacionar isso com o mito da caverna? (de Platão)“. Porque a gente passou a turnê inteira ouvindo audiobooks, podcasts e discos, e a gente ia discutindo, era muita filosofia na conversa. Éramos só eu e ele, a gente ia dirigindo às vezes nove, dez horas por dia. E aí mudei grande parte da letra nesse sentido, já relacionando com o mito da caverna. É impressionante como a letra vai ficando mais contemporânea a cada dia que passa.

Para o clipe, eu já tinha essa ideia. Quando a Àiyé nasceu, a primeira coisa que fiz foi uma residência artística a convite do Alexandre Matias (jornalista, criador do site Trabalho Sujo), que fiz no Centro da Terra (espaço cultural independente em São Paulo). Foram quatro segundas-feiras, e foi a primeira vez que eu apresentei a Àiyé. Chamei meus amigos para tocar e cada dia era uma fase da lua no show. Nessa performance, nesses quatro dias, eu já estava com essa ideia de pegar o tema da fase da lua, jogar no Google e projetar tudo o que ia aparecendo. Era uma pesquisa de Google, ia jogando uma por cima da outra, como se fosse uma edição, mas era uma pesquisa. Colocava poesia, imagem, coisas que iam me remetendo, e ia cantando, tocando e improvisando em cima. Fiz todos os dias dez minutos disso, virou uma performance da Àiyé.

Eu queria que o clipe fosse assim, queria levar essa performance para o clipe. E foi isso, chamei o André, que montou o clipe – na quarentena, fiquei hospedada na casa dele. A gente selecionou um monte de arquivos, notícias. Ele fez de maneira brilhante. Teve um parceiro que fez uns 3Ds, mas ele pegou minha ideia bruta e lapidou. Ficou bem poderoso. Gostei muito também! (rindo)

Lançamentos

Urgente!: Lançamentos da semana (12 a 16 de maio de 2025)

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Urgente!: Lançamentos da semana (19 a 23 de maio de 2025)

Um sobrevoo rápido por alguns dos lançamentos que movimentaram a semana. Nada de esgotar o assunto – a ideia nessa edição semanal e especial do Urgente! é fazer um recorte, destacar o que chamou a nossa atenção. Então anota aí:

(lembrando que tem mais lançamentos e músicas recentes no nosso Radar)

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ÁLBUNS E EPs:

Quem tá de volta é o Kadavar (foto), banda de psych-rock de Berlim, com o disco I just want to be a sound, disco que mexeu com o coração do quarteto, pelo que eles próprios afirmam. “É mais do que um álbum para nós”. O Mukeka Di Rato, por sua vez, completa 30 anos de luta antifascista com o direto e reto Generais de fralda, o Tagua Tagua volta com o aguardado Raio, a dupla Sofi Tukker solta o disco Butter, repleto de participações de artistas do Brasil (Seu Jorge, Rael, Silva e Liniker entre eles) e o Tune Yards retorna com outro álbum aguardado, Better dreaming.

Quem é vivo sempre aparece: Jair Oliveira lança, ao lado da esposa cantora e atriz Thania Khalil, o disco Cantabrincando, quarto álbum do projeto infantil Grandes pequeninos. Joaquim, cantor e pianista de São Paulo, estreia com o lírico álbum Varanda dos palpites. Spill Tab, cantora lo-fi nascida na Tailândia, está de volta com Angie, a norte-americana Alexandra Savior retorna com Beneath the lilypad, e o rap está representado na semana com o trap metal de Rico Nasty (o destruidor Lethal), a brasileira Ebony (KM 2) e ninguém menos que Snoop Dogg, que lançou de surpresa Iz it a crime?. Já a banda paulista de punk-surf Elétricos estreou com um furioso EP epônimo – um lançamento da Baratos Afins.

Por último mas não menos importante, vale citar que o Sorriso Maroto acaba de se tornar a primeira banda de samba a tocar no estúdio londrino Abbey Road – e lançaram o audiovisual Sorriso eu gosto vol.3 – Homenagem ao Fundo de Quintal.

SINGLES:

Quem é vivo, aliás viva, sempre aparece mesmo: a sumida Rihanna lançou o single Friends of mine, parte da trilha sonora do filme Smurfs, que chega aos cinemas brasileiros em 17 de julho. O grupo tecnopop Nation of Language soltou Inept Apollo, a harpista Kety Fusco lançou o compactinho She, com participação de Iggy Pop (e ficou ótimo) e a produtora, cantora e compositora venezuelana Arca abre caminho para um novo disco com o single duplo Puta / Sola.

Durante a semana você provavelmente viu o arrasador single-clipe Bloom baby bloom do Wolf Alice. E talvez tenha visto que Ana Frango Elétrico lançou o clipe de uma das melhores faixas do disco Me chama de gato que sou suaDr. Sabe Tudo se transformou num clipe antigo do Fantástico, escrito e dirigido por Zabenzi.

E vale citar também que a cantora e atriz Bruna Caram lançou uma versão frevo de Lindo lago do amor, de Gonzaguinha. E que a cantora e compositora chilena Mora Lucay acaba de lançar a bossa eletrônica Uma vez, em parceria com o Aiyé (projeto solo da musicista Larissa Conforto). Outro single novo que saiu na semana foi Desastres fabulosos, que une as vozes de Jorge Drexler e Conociendo Rusia.

Texto: Ricardo Schott

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Urgente!: Little Simz espanta os problemas, Madonna em série, Lemonheads com novidades, e mais

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Urgente!: Little Simz espanta os problemas, Madonna em série, Lemonheads com novidades, e mais

Prestes a lançar disco novo, Lotus (sai dia 6 de junho pela AWAL), a rapper Little Simz andou passando por alguns maus bocados. Irritada com um calote que diz ter recebido do produtor InFlo, com quem trabalhou no misterioso grupo Sault, ela foi atrás dos seus direitos – botou o cara na justiça por supostamente não ter pago um empréstimo de £ 1,7 milhão, incluindo £ 1 milhão para cobrir o único show ao vivo do grupo até o momento, em dezembro de 2023.

De qualquer jeito, vida que segue: ela acaba de lançar o single Young, o terceiro a anunciar Lotus. A música é um rap-rock sinuoso e divertido, no qual Little Simz fala sobre um dia a dia descompromissado no qual a zoeira nunca acaba. No clipe, dirigido por Dave Meyers, ela surge interpretando uma personagem bem mais velha que ela, que toca baixo. O site Stereogum andou comparando a faixa com o ritmo de Low rider, sucesso do grupo War – faz sentido.

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Depois de quase vinte anos sem lançar um álbum de inéditas, os Lemonheads reaparecem com sinais vitais fortes. Love chant, o novo disco, sai em breve, e já tem um primeiro cartão de visitas: o single duplo Deep end / Sad Cinderella, que também ganha um clipe dirigido pelo coletivo Surreal Hotel Arts. Em paralelo, a faixa será lançada em vinil 12” (edição limitada de 500 cópias) no dia 13 de junho.

A suingada Deep end soa quase grunge, com solo de J Mascis (Dinosaur Jr), e letra que parece saída de um encontro em um beco qualquer. A faixa tem a assinatura de Evan Dando e Tom Morgan (Smudge), velho parceiro australiano, e conta com backing vocals de Juliana Hatfield. A Austrália, aliás, entra nesse roteiro: a banda passa por lá ainda este mês, encerrando as comemorações pelas três décadas (e uns quebrados) dos álbuns It’s a shame about Ray e Come on feel The Lemonheads.

O lado B do single traz Sad Cinderella, cover sensível do saudoso Townes Van Zandt, cantor norte-americano de country, morto em 1997. A faixa é um dueto feito por Evan e Erin Rae, e basicamente é um country melancólico, lembrando Gram Parsons e Emmylou Harris. Dois lados, duas atmosferas, e uma banda que parece finalmente pronta pra sair da hibernação.

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Depois de anos namorando a ideia de um filme sobre sua vida, Madonna resolveu mudar o formato. Agora, a história da Rainha do Pop deve virar uma minissérie da Netflix, ainda nos estágios iniciais de desenvolvimento. O projeto tem produção da própria Madonna e de Shawn Levy (Stranger Things), um dos nomes de confiança da plataforma. A semente da virada foi plantada em novembro, quando Madonna sugeriu no Instagram que poderia deixar o filme de lado e transformar sua história em uma série.

A série será feita do zero e não tem ligação com o longa que estava em desenvolvimento na Universal — aquele que teria Julia Garner no papel principal. Mas o nome da atriz de Ozark segue cotado, especialmente depois de ter aparecido no palco com Madonna durante a Celebration Tour, em dezembro passado. A escolha depende de disponibilidade, já que Garner não tem contrato assinado.

Ainda não há definição sobre qual fase da carreira a minissérie vai abordar. Também não se sabe se Madonna vai coescrever o roteiro, como faria no filme. Em 2020, ao anunciar o longa, ela comentou que queria “mostrar a jornada de uma artista, dançarina e mulher tentando abrir caminho no mundo”. A frase segue valendo.

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A banda pernambucana Mundo livre s/a dá largada à turnê que celebra seus 40 anos de estrada com parada dupla em Brasília, no dia 22 (quinta). Às 18h, o vocalista Fred Zero Quatro participa de um bate-papo e do lançamento da biografia Mundo livre s/a 4.0 – Do punk ao mangue, ao lado do autor Pedro de Luna, na Biblioteca Demonstrativa (506/507 Sul, entrada gratuita). Mais tarde, o show rola na Infinu (CRS 506).

Depois da capital, os mangueboys partem para Goiânia e São Paulo, onde tocam na Virada Cultural. Pedro de Luna segue em Brasília para o Porão do Rock — festival que também virou livro pelas mãos dele (Histórias do Porão). No domingo (25), ele faz um segundo lançamento da biografia da banda, agora solo, na livraria Platô (CLS 405). Se você ainda não sabia do livro de Pedro, corra atrás e mergulhe na história do mundo livre, banda cujas primeiras músicas chegam a ser proféticas (Samba esquema noise, a música, diz: “ou você explora o próximo / ou o próximo é você / esta é a única moral / do mundo livre”).

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Antes do “luzes, câmera, ação!” tem o som – e a imagem não vive sem ele. A partir de 28 de maio, o canal Curta! estreia Na trilha do cinema, uma série documental apresentada por André Abujamra sobre a construção do som no cinema brasileiro. São oito episódios, sempre às quartas-feiras, às 21h30 — com streaming no dia seguinte no CurtaOn (via Prime Video Channels, Claro tv+ e CurtaOn.com.br).

Abujamra, que entende do assunto (compôs trilhas para dezenas de filmes), conversa com nomes essenciais da área — montadores, compositores, técnicos e designers de som — para explorar como o som participa da narrativa de um filme. Spoiler: não é só barulho ou trilha bonita — é dramaturgia.

O programa passa por temas como som direto, foley (a famosa sonoplastia), edição e mixagem. Entre os convidados, estão Tide Borges (responsável por A hora da estrela), o engenheiro de som Luiz Adelmo, a compositora Flávia Tygel e o premiado Antonio Pinto, de Central do Brasil. No episódio final, o próprio Abujamra vira entrevistado e fala sobre os bastidores sonoros de Durval discos e Carandiru. Vale pra quem quer ouvir o que o cinema brasileiro tem a dizer — literalmente.

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Por último, mas não menos importante: o Telecine Cult exibe Os sonhos de Pepe, documentário sobre o já saudoso ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, nesta quinta (15), às 20h25, e no sábado (17), às 15h10. O filme também está no streaming do Telecine, via Globoplay, Prime Video Channels e operadoras de TV paga.

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Lançamentos

Radar: Partido da Classe Perigosa, Dedo de Bruxa, Rachel Reis e outros sons

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Radar: Partido da Classe Perigosa, Dedo de Bruxa, Rachel Reis e outros sons

Música muda vidas – e tem muita gente fazendo música para alertar pessoas sobre os perigos do dia a dia, sobre coisas que a gente nem percebe que estão roendo a gente por dentro. Pelo menos dois grupos do Radar de hoje destacam-se por terem músicas bastante sinceras e diretas, e que vão exatamente nessa linha – e não basta meter o dedo na cara, o som tem que ser ótimo, o que é o caso deles. Com ou sem protesto, as músicas abaixo giram em torno do que move a todos nós: lutas, amores, sonhos. Dá o play e aumenta o volume! (Foto Partido da Classe Perigosa: Yanni Avellar/Divulgação)

PARTIDO DA CLASSE PERIGOSA, “MONTAGEM DA MAIS VALIA”. Esse grupo carioca é de luta – luta de classes, por sinal. O primeiro álbum do Partido da Classe Perigosa, Práxis, lançado no começo do ano (e em breve neste site) une funk, drum’n bass, krautrock, metal, punk, hardcore, tudo junto e misturado, com letras corrosivas, que reviram e dissecam os horrores do capitalismo e do sistema de cobra comendo cobra. Montagem da mais valia está no EP Devorador, lançado apenas no Bandcamp e gravado para comemorar um ano de banda. A faixa é um funk — proibido para neofascistas e estômagos frágeis — que escancara, entre samples e batidas, como o sistema vai crucificando todo mundo aos poucos, dia após dia.

DEDO DE BRUXA, “ELON MUSK E O FOGUETE”. Direto do Rio de Janeiro, o Dedo de Bruxa soltou seu primeiro EP no ano passado — homônimo, cinco faixas que soam como um grito de urgência: o tempo é agora, as atitudes também. O som vem pesado: um hard rock que transita entre o grunge, o metal e o pós-punk. Elon Musk e o foguete é um grunge-metal-funk colérico e dançante, em que a letra manda o dono da Tesla para o espaço — junto com negacionistas, terraplanistas e a fauna toda do preconceito e da extrema-direita. Com nomes, endereços e a fúria bem direcionada.

RACHEL REIS, “JORGE BEN”. Fãs da antiga fazem questão de chamar Jorge Ben Jor de Jorge Ben – ainda que o veteraníssimo cantor carioca já tenha mudado seu nome artístico desde o fim dos anos 1980. Rachel Reis, baiana de Feira de Santana (BA), lançando o excelente álbum Divina casca, vai literalmente na tradição e homenageia o artista com um samba-rock praieiro, e repleto do imaginário do autor do disco A tábua de esmeralda (1974), com seus toques de esoterismo, balanço malemolente e lirismo que beira o místico. Mas tudo aqui é filtrado por uma estética contemporânea, sem perder a leveza. Um aceno respeitoso e amoroso ao mestre, com os dois pés cravados no agora.

MÁQUINA VOADORA, “A HOSPEDARIA DOS JAMAIS ILUMINADOS”. Duo instrumental formado por Marcelo Garcia (guitarra, baixo, programações) e Enrico Bagnato (bateria, percussões acústicas e eletrônicas), o Máquina Voadora prepara um álbum inspirado no livro Paulicéia desvairada, de Mário de Andrade. Chama-se A grande boca de mil dentes, e vem aí. Enquanto isso, entregam a faixa A hospedaria dos jamais iluminados — título pinçado do poema Religião, do próprio Mário. A música abre alas com jazz, sons afro-latinos e progressivos de texturas finas, evocando os momentos mais contemplativos do Focus.

ORBITAL ENSEMBLE, “DAYDREAMS”. Felipe Sena, músico brasileiro radicado no Canadá, puxa as cortinas de seu novo projeto, o Orbital Ensemble — e o primeiro single, Daydreams, já diz muito. Lançado pelas selos Balaclava (São Paulo) e We Are Busy Bodies (Toronto), a faixa mira alto: mistura jazz, psicodelia, rock e um quê cinematográfico à la Verocai e Khruangbin. O clipe, luminoso, complementa a experiência. O álbum de estreia, Orbital, sai ainda este ano. “Fazer música hoje parece um devaneio — é luta, é resistência”, diz Felipe, mostrando que a criatividade é tarefa diária, e tarefa política.

LOOK INTO THE ABYSS, “EYES ON ME”. Duo curitibano que já soltou um EP em formato live session (e em fita cassete, pelo selo Kerozene Discos), o Look Into The Abyss une grunge, screamo, nu-metal e math rock. Charlie (baixo e voz) e BadVibes (bateria e voz) chegam agora com o single Eyes on me — barulhento, denso, direto — e um álbum em gestação.

SÉRGIO SACRA, “FIQUE COMIGO (COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ)”. Depois de lançar o disco Duvide dos astros (2024), Sérgio Sacra retorna com um novo single. Fique comigo (como se fosse a última vez) mistura indie, folk e até um sopro de toada caipira. “É uma canção sobre perdas e sobre o que ainda pode ser salvo”, conta. A inspiração veio de uma história pessoal e de um amigo, marcada por desilusão — mas a intenção é emocionar, sem cair na superfície.

RELVAS, “POR ONDE VOCÊ ANDA?”. Primeiro lançamento de Relvas, a faixa Por onde você anda? junta MPB, rap, trap e o pop de agora para contar a história de um casal que vai se perdendo no tempo. Mas sem perder de vista a reconciliação. “Falo sobre não desistir do que vale a pena”, explica o artista, que assina a música ao lado de Raphael Dieguez e Pedro Duque. É pop com propósito — e coração no centro da cena.

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