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Djangos mexem no baú e regravam demo de 1997 aos poucos

Mesmo sem conseguir dar shows e sem conseguir ensaiar por causa da pandemia, a banda carioca Djangos voltou, discretamente, com um lançamento comemorativo. Lyle Diniz (baixo), Jj Aquino (bateria) e Marco Homobono (guitarra e voz) mexeram no baú, voltaram à sua demo de 1997, 100 cortes – cujas músicas ainda não haviam sigo gravadas em discos do grupo – e estão regravando as quatro canções do K7, aos poucos. Em 2021 já saíram dois singles do projeto 100 cortes revisitado, com as músicas Bibliografia (lançada em março) e Aeroporto internacional (em outubro).
Batemos um papo com Homobono, que também vem lançando vários materiais off-Djangos (solo, ou acompanhado de amigos como Gilber T) e ele contou sobre como Aeroporto internacional é ligada à sua vivência como ex-morador de um bairro muito pouco citado do Rio de Janeiro. E relembrou a época de Raiva contra oba-oba, a estreia do grupo, de 1998
Como Aeroporto apareceu na sua vida e na do Djangos?
Essa música está numa demo que a gente lançou em 1997, chamada 100 cortes. É uma demo muito importante pra gente porque foi gravada na década de 1990 lá em Curitiba. A gente tinha uma certa facilidade para viajar porque os eventos que aconteciam geravam um dinheiro que dava para pagar a passagem de ônibus, estadia… A gente não ganhava cachê, mas viajava.
Eu nunca tinha nem pensado em ir para lá, mas fui duas vezes no lançamento da coletânea Paredão, que foi no Aeroanta, e depois voltamos porque o Rodrigo Cerqueira, que era baterista do Skuba, fez um evento lá e chamou a gente para tocar. Fomos lá, o Pedro de Luna (jornalista, escritor e autor da biografia do Planet Hemp, Mantenha o respeito, entre outros livros) fez essa ponte para a gente. O Pedro inclusive foi com a gente.
E aí esse show foi até bem importante para a gente porque eu vi uma banda de ska com metais tocando lá. E isso determinou que usaríamos metais, porque eu fiquei encantado com aquilo. Enchi o saco da banda: “A gente tem que ter metais, tem que ter metais!”. O João era muito partidário do esquema de ser só o trio. Mas isso serviu para a gente fazer a parada desse jeito. O 100 cortes, como a gente gravou numa mesa e transformou numa demo, ela vendeu bastante, a galera vendia muito essa demo.
Havia um mercado grande de demos, não?
Havia um mercado aquecido, você vendia demo, mandava pelo correio, era um negócio movimentado mesmo. A galera que trabalhava no Garage – o Max, o Ricardo, o Panda, o Ronald – eles tinham essa sociedade e comercializaram essa fita. O Djangos ia começar a gravar, a compor músicas novas, a gente estava se encontrando em 2020. Mas aí veio a pandemia e a gente parou total. Nesse meio-tempo, começaram a rolar aquelas gravações que cada um fazia uma coisa no seu canto, assim… com vídeos com quadradinhos dividindo, cada um no seu ambiente de casa.
Fizemos um justamente com a música Aeroporto internacional, mas o resultado não ficou bom. Acho que aí tivemos a ideia de pegar a demo, porque ela tem quatro músicas que nunca foram gravadas em lugar nenhum. Pensamos: “Vamos fazer um projeto, 100 cortes revisitado“. Escolhemos duas músicas para começar, que foram Bibliografia e Aeroporto internacional.
Essa música apareceu porque na época, isso lá em 1996, 1997, eu estava escutando o Casa babylon, disco do Mano Negra. Tinha lá uma música chamada El Alakran (La mar esta podrida), que é muito maneira, tem um coral de crianças. E esse disco é cheio de colagens, ele usava muito sampler. Depois o Mano Chao (vocalista) usou isso no disco dele de estreia. Essa música me chamou muito a atenção, porque vem uma voz que diz “aeroporto Mano Negra!”.
Isso ficou na minha cabeça e eu: “aeroporto, aeroporto…”. Eu comecei a falar do Galeão e imaginei o entorno, que era um lugar que eu visitava bastante quando era criança. Eu morava ali onde o pessoal fala que é Higienópolis, perto de Del Castilho, do Complexo do Alemão…
Sim, sim. Um bairro que o carioca não conhece, por acaso. Você fala em Higienópolis e o cara pensa em São Paulo, não no Rio…
Verdade! Mas existe esse bairro, ali perto de Del Castilho, do Jacarezinho. Cresci ali, conheci bem aquela região. Comecei a falar de uma comunidade fictícia que ficava à beira do aeroporto. Não sei posso considerar que a Maré está na cabeceira, pode ser que ela esteja bem distante. Mas imaginei a comunidade em que o pessoal tomava banho na Maré poluída. Fui numa onda que eu acho que é bem Alagados (Paralamas), a mesma geografia que o Herbert Vianna contemplava quando ia para o fundão… foi a mesma que me inspirou ali. Comecei a falar dessa comunidade aí, da coisa de trabalho assalariado, trabalho escravo, “quero minha carta de alforria”…
Tem uma onda parecida mesmo!
É uma filha de Alagados. Eu tava até lembrando aqui que essa música aí… Os Djangos são uma banda independente, a gente faz o que pode em termos de verba para gravar. E essa música levou muito tempo para ser feita. Aconteceram várias coisas, desde computador quebrado, a gente teve que consertar computador para terminar a música. Fiquei duas semanas sem fazer nada nela… O João (Jj Aquino, baterista) eu não vejo há tempos, até mandei uma mensagem para ele e falei: “A gente tem que se encontrar, cara!”. Porque nunca mais eu encontrei com ele.
Desde 2020?
Desde 2020, foi nosso último ensaio. O pai do Lyle morreu há pouco mais de um mês, e o pai dele era meu vizinho, era um grande apoiador da banda desde o começo. Eu tô aqui em Niterói hoje e eu lembro que ele vinha trazer a gente em Niterói, no Gato Preto, no Farol. Foi um cara que ajudou muito a gente. Estive com Lyle e o João não vejo desde aquela época. E aí a gente fez isso tudo separado, o João foi num estúdio, com o maior cagaço, no meio da pandemia. “Vai ter só eu e o cara na outra sala…”, ele disse. Foi lá e gravou duas músicas na bateria.
O Lyle não tinha onde gravar e foi lá em casa. Depois que o Lyle gravou fiquei duas semanas parado, apático. Foi na semana que o Paulo Gustavo (ator) morreu, e aquilo mexeu bastante com muita gente, a perda. E depois na mesma semana teve a matança no Jacarezinho… Cara, eu fiquei deprê, sem atitude, para fazer certas coisas. Isso atrasou um pouco as coisas. A gente não tinha um prazo, não sei se isso é bom ou se é ruim, porque a gente é nosso próprio coordenador, produtor, a gente tem que se cobrar. Mas sempre fui defensor dessa música, falava “tá demorando, algumas coisas são mais cagadas mesmo que as outras, mas essa música é boa!”. E a galera curtiu, muita gente tá falando da música. Bibliografia passou meio em branco…
Eu fui ouvir Bibliografia outro dia, não tinha escutado quando saiu. A letra é bem legal, cita o nome de um monte de artistas, me lembrou até uma playlist do Ronca Ronca…
Pois é, podia ter botado o Ronca Ronca no meio! A letra foi um dos releases que eu escrevia na época. Tinha várias outras coisas, “subwoofer do DJ Marlboro”, mas na hora de fazer a música botei o que dava mais musicalidade. Era um release da banda resumido, de coisas que influenciavam a gente.
Tem mais algo do 100 cortes vindo aí?
A ideia é terminar! Porque tem mais duas músicas. Uma era uma adaptação que a gente fez do “trem maluco quando sai de Pernambuco, vai fazendo tchucotchuco até chegar no Ceará”, a gente cantava em versão mais punk. A galera gostava, pelo apelo da música infantil. E tem um hardcore misturado com reggae que são as duas últimas músicas. A gente quer gravar e botar num EP. Estamos cumprindo o script de lançar singles. Mas a gente é uma banda do milênio passado, a gente gosta mesmo é de álbum, né, cara?
Só que tem uma questão financeira aí, pra você gravar um disco legal precisa de uma grana. A gente é independente, tá correndo atrás aí de editais para bancar um EP num estúdio bem gravado, com uma produção maneira. Ou até um disco mesmo, vamos ver o que vai acontecer. Ou quem sabe alguém da banda ganha na Mega Sena! (rindo)
Eu dei a ideia da gente voltar a ensaiar em casa mesmo, retomar as músicas que a gente estava fazendo, que seriam para um terceiro disco. E pensar em voltar a tocar, né?
Os shows estão voltando, tem o Circo Voador, Audio Rebel… Como você tá vendo esse retorno aí?
Com muito receio. Fui ver um show da banda DKV aqui em Niterói, foi cobrada carteira de vacinação, todo mundo de máscara, tinha distanciamento. Mas esse vírus é traiçoeiro e o pessoal fica falando das ondas, “lá fora já tá na quarta onda, surgiram casos em Londres…” E às vezes as pessoas se comportam como se já tivesse passado, né? Eu tenho muito receio, tipo “ah, vamos ver o Djangos sei lá onde”, aí a pessoa pega covid é entubada e morre. Eu ficaria bolado com isso.
Quero mais segurança para todo mundo, isso só vai vir com o tempo. Vamos ver como as vacinas vão se comportar ao longo do tempo. Esse show que eu fui foi na Sala Nelson Pereira dos Santos, um espaço enorme, um palcão. Pensei: “Isso é o que eu gosto de fazer, mas eu tenho medo”. Prefiro ser prudente nessa hora aí.
Raiva contra oba oba, o primeiro disco de vocês, lançado em 1998 pela Warner, completa 25 anos em 2023, daqui a pouquinho. Como foi a experiência de estar numa gravadora grande?
A experiência da gravadora foi boa para a gente ter acesso a um estúdio, a uma produção, a uma estrutura boa. A gente gravou num estúdio da Barra, de 18h até a madrugada. Fizemos isso durante um mês, todos os dias da semana de segunda a sexta. O João Barone e o Tom Capone (produtores) com a gente. Eu nunca teria estrutura para bancar dois produtores desse porte. Esse fim do ciclo das gravadoras, a gente pegou uma última fase onde a estrutura fonográfica tinha a coisa do advance, que era um dinheiro que a gravadora te pagava baseado numa previsão do quanto você poderia vender. Eles te adiantavam dinheiro, a gente aproveitou essas possibilidades.
Mas eu acho que a banda era muito imatura, falo por mim. A gente não conseguiu se impor, e ao mesmo tempo que a gravadora fez tudo isso, na hora de promover foi alegada falta de verba. Viajamos com dinheiro da gravadora algumas vezes, mas foi um trabalho pequeno, não foi maciço. Teve essa imaturidade, teve a mudança do diretor artístico – porque quem contratou a gente foi o Paulo Junqueiro, e ele depois saiu. O Tom Capone entrou. Às vezes isso pode acontecer, você não está no projeto empresarial de um diretor artístico.
Ele produziu a banda, mas aí ele mudou para a direção artística, e mudou a política do selo?
Mudou. Não tinha nada garantido, a gente era uma banda iniciante. Não recebemos muito apoio para divulgar, ainda mais levando em conta a estrutura empresarial ali. E teve a imaturidade, acho que a gente não conseguiu se impor. Eu era uma pessoa muito sem autoestima, apesar de acreditar nas minhas músicas. Isso dificultou muito. Mas teve seus momentos ótimos. Foi, de qualquer maneira, um grande momento, sou grato por ter tido essa experiência.
E como foi ser produzido pelo João Barone?
Paralamas para mim é paradigma de banda de rock, acompanhei os shows, os discos. E ele tava ali, exigindo da gente, coordenando a execução, comandando coisas nas letras, “isso não tá bom, não, muda!”. Eu lembro até que uma música que fazia relativo sucesso nos shows não foi pro primeiro disco, porque o Barone não curtiu muito. Faz parte da produção.
A gente teve que escolher repertório, o Barone escolheu o que ia entrar. Tem a convivência, de ele escutar a história da gente, a gente ouvir histórias dele. Sou muito fã dele e do Capone, mas na época eu não tinha consciência da magnitude do que estava acontecendo. Hoje eu olho para trás e penso: “Passei um mês convivendo com o Barone!” (rindo). E todo dia. Ele é um grande ídolo do João, que admira muito o Barone. Foi demais.
E acho que a gente conseguiu não ter uma reverência total, tanto que conseguimos discutir coisas dos arranjos. Sempre debati com produtor e tivemos essa liberdade de debater, ele estava aberto. Não iria rolar nada no esquema do Phil Spector, que quando alguém reclamava de alguma coisa, o cara abria a gaveta e mostrava uma arma (risos). Não rolou nada disso nem com ele nem com o Capone, foi um sonho de criança. E a gente era muito novo, eu tinha 24 para 25 anos, só pensava: “Que coisa boa que aconteceu!”
A última vez que a gente conversou foi na época da música Subcarioca, um single solo seu, que falava da situação atual do Rio de Janeiro. De lá para cá, como está sua visão sobre a cidade? Mudaram prefeito, umas outras coisas…
Eu sou pessimista. Você tira os personagens que protagonizam a vida pública, a máquina, o executivo, o legislativo… mas a mentalidade continua. O povo… bom, nós, né? Nós somos alienados. A gente não sabe o que está acontecendo. Isso facilita para que Bolsonaro seja eleito presidente, por exemplo. Essa mentalidade continua, e estamos nessa situação.
Eu prefiro ser realista: a gente vai evoluir sim, mas vai levar décadas para a gente chegar no “o Brasil é uma superpotência que dá valor a seu próprio povo”. Vai demorar muito para reverter isso. Eu costumo dizer que sou uma pessoa muito deprimida e muito feliz, porque qualquer pessoa que seja observadora atenta aos fatos vai olhar para o mundo e dizer que a gente tá fodido. Mas tenho minha mulher, minha família, minha banda, minha música. Isso me faz ser feliz dentro dessa realidade.
Lançamentos
Radar: Guandu, Black Pantera, Stefanie, Superafim e outros sons nacionais

O carro do Radar do Pop Fantasma passando na sua porta com seis novidades nacionais. Duas delas, por sinal, lançadas hoje (Guandu e Apenas Juno), além de coisas que já estão na nossa mira há alguns dias. Ouça no último volume.
Foto Guandu: João Orlando/Divulgação
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GUANDU feat. MARINA MOLE, “OTIMISTA”. Originalmente uma dupla voltada ao slowcore (o EP da fase anterior, Planos em cima de planos, foi resenhado aqui), o Guandu virou trio e deu uma ligeira mudada no som, mas a paixão pelo lo-fi continua a mesma – Otimista, o novo single, foi gravado em fita K7, e evoca o som das guitar bands dos anos 1980/1990, com participação de Marina Mole – e tem uma letra “quase otimista” (palavras da banda) sobre como é legal ter uma boa companhia para sair dos momentos deprês da vida. Em maio sai o primeiro álbum do grupo, pelo selo Feitio.
BLACK PANTERA, “SELEÇÃO NATURAL”. O grupo de metal mineiro – já escalado para tocar no festival The Town – andou fazendo vários lançamentos quase ao mesmo tempo: a fita K7 do álbum mais recente da banda, Perpétuo; um registro ao vivo no Palco Supernova do Rock In Rio (gravado em 2024 e lançado mês passado nas plataformas digitais); e um single novo, Seleção natural. Entre evocações de metal e hip hop, a música é outro recado na lata: “machista, homofóbico / fã de milionário / pega seu privilégio e vai pra casa do caralho!”
STEFANIE, “DESCONFORTO”. “Essa música nasceu da dor”, diz Stefanie. E não é força de expressão. Em Desconforto, ela traduz o racismo cotidiano: da criança negra que não é chamada pras festinhas à advogada confundida com secretária. A faixa antecipa o disco Bunmi (lançamento dia 25 de abril), produzido por Grou e Daniel Ganjaman. O clipe tem direção de Gabi Jacob. Dói, e precisa ser dito – e ouvido: Stefanie conta que fez a música para transmitir essa dor para dividir com amigos que viveram experiências semelhantes, e para que “pessoas que não vivenciam o racismo no dia a dia possam entender como ele se manifesta em nossas vidas”.
SUPERAFIM feat DUDA BEAT, “MOUTH”. Saiu Mouth, o primeiro EP da nova banda Superafim, formada por Adriano Cintra e Clara Lima — ambos ex-Cansei de Ser Sexy. São cinco faixas que apostam alto: produção caprichada, refrões que colam instantaneamente e um feat com Duda Beat na faixa-título, que flerta com o melhor do pós-punk-pop. O clipe, por sua vez, parece gameplay de um videogame alternativo: explosivo, retrô e envolvente. A brincadeira já era séria, e agora tem cara de hit.
APENAS JUNO, “SOBRE AMORES DISTANTES”. Um synthpop quase espacial, com letra romântica, esparançosa e tristonha (note o nome da música) e batida cardíaca – é o single novo do compositor que usa o codinome de Apenas Juno, e cuja letra evoca um momento especialmente complicado na vida dele, em que Juno vivia uma espécie de “bifurcação emocional” (quem nunca?). “A gente sabe quando tem que ir, mas a gente sente quando é pra ficar”, diz.
JOSYARA, “FESTA NADA A VER”. Avia, terceiro álbum de Josyara, já está entre nós, trazendo o violão e a voz dela disputando espaço na frente. Uma das faixas que mais têm cara de hit é Festa nada a ver: um bolero indie/folk sobre um amor que termina na festa errada, do jeito mais estúpido possível. Tem ecos de Gonzaguinha, Joanna e Maria Bethânia, e um final que não é exatamente trágico: a narradora se despede dizendo que vai brincar em outros cais. Nada de gilete no pulso – só maturidade poética.
Lançamentos
Radar: Laufey, Stereolab, Skunk Anansie, Frankie Cosmos e mais sons internacionais novos

O Radar do Pop Fantasma de hoje dá uma olhada rápida em sons internacionais que andaram saindo nos últimos dias – de alguns a gente tá falando com atraso, de outros a gente conseguiu chegar mais perto da data de lançamento. Ouça no último volume e ponha tudo nas suas playlists.
Foto Laufey: Gemma Warren/Divulgação
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LAUFEY, “SILVER LINING”. Uma balada triste, com evocações de blues, jazz, canções do universo Disney e o som dos girl groups sessentistas – com direito a um arranjo de cordas maravilhoso e uma voz de perder o fôlego. E, bom, a voz é de Laufey, que retorna agora com novo single, Silver lining. O clipe da faixa, filmado em 35 mm e dirigido por Jason Lester, traz um carnaval de figuras embevecedoras e ameaçadoras, tudo junto e misturado, para mostrar em imagens o céu e o inferno de estar apaixonado/apaixonada. Fica difícil não se perder neste cenário – e Laufey, como sabemos, tem essa coisa de fazer o tempo desacelerar. E no dia 31 de maio, tem show dela no Festival Popload, em São Paulo.
STEREOLAB, “AERIAL TROUBLES”. “Você está com problemas de antena na sua TV colorida? Não podemos ajudar com os problemas técnicos, mas podemos distraí-los com a notícia do novo álbum do Stereolab”, diz a banda em um comunicado postado em seu Instagram. A essa altura você já deve saber, mas não custa lembrar: o Stereolab tem em seu radar seu primeiro álbum em 15 anos, Instant holograms on metal film, marcado para sair dia 23 de maio pelo selo Duophonic UHF Disks/Warp Records. O single novo, Aerial troubles, ganhou um clipe retrô, dirigido por Laurent Askienazy, e que é tão hipnótico quanto a própria música.
SKUNK ANANSIE, “LOST AND FOUND”. Sem discos novos desde o excelente Anarchytecture (2016) – que era o terceiro lançamento desde o retorno deles em 2018 – o Skunk Anansie promete o sétimo álbum, The painful truth, para 23 de maio. Lost and found, novo single, tem tudo que marca a banda: drama, tensão, intensidade. O clipe tem a vocalista Skin em modo atriz, ganhando personalidade dupla após esbarrar numa espécie de personificação do demônio. A música foi ao ar primeiro no programa de Steve Lamacq na BBC 6 — porque certos lançamentos ainda pedem ritual.
FRANKIE COSMOS, “VANITY”. Durante um mês e meio, os integrantes do Frankie Cosmos viveram uma experiência que é ao mesmo tempo sonho e pesadelo para qualquer banda: mudaram-se juntos para uma casa no interior de Nova York, onde criaram Different talking, próximo álbum do grupo, com lançamento previsto pela Sub Pop para 27 de junho.
A cantora e compositora Greta Kline, que por muito tempo foi “a” Frankie Cosmos, explica que boa parte do novo disco gira em torno da ideia de “crescer e descobrir como se conhecer”. E completa: “Como seguimos em frente quando somos viciados em um ciclo de assombrar o próprio passado? Compor músicas é apenas o caminho para isso”. Fofo na aparência, mas intenso no conteúdo, Vanity, novo single, encara de frente os traumas dos relacionamentos abusivos: “outro sintoma de insanidade / outra vítima de sua vaidade imprudente (…) / foi o crime perfeito / você me pegou na hora perfeita”.
LORD HURON, “NOTHING I NEED”. “A música questiona se é possível — no curto espaço de tempo que você tem — realmente saber o que você quer, se vale a pena querer alguma coisa e se há algum sentido em ponderar sobre os caminhos que você não tomou”. É assim que Ben Schneider, cantor da banda norte-americana de indie folk Lord Huron, define o novo single do grupo, Nothing I need. É o segundo lançamento do grupo em 2025: em janeiro saiu Who laughs last, single que tem algumas linhas de spoken word feitas pela atriz Kristen Stewart.
LIMIÑANAS, “THE DANCER”. No meio do psicodelismo hipnótico de The dancer, a dupla francesa Limiñanas presta homenagem a um velho amigo: o artista Foulques de Boixo, falecido em 2023, aparece no clipe dançando com ironia e graça, em imagens em chroma-key. A música, entre o shoegaze, o krautrock e o pós-punk, serve de trilha para essa despedida dançante. Um daqueles momentos em que som e imagem se encontram para dizer: seguimos em frente, mas com memória. A música está em Faded, disco mais recente da dupla.
Lançamentos
Radar: Myoma, Marya Bravo, Pélico e Catto, e mais sons novos nacionais

O Ministério do Pop Fantasma adverte: ouvir sons novos faz muito bem à saúde. O Radar, seção do site que se dedica a separar músicas que estão saindo agora, permanece saudável e vai muito bem, obrigado. Nesta sexta, ele abarca do shoegaze expandido do Myoma ao xote de metrópole de Eugenia Cecchini. Aumenta o som aí.
(Foto Myoma: Divulgação)
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MYOMA, “WARM SAND AND SUNSET”. Lá de São João de Meriti, Baixada Fluminense, vem Myoma — artista solo que funde camadas de shoegaze com pulsos de synthwave e um sol generoso iluminando tudo. Os vocais não se escondem: são abertos, diretos, quase explosivos, num contraste curioso com o costumeiro nevoeiro do gênero. Há também um quê de psicodelia tranquila. O primeiro EP vem aí, fruto de uma inusitada campanha de trocas chamada Da palheta ao disco — do gesto mais simples ao som gravado, uma trilha feita à mão.
MARYA BRAVO, “ETERNO TALVEZ”. “Qual de vocês consegue sustentar uma nota alta?”, perguntou Paul McCartney em 1967, diante de um grupo de fãs dos Beatles no portão da gravadora EMI. Lizzie Bravo, então adolescente brasileira, estava lá, e se candidatou. Entrou no estúdio e eternizou sua voz no coral da faixa Across the universe, dos quatro de Liverpool. Eterno talvez, novo single da filha Marya Bravo (cujo pai é o cantor, compositor e multi-homem Zé Rodrix), herda esse sopro de história, e o embala num clima de jazz e trip hop — onde cada nota é alongada com precisão e afeto. A produção é de Nobru (Planet Hemp, Cabeça) e Dony Von (Os Vulcânicos), e o clipe, dirigido pela produtora carioca Oficina do Diabo, parece cinema das antigas: boa parte dele se passa num barco à deriva, com ecos das sequências marítimas do clássico Limite (1931), de Mario Peixoto. Um mergulho no som e na imagem.
PÉLICO E CATTO, “TE ESPEREI”. Pélico compôs Te esperei pensando no drama silencioso de uma amiga, que vivia uma história de afeto não correspondido. A canção teve arranjo repensado por Zé Godoy, ao piano, e logo ganhou corpo — Thiago Faria chegou com o violoncelo, e faltava só uma voz que atravessasse o tempo. Catto, parceira de longa data (ela gravou Sem medida, música de um disco de Pélico lançado em 2007), foi o nome natural. A delicadeza da música é o retrato de uma amizade e de uma entrega mútua.
ZAINA WOZ, “DOMINATRIX”. O pop de Zaina Woz é performance e transformação. Depois de lançar Boneca de porcelana, ela agora apresenta Dominatrix, produzida por Arthur Kunz (Marina Lima) e com teclados de Donatinho. O single remete ao pop noventista – e traz referências assumidas de Kraftwerk, Goldfrapp e Lady Gaga. Mais uma vez, Zaina veste um personagem: a boneca de antes toma as rédeas da narrativa, caminhando firme rumo ao primeiro disco, prometido para junho.
EUGENIA CECCHINI, “RELAMPEIA”. Atriz, cantora e compositora de trilhas, Eugenia Cecchini define seu novo single como um “xote de Sampa”. Relampeia mistura elementos nordestinos com o ruído e o caos poético da metrópole, evocando nomes como Céu e Jorge Mautner. É uma canção de descobertas amorosas, de fascínio pelo feminino, e de amores que quase foram — mas não foram. Em breve, ela lança o EP Ay, amor!, que promete expandir ainda mais esse universo híbrido.
JADSA, “BIG BANG”. Dormir bem. Comer bem. Caminhar sem tropeços pela cidade. Coisas simples que às vezes, são bem complexas de se fazer (pelas mais variadas razões) e que servem de inspiração para Jadsa. O samba-jazz que serve de “amuleto” para a cantora já apareceu em um Radar anterior, mas volta aqui por uma ótima razão: Big bang virou um belo clipe, feito durante um giro da cantora pela Europa – Jadsa aparece passeando pelo distrito de Kreuzberg, em Berlim, onde ela estava hospedada na ocasião.
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