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A MPB do ano de 1979 em livro: descubra!

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1979 foi, depois de 1973, o ano mais significativo para a música brasileira da década de setenta. A palavra “abertura”, como distensão da ditadura militar, virou tema de discussão naquele ano. Além disso, a música independente conseguiu virar até sucesso de vendagens (graças ao Boca Livre), a MPB foi invadida por um número significativo de cantoras-compositoras, Rita Lee virou o jogo com Mania de você (e o LP epônimo lançado naquele ano), o pop brasileiro ganhou o reforço do 14 Bis – um intermediário entre a MPB mineira e o rock brasileiro dos anos 1980 – entre outras novidades.

O pesquisador Célio Albuquerque já tinha convocado uma turma de jornalistas, escritores e músicos para falar de discos de 1973 no fundamental 1973: O ano que reinventou a MPB (Editora Sonora) e agora viaja seis anos à frente em 1979: O ano que ressignificou a MPB, que sai em julho de 2022 pela Garota FM Books e já está em crowdfunding pelo Catarse. No livro, mais de 90 LPs desse ano ganham histórias escritas por artistas e jornalistas, incluindo álbuns como Frutificar (A Cor do Som, por Ricardo Puggiali), Na Terra a mais de mil (Pepeu Gomes, por Leandro Souto Maior), Sol de primavera (Beto Guedes, por Daniella Zupo), Senhora da Terra (Elza Soares, por Gilberto Porcidonio), Sorriso de criança (Dona Ivone Lara, por Kamille Viola) e a estreia epônima do 14 Bis (por Emilio Pacheco). Este que vos escreve, contribui com um texto sobre o disco de Fabio Jr daquele ano (o que tem Pai).

Bati um papo com Celio sobre o livro, sobre o ano de 1979, sobre a música da época, e aproveito para convocar você para colaborar no crowdfunding.

Qual é a do ano de 1979, musicalmente falando?

A música popular brasileira é rica, e como diz Joyce Moreno a “MPB tem resposta pra tudo, e sempre prova”. E a música, em particular no Brasil, é um reflexo do país e suas aspirações. Ao mesmo tempo que a moda das discotecas ainda balança a galera o samba se fazia presente, resistindo, com pilares como Nelson Sargento e Cartola lançando seus discos e João Nogueira formalizando a resistência com seu Clube do samba.

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A MPB estava numa transição. E o disco da Fafá de Belém, por exemplo, é um referencial a isso. Ela que surgiu com o Tamba tajá, em 1976, mais raiz, migrava para algo mais linguagem radiofônica. Curiosamente, tocava-se muito brasileira instrumental nas rádios (algo que já acontecia um pouco antes) e a produção independente, iniciada oficialmente por Antonio Adolfo em 1977, com o LP Feito em casa, desabrocha com o primeiro disco do Boca Livre, sucesso de rádio. E tudo isso, com os grandes dos festivais, como Caetano, Gil e Milton por exemplo, lançando discos em que propunham novos caminhos.

Vale dizer que a produção independente ganharia tanto gás, sinalizando oportunidades, que até Emilinha Borba, uma das rainhas da era de ouro do rádio, lança em 1981 o disco independente Força positiva.

Uma impressão que eu tenho é que a produção nacional feita entre 1978 e 1981 (e 1979 meio que balizou isso) foi o auge da música “inclassificável” no Brasil, daquele som que podia passar como “rock”, ou “pop” porque tinha atitude, mas que não tinha rompido os elos com a MPB. Como você vê isso?

Creio que seja por aí. É um momento de transição política e musical. A indústria passa a direcionar o cenário mais para o pop. Porém, também é mais do que isso porque a música do Brasil é muito mais do que consumimos nos grandes centros, a explosão sertaneja das últimas décadas aponta pra isso.

Foi o ano do início do governo Figueiredo e um ano em que a palavra “abertura” virou palavra de ordem – tanto que Glauber Rocha a usou para batizar seu programa na TV Tupi. No que você acha que isso repercutiu na música?

A Abertura política, ou a sensação de abertura política, dá ares de esperança de novos amanhãs e a produção musical mesmo cantando as mazelas desse país tão maltratado, ganha sopros de jovialidade. Rita Lee e Ronaldo Resedá, por exemplo, dão um toque dançante e alegre. Mulheres como Fátima Guedes e Sueli Costa, sangram corações e ao mesmo tempo mostram-se fortes. E como o Brasil não é um só, nesse mesmo ano tem o fenômeno do disco em parceria do Agnaldo Timóteo e da Ângela Maria, que vendeu muito.

É um disco que não está no livro. Explico: havíamos combinado com um autor, que sabe tudo e mais um pouco do tema. Mas, ele teve que declinar por questões profissionais. Como não conseguimos um autor para tecer o texto, acabamos citando o disco no livro, não em um capítulo. Claro que entre os mais de 90 autores tem alguns que teriam competência para escrever sobre esse disco, mas já estavam comprometidos com outros LPs.

Nos EUA-Europa, o punk afrontou o rock de arena e as maquinações do showbusiness. No Brasil, quem você acha que teve esse papel?

Pessoalmente não consiga perceber nesse período alguém que tivesse esse papel de afronto com a indústria. Mesmo não tendo algo como movimentos, a cultura musical seguia vertentes, como sempre seguiu e criava suas perguntas e ela mesmo respondia.

A palavra “ressignificou”, que está no título, tem a ver com novos significados, como por exemplo para a participação da mulher compositora na música brasileira. Isso já vinha surgindo, principalmente com a Rita Lee, com a Joyce. Mas a mulher explode em 1979 com nomes como o de Fátima Guedes e da Angela Ro Ro, e da própria Joanna, que tem as parcerias, como a Sarah Benchimol. O momento político é o das pessoas discutirem política, mas há também uma esperança em novos tempos.

O movimento independente surgiu porque o sucesso do Boca Livre fez com que as pessoas percebessem que não é porque é independente que não pode ser vendável. Tanto que fazer música de forma independente, hoje, é uma coisa comum. Mas até 1977, 1979, não era. 1979 marca isso por causa da explosão do Boca Livre. Tanto que eles foram considerados “os musos” do verão de 1980.

Cultura Pop

Rock In Rio 2: descubra agora!

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Rock In Rio 2: descubra agora!

Por duas vezes, entrevistei (eu, Ricardo Schott, autor desse texto e editor dessa bagaça aqui) o presidente do Rock In Rio, Roberto Medina. E em ambas as ocasiões, ele demonstrou total descontentamento com a segunda edição do festival, realizada em janeiro de 1991 não numa “cidade do rock”, como de costume, mas no Maracanã. Pelo menos nessa época – e não faz tanto tempo assim, falei com ele nos anos 2000 – Medina disse que a edição não ficou com a cara do Rock In Rio, e que ela parecia mais “um monte de shows” do que um festival.

Pois enfim, o tempo ajuda a colocar as coisas nos lugares – e pelo menos no documentário Rock In Rio: A história (Globoplay), o empresário não detona a segunda edição do evento. Só fica bastante claro, até pelas imagens, que transformar o Maraca numa réplica da cidade do rock deu trabalho, e muito. Até pelas condições do local, já que não faltou gente para dizer que o estádio não aguentaria todo aquele público (o show do Guns N’ Roses, no dia 20, contou com 117 mil pagantes). E pelas recordações da época, espalhadas pelos jornais, fica evidente o quanto os organizadores do festival padeceram – e não foi no paraíso.

TODOS NUMA DIREÇÃO? Já no que diz respeito à escalação, o Rock In Rio II pode ser considerado um festival bem à frente do seu tempo. Se frases como “o Rock In Rio não tem mais rock” são cuspidas por aí em verdes pelotas, o evento de 1991 era basicamente um festival bastante representativo da música pop daquela época. Para começar (e cuidado para não cair para trás), Medina conseguiu reunir num mesmo festival George Michael e Prince, ambos fazendo dois shows cada um.

Achou pouco? Estouradíssimos nas rádios, New Kids On The Block, Lisa Stansfield e Information Society também vieram. A geração que ficava com a cara grudada na MTV teve seu maior representante com o Deee-Lite. Nomes esperadíssimos como Run DMC dividiam espaço com novidades ainda quase desaplaudidas por aqui, como Happy Mondays. Ainda teve a noite do metal, com Sepultura, Queensrÿche, Judas Priest e… Lobão. E, claro, teve o Guns N’ Roses, mais do que estourado, e trazendo o Faith No More a tiracolo.

Além disso, nomes ligados aos anos 1980, como Billy Idol, Colin Hay e A-ha, também passaram por lá, além de veteranos como Jimmy Cliff (de volta às rádios com Rebel in me), Santana e Joe Cocker. Mais: se no Rock In Rio I, Ritchie, Ultraje A Rigor e Raul Seixas fizeram falta, dessa vez a porteira estava aberta. Capital Inicial, Supla, Inimigos do Rei, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Lobão, Paulo Ricardo, Roupa Nova, Leo Jaime e o veteraníssimo Serguei passaram pelo palco – alguns desses nomes apareciam a bordo de hits menores ou de nenhum hit. Nomes da MPB como Alceu Valença e a dupla Moraes Moreira e Pepeu Gomes fizeram shows elogiados.

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MAS ANTES QUASE DEU MERDA. No comecinho de 1990, já se falava num eventual Rock In Rio II, patrocinadíssimo pela Coca-Cola, que havia procurado Medina para bater um papo. No Jornal do Brasil de 10 de janeiro daquele ano, Ancelmo Gois destacava que havia uma corrida pelo uso do Maracanã entre Medina e os organizadores do show de Paul McCartney. E entregava que o empresário pressionava o governador do Rio, Moreira Franco, a não ceder o estádio para o beatle, “mesmo em dia diferente”.

MACCA NO MARACA. Existia uma possibilidade bem grande do Rock In Rio conseguir chutar o beatle para fora da disputa. Medina (segundo o mesmo Jornal do Brasil) prometia que o festival aconteceria depois da primeira fase do campeonato carioca, e que a Artplan, empresa do publicitário, ia mudar todo o gramado do estádio. O período de preparação e recuperação que o estádio teria antes e depois do show seria bem maior no caso do Rock In Rio, o que provocaria menos problemas com os jogadores e com os clubes. No fim das contas não houve briga nenhuma: Paul se apresentou no Maracanã em abril de 1990 e o Rock In Rio rolou lá oito meses depois.

TRUE CRIME. Entre um evento e outro, aconteceu algo que ameaçou não só a realização do Rock In Rio como também a vida de seu criador. Em meio a uma assustadora onda de sequestros no Rio, Medina foi capturado e passou duas semanas “sem comer e sem dormir” na companhia de uma turma liderada pelo traficante Maurinho Branco. No cativeiro, chegou a ser assustado por um bandido fantasiado de fantasma (!).

Ao ser libertado, em 21 de junho de 1990, o empresário levou de “presente” um gavião dado por Maurinho. Não era nenhuma gentileza: Maurinho obrigou Medina a levar o bicho e cuidar do gavião até a ave morrer, o que geralmente é interpretado como um símbolo de que ele jamais seria molestado novamente pela facção do bandido. “Se alguém quiser te obrigar a dar esse gavião, faz o cara escrever uma carta que eu vou lá matar ele”, avisou a ele Branco, que foi assassinado pela polícia ainda em 1990.

CONFUSÃO DE DATAS. Inicialmente o Rock In Rio, conforme alguns jornais noticiavam, seria realizado em 1990, e em julho – e no Maracanã mesmo. Pouco antes disso, Medina anunciava planos de trazer Ringo Starr e “quem sabe” Queen, Rod Stewart e James Taylor. Nomes como Whitney Houston e a sensação da acid house Yazz chegaram a ser aventados, mas não rolou. Luiz Oscar Niemeyer, da Mills & Niemeyer, contra-atacava anunciando (e trazendo) Paul McCartney e Eric Clapton.

QUASE LÁ! Em setembro de 1990, finalmente, Medina e sua turma anunciaram os primeiros 15 (de aventados 20) contratados. Da lista, nomes como A-Ha, Billy Idol, Colin Hay, Information Society, INXS assinaram e vieram.

MAS… Donna Summer, David Lee Roth e Ziggy Marley estavam entre os anunciados, mas não vieram. Robert Plant viria até a última hora, e Medina, dizem jornais, prometia uma “surpresa” para o show dele. Seria Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin, banda dos dois? “Talvez”, despistou. Não deu certo: uma faringite impediu a vinda de Plant pouco antes do festival (mas ao que consta, a Guerra do Golfo, então em curso, fez o cantor ter medo de um atentado terrorista no avião, também).

ALIÁS E A PROPÓSITO… Nomes como Jorge Ben, Djavan e Milton Nascimento estavam também nos planos do festival e chegaram a ser comentados e/ou anunciados. Não rolou, nos três casos, embora Djavan tenha feito um feat num dos shows (ver mais abaixo). Jornais também deram como quase certa a contratação de Evandro Mesquita – não teria dado certo porque aupostamente a Coca-Cola lembrou que o então ex-Blitz já havia sido garoto-propaganda da Pepsi, ao lado de Tina Turner, em 1985. Gal Costa, então em fase mais “intimista”, foi anunciada mas não fechou contrato.

ATÉ O BARÃO? Estava tudo certo para o Barão Vermelho tocar, mas a banda (que havia tocado no primeiro festival, com Cazuza ainda no vocal) desistiu porque não haveria tempo para passar o som. O Hanoi Hanoi entrou no lugar.

ZOEIRA. A bem da verdade, alguns jornalistas já faziam piada com o fato do Rock In Rio não parar de anunciar atrações, tanto nacionais quanto internacionais (“a lista parece não ter fim”, dizia Regina Rito no Jornal do Brasil). Até Billy Joel, ainda colhendo o louros do álbum Storm front (1989), chegou a estar numa lista divulgada pela imprensa (e não veio).

O MAIOR DO MUNDO TREMEU. Literalmente, aliás – a situação aconteceu durante um Flamengo x Botafogo e um Flamengo x Vitória, ambas as partidas em outubro de 1990. Engenheiros da Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio) e da Emop (Empresa de Obras Públicas) ficaram durante três dias vistoriando o estádio. E a depender do laudo, Medina e sua trupe teriam que arrumar outro lugar para o Rock In Rio ou desistir do festival – o empresário afirmou anos depois que chegou a fazer “uma obra desnecessária só para acalmar a população”.

QUASE LÁ 2. Com as confirmações, os primeiros números começaram a ser anunciados. O Jornal do Brasil dizia em outubro que o Rock In Rio sequer havia esperado o laudo técnico do Maracanã para continuar os trabalhos – pouco depois daquilo, a Suderj decidiria fechar o estádio por um mês. O JB também falava em 3,8 milhões de dólares em receitas aos cofres públicos, além de cerca de 800 pessoas (entre músicos e técnicos) a caminho do Rio para o festival. Paulo Marinho, que na época era diretor-executivo da Artplan, falava que a Suderj receberia 700 mil dólares (“mais do que toda a arrecadação do estádio com o futebol, neste ano”).

CHEGA, GENTE! ACEITA! Até a última hora o assunto “Maracanã” rendeu. Poucas semanas antes do festival, com a estrutura já sendo montada, um advogado moveu uma ação contra a Artplan e a Suderj pedindo que o evento fosse cancelado. Isso porque ele havia pedido para ver os laudos completos de liberação do estádio e não conseguiu. “A Suderj liberou apenas um resumo”, reclamou. Um outro advogado reclamou que o Maracanã não havia sido projeto para esse tipo de evento, e que havia muitos riscos envolvidos.

A Artplan decidiu diminuir o número de ingressos para as arquibancadas (de 87 mil, foi pra quase 55 mil). Só que bem perto do evento, um juiz suspendeu o festival porque, segundo ele, não havia laudo complementar da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia). Mas a tensão não durou muito e logo o festival foi liberado.

SELINHO. A Empresa de Correios e Telégrafos anunciou no mesmo mês um merchan inovador do evento: selos com as efígies de Cazuza e Raul Seixas. Os tais selos saíram de verdade, com uma tiragem prevista de 2,3 milhões.

ESCADARIA PARA O PARAÍSO. Não tinha Palco Sunset, mas tinha… Escalada do Rock, festival que aconteceu no Circo Voador no finzinho de 1990 com o objetivo de escolher bandas novas para o Rock In Rio II. Bandas como Vaca de Pelúcia, Os Meldas, Explosão Demográfica e Os Monstrengos do Rei (ao que parece, uma imitação dos Inimigos do Rei) mandaram demos. Jornais contavam que até Mauro e Quitéria, a dupla de cantadores revelada pelos Titãs no álbum Õ blésq blom (1989), mandaram sua fitinha.

ALIÁS E A PROPÓSITO… Lamentável: Serguei, um dos fundadores do rock brasileiro, só entrou no Rock In Rio 2 porque participou da Escalada. Mas foi considerado hors concours e passou por cima da turma de novatos e veteranos animados.

DA COMPETIÇÃO, QUEM ENTROU? Além de Serguei, entraram no festival a banda Vid & Sangue Azul (liderada pelo experiente Sergio Vid, ex-integrante da banda Sangue da Cidade) e a cantora gaúcha Laura Finochiaro.

GRANA. O assunto “cachês dos artistas” ocupava páginas e mais páginas dos jornais. Prince e George Michael cobraram um milhão e meio de dólares cada um – foram os maiores cachês. O Guns N’ Roses vinha atrás com um milhão. O Faith No More, cuja contratação foi uma exigência do Guns (e que virou mania no Brasil após o festival) levou o menor cachê: 20 mil dólares. A revista Bizz revelava que, lamentavelmente, houve um cachê menor ainda: os garis que varriam o estádio trabalharam incansavelmente em turnos de 12 horas e levaram CR$ 1.200 cada um (um disco de vinil por volta de 1990 custava CR$ 25 mil, só para se ter uma ideia).

PRIMEIRAS ENTREVISTAS E CHEGADAS AO BRASIL. Shaun Ryder, vocalista da banda inglesa Happy Mondays (anunciada numa das últimas horas, em substituição à cantora Jody Watley) anunciou que traria ao Brasil mil tabletes de ectasy, droga que era uma novidade por aqui. Desistiu, claro. “Não estou a fim de experimentar as prisões brasileiras”, declarou à Folha de São Paulo. Entrevistado por Arthur Dapieve no Jornal do Brasil, Dave Mustaine, do Megadeth, deu uma esnobada na multidão que o aguardava no festival. “Já tocamos para públicos com dezenas de milhares de pessoas. Não sei o que esperar, não moro no Brasil”, disse.

Os New Kids On Block mobilizaram batalhões de fãs e de fotógrafos em sua chegada ao Rio. Axl Rose, do Guns N’ Roses, fugiu da imprensa o quanto foi possível e nem sequer foi à coletiva da banda. Já o Deee-Lite, a bordo de seu hit único, Groove is in the heart, admitiu que estava intimidado com a possibilidade de encarar aquela multidão no festival. As coletivas, observadas hoje, eram um espetáculo à parte: era de rigor que integrantes de bandas famosas não fossem reconhecidos. Por causa disso, assessores e intérpretes precisavam apresentar cada um – isso quando a banda não havia mudado de formação e pouca gente sabia no Brasil (vale lembrar que não havia internet).

TEM QUE SER COMO EU QUERO! Vale citar que o Guns exigiu (e conseguiu) que o Poison não fosse convidado para o festival. Mas pediu também que o Judas Priest não subisse no palco com sua tradicional moto, pilotada pelo cantor Rob Halford – aí já não rolou.

ALIÁS E A PROPÓSITO… Jornalistas que cobriram o evento revelaram anos depois que Rob Halford era vítima de várias piadas homofóbicas disparadas por integrantes de outras bandas de metal. André Barcinski foi entrevistar Rob à beira da piscina do hotel Rio Palace e lembrou anos depois que integrantes do Megadeth começaram dar “bombas” na piscina e espirraram água nos dois. “Halford reclamou e foi repreendido com insinuações homofóbicas dignas de caminhoneiro”, contou. O cantor só sairia do armário em 1998.

LOBÃO VAIADO. Segundo a Bizz, o show do cantor, na tarde/noite do metal (oi?), foi o menor do festival: seis minutos, durante os quais ele tentou cantar o hit Vida louca vida, levou chuva de latas e ouviu coros de “1,2,3,4,5 mil/queremos que o Lobão vá pra puta que pariu”. Gritou “não sou palhaço, não!”, devolveu o xingamento do público (igualmente enviado para encontrar a mãe no prostíbulo) e deixou o palco. A apresentação do cantor esteve ameaçada no fim de 1990: Lobão tivera um acidente de moto em dezembro de 1990, havia fraturado o pulso e o cotovelo direito, e teve que ser operado. Mas confirmou mesmo assim.

E TEVE PRINCE. O cantor fez duas apresentações elogiadas, mas deu show mesmo foi nos bastidores. Obrigou a equipe do festival ir a Londres para contratá-lo e não dirigiu a palavra aos empresários do Rock In Rio em momento algum, nem mesmo com contrato assinado – todos precisavam falar com o empresário dele, que passava as mensagens e respondia. Para ser contratado, exigiu que o evento não vendesse bebidas alcoólicas – pedido não-atendido, evidentemente. Pessoas que trabalhavam no evento confirmaram recentemente à Billboard Brasil que Prince trouxe para o Brasil um estoque com bolsas plásticas contendo o próprio sangue (!). Entre os pedidos atendidos: as tradicionais toalhas brancas (200 ao todo), máscara de oxigênio, um piano de cauda branco na suíte do hotel e camarim iluminado na cor púrpura.

PEGADOR. Entre um show e outro, o cantor visitou boates cariocas, sempre cercado de seguranças e fazendo cara de tédio. No Hippopotamus, no Rio, pediu para dançar com Maitê Proença (“tá vendo aquela garota? É ela que eu quero!”, teria dito a um assistente, encarregado de abordar a atriz). Jornais da época contam que Maitê estava acompanhado do marido – mas como era “só para dançar” (e foi), ele liberou e Prince dançou duas músicas com ela. Também arrumou uma paixão que poderia ter lhe dado muita dor de cabeça: a modelo Marianne Cotrim, de 16 anos. Apesar disso, circulou pelos jornais uma declaração do cantor reclamando da “falta de mulheres bonitas” no Rio.

E BILLY IDOL. O cantor acabou fazendo duas apresentações, por um motivo básico: além do seu dia, precisou cobrir a ausência de Robert Plant, em cima da hora. Jornais no Brasil davam sua carreira como encerrada após ele ter um acidente de moto que o colocou sem andar por um ano. “Estou com um parafuso na perna, mas estou andando. O osso está se curando”, garantiu a Arthur Dapieve no Jornal do Brasil. Avisado de que cantaria na mesma noite que Supla – considerado seu clone brasileiro – avisou: “Eu pelo menos não vou tocar nenhuma música dele”, brincou. Jornais contaram que o cantor tentou entrar na festa de inauguração da boate Resumo da Ópera, na Zona Sul do Rio, e foi barrado no baile.

E TEVE SUPLA. Até aquele momento, o cantor havia tido alguns sucessos com sua ex banda Tokyo, e um sucesso menor em carreira solo, Motocicleta endiabrada. Para o show, no qual estaria acompanhado por um time de craques (Luiz Carlini na guitarra, por exemplo) prometeu versões rocker de músicas de Caetano Veloso (Você não entende nada) além dos hits. Saiu de lá contratado: uma conversa com João Barone (Paralamas do Sucesso) nos bastidores, levou-o para a EMI, onde ele lançou mais um disco (aquele do hit Encoleirado – claro que você se lembra).

E TEVE GUNS N’ ROSES, CLARO. Axl Rose não economizou nos shows de horror dos bastidores: ao ouvir do seu quarto do hotel fãs pedindo “seu telefone”, arrancou o aparelho da parede e o atirou pela janela. Fizeram um show que deixou os fãs felizes: o circo todo da turnê da banda foi trazido para cá, não faltaram hits, e o repertório teve duas novas: Double talkin jive e Civil war (o par de discos Use you illusion ainda não tinha sido lançado). Slash esticou até São Paulo e visitou o Instituto Butantã (e deixou os funcionários espantados com seu conhecimento sobre cobras). No dia 20, primeiro show do Guns no festival, duas mil pessoas que haviam pagado pelos seus ingressos simplesmente foram impedidas de entrar por causa de um bizarro overbooking.

A chegada do Guns ao Brasil foi um capítulo à parte: a banda desembarcou sem Axl Rose no dia 17 de janeiro – o cantor só viria no dia 19, no mesmo voo do Faith No More, que ainda não era tão conhecido no Brasil e mobilizaria menos fãs e jornalistas. Assistentes da banda faziam confusionismo (ou eram vítimas dele) e informavam no dia 17 que Axl já estava no Rio, deixando todo mundo preocupado. No dia do desembarque do resto do Guns, como nem todos os fãs conheciam os rostos dos integrantes da banda, um segurança botou um roadie do grupo para se passar por Axl. Jornais da época contam que houve quem tenha caído nessa.

E TEVE SANTANA. O guitarrista mexicano, que em 1990 lançara o excelente Spirits dancing in the flesh, co-produzido por Vernon Reid, do Living Colour, chegou ao Galeão sem muitas aporrinhações – o mesmo acontecendo com olin Hay (o ex-atual cantor do Men At Work vinha com sua Colin Hay Band e fazia sucesso com a boa Into my life). Santana fez dois shows elogiadíssimos e ao contrário de Joe Cocker – cuja apresentação era marcada por um tom mais pop, próximo de seus hits mais recentes – não economizou no clima Woodstock, com hits como Oye como va, Soul sacrifice, Blues for Salvador e até She’s not there, dos Zombies. Mesmo não escalado para participar com um show só seu no festival (como chegou a ser aventado), Djavan participou do segundo show de Santana cantando seu hit Oceano.

E TEVE INXS. Na confluência entre pop e rock, em 1990/1991, havia pouca coisa mais popular que essa banda australiana, liderada por Michael Hutchence. O grupo vinha a bordo do disco X, de 1990, com hits como Suicide blonde, e das fofocas a respeito do namoro entre Michael e a cantora Kylie Minogue – depois confirmadas. Em março de 1991, a Bizz publicaria uma entrevista feita antes do Rock In Rio com o cantor, que revelava já ter vindo ao Brasil em 1985 e dizia achar que o Rio “é uma Manhattan com praias, só que nos morros você vê as favelas”, contou. “Você espera todos aqueles clichês, que são verdadeiros, mas há também toda aquela pobreza e os opostos vivem lado a lado”. O INXS já tinha muitos fãs aqui por causa do disco Kick (1987) e sairia do Rock In Rio deixando mais uma legião de admiradores.

E TEVE NEW KIDS ON THE BLOCK. Os jornais destacavam que uma multidão de garotas de 10 a 15 anos iria lotar o festival – um público bem diferente do que se imaginava encontrar no Rock In Rio naqueles tempos, por sinal. Em entrevistas, as fãs amedrontavam-se com a possibilidade de um dos integrantes ser convocado para a Guerra do Golfo, ou, pior ainda, do show ser cancelado porque um deles ficou com medo e não embarcou. O grupo foi recebido no dia 22 de janeiro por tantas fãs – e encarou tanto caos e gritaria – que teve dificuldades para alcançar o ônibus da produção. Não acabou aí: as fãs pegaram táxis e correram atrás do ônibus, para mais algumas horas de gritaria na porta do hotel.

E TEVE GEORGE MICHAEL. Com um hit rolando direto na MTV e nas rádios (Freedom ’90) e dois grandes discos solo lançados, George arrasou e ainda por cima levou ao palco em seu segundo show o seu ex-parceiro no Wham!, Andrew Ridgelew. Hospedado no Rio Palace, em Copacabana, reclamou do barulho e conseguiu ser transferido para o Copacabana Palace. Frequentou a piscina do hotel todos os dias e lá conheceu o estilista brasileiro Anderson Feleppa, que foi seu namorado até falecer, em 1993.

E TEVE SEPULTURA. A escalação da banda de metal brasileira mais famosa mundialmente rolou um mês antes do evento e provocou uma corrida na gravadora Eldorado, que pôs nas lojas uma edição rough mix do segundo disco da banda, Arise, ainda não lançado. O grupo teve o mesmo tratamento das bandas brasileiras e não foi visto como celebridade: teve direito a um show de meia hora, com oito músicas e som embolado.

O camarim da banda, comparado com o dos gringos, era uma pobreza só: só guaraná e sanduíches de presunto foram liberados. Os roadies do Sepultura, injuriados, roubaram a plaquinha com o nome Guns N’ Roses da porta do camarim do grupo e puseram na porta do camarim da banda mineira. Alguns funcionários do catering do festival caíram nessa. Em compensação, o grupo farreou bastante no Rio e ainda deu entrevistas para todo tipo de veículo. Até para a revista adolescente Querida.

E TEVE FAITH NO MORE. O grupo oitentista norte-americano até então era conhecido no Brasil pelo clipe de Epic, música do álbum The real thing (1989), que virou mania entre skatistas e fãs de metal e até de punk rock quando a MTV Brasil foi lançada, no meio de 1990. Mesmo tendo a banda vindo como reco do Guns N’ Roses, alguns integrantes formaram uma turma do barulho com o pessoal do Sepultura, e a maior vítima foi o Guns. Conta-se que Mike Patton e Billy Gould invadiram o escritório do Rock In Rio, roubaram todas as informações do grupo de Axl e Slash e começaram a passar trotes telefônicos para os quartos dos integrantes. Billy teria chegado a desmarcar reservas de voo do Guns – uma sacanagem que até hoje ninguém sabe se deu certo ou não (a info vem do livro Sepultura – Os primórdos, de Silvio Gomes e Andre Barcinski).

O FNM fez um showzão em que o cantor Mike Patton saltou de caixas acústicas enormes e, entre músicas de seus discos, inseriu covers como Easy (Commodores) e War pigs (Black Sabbath). O jazz metal Edge of the world, até então apenas a faixa bônus do CD e do K7 de The real thing, foi tocado pela banda no palco e virou hit no Brasil. Graças a tudo isso e mais um pouco (porque revistas “da gatinha” como a Capricho adoraram Mike Patton) o Faith No More virou mania, com direito a mais fãs no Brasil do que nos Estados Unidos, e shows nos cafundós. Uma febre que durou pelo menos dois anos (e vale citar que o Information Society, que já fazia sucesso aqui desde o fim dos anos 1980, iria pelo mesmo caminho).

E TEVE SERGUEI. O cantor iniciou em 1991 uma relação frutífera com o Rock In Rio – cantaria em mais três edições. No dia 24 de janeiro, fez um show bem curto, mas marcante: desceu do palco e cantou Summertime no meio do público, o que mobilizou vários fotógrafos (e seguranças). Saiu do Rock In Rio contratado: no mesmo ano, a RCA (hoje Sony Music) colocou Serguei no estúdio e lançou seu primeiro álbum, epônimo – pois é, até então o veterano roqueiro só tinha em sua discografia singles e participações em coletâneas.

E TEVE ALCEU VALENÇA. O cantor pernambucano deve ter rachado o bico contando essa para os amigos no Baixo Leblon: Prince, um dos cachês mais caros do festival, acabou abrindo seu show. No dia 24, ele cantaria depois de Serguei e Prince seria o fechamento. Só que às 19h30, Alceu deparou com um palco diferente do que ele havia ensaiado, e um espaço bem menor do que ele teria direito – tudo por causa de um aparato de Prince que tinha dado problema e já estava instalado.

O palco reduzido e o som péssimo indignaram Alceu, que saiu do palco após duas músicas. A produção sugeriu que Alceu voltasse ao palco depois de Prince, usando equalização de som idêntica à do baixinho. Incrivelmente, Prince topou e Alceu fez uma apresentação cheia de sucessos, com som excelente. “Temos que acabar com essa história de Terceiro Mundo sempre marginalizado!”, disse no palco.

E TEVE… ROBERTO CARLOS? O rei deu o azar de desembarcar no Galeão, vindo de Madri (Espanha), no mesmo horário em que os fãs do Guns N’ Roses esperavam a banda chegar. O grupo – sem Axl – entrou pelo deserto portão C. Os fãs, que se aglomeravam na saída B, viram, no lugar do grupo, um atônito Roberto desembarcando sem entender nada. “Nem sabia que tinha tanta gente aqui”, disse, segundo os jornais da época.

E TEVE O SNAP!… PERAÍ, TEVE? Quase isso. O grupo alemão de música eletrônica, sucesso com hits como Rhythm is a dancer, ganhou um cachê de 25 mil dólares para tocar no festival, só que… o equipamento não chegou a tempo. O grupo compensou fazendo uma aparição no show dos rappers do Run-DMC, mas não houve show do Snap! (e os 25 mil foram devolvidos).

ESTRELA TEEN ADULTA. Debbie Gibson, que fez um único show no Rock In Rio abrindo pro A-Ha, no dia 26 de janeiro, era uma atriz e cantora norte-americana que tinha 20 anos quando cantou no Rock In Rio. Em 1990, ela havia iniciado a fase “adulta” de sua carreira com o álbum Anything is possible, produzido e composto por ela, com colaborações de Lamont Dozier (veterano compositor da Motown) e John “Jellybean” Benitez (DJ que havia, entre outras coisas, produzido Holiday, hit de Madonna).

Alternando trabalhos como atriz e cantora, Debbie está aí até hoje – em 2022 lançou Winterlicious, um disco de Natal. Já no Rock In Rio, hits como Lost in your eyes fizeram sucesso, mas a cantora entrou na mal-afamada cota do “Pop in Rio”, que levava jornalistas a reclamar da escalação e a dizer que o festival já havia sido mais roqueiro. Como acontece até hoje.

E SE VOCÊ ESTAVA SENTINDO FALTA DA ESCALAÇÃO COMPLETA DO ROCK IN RIO 2, ela tá aí.

18/01: Prince, Joe Cocker, Colin Hay, Jimmy Cliff.
19/01: INXS, Carlos Santana, Billy Idol, Engenheiros do Hawaii, Supla, Vid & Sangue Azul.
20/01: Guns N’ Roses, Billy Idol, Faith No More, Titãs, Hanoi Hanoi.
22/01: New Kids On The Block, Run DMC, Roupa Nova, Inimigos do Rei.
23/01: Guns N’ Roses, Judas Priest, Queensryche, Megadeth, Lobão, Sepultura.
24/01: Prince, Carlos Santana, Laura Finocchiaro, Alceu Valença, Serguei.
25/01: George Michael, Deee-Lite, Elba Ramalho, Ed Motta.
26/01: Happy Mondays, Paulo Ricardo, A-Ha, Debbie Gibson, Information Society, Capital Inicial, Nenhum de Nós.
27/01: George Michael, Lisa Stansfield, Deee-Lite, Moraes Moreira e Pepeu Gomes, Leo Jaime.

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Cultura Pop

SBT Discos: descubra agora!

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SBT Discos: descubra agora!

O Sistema Brasileiro de Televisão, canal criado em 1981 por Silvio Santos (com uma ajudona do governo militar, diga-se), chegou a ter por uns tempos um selo SBT Discos, que lançou algumas trilhas de novela da emissora. Quase sempre não foi assim: o canal emprestava a sigla “SBT” para lançamentos dos mais diversos feitos por outras gravadoras, tipo Fermata, RGE, PolyGram ou RCA. Às vezes nem sequer havia um disco: o canal colocava uma vinheta no final dos capítulos das novelas avisando: “a música tal, da abertura desta novela, pode ser encontrada no disco tal, da gravadora tal”. E mal se gastava dinheiro com capa, foto e prensagem.

Os discos do SBT pareciam um negócio quase tão interessante quanto o das trilhas lançadas pela Som Livre para a Rede Globo: a gravadora entrava com os fonogramas, lançava um álbum (numa época em que discos vendiam), quem acompanhava os dramalhões do canal ia na loja comprar o disco e, beleza, tudo certo. Analisando hoje, são lançamentos BEM mais populares do que os discos de novela da Globo, feitos basicamente para consumo rápido, vendas bem rápidas e alcance popular imenso.

Fizemos uma listinha bem rápida, para consumo rápido (e, esperamos, alcance popular imenso) para lembrar alguns dos discos lançados com a marca do SBT, emprestada ou não. Com tudo de bom e de péssimo atribuído ao “patrão”, a gente prefere lembrar que ele ajudou a engordar as discotecas de muita gente. Leia e ouça.

“OS RICOS TAMBÉM CHORAM – TRILHA SONORA” (SBT, 1982). Produzido pelo canal mexicano Televisa entre 1979 e 1980, esse dramalhão (que ganharia uma versão verde-e-amarela feita pelo próprio SBT umas décadas depois) foi exibido no Brasil entre 1982 e 1983. O SBT comprou a novela, importou a estrela mexicana Veronica Castro para aparecer em diversos programas e a trama fez sucesso. O inusitado é que rolou uma “trilha sonora nacional” cheia de sucessos populares brasileiros, incluindo Gilliard (Não está sozinho quem tem deus do lado), Moacyr Franco (Pedágio), Amado Batista (Nossa casinha) e o tema de abertura com Sarah Regina (Felina).

“BOZO” (SBT Zig Zag/RCA, 1982). A estreia da versão brasileira do palhaço norte-americano em disco tinha  O calhambeque (Roberto Carlos) e Pega na mentira (Erasmo), tudo na voz do personagem. E tinha também uma versão em português de Ob-la-di-ob-la-da, dos Beatles (Brincadeiras de criança), além de uma canção que tinha como um dos autores o próprio Silvio Santos (Narizinho, que observava que: “Criança que gosta do Bozo/é feliz feliz/criança que gosta do Bozo/sabe onde tem o nariz”). Vendeu horrores e fez muitas crianças estragarem as capas dos discos – por causa de um “passaporte da alegria” que levava crianças ao Playcenter, e que tinha que ser recortado da capa.

“SUCESSOS DE ‘O POVO NA TV’, VOL.1” (SBT/Copacabana, 1982). Além de dramalhões, curandeirismo e reportagens extremamente sensacionalistas, o O povo na TV, resenha popularesca exibida diariamente pelo canal, também apresentava um monte de gente lançando disco. Se programas como o Fantástico ou o Globo Repórter não lançavam discos, problema deles: o SBT reuniu fonogramas da gravadora Copacabana e lançou um disco do Povo em 1982. Um LP que animou muitas festas: tinha Gretchen (Mambo mambo mambo), Nahim (a inacreditável Melô do tacka-tacka), Wagner Montes tentando virar cantor (com a ameaçadora Me use, abuse) e até o hit monumental Fuscão preto, com Almir Rogério.

“BRASIL, CIDADE E CAMPO” – DOM E RAVEL (SBT/Copacabana, 1982). Marcando um pontinho básico para o cancelamento do patrão, e para a ligação dele com ditadores, militares e donos do poder em geral, o SBT deu uma força daquelas para o retorno da dupla Dom & Ravel, dez anos depois do sucesso com canções ufanistas como Eu te amo, meu Brasil. No LP Brasil, cidade e campo, o terceiro da carreira da dupla, os irmãos voltavam ancorados na música sertaneja, com releituras de Tristeza do Jeca, Rio de Piracicaba e O menino da porteira. Mas o que fez sucesso de verdade (e tocou em programas como O povo na TV) foi a religiosa e pegajosa Canção da fraternidade.

“O DIREITO DE NASCER” (SBT/Philips, 1983). Drama que rolou em versões brasileiras na TV Tupi duas vezes (a original em 1964 e o remake de 1979), essa novela do cubano Felix Caignet ganhou uma versão da Televisa em 1981 – com (adivinhe) a mesma Veronica Castro no elenco. Inesperado: dessa vez o SBT meteu-se numa parceria com a PolyGram e fez uma trilha sonora adulta-contemporânea, com músicas de Eduardo Dussek (Rock da cachorra), Gal Costa (Luz do sol), Roupa Nova (Sensual), Fátima Guedes (Blue note), Erasmo Carlos (Mesmo que seja eu) e Boca Livre (Panis et circensis), além do tema de abertura epônimo com Jerry Adriani.

“A PONTE DO AMOR” (SBT/RCA, 1983). A novela mexicana Puente de amor ganhou uma versão brasileira feita pelo dramaturgo mineiro Aziz Bajur. Selma Egrei e Fabio Cardoso estão entre os protagonistas e a trama fala de um escritor envolvido numa espécie de quadrado amoroso, que inclui duas mulheres misteriosas. O EP com a trilha da novela tinha, pode acreditar, Gang 90 & Absurdettes (Noite e dia), lado a lado com Dudu França (Está escrito no ar).

“GRANDES INTÉRPRETES” – CARLOS GALHARDO, SILVIO CALDAS, NELSON GONÇALVES (SBT/RCA, 1984). Trazendo um punhado de clássicos dos três veteraníssimos cantores (todos vivos naquele ano – Galhardo seria o primeiro a partir para aquele grande espetáculo no céu, em 1985), esse disco recolocava nas lojas hits da pré-história da MPB, numa época em que (duh) não havia plataformas digitais para as pessoas recordarem músicas. E, de quebra, fazia o SBT aderir a uma velha mania do mercado fonográfico: coletâneas e relançamentos com capas trazendo ilustrações de gosto duvidoso.

“VOVÓ MAFALDA” (SBT/Copacabana, 1985). Se deu certo com o Bozo, por que não daria certo com a Vovó Mafalda? Personagem do programa, interpretado pelo produtor do SBT Valentino Guzzo (que já havia tentado a sorte como cantor em 1980, com o inacreditável single Sanduíche pra viagem), a Vovó se lançou em disco em 1985, a bordo de clássicos como 1, 2, 3 (Cante comigo) e O sorvete da vovó.

“MIAMI VICE – TRILHA SONORA” (SBT/Warner, 1986). Muita sigla na história: SBT, MCA e WEA (nome internacional da Warner por aqueles tempos) uniram-se para colocar nas lojas no Brasil a trilha da série Miami Vice, que fazia sucesso no canal durante os anos 1980. Boa parte do disco é dominada pelos temas do maestro e trilheiro Jon Hammer, mas tinha também Phil Collins (In the air tonight), Glenn Frey (Smuggler’s blues), Chaka Khan (Own the night), Tina Turner (Better be good to me).

“MEGA HITS 2, 3 e 4” (SBT/EMI, 1988/1989/1990). Até o SBT teve seu Summer Eletrohits, só que em parceria com a EMI. A série Mega hits durou sete discos, mas três deles saíram lado a lado com a emissora, trazendo hits de Morrissey (Suedehead), Roxette (It must have been love), Pet Shop Boys (Always on my mind), Sinead O’Connor (Nothing compares 2U), David Bowie (Let’s dance), Human League (Heart like a wheel) e outros.

“GUGU” (SBT/Halloween Discos, 1994). Até onde se sabe, a capa desse disco do apresentador Augusto Liberato, lançado também em CD, é um estereograma. O repertório traz sucessos associados à história de Gugu e de seu programa Viva a noite, como Pintinho amarelinho, A dança dos passarinhos e Docinho, docinho. Além de músicas aleatórias e/ou ligadas a programas posteriores, como Bota talquinho, A barata mentirosa, Pega o meu peru e Táxi do Gugu. Uma parceria do SBT com o misterioso selo Halloween Discos.

“AS PUPILAS DO SENHOR REITOR/ÉRAMOS SEIS” (SBT/Velas, 1995). Para quê gastar se a gente pode economizar? Mesmo ganhando prestígio e fazendo sucesso com dois remakes televisivos, o SBT fez parceria com o selo Velas (de Ivan Lins e Victor Martins) e mandou fazer um único CD para as duas novelas. Quem comprou, não se arrependeu: o disco tinha pérolas da MPB (de Chico Buarque, Elis Regina, Vania Bastos, Ivan Lins, Tom Jobim) unidas a canções portuguesas (por causa de As pupilas). Digamos que nem mesmo quando conseguia agir um pouco igual à Globo, a emissora de Silvio deixava de ter a sua própria cara.

 

 

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Cultura Pop

A fase pós-punk de Madonna: descubra agora!

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Quinze passos entre Madonna e o pós-punk

Madonna, você deve saber, não começou sua carreira em 1983, quando saiu seu primeiro álbum. Ela vem de pelo menos cinco anos antes. Teve várias tentativas fracassadas, períodos de fome, possibilidades de se estabelecer como modelo e atriz, etc.

Entre os anos 1970 e o começo dos 1980, apesar de ela ter trabalhado por uns tempos com um grande valor da disco music (Patrick Hernandez, de Born to be alive), o som dela tinha mais a ver com pós-punk e new wave do que com qualquer outro estilo musical. Sem o synthpop da época, nada do que você conhece de Madonna hoje poderia ter sido feito. Confira aí os links entre a rainha do pop e o que foi além dos três acordes. Uma época bem distante do sucesso, e, em especial, da expectativa e da dinheirama envolvida no show da cantora em Copacabana.

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DIZ A VERDADE. Em 1978, há 40 anos, Madonna fez sua primeira música. Tell the truth foi composta por influência de Dan Gilroy, seu primeiro namorado. Tinha poucos acordes (quatro, no máximo) e foi feita pouco depois de Madonna mudar-se para uma sinagoga abandonada no Queens, em Nova York – por sinal a região dos Ramones – junto com Gilroy. Até então, a futura rainha do pop havia trabalhado como modelo vivo e também tinh feito um job como dançarina da sensação eurodisco Patrick Hernandez.

NAS BAQUETAS. Em 1979, Madonna estreou como baterista do Breakfast Club, banda que dividia com o namorado Dan, o irmão dele, Ed (ambos nas guitarras – o primeiro também no vocal) e Angie Smith (baixo). Não deu muito certo porque Madonna – que na época tinha Debbie Harry, do Blondie, como modelo – queria cantar, não ficar lá atrás.

O Breakfast, a propósito, sobreviveu à saída de Madonna: lançou um disco em 1987, epônimo. Durou até 1990, mas em 2016 o grupo pôs nas lojas um EP, Percolate, contendo gravações do segundo (e nunca lançado) disco. Dan Gilroy virou ator, e tem um xará mais famoso ainda, roteirista, que é casado com a atriz Rene Russo. Abaixo você confere gravações de 1979 do grupo e um vídeo com várias imagens de Madonna na época do grupo, com Little boy (do repertório do Breakfast club) no BG.

COMO É BOM SER (QUASE) PUNK. Uma banda que Madonna gostava bastante no começo da carreira era The Slits. O grupo punk feminino britânico, que unia punk, dub e reggae, volta e meia aparecia por Nova York e – diz a biografia Madonna 60, de Lucy O’Brien – era estudado atentamente por Madonna. E a banda não apenas já estava sacando a observação da cantora como não gostava nada disso.

“Morro de raiva de Madonna nunca ter usado uma camiseta com The Slits escrito em lantejoulas brilhantes e chamativas. Ela nos deve tudo. Roubou da (guitarrista) Viv Albertine todas as ideias de moda no início da carreira dela”, contou a vocalista das Slits, Ari Up. Viv costumava usar pedaços de pano amarrados no cabelo e lingerie por cima da roupa, como Madonna lá por 1984.

NEM TANTO. Seja como for, a cabeleireira L’Nor Wolin, responsável pelo cabelo de Madonna no clipe de Borderline, lembra de ter ouvido dela que “não quero que meu visual seja punk, quero que seja urbano”. Isso porque L’Nor, procurada por ela para trabalhar no vídeo, era responsável por vários penteados punk inovadores da época. Por sinal, a cabeleireira se recorda de Madonna dando altas patadas no set do clipe, quando via que o catering não havia selecionado comida vegetariana para ela. “Ela gritava: ‘não vou comer essa merda, vá buscar algo vegetariano pra mim!’”, lembra no livro de Lucy O’Brien.

ALIÁS E A PROPÓSITO, entre 1979 e 1980, Madonna também fez sua estreia como atriz, num filme que – você deve saber – ela renega até hoje, A certain sacrifice. Realizado em super 8 e dando uma geral no universo das relações sadomasoquistas (com direito a um estranhíssimo sacrifício satânico no final, daí o nome), o filme foi feito na base do “faça você mesmo” punk: foi rodado por 20 mil dólares, boa parte do elenco trampou por amor e a cantora ganhou o suficiente para conseguir pagar o aluguel do mês. Madonna tentou comprar os direitos do filme, impedir a produção de ser vista, brigou feio com o diretor (Stephen Jon Lewicki), mas não deu certo: A certain sacrifice foi lançado em VHS, laserdisc e DVD, e foi visto por vários fãs ardorosos de Madonna.

MAIS UMA BANDA.  Teve também a “outra banda” de Madonna pré-sucesso. O Emmy & The Emmys veio de um apelido dela de adolescência, e era basicamente uma parceria entre Madonna e um ex-namorado, Stephen Bray, que ela conhecia desde quando morava no Michigan. O som era uma onda meio ska, e dessa época sobraram só gravações feitas em 1980. Em 1981, Madonna gravou uma demo, dirigida por sua primeira empresária, Camille Barbone, no Gotham Studios, em Nova York. A ideia era que a cantora virasse uma espécie de Pat Benatar. Não deu certo, claro.

DANCETERIA. Em 1982, Madonna arruma um emprego como garçonete na boate Danceteria, em Nova York. No ano seguinte, foi até clicada no local por Eric Kroll em várias poses – você já viu isso aqui no Pop Fantasma. O local era um novo conceito de casa noturna, com quatro andares, vários DJs, inúmeros ambientes, exibições de vídeos (as “danceterias” espalhadas pelo Brasil nos anos 80 tiraram seu nome de lá). No palco e na pista, nomes como Depeche Mode, Duran Duran, B-52’s, Butthole Surfers, Nick Cave.

ALIÁS E A PROPÓSITO, os integrantes do A Certain Ratio, banda lançada pelo selo indie britânico Factory – definida pelo dono da gravadora, Tony Wilson, como tendo “toda a energia do Joy Division, mas com roupas melhores” – podem contar essa pros netos: tiveram um show aberto por Madonna lá no Danceteria. O tal show rolou em 16 de dezembro de 1982 e era “precedido por uma participação especial de Madonna como convidada”, como diz o convite do evento.

Hoje, claro, esse convite é inacreditável. “Este deve ser um dos  mais antigos artefatos de concertos da Madonna de todos os tempo, ou talvez o mais antigo. Madonna apareceu à meia-noite e A Certain Ratio a 1h. Isso era típico dos clubes de Nova York na época – mesmo em uma noite de quinta-feira. Para os convidados houve também um buffet (às 22h)”, afirma o site Record Mecca. Por sinal, o ACR lembra que essa noite com Madonna foi tudo, menos alegre e descontraída. “Madonna entrou e a primeira coisa que ela fez foi nos repreender. Ela disse: ‘Todo o seu equipamento terá de ser movido’. Levamos uma hora e meia para configurar. Nós estávamos tipo: ‘Isso não vai a lugar nenhum’. Acabou em uma discussão massiva”, lembrou o baterista Donald Johnson à Attack Magazine, rindo. “Eu gosto dela desde então, porque ela enfrentou todos esses caras”.

EX PRESENTE. Lembra do Stephen Bray, ex-namorado de Madonna? Ele continuaria presente na carreira solo dela: é co-autor de músicas como EverybodyInto the groove e Express yourself. Por acaso, em 1987, ele também foi parar na formação do Breakfast Club que gravou o único disco da banda. Hoje ele tem um estúdio, um selo e fez coisas para a Broadway,

TEM FILME. Madonna and The Breakfast Club (2019) é um documentário dramatizado sobre os primeiros anos da vida da cantora, quando ela era integrante do Breakfast Club e dava shows em bibocas. Dirigido por Guy Guido, o filme, que chegou a ser exibido aqui no Brasil num projeto comemorativo do Cinemark, fez circuito de festivais, revelou uma atriz extremamente parecida com Madonna (Jamie Auld, que morreria em 2022, aos 26) e traz entrevistas com ex-amigos como Dan Gilroy, Norris Burroghs e Martin Schrieber.

Evidentemente, o filme não apenas é “não-oficial”, como a própria Madonna não topou dar depoimento nenhum – mas a atuação de Jamie foi elogiada. Está disponível no Prime Video, mas não para o Brasil. Também está no YouTube até tirarem de lá.

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