Cultura Pop
Vai um latão aí? E fitinha dos Beatles?

A história de como John Lennon e Paul McCartney acabaram perdendo os direitos das canções que escreveram na época dos Beatles vai lááá pro começo da banda. Rolou quando os dois assinaram um contrato péssimo com o editor Dick James, que abocanhou 50% de participação na empresa da dupla, a Northern Music. Só para piorar um pouco, o contrato abarcava as canções que escreveriam até 1973. Por causa disso, o fim dos Beatles, em 1970, representou uma chuva de processos, em que os quatro entraram na justiça até um contra o outro.
Tanto Paul McCartney quanto Yoko Ono, viúva de John Lennon, manifestaram interesse em colecionar memorabília dos Beatles e em adquirir materiais da banda com o intuito de (que há de mal nisso?) ganhar grana com o material ou impedir que outro aventureiro o fizesse. Mas Paul, ao trabalhar com Michael Jackson nos anos 1980, deu um mau passo. O cantor aconselhou o astro a fazer como ele, que já havia comprado os direitos das músicas de Buddy Holly, e investir na publicação de canções. Michael brincou com Paul: “Vou comprar suas canções”.
O beatle pensou que fosse piada mas não era. Em 1985, o catálogo da dupla Lennon & McCartney havia ido parar num inacreditável leilão público. Paul, que planejava se juntar a Yoko nos lances, foi surpreendido com o aviso de que os direitos das canções haviam sido comprados por Michael. Yoko chegou a dizer que achava a ideia da aquisição por parte de Michael interessante. Já Paul ficou puto da vida com o que considerou publicamente como uma furada de olho.
BEATLES? QUE P… É ESSA?
Vale dizer que em boa parte dos anos 1980, Beatles não era exatamente uma… Bom, o catálogo da banda era um produto super interessante mas não estava na moda. A comunidade de fãs antigos era enorme, mas eles não comprariam o mesmo disco a cada relançamento, e não havia shows dos Beatles ou turnês internacionais. O repertório dos Beatles era caro, passava por uma série de caciques e usar as canções em filmes não era das tarefas mais fáceis. Não havia o conceito de “rock clássico” e chegar ao jovem que ouvia Madonna seria dose para leão – e talvez nem fosse o objetivo.
O mesmo problema atingia vários catálogos antigos de artistas. A questão foi resolvida, em parte, com as primeiras edições em CD. As dos Beatles saíram em 1987, mas puseram mais uma estaca no relacionamento da Apple (selo da banda) com a EMI (que comandava o selo). Isso porque os três ex-beatles reclamaram que a EMI atrasou os relançamentos e ainda usou contratos antigos, que só valiam para vinil e fita. Mais processos, então.
No entanto, de uma hora para outra, as músicas da banda começaram a aparecer em comerciais. Além da suposta rédea solta do controle novo de Michael Jackson, choviam problemas de comunicação entre as partes. Em 27 de março de 1987, Revolution apareceu num comercial da Nike. O livro A batalha pela alma dos Beatles, de Peter Doggett, entrega que Yoko Ono permitiu o uso, mas que o escritório de Paul havia liberado a canção – sem que o chefe supostamente soubesse de nada.
FITINHA DO MAL
E foi nessa que, aparentemente, se tornou fácil demais para determinadas empresas terem acesso ao catálogo dos Beatles. Ainda que os próprios ex-integrantes tenham resolvido entrar nos anos 1980 dispostos a não agir mais com ingenuidade em relação a negócios, evidentemente. Mas só a pouca falta de comunicação entre as partes tornaria possível um lançamento maluco como o da fita K7 Only the Beatles, uma promoção conjunta da EMI e da cervejaria Heineken (!).
A fitinha trazia uma mistureba de canções da banda, um desenho meio esquisito na capa e era vendida para quem comprasse latões da cerveja. Existe uma história sobre Yes it is e This boy aparecerem na fita com uma mixagem estéreo exclusiva. Sei lá se é verdade. De qualquer jeito, quem quiser descobrir precisa, antes de encostar o ouvido na caixa de som, gastar uma graninha, já que a fita foi recolhida por ordens da Apple e virou raridade. Aliás, uma raridade que nem chega a ser caríssima – olha aí a turma que vende cópias no Discogs.
Only the Beatles surgiu como uma ideia da EMI britânica em parceria com a cervejaria e, aparentemente não chegou a passar pelos Beatles. Ringo Starr, que havia brigado com o alcoolismo durante os anos 1970 e 1980, mandou avisar que detestou a ideia de estar “numa lata de cerveja”. A fitinhas foram comercializadas com a ajuda de um selo que trabalhava exclusivamente com fitas K7 de brinde, o Stiletto (nada a ver com a gravadora brasileira). Seja como for, os Beatles arrumaram outro motivo para se emputecer, a EMI mandou recolher tudo e fim.
VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:
– Quando Sean Connery gravou (e zoou) os Beatles
– Quando lançaram a primeira caixa mono dos Beatles
– Joe Loss: olha eu aqui no prédio da EMI (e antes dos Beatles)
– Discos de comédia e “noites das Arábias”: a Parlophone antes dos Beatles
Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag II”

RESENHA: Swag II, continuação de Swag – disco anterior – mostra Justin Bieber dividido entre fé, família e excesso criativo: poucos bons momentos de r&b e soul, mas também muita sobra esquecível.
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Tenho a ligeira impressão que, em algumas semanas, vai virar moda nas festas, bares e debates online defender Swag II, a continuação do Swag de Justin Bieber, que a gente resenhou aqui. Vale dizer que pela quantidade de músicas, e pela rapidez com que o material chegou às plataformas, não dá para não imaginar que pode haver algo de errado com esse excesso de produção. Justin Bieber não é um artista que sofre de incontinência criativa, nem sequer é um artista desligado da fruição que os fãs precisam ter de seu trabalho.
Dá para imaginar muita coisa sobre os bastidores de Swag II: 1) Justin está precisando focar em alguma coisa para distrair a mente; 2) Justin está levando bastante a sério a ideia de que em tempos de plataformas e algoritmos, é preciso sempre pensar em algo diferente para não sumir do Google e da IA; 3) Justin quis entregar um repertório no estilo “entendeu ou quer que eu desenhe?” em relação à sua fé em Cristo e seu amor pela esposa e pela família. O que dá para ter certeza: quem achava que o ótimo Swag seria um disco horrível pode ver agora boa parte de suas previsões se confirmarem.
Por acaso, Swag II começa com um r&b chamado Speed demon que parece um recado para as Candinhas de plantão, e para quem falava mal dele e acabou adorando o primeiro Swag: “eles tentam dizer que estou louco / mas agora eles estão cantando cada linha (das minhas músicas)”. É pop adulto, mas adulto para quem anda lá pelos 30 anos – e portanto, tinha uns 15 na época dos primeiros hits do cantor.
Nas letras do disco, Justin faz questão de mostrar que é um cara mudado, e que não vai fazer sua mulher sofrer (Better man), faz canções de redenção e autoestima (I think you’re special), louva seu filho (Mother in you) e homenageia toda sua família, dos pais aos cachorros, em Everything Hallelujah – teminha de violão que chega a lembrar Pais e filhos, da Legião Urbana, e ganha uma cara de soul gospel na sequência.
Por sinal, boa parte de Swag II aponta para uma espécie de gospel que não ousa dizer seu nome – até que Justin decide encerrar o disco com Story of god, uma narração de oito minutos sobre a história bíblica de Adão e Eva no Jardim do Éden. Fui dar uma olhada no que andam falando dessa faixa e Rob Shefield, da Rolling Stone, fez a melhor comparação: “Se você ouvir esta música neste fim de semana, significa que ficou tempo demais na festa e o anfitrião está apelando para táticas nucleares para expulsar os convidados da casa”. Na real, é só Justin esfregando na cara do/da ouvinte o que já havia em canções como Believe e Purpose – e vale recordar que o Swag I terminava com um gospel cantado por Marvin Winans.
Musicalmente, o que tem de imperdível em Swag II? Bom, Love song é um r&b com cara meio jazz, que vai crescendo na cara de quem ouve. Witchya é um soul com clima de doo wop atualizado, com beat abafado e textura que dá para pegar. Don’t wanna, com baixo estilingando, tem um ritmo que parece abraçar o ouvinte. Tem All the way, balada soul com cara anos 80, em que Justin tenta cantar igual a Michael Jackson (sem a menor competência, claro), além do clima psicodélico de araque de Safe space.
Não perfaz metade do disco, que é repleto de faixas que soam como pontes e deixam a impressão de algo mal colado, com sons que parecem desandar – como rola em faixas como Bad honey, Poppin’ my s**t e a bossinha tocada na guitarra Petting zoo, além de Dotted line, tentativa de soar lo-fi e despojado como no primeiro Swag, mas que acaba soando apenas como uma música chatinha, mesmo.
As letras, por sua vez, continuam o grande problema de Justin: sem ter a vivência, a autoridade e a capacidade para contar histórias de arrepiar, ele recorre a metáforas nada-a-ver, tentativas de parecer mauzão e machão (como em Petting zoo, na qual ele parece narrar uma briga com a esposa e chama a oponente de “cadela”), e a poemas de amor sem muita graça. Você precisa ser muito fã ou muito curioso/curiosa para encarar Swag II.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 5,5
Gravadora: Def Jam/Universal Music
Lançamento: 5 de setembro de 2025.
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