Crítica
Ouvimos: Skrillex, “FUCK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!! <3”

Sendo bastante sincero, o disco novo do Skrillex é cansativo. Bastante cansativo, por sinal – FUCK U SKRILLEX tem 34 faixas em 46 minutos e chega um determinado momento em que, mesmo que você seja fanático/fanática por ele, por música eletrônica, por dubstep e estilos afins, o disco dá uma empacada. E começa a se parecer mais com um DJ set do que com um álbum – algo que funciona bem na pista mas que, em casa, chega a desnortear.
Essa sensação de desnorteio é algo que cabe bem no álbum novo de Skrillex, um disco feito para encerrar contrato (com a Atlantic, ex-gravadora do DJ e produtor), e que não está entre as produções mais pop realizadas por ele. FUCK U SKRILLEX já abre brincando com a ideia de que a carreira dele está acabada de verdade (a primeira faixa é a porrada de altas energias Skrillex is dead). E segue até o fim quase como se fosse uma só música, que vai sendo modificada em efeitos, batidas, design musical, e que volta e meia se parece com um vinhetão de rádio, acrescido de locuções, beats e impacto sonoro.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Boa parte do material varia entre uma espécie de reggae dupstep e sonoridades mais agitadas, com um dedinho de psicodelia ali pelo meio, cabendo batidões entrecortados (Slickman), um soul-hip hop tão lisérgico que se desmancha (Andy), teclados cintilando, sem beats (Korabu) e momentos de total pula-pula (a tríade Zeet noise, Buster, Fricky vip). Tem até um quase eletrorock (Dnb ting). Muita coisa do disco é bem antiga: algumas faixas foram feitas lá por 2011 (ano em que Skrillex teve um disco rígido afanado e perdeu um monte de material inédito) e provavelmente alguns fãs vão identificar sons mais antigos de dance music por aqui – “antigos” no estilo de 2010, 2011, evidentemente.
No final da audição do disco, você não sabe se FUCK U SKRILLEX foi um DJ set ou alguém zapeando trechos de músicas, aproveitando para trollar o DJ – Biggy bap, por exemplo, é o anúncio de um sequestro de Skrillex. Ouça como se fosse uma faixa só, caso resolva encarar.
Nota: 6,5
Gravadora: OWSLA/Atlantic
Lançamento: 1 de abril de 2025
Crítica
Ouvimos: Chloe Qisha – “Modern romance” (EP)

RESENHA: Chloe Qisha encara o caos moderno em Modern romance, EP que mistura synthpop, emo e letras afiadas sobre amor, crise e existencialismo pop.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Não precisa nem ler uma dúzia de livros para entender que um dos assuntos preferidos dos dias de hoje é a confusão – para muita gente, os tempos de hoje sáo distópicos, e observar todo esse caos de fora, com perspectiva, é para poucos. E essa bagunça entre ficção e realidade, entre idealização e (hum) verdade, é um dos combustíveis de Modern romance, EP novo da nova sensação pop Chloe Qisha.
Musicalmente – e vá lá, até nas letras – Chloe soa bastante comparável a muita coisa pop-rock atual, especialmente Olivia Rodrigo. Há diferenciais: um pé maior no synthpop do que no rock-de-guitarras, além de uma vivência mais apurada, até nos vocais. Nas músicas, Chloe lida com as distopias particulares da vida dela, como as lembranças das ilusões amorosas da adolescência (The boys, 21st century cool girl), o amor por pessoas que parecem feitas de areia (Modern romance) e a vontade de nem sequer sair da cama, porque o mundo lá fora parece medonho demais para quem não nem tem nem 30 anos e ainda está descobrindo a miséria dos boletos (Sex, drugs and existential dread).
Existencialmente e sexualmente, a coisa só parece resolvida mesmo em A-Game, a última faixa, na qual ela decide fazer amor com uma pessoa fanática por esportes “como se estivéssemos na WrestleMania” (evento fodaralhástico de luta-livre). Os sons no EP variam entre o emo teatral lembrando Queen (21st century), tecnorock que usa guitarras como um ambiente sonoro (Modern romance, The boys, A-Game) e um ligeiro pós-disco (Sex, drugs, com um pé no Paramore). Uma confusão que gruda.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: VLF Records / Are You Serious? Records
Lançamento: 15 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Julia Mestre – “Maravilhosamente bem”

RESENHA: Julia Mestre retorna com um som mais elaborado em Maravilhosamente bem, disco que mistura MPB vintage, boogie 80s e pop atual com beleza e sutileza.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O som de Julia Mestre voltou com uma cara diferente, mais elaborada, no terceiro disco, Maravilhosamente bem. Um disco que por sinal é um dos melhores trabalhos recentes da MPB a equilibrar referências do pop transante do começo dos anos 1980. O boogie vaporoso da faixa-título, o pop adulto de Sou fera e o clima Rita-e-Roberto de Pra lua e Veneno da serpente devolvem todo mundo a uma época em que patins era moda, a série Amizade colorida escandalizava geral na Globo e a abertura da novela Sol de verão ajudava a vender biquíni e bronzeador.
Maravilhosamente bem é um disco que, aparentemente, passou por uma elaboração complexa – a própria Julia afirmou num texto de seu Instagram que passava por um processo pessoal de cura, do qual saiu o single Sou fera. Mesmo com o olhar voltado para uma MPB jovem e vintage, o disco se conecta com o pop atual – como no boogie latino de Vampira. Ambientações musicais entre a disco music e o dream pop tomam conta de boa parte do álbum, combinando os vocais sussurrados e as cordas patinantes lembrando Boney M e The Trammps.
Entre referências e emanações que incluem pop latino (a não autoral Vampira foi feita pelo ex-menudo Ray Reyes) e os arranjos de Lincoln Olivetti, Maravilhosamente bem também é repleto de canções que parecem ter saído dos estúdios da PolyGram no anos 1980 – incluindo a homenagem a Marina Lima Marinou, limou (com participação da homenageada) e a vibe Angela Ro Ro de Sentimento blues. Ou o dream pop realmente pop de Cariño, no final.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 8 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Bryony Lloyd – “Aerial” (EP)

RESENHA: Bryony Lloyd estreia com o EP Aerial, um folk barroco e melancólico sobre solidão urbana, gravado com beleza e minimalismo.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Vinda de Manchester, com alguns singles na discografia (lançados desde o ano passado), Bryony Lloyd segue o mesmo clima quase barroco do folk britânico dos anos 1960 – 1970, de bandas como Steeleye Span e Fairport Convention. O primeiro EP, Aerial, fala de uma cidade gelada e distante na faixa de abertura, Never never never, com violão e cordas nostálgicas, e versos como “eu nunca tive uma mão / dada a mim / como eles dão um ao outro”.
Bryony permanece falando de solidão em 4am, folk com piano tocado lá de longe, com cordas discretas e delicadas. Moon in Libra é pop barroco introspectivo, It’s OK é outro retrato da solidão – com fantasmagoria acentuada no som e clima esparso, meditativo. Em When you looked away, por sua vez, sons parecem ranger em meio à delicadeza da voz e do violão, gravados como se viessem de uma fita, em meio a uma letra cheia de palavras nunca ditas. Em muitos casos do EP, por sinal, só o violão e a voz não parecem estar sendo usados para funções diferentes do normal.
O final tem Phantasmagoria in two, com melodia lembrando discretamente Blowin in the wind (Bob Dylan), violão e voz soando como se viessem de uma fita K7 gravada casalmente numa cozinha, ou num lugar qualquer com bastante reverberação. Um disco cheio de tristeza, e uma espécie de EP conceitual sobre solidão e frieza na cidade grande.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de março de 2025.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?