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Um papo com Flavio Tris sobre novo álbum, gravações à distância, amor e perdas

Flavio Tris, cantor e compositor paulista, tem um hiato de quatro anos entre cada disco – era algo que ele não sabia explicar porque acontecia, mas que denota muita reflexão entre cada lançamento, ainda mais numa época em que todo mundo pisca o olho e saem vários novos álbuns e singles.
Vela, o terceiro disco, sai pelo selo Pequeno Imprevisto e tem participações de Monica Salmaso e Lenna Bahule. E é marcado, segundo o próprio Flávio, pela “interferência mínima dos arranjos instrumentais sobre o núcleo das canções”, como já acontecia com o disco anterior.
Batemos um papo com Flavio sobre a história musical dele, o novo disco e, claro, sobre como têm sido esses tempos de volta dos shows (foto: Guta Galli/Divulgação)
No release, diz que você não sabia direito porque havia uma diferença de quatro anos entre cada disco seu. Você diria que é isso tem a ver com a vontade de fazer com que seu som seja devidamente absorvido, a cada disco? Chegou a pensar sobre isso com o disco lançado?
Possivelmente tem a ver com isso sim, até porque tenho de fato percebido que minha música é de absorção lenta. Pode bater – e bate – de primeira em alguns ouvintes, mas em muitos casos as camadas de entendimento vão sendo assimiladas aos poucos, inclusive por mim mesmo. É comum eu receber feedbacks de ouvintes que vão gostando mais das canções depois de anos da primeira escuta. Mas esse aspecto, acho eu, parece ser só uma das explicações possíveis para esse lapso regular entre os discos.
Existe também um aspecto prático, por exemplo na distância entre Sol velho lua nova (2017) e Vela (2021), que aqui se revela nas circunstâncias que me impediram de gravar esse último disco em 2019, como de início era a ideia. A doença e morte do meu pai, a falta de condições financeiras mínimas para realizar o disco. Mas justo aí reside o mistério, pois essas circunstâncias e o adiamento da gravação acabaram dando forma ao disco. Algumas canções que estão no disco nasceram depois de 2019, ou seja, não era para o disco ser gravado naquele momento, o disco veio mesmo quando tinha que vir. Aí portanto a sensação de que esse lapso era necessário e que não aconteceu por acaso, mas por razões de certa forma enigmáticas que talvez algum dia eu venha a decifrar.
Como você vê essa coisa da modernidade, de bandas e artistas lançarem singles e EPs um atrás do outro? E essa onda que chegou a rolar, de músicas bem curtas?
A onda das músicas curtas eu atribuo a certa superficialidade das novas gerações, em grande parte resultante de uma tendência de comportamento mais ansioso, menos reflexivo. Tem muito a ver com a dinâmica das redes sociais, certamente. E é claro, em termos absolutos não tenho nada contra músicas curtas, aliás a história da canção popular brasileira está cheia delas e muitas são joias indiscutíveis. Em Vela mesmo há uma canção com 2 minutos cravados. O problema não é a música ser curta, é ela ter que ser curta para atender a uma demanda mercadológica, ou pior, a uma involução geracional.
Sobre singles e EPs, sobre serem lançados a todo tempo, não vejo problema. Essa mudança na dinâmica dos lançamentos, apesar de refletir também, em certa parte, esse mecanismo “fast food” de consumir música, me parece legítima. O artista independente de hoje tem que estar trazendo atenção para a sua obra quase diariamente (o que é uma grande distorção, mas é o que é) e portanto é razoável que esses artistas estejam parando de lançar discos apenas a cada dois, três, quatro anos. Eu particularmente gosto de escutar discos inteiros e gosto de gravar discos inteiros, com dramaturgias mais complexas. Imagino que devo continuar a lançar discos inteiros, quem sabe a cada quatro anos, mas me vejo também entrando na dança e lançando singles, EPs, mergulhando em projetos paralelos.
Você acredita que o fato de ter um espaço bom entre cada disco ajudou bastante no seu amadurecimento como compositor, cantor e criador de discos?
Eu certamente amadureci como ser humano desde o lançamento do meu primeiro disco. Imagino que isso tenha repercussão na minha obra, sobretudo considerando que minhas canções são relatos íntimos e muito verdadeiros de como eu vejo o mundo.
Como foi o processo de gravação? Foi tudo à distância?
De início gravei sozinho, em voz e violão, retirado no interior de SP, as prés do que seriam as canções do disco. Fui compartilhando tudo com o Gui Augusto, que era meu parceiro desde o início do projeto. Depois chamamos César Lacerda para a direção e concordamos em chamar novamente o Elisio Freitas para assinar a produção musical junto comigo, além de criar as guitarras e baixos do disco. Fomos para estúdio gravar o núcleo duro das canções: eu gravando violão, Gui Augusto gravando percussão, César na direção. A partir disso, exceto pela gravação das minhas vozes em estúdio alguns meses depois, tudo foi concebido, arranjado e gravado à distância. Elisio estava no RJ e todas as demais participações vocais e instrumentais foram gravadas pelos próprios músicos/cantores em suas casas ou em estúdio nas cidades onde estavam. Mixagem, masterização e arte gráfica, tudo também foi executado à distância, sempre sob a minha supervisão.
Como foi ter a Monica Salmaso no disco? O convite partiu de você?
O convite foi ideia do César Lacerda e eu, admirador da Mônica, achei ótimo. Portanto foi nosso o convite. Mônica foi além do programado, gravou contracantos e vocalizes incríveis que não tínhamos imaginado. Abrilhantou a canção com sua musicalidade serena e potente. É um grande privilégio tê-la junto conosco em Vela.
Aliás, como foi trabalhar com o Cesar Lacerda no disco?
César é um amigo querido de longa data, um cantor/compositor extraordinário e um produtor/diretor competentíssimo. Já tínhamos trabalhado juntos em Sol velho, lua nova e o diálogo ao longo da realização de Vela fluiu de modo muito harmonioso. César foi importantíssimo em diversos momentos-chave da feitura do disco, sempre muito preciso e seguro quanto aos caminhos que devíamos seguir nas encruzilhadas com que nos deparamos ao longo do processo.
Você perdeu seu pai e tornou-se pai no meio da gravação. No que isso influenciou nas letras? Músicas como Saudade e Outras manhãs virão vem desses acontecimentos, certo?
Considerando que minhas canções são retratos das coisas que eu vivo e vejo, não havia como esses fatos não influenciarem as canções. A morte de meu pai sobretudo, pois o nascimento da minha filha aconteceu quando já estávamos finalizando as gravações. Saudade é uma canção feita para ele, após sua morte, do jeito mais franco possível. Dia da morte parece ser um tanto a voz dele mais até do que a minha, só que a canção foi criada enquanto ele ainda era vivo. Outras manhãs virão é um pouco anterior a essa vivência, nascida mesmo do meu sentimento diante da tragédia de termos eleito um presidente perverso, desumano, autoritário e incompetente, e num nível mais amplo diante da frustração de ver a ascensão do neo-fascismo no Brasil.
Essa última música, por sinal, é a segunda mais ouvida no Spotify, do disco. O título da canção, que é bem esperançoso, deve estar atraindo muita gente para ouvi-la, não?
Essa canção acaba sendo uma provocação para lembrarmos sempre do caráter impermanente da realidade, para percebermos, mesmo dentro do olho do furacão, que muito já aconteceu antes e muito ainda vai acontecer, distante disso que estamos vivendo agora. Essa “esperança” nasce dessa percepção. E estamos quase todos precisados dessa esperança, dessa possibilidade de ver um futuro mais feliz, mais humano, mais generoso.
Fale um pouco da Lenna Bahule, que canta com você no disco.
Lenna é também uma amiga muito querida já há muitos anos. Cantora maravilhosa, compositora maravilhosa, pessoa maravilhosa. Sua participação no disco é uma imensa honra. Ela compreendeu perfeitamente o sentido da canção e sua interpretação é impecável.
Como você se envolveu profissionalmente com a música?
Faço música desde muito cedo, pois tive aulas de piano quando criança. Pude ver um caminho como profissional da música quando comecei a compor, perto de 2004. Mas estava me formando em Direito, então ainda houve uma transição entre a advocacia e a música. No meio disso fiz um mestrado em Filosofia do Direito, cheguei a dar aulas em universidade, e enfim deixei tudo para me dedicar apenas à música. Gravei um primeiro EP em 2009, pude perceber que minha música tocava as pessoas, e soube ali que seria o primeiro de muitos. Não pretendo fazer outra coisa da vida até meu último dia.
Muita gente já está voltando a sair, a ir a shows, a reencontrar amigos. Como tem sido esse processo para você? Isso chegou a animar você a marcar shows do disco?
Eu imaginei que os shows presenciais só voltariam a acontecer em 2022, portanto estou um tanto atrasado no processo de marcar os shows da turnê de lançamento de Vela. Mas estou animado para isso sim, sempre acompanhando a evolução da pandemia, a circulação das novas cepas. Talvez ainda tenhamos que dar um passinho para trás na flexibilização das medidas de prevenção, mas estou esperançoso que, com a cobertura vacinal avançada que temos, a tendência é a volta a certa normalidade ao longo desse próximo ano.
Por conta sobretudo da nossa filha, eu e minha companheira estivemos bem rigorosos no confinamento durante esse último ano e meio, e ainda por causa dela seguimos tendo um cuidado acima do normal. Mas algum relaxamento já está sendo possível, sobretudo aqui em SP onde o vírus tem circulado menos. Ainda não me sinto seguro para sentar num boteco ao lado de desconhecidos, mas já tenho me permitido estar perto dos amigos e fiz um show recentemente nos arredores de Belo Horizonte para um público de aproximadamente 50 pessoas, com as pessoas seguindo os protocolos de prevenção. Tenho confiança de que em breve vai ser possível lançar o disco em SP. Se puder ser com sorrisos e abraços, tanto melhor.
Lançamentos
Radar: Feeble Little Horse varia o som em nova música – e muito mais!

Feeble Little Horse voltou com música nova, Manu Chao convidou Juliana Linhares para fazer o som do bode, Lady Gaga levou o hit Abracadabra para a TV… e outras novidades no Radar internacional de hoje. Aumenta o som e põe tudo na sua playlist.
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FEEBLE LITTLE HORSE, “THIS IS REAL”. Finalmente sai o primeiro single dessa ruidosa banda desde o álbum Girl with fish (2023), que foi prejudicado pela falta de uma turnê para divulgá-lo. This is real pode assustar os fãs do primeiro álbum, porque lá pelas tantas o Feeble Little Horse chega a lembrar uma mescla de shoegaze com o “rock alternativo” norte-americano. É só impressão, calma – e a banda diz que ainda é cedo para dizer que a faixa é bastante representativa do que será o próximo disco (“mas ela se tornou algo que nenhuma outra música jamais se comparará”, despista a cantora Lydia Stocum).
MANU CHAO feat JULIANA LINHARES, “MELÔ DO BODE”. A nova de Manu Chao é esse single vibrante que mistura guitarrada com sonoridades mexicanas, trazendo dois brasileiros para a festa: a cantora Juliana Linhares e o guitarrista Felipe Cordeiro. O trio entrega um perfeito tema de novela sertaneja, com versos irreverentes como “esse bode dá bode / eu não quero saber / esse bode dá bode / é por isso que eu quero vender”. O álbum mais recente de Manu, Viva tu, foi resenhado aqui.
SUNFLOWER BEAN, “NOTHING ROMANTIC”. Esse trio de Nova York caminhou do soft rock (com herança evidente do Fleetwood Mac) ao quase-metal, passando pelo indie-pop. Mortal primetime, disco deles que sai dia 25 de abril, parece que vai unir todas essas viagens sonoras – o grupo já declarou que nomes como Heart, Pat Benatar e Joan Jett estão entre as referências do álbum, e Nothing romantic, novo single, dá ótimas pistas desse caldeirão sonoro. Música e clipe refletem bem a onda atual da banda. “Ela é sobre rejeitar o mito do artista torturado — perceber que as alegrias da criatividade não precisam vir dos baixos da miséria. O vídeo espelha essa jornada, capturando nossas vidas como músicos em turnê entre performances de pesadelo”, contam.
ILLUMINATI HOTTIES, “777”. Parece que vem por aí um grande ano para o Illuminati Hotties, projeto da cantora, compositora e produtora Sarah Tudzin. Se você ouviu o álbum que o Hotties lançou em 2024, Power, e já curtiu a evolução no som do projeto, confira toda a potência shoegaze de 777, o single novo – é promessa de que tem algo bem legal vindo aí.
LADY GAGA, “ABRACADABRA”. Já falamos sobre Mayhem, o novo disco de Lady Gaga, e ela certamente não precisa de mais divulgação, mas vale destacar a performance avassaladora no Saturday Night Live, que transformou Abracadabra em um clipe ao vivo. Gaga voltou disposta a reconquistar antigos fãs, mas voltou com disposição para ser o que Ozzy Osbourne e Alice Cooper fariam se largassem o rock e abraçassem o pop dançante e vigoroso. É dance music com notas de misticismo, para perturbar os sentidos.
THE HARD QUARTET, “LIES (SOMETHING YOU CAN DO)”/”COREOPSIS TRAIL”. O novo supergrupo da cena alternativa – formado por Emmett Kelly, Stephen Malkmus, Matt Sweeney e Jim White – lançou um excelente álbum de estreia no ano passado e já retorna com um single duplo na base do “vale tudo”. Lies (Something you can do) traz aquele slacker rock típico do Pavement (banda de Malkmus), enquanto Coreopsis trail é uma jam de cinco minutos em que cada integrante parece estar solando para si próprio – e o resultado é pura diversão.
THE DRIVER ERA, “DON’T TAKE THE NIGHT”. O novo single do The Driver Era – duo formado pelos irmãos Ross e Rocky Lynch – tem algo que evoca o clássico Give me the night, de George Benson, mas filtrado por uma pegada indie-pop-dance moderna. Além da nova música, a dupla traz mais novidades: entre abril e maio, eles desembarcam no Brasil para shows no Rio e em São Paulo, e o álbum Obsession chega no dia 11 de abril.
NOVANGOGH, “YOU’RE RIGHT THERE”. Um prato cheio para fãs de rock dos anos 1990, seja o pessoal do britpop ou os grunges que sempre garimparam influências do passado sem culpa. O Novangogh, grupo de Los Angeles, mistura tudo isso em You’re right there, uma balada com ecos de folk, country-rock e psicodelia. Até a capa do single traz um Van Gogh “roqueiro”.
CAR SEAT HEADREST, “GETHSEMANE”. Se você gosta de Car Seat Headrest, já sabe que eles não economizam em material – e agora se preparam para lançar a ópera-rock The scholars no dia 2 de maio. O novo single, Gethsemane, que foi assunto nosso aqui, tem 11 (!) minutos e mergulha em temas como espiritualidade, vida e morte. Não há latim gasto à toa: a faixa, que soa às vezes como um The Who indie (com referência aos teclados de Won’t get fooled again em determinada altura), é boa de verdade, e ainda ganhou um clipe formidável.
AIMLESS, “WEIRDO”. A Itália vai bem, obrigado – uma série de bandas interessantes vem surgindo por lá. O Aimless, uma dupla de Milão, une sons entre Nine Inch Nails e Queens Of The Stone Age, e sai metendo a mão e guitarra e bateria no novo single, Weirdo. Um EP está a caminho, e o visualizer do single é minimalista ao extremo: os dois integrantes sentados num banco de parque, dividindo um fone de ouvido e ouvindo música.
Foto Feeble Little Horse: Luke Ivanovich/Divulgação
Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
Lançamentos
Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

Se a moda pegar, é provável que vejamos uma febre mística, religiosa e de healing music tomando conta do indie rock e do alt-pop. Para começar, um tema que já vem circulando há alguns dias é o novo single “espiritual” do Car Seat Headrest, uma de nossas bandas preferidas, que aborda nascimento, vida, morte e o contato com aqueles que já partiram.
Gethsemane, a música, é excelente, tem onze minutos, e a letra se passa no campus universitário fictício da Parnassus University (sim, o nome remete ao monte Parnaso, lar de Apolo e suas musas na mitologia grega). Inspirada pelas experiências do grupo na época da pandemia, a faixa segue o dia a dia de uma estudante de medicina, Rosa, que traz de volta à vida um paciente morto, e tem poderes de cura desde a infância.
“Toda noite, em vez de sonhos, ela encontra a dor crua e as histórias das almas que ela toca ao longo do dia. A realidade se confunde, e ela se vê levada para as profundezas de instalações secretas enterradas sob a faculdade de medicina, onde seres antigos que secretamente reinam sobre a faculdade trazem à tona seus planos sombrios”, diz a banda.
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Will Toledo, vocalista do Car Seat Headrest, já abordou temas religiosos com ironia em discos como Teens of denial (2016). No entanto, ele afirma que sua visão sobre espiritualidade mudou ao longo do tempo e que determinadas práticas influenciaram diretamente a concepção do novo trabalho. O próximo álbum da banda, The scholars, será uma ópera-rock de nove faixas e está previsto para 2 de maio pelo selo Matador. Segundo o grupo, o disco marca “uma nova era espiritual” para o projeto.
Outro exemplo de como essa vertente está ganhando espaço vem da cantora alemã Laura Carbone. Conhecida por sua trajetória que transita entre o pós-punk, o power pop e sonoridades mais próximas do post-rock e do progressivo (The cycle, seu disco mais recente, foi resenhado aqui), ela agora explora um caminho diferente em Strength • 5 (Sound Healing). O novo single, com trinta minutos de duração, traz vocalizes e o som etéreo de um sino tibetano – um instrumento de percussão em forma de tigela, tradicionalmente utilizado para meditação e equilíbrio energético.
A música foi gravada ao vivo e “em um take só” por ela – e Laura pretende que a música tenha um objetivo bem mais nobre que a pura fruição pop. “Meu chamado para criar esta canalização foi para nos apoiar a todos na conexão com nossa paixão e força sinceras — a coragem necessária para incorporar e seguir as verdades dentro de nossos corações em nome da justiça e da libertação. Também a paciência que saber que isso pode exigir”, escreve no release. “Sinto que, coletivamente, precisamos nos tornar mais fortes, mais presentes e persistentes em entrar no que defendemos e em defender leis universais para um mundo de cura”, continua ela.
Dois singles, enfim, não configuram uma “onda” – mas, no caos nosso de cada dia, é interessante ver que até a turma indie vem buscando algum tipo de conexão com forças menos terrenas.
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