Cultura Pop
Mais Ziggy Stardust: um monte de “It ain’t easy” (em mixtape!)

It ain’t easy, a única música do disco The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars que não era de David Bowie, na verdade tinha sido pensada para o disco anterior, Hunky dory (1971). Foi executada no dia 3 de junho de 1971 durante a ida de Bowie ao programa de John Peel, numa versão com Dana Gillespie nos vocais, que dava um ar meio country-gospel à música. Incluída em Ziggy, virou o momento de reflexão do personagem em meio ao sucesso e ao dia a dia de tentações. Ela tinha chegado a aparecer na versão promo de Hunky dory, com músicas de Dana Gillespie no lado B, em todo caso.
O mais louco é que It ain’t easy tinha sido gravada algumas vezes antes de Bowie – e em duas dessas vezes, ela foi música-título de um disco. E nenhuma dessas versões fez sucesso. Foi gravada pelo grupo rock-soul norte-americano Three Dog Night em 1970 no disco It ain’t easy, e nem sequer foi lançada em single. No mesmo ano, o cantor folk canadense Long John Baldry também gravou a faixa no seu disco It ain’t easy.
Também em 1970, o próprio Ron gravou a música, em releitura bastante ligada ao folk, no disco Silent song through the land. E em 1971, a banda Detroit gravou a música no mesmo disco em que por sinal relia Rock’n roll, do Velvet Underground. Em janeiro de 1972, foi a vez de Dave Edmunds reler a faixa em seu disco Rockpile. Uma versão gravada em 1972 e só lançada vários anos depois é a da cantora soul Bettye LaVette. O It ain’t easy dela faria parte de seu primeiro disco pela Atco, Child of the seventies, que acabou engavetado e só foi lançado em 2006.
>>> Veja também no Pop Fantasma: Dark side of the moon, um disco do… Medicine Head
A versão de David Bowie você com certeza já ouviu e, ao contrário da onda folk das outras releituras, tem um lado glam acentuado – embora mal dê pra reconhecer a voz do cantor e há quem tenha jurado por vários anos que não era Bowie cantando. Tem quem diga que a música já fazia parte do repertório dos Rats, a antiga banda de Mick Ronson, guitarrista dos Spiders From Mars, e que o próprio músico mostrou a canção para Bowie. Não é muito claro o motivo pelo qual ela foi parar no repertório do cantor, ou em Ziggy Stardust: biógrafos falam que a canção tem uma atmosfera de sonho acordado que convenceu Bowie, e que a música relata o momento de transformação pessoal do personagem.
Depois de Bowie gravar a faixa, quem arriscou uma releitura foi a cantora country americana Shelby Lynne, no disco Unsung hero: a tribute to the music of Ron Davies, uma homenagem ao compositor da faixa. Ron Davies, vale citar, nasceu em 1946, morreu em 2003, e ganhou uma pequena fama aos 17 anos quando compôs todas as músicas de um disco de uma banda que já virou assunto aqui no Pop Fantasma – os “pais do grunge”, Wailers. Foi contratado pela A&M em 1970 e lançou dois discos por lá. Depois gravou em vários pequenos selos. Uma outra canção bem bonita composta por ele foi gravada pela cantora Maria Muldaur, Long hard climb.
E segue aí uma mixtape com TODAS as versões de It ain’t easy citadas nesse texto. Aumente o som e compare uma versão com a outra. Tem até diferenças nas letras.
Cultura Pop
O 1967 dos Beatles no podcast do Pop Fantasma

Da mesma forma que uma década muitas vezes não começa no ano em que ela se inicia (já havia um “anos 1990” encartado no fim da década anterior), as mudanças vividas pelos Beatles em 1967, ano do disco Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, começaram pelo menos uns dois anos antes.
Mas para todos os efeitos, foi há 55 anos que John, Paul, George e Ringo lançaram um dos discos mais desafiadores da história da cultura pop, tramaram sua volta ao cinema, fizeram duas aparições significativas na televisão (numa delas, lançaram um telefilme que deixou sensação de entalo nas gargantas de muitos fãs), realizaram montes de experiências de estúdio, perderam tragicamente seu empresário e começaram a dar passos rumo à independência. E, ah, graças a um certo composto químico de três letras, sintonizaram dimensões bem diferentes das que os pobres mortais estavam acostumados naquela época.
O último episódio da segunda temporada do Pop Fantasma Documento levanta os causos de uma das épocas mais movimentadas do dia a dia dos quatro de Liverpool. Aumente o volume, ligue-se e sintonize!
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Turn Me On Dead Man, Trudy and The Romance, Dario Julio & Os Franciscanos.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração: Ricardo Schott. Arte: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta!
Cultura Pop
Devo: no YouTube, tem versão “rascunho” do filme The Men Who Make The Music

Raridade por vários anos para muitos fãs do Devo, o filme The men who make the music (1981), realizado pela banda, foi lançado sob o rótulo maluco de “vídeo-LP”. A produção combina imagens de shows do Devo (focando bastante na turnê de 1978) com textos irônicos sobre a indústria da música, além de aparições do controverso personagem General Boy (interpretado por Robert Mothersbaugh Sr, pai dos irmãos Mark e Bob).
O tal conteúdo “anarquista” do vídeo fez com que ele ficasse arquivado por uns dois anos, já que The men who make the music foi terminado em 1979. O lançamento deveria ter acontecido em paralelo com o disco Duty now for the future, tanto que o LP original anuncia um endereço para os fãs comprarem um produto chamado Devo-vision, que sairia pela Time-Life (empresa responsável por arquivar o filme por dois anos, irritada com as mensagens anti-indústria da música do vídeo).
O material ainda aparece intercalado com imagens bem antigas do Devo. O grupo aparece tocando Jocko homo em 1976, em imagens do primeiro curta do Devo, The truth about de-evolution – que também incluía o clipe do grupo em 1974 tocando Secret agent man, igualmente incluído em The men. Nessa época, o Devo tinha uma formação bastante variável. Com pelo menos cinco ou seis músicos gravitando em volta (incluídos aí três irmãos Mothersbaugh), a banda virou quarteto no clipe de Secret agent man.
The men who make the music, por sinal, teve ainda uma versão demo, feita com produção amadora, em 1977. Tá no YouTube. Foi dirigida por Jerry Casale e produzido por Marina Yakubic, que era namorada de Mark na época.
O vídeo (sim, é vídeo, produzido com câmeras de TV) tem diferenças nos diálogos, nos cenários, na qualidade de som e de imagem (bastante rascunhadas) e no fato de que as músicas não aparecem em clipes. Todas são gravadas em versões extremamente cruas, ao vivo num palco.
Uma surpresa para os fãs é que, originalmente, a versão do grupo para (I can’t get no) Satisfaction, dos Rolling Stones, era quase um blues maníaco e lembrava Captain Beefheart. Muito diferente do que se imagina do Devo.
Aproveita e pega The men who make the music, a versão oficial, que também tá no YouTube.
Cultura Pop
The Lost Sheep: um single (da Virgin, de 1979) com ovelhas soltando a voz

Você provavelmente não conhece Adrian Munsey. Dono de uma carreira de sucesso como produtor de TV, o britânico trabalhou em canais como BBC Worldwide, ITV, Universal, e dirigiu dois longas, além de uns 45 documentários. Também tem uma extensa carreira como produtor musical e dono de gravadora. A vida dele tá aqui.
Agora, um detalhe que garantiu bastante popularidade a ele no fim dos anos 1970 foi ter aderido à mania sempre em alta dos novelty records – discos feitos para vender por uns tempos, com piadas ou assuntos da moda. Em 1979, ele soltou o single The lost sheep, creditado a “Adrian Munsey, ovelha, sopros e orquestra”. Essa pérola aí.
Lançado pela Virgin, o single trazia, segundo o site World’s Worst Records, ” uma fatia medíocre de monotonia sub-clássica que apresenta um cordeiro balindo enquanto uma pequena orquestra – repleta de baixista e baterista – toca a música mais sentimental que você já ouviu”.
Se você já acha pitoresco escutar isso em áudio, olha aí o próprio Munsey tocando a peça ao vivo no Russel Harty Show, na London Weekend Television. Munsey levou para o palco uma ovelha (“é uma fêmea”, esclarece) e a mãe do animal – além da orquestra, para tocar ao vivo. Só que o bichinho ficou meio amedrontado e não “cantou” nada. Sobrou para Munsey fazer o “béééé” ao vivo. A plateia ri, os músicos de orquestra não movem um músculo das faces.
Russel fica indisfarçavelmente de boca aberta ao ouvir Munsey contar como foi que surgiu a ideia de fazer música com ovelhas. Ele fez uma viagem e passou por um anfiteatro que estava cheio delas, balindo. “Acho que as pessoas às vezes se sentem como ovelhas perdidas um dia”, contou, já anunciando que sairia um single em ritmo de discoteca. Saiu sim: C’est sheep, lançado também em 1979, e produzido por Ron e Russell Mael, os dois irmãos da banda Sparks. Essa música, mais tarde, foi incluída na compilação da Virgin Methods of dance.
Ah sim, tinha o lado B de The lost sheep. Era Echoing spaces, essa maravilha pós-prog relaxante aí.
Um detalhe bem louco a respeito de C’est sheep, o tal single disco de Munsey, é que ele foi detonado por um colega de gravadora do cantor. John Lydon, já cantando à frente do Public Image Ltd, foi participar do Juke box jury da BBC, programa no qual uma turma de jurados comentava lançamentos recentes. A canção, cheia de balidos com beats dançantes, foi apresentada e provocou verdadeira aflição nos convidados, que precisaram dar suas opiniões na frente do próprio Munsey (!), mais perdido que cebola em salada de frutas. Lydon diz que a música é “a Virgin Records tentando faturar uns trocados e falhando miseravelmente”.
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