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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

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Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

O Fleetwood Mac nunca foi das bandas mais estáveis do mundo. Era uma banda de blues que foi gradativamente se aproximando do pop, e que mudava de integrantes (e de liderança) a cada disco. Enfim, a banda trocou até de país – começou na Inglaterra, acabou nos EUA. Mas na época que antecedia seu 14º disco, Tango in the night (1987), andava tudo realmente estranho.

Para começar, o disco anterior do FM, Mirage, havia saído em 1982, e os integrantes embarcaram em carreiras solo, algumas mais, outras menos vitoriosas. Lindsey Buckingham (voz, guitarra), que vinha de um hit solo de 1981, Trouble, conseguiu seu lugar ao sol com o single e o disco Go insane (1984). Christine McVie (voz, teclados) e Mick Fleetwood (bateria) gravaram álbuns sem a banda – a primeira com repercussão, o segundo sem nenhuma. John McVie (baixo) ficou na dele. Já Stevie Nicks (voz), que gravava sozinha desde 1981, fez bastante sucesso solo. Inclusive conseguiu êxito o suficiente para ficar em dúvida sobre se valia a pena voltar com a banda.

Não havia nada indicando que o Fleetwood iria voltar, já que os integrantes pareciam felizes separados. Mas não tinha havido uma entrevista sequer da banda falando que os serviços do grupo estavam encerrados e que daí para a frente os fãs que se virassem para acompanhar cinco carreiras solo.

A volta, com Tango in the night, era a verdadeira adaptação do Fleetwood Mac à sonoridade e ao método de trabalho que vigoraram nos anos 1980. Ou seja: programações eletrônicas, vocais modificados com samples, experimentações de estúdio para deixar canções com mais cara de “rádio”, tons latinescos e novelescos para brigar nas paradas com artistas como Madonna (La isla bonita fez sucesso, não?) e derreter os corações das Américas.

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

Nos últimos dias, por causa de um viral do tiktok, Dreams, clássico do FM lançado no poderosíssimo disco Rumous (1977), voltou a virar hit – o que levou álbum a retornar ao Top 200 da Billboard. Como já tem um monte de gente recordando os tempos confusos de Rumours – disco marcado pelos divórcios dos dois casais da banda, e por trocas de farpas em letras de músicas – decidimos dar um salto no tempo e lembrar o segundo disco mais vendido do Fleetwood Mac. O álbum que fez a banda experimentar sucesso de verdade no mundo maravilhoso da MTV, graças aos clipes de Seven wonders, Big love, Everywhere, Isn’t it midnight e Little lies.

Tá aí nosso relatório sobre Tango in the night. Leia ouvindo o disco.

HIATO. Os fãs do Fleetwood Mac estavam acostumados a pausas entre um disco e outro – inclusive, com os dois casais da banda separados e integrantes com os pés afundados na jaca das drogas, só dando um tempo. Após Rumours (1977), a banda lançou o estranho disco duplo experimental Tusk (1979), considerado um fracasso pela Warner, gravadora deles. Em 1980, saiu o duplo ao vivo Live. 1982 foi o ano de Mirage. Mas, se bobear, muitos fãs-de-ocasião acharam que a banda sumiu do mapa depois do mega bem sucedido Rumours.

MAS QUE CASAIS? Se você não sabe, durante Rumours houve a separação dos casais Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, e Christine McVie e John McVie.

SUCESSO E CASAMENTO RÁPIDOS. Stevie Nicks tinha sido a integrante do Fleetwood Mac a voar mais longe como solista. Gravara dois discos muito bem sucedidos – antes mesmo do hiato pós-Mirage, ela já batera recordes com Bella Donna, de 1981. Em 1986, dividiu palcos com Bob Dylan e Tom Petty & The Heartbreakers. Mas a vida pessoal não andava legal. Em 1981, ela tivera a péssima decisão de casar com o viúvo de sua melhor amiga Robin Anderson, que morrera de leucemia após ter tido um filho. Aliás, fez isso porque “achava que ela gostaria que cuidássemos do bebê”. O casamento durou três meses.

VIDA LOUCA. As drogas vinham causando problemas à banda, especialmente a dois integrantes: Stevie Nicks e o baixista John McVie. John tinha problemas com álcool o suficiente para ter uma séria convulsão em 1987. Em 1986, Stevie foi alertada por um cirurgião plástico de que teria problemas sérios no nariz por causa do abuso de cocaína, e que poderia ficar sem voz. Em seguida, internou-se na clínica Betty Ford, procurada por dez entre dez popstars em reabilitação, e largou a droga. No entanto, Nicks continuou bebendo e acabou viciada, ironicamente, na droga que ela tomava para se livrar da cocaína (Klonopin).

POR SINAL, uma das músicas de Tango in the night, Welcome to the room… Sara, escrita por Stevie, foi inspirada em sua estadia na clínica Betty Ford. “Sara Anderson” era o pseudônimo que ela usava ao se internar.

SOM ELETRÔNICO. O começo dos anos 1980, você deve se lembrar ou saber, foi a glória para os fãs de sintetizadores e sons eletrônicos, que dominavam as paradas. O Fleetwood Mac passou de sapato alto sobre isso em Mirage. Mas Lindsey ficou meio obcecado pelo assunto em Go insane, seu disco de 1984, no qual ele tocava todos os instrumentos e substituía as batidas orgânicas pela afamada LinnDrum, que já aparecia em dez entre dez sucessos pop. Foi o pontapé inicial para muita coisa que aconteceria em Tango in the night.

ALIÁS E A PROPÓSITO, Tango in the night seria, de início, um disco solo de Buckingham.

OU MELHOR. Havia dois projetos sendo feitos, o disco de Buckingham e o LP novo do Fleetwood Mac. Ambos os trabalhos correram em paralelo por um tempo, até que Lindsey se juntou aos colegas e levou seu repertório. Mas Mick Fleetwood diz que a banda – em especial ele – persuadiu Lindsey a se juntar aos outros, e que o amigo foi pressionado para concluir o disco.

DASHUT E DROMAN. Quer saber de Tango in the night, pergunte a esses dois. Richard Dashut, que produzira os três últimos discos do FM, havia sido chamado por Christine McVie em 1985 para produzir uma versão de Can’t help falling in love para a trilha do filme A fine mess, de Blake Edwards. O projeto acabou virando uma reunião informal do Fleetwood Mac, com Fleetwood, McVie e Buckingham convidados para tocar na trilha. Stevie continuava em turnê solo.

DASHUT E DROMAN 2. Greg Droman, um jovem produtor e engenheiro de som, foi chamado por Dashut para gravar o projeto. Acabou trabalhando também com Buckingham em Time bomb town, que o músico criou para a trilha do blockbuster De volta para o futuro, de Robert Zemeckis. Acabou sendo convidado para trabalhar em Tango. Na época, Droman era do estúdio Rumbo, de propriedade da dupla Captain & Tennille, em Los Angeles. Por sinal, o local era quase um quartel-general do hard rock e do hair metal: até o Ratt gravou lá.

ALIÁS E A PROPÓSITO, até mesmo parte do Appetite for destruction, do Guns N Roses, saiu das máquinas do Rumbo.

DEZOITO MESES. Foi o tempo em que o grupo, mais produtor e técnico de som, passaram lambendo as músicas de Tango in the night. O material que surgia no novo disco do Fleetwood Mac era quase um projeto dos integrantes não-fundadores da banda, usando o nome do FM. John McVie e Mick Fleetwood não deram pitacos nas composições. Já Lindsey usou e abusou da liderança, dando ideias de como o material deveria soar e trazendo uma referência musical importante para a pequena equipe do disco (o som pop e profundo de Kate Bush).

MAIS GENTE. Outros nomes apareciam nos créditos de composições de Tango. Sandy Stewart compôs o hit Seven wonders com Stevie, e era parceira de carreira solo dela. Eddy Quintela, novo marido de Christine McVie, dividia Little lies com ela, e Isn’t it midnight com ela e Buckingham. Dashut compôs Family man com Buckingham.

ZZZZZZ. Dashut e Droman concordam numa coisa: Tango in the night foi um disco feito tão devagar que todo o processo levou a equipe ao tédio e ao desespero em pouco tempo. Buckingham estava maravilhado com as possibilidades dos samples, das modificações de vozes em estúdio e com qualquer maluquice que pudesse ser feita para mudar vocais ou alterar partes de músicas. Ele, o produtor e o técnico faziam coisas como diminuir a velocidade das canções, triplicar ou quadruplicar várias partes nos canais e depois ajustar o pitch de cada uma dessas partes. Tudo para encontrar novas texturas e tornar Tango in the night uma experiência inesquecível.

CORTA E COLA. Os vocais percussivos de Big love (todos feitos por Buckingham, e não por Stevie) e os climas meio “vamos abrir a Porta da esperança” de algumas introduções (como a de Everywhere e a de Little lies) vêm dessas encucações de Lindsey.

VIDINHA BESTA. Durante as gravações, uma frase repetida por Droman virou quase meme da equipe: “Tédio é a nossa vida”. A equipe passava o dia inteiro envolvida com apenas uma parte da gravação, ou duas partes, para refazer tudo no dia seguinte, porque Buckingham não havia ficado feliz com o resultado. A turma também ficava bastante isolada no Rumbo. Aliás, isolada a ponto de perder a noção do tempo. “Naquela época, os estúdios não tinham janelas. Nunca sabíamos que horas eram. Você saía no corredor para ir ao banheiro ou algo assim, e de repente, você percebe que é noite, daí você perdeu todo o sol do dia”, contou Droman.

PÂNICO. Por causa do estresse, das repetições e do excesso de trabalho, rolou de tudo: até ataques de pânico no jovem Droman. “Eu nem sabia que se tratava disso”, conta. “Nem conseguia dizer o que estava acontecendo. Eu estava meio que pirando”. Logo que saiu Tango in the night, ele estava tão de saco cheio que desligava o rádio se o DJ tocasse Big love.

PÉ NA BUNDA. Antes de Tango, Lindsey havia tido um relacionamento fracassado com a estilista Carol Ann Harris, que vazou para as letras do disco (em Tango in the night e, evidentemente, Caroline), e continuava mal por causa disso. Carol, que trabalharia em vários clipes de artistas conhecidos, escreveu um livro sobre o relacionamento com Lindsey (Storms: My life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac) e contou que já estava cansada das brigas do namorado com a banda, e de seu envolvimento com a cocaína.

BAÚ SEM FUNDO DE GRANA. Tango também foi um disco marcado por um comportamento perdulário típico da época em que as gravadoras ainda tinham verba ilimitada para gastar com seus artistas. Após o começo no Rumbo, o Fleetwood Mac ainda fez gravações na garagem da casa de Lindsey, num trailer alugado que ficava no quintal para não invadir demais a propriedade. A mixagem também foi feita lá, inicialmente em duas máquinas analógicas. O pentelho Lindsey demorava uma semana para mixar cada música com a equipe. Só que ele mudava bastante de ideia sobre o que estava sendo mixado. Para facilitar o processo, mandaram vir uma caríssima e moderníssima máquina digital da Sony.

COMO É QUE MEXE NISSO? Na mixagem, a turma tinha várias fitas digitais que precisavam ser manuseadas com cuidado, numa época em que ninguém sabia mexer direito nessas coisas. Com medo de estragar alguma coisa, Droman usava luvas brancas para mexer no material. O material era todo repicado e colado na base da fita durex.

QUASE DEU MERDA. Quando Tango foi masterizado, apareceu um monte de erros nas emendas. Para evitar problemas, a única solução que o trio de produção e gravação viu pela frente foi colocar as fitas na geladeira do estúdio. Não havia cópia de nada e o risco de um ano de trabalho ir por água abaixo era enorme.

STEVIE SUMIU. As gravações de Tango in the night foram pouco frequentadas por uma das integrantes mais populares do Fleetwood Mac. Stevie Nicks contribuiu com canções, mas estava ocupada demais com a turnê do disco solo Rock a little e quase não ia ao estúdio. Quando ia, ficava tão entediada que começava a beber e gravava os vocais embriagada. Boa parte dos vocais dela em composições de Christine e Buckingham foram tirados. Em When I see you again, por exemplo, vocais dela tiveram que ser remontados e Buckingham precisou cantar parte da música.

DEU TEMPO. Por causa de suas ausências, Stevie perdeu inicialmente a chance de fazer vocais em Everywhere, de Christine McVie – e reclamou disso. Acabou acrescentando vocais quando a música já estava para ser finalizada.

CLIMA BOM, CLIMA RUIM. Testemunhas afirmam que o clima na banda estava até amistoso, apesar do controle de Lindsey e do fato de ninguém se encontrar direito para fazer as gravações na casa dele. Mas o músico costuma dizer que as vidas pessoais dos integrantes estavam em desalinho. “Na época em que fizemos Tango in the night, todos estavam levando suas vidas de uma maneira que não ficariam muito orgulhosos hoje”, contou.

SOBROU COISA PRA CARAMBA. Tango in the night ganhou recentemente, você deve saber, uma edição de luxo com quase três horas. O trio de compositores estava tão prolífico que compôs e gravou muita coisa que não foi usada. Algumas apareceram em singles, como Down endless street, de Buckingham (no compacto de Family man). A You and I, part II, do LP, tinha uma parte I que saiu apenas no lado B do single Big love.

DEU CERTO. Assim que Tango in the night saiu, o maior medo dos fãs e da crítica era que Buckingham tivesse transformado a banda num troço amorfo e sem substância. Embora não tivesse sido um disco queridinho da crítica, o público aderiu rapidamente às novas músicas. Big love virou hit de pista e acabou inserida no contexto da house music, com direito a remix feito por Arthur Baker. Só até 2000, Tango já havia vendido mais de 3 milhões de cópias nos EUA.

CLIPE. Mick Fleetwood lembra que só o clipe do primeiro single, Big love, custou cerca de US$ 250 mil. O músico, que abriu falência no começo dos anos 1980, voltou a sorrir: as vendas do disco novo foram tão boas que houve interesse pelo catálogo antigo da banda, e a grana voltou a pingar.

PERA, NÃO DEU CERTO NÃO. Tango in the night saiu em abril de 1987 e deixou um ferido: Lindsey Buckingham. O músico reclamava que a banda não havia sido solidária com ele e havia feito pressão durante o processo. Tanto que assim que saiu o disco, o músico anunciou que não sairia em turnê.

FEZ MERDA. A banda passou um bom tempo tentando convencer Buckingham a não sair. Em agosto de 1987, ele anunciou que estava pulando fora. A banda marcou uma reunião em 7 de agosto daquele ano na casa de Christine McVie para cobrar pelo menos uma explicação. Só que deu merda: estourou uma discussão bizarra entre Lindsey e sua ex-namorada Stevie Nicks, que acabou com o músico agredindo seriamente a ex-namorada. Buckingham acabou posto para fora da casa e da banda.

DOIS NO LUGAR DE UM. A turnê de Tango seria feita com dois guitarristas, Billy Burnette e Rick Vito. O grupo optou por cortar as músicas de grande sucesso feitas por Lindsey, até mesmo o grande hit Big love. Aliás, a banda deu uns “presentes” aos fãs antigos que ainda acompanhavam a banda, incluindo uma canção dos primórdios do grupo, escrita por Peter Green, I loved another woman. O FM considerou incluir Black magic woman, outro hit dessa fase. John McVie vetou a ideia porque Santana gravou a canção e a transformou em uma música de seu repertório.

ALIÁS E A PROPÓSITO, um show da banda em San Francisco chegou às lojas como… um VHS de Tango in the night (na época, era tendência bandas lançarem shows em homevideo, como se fosse “o disco em vídeo”, muitas vezes com a mesma capa do LP). O VHS de Tango tinha o mesmo título e a mesma capa.

E DEPOIS? Claro que Lindsey Buckingham voltaria ao Fleetwood Mac. No ao vivo The dance, lançado em 1997, a formação de Rumours (1997) e Tango in the night (1987) estaria toda lá. Até lá, o grupo lançaria Behind the mask (1990), sem Lindsey, por sinal o primeiro disco da banda desde 1974 a nem roçar o Top 10. Em seguida, Time (1995), sem Stevie Nicks, sem Christine McVie e com Lindsey como cantor convidado numa das faixas (!).

E STEVIE NICKS? Em 1989, Stevie Nicks voltaria à carreira solo com The other side of the mirror, Top 10 nos Estados Unidos. Por sinal, foi a turnê do Klonopin, já que a cantora estava tão dependente da droga que tomava para se livrar da cocaína (é bastante comum) que diz não ter recordação alguma da tour.

E HOJE? Até novembro de 2019, o Fleetwood Mac circulava por aí com a tour An evening with Fleetwood Mac, sem Lindsey (expulso da banda após uma discussão justamente com Stevie Nicks, com direito a processo nos ex-colegas e “ou ela ou eu”). A formação incluía Fleetwood, McVie, Christine, Stevie, Mike Campbell (guitarra) e Neil Finn (teclados, guitarra e voz). Little lies era a segunda música do set list.

E já que você chegou até aqui pega aí os outros clipes do disco. O de Little lies já apontava para o lado country que o Fleetwood Mac deixaria aparecer em alguns de seus trabalhos posteriores: mostrava a banda circulando numa fazenda abandonada, incluindo cenas maravilhosas de Christine McVie fingindo que tocava piano numa escrivaninha (!) e Lindsey Buckingham usando blazers caríssimos em meio a pedaços de feno e cercas desdentadas. Teve também o clipe de Family man, feito com sobras do de Seven wonders, quando Lindsey já havia saído, mas não está no YouTube.

Com informações dos livros Playing in the rain: Lindsey Buckingham & Fleetwood Mac, de Tyler Martin Sehnal, Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac, de Carol Ann Harris, e Fleetwood Mac: The complete illustrated history, de Richie Unterberger. E de links como esse e esse.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince). E a Paranoid (Black Sabbath).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Fleetwood Mac no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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