Cultura Pop
“Rob & Fab”: o Milli Vanilli solta a voz (!) em 1993

O produtor Frank Farian já estava acostumado a trabalhar com artistas que não cantavam de verdade desde os anos 1970, já que foi o responsável por lançar uma das armações mais bacanas da disco music, o Boney M (que já apareceu aqui no POP FANTASMA). Nos anos 1980, ele pôs nas lojas o duo alemão Milli Vanilli, que depois viveu situações de queimação de filme de deixar o caso Wilson Simonal parecendo brincadeira de criança. Como a dupla mostrava forte sotaque alemão em entrevistas, acabaram suspeitando de que eles não cantavam de verdade. Durante um show da MTV no dia 21 de julho de 1989, o som desapareceu e ficou claro que eles estavam dublando. Farian acabou confessando que a dupla não cantava, o Grammy concedido aos dois foi retirado (!) e até fãs entraram com processo coletivo pedindo reembolso do dinheiro gasto no primeiro LP da dupla (!!!).
Seja como for, mesmo completamente deacreditados, Fab Morvan e Rob Pilatus, os dois do Milli Vanilli, ainda fizeram algumas tentativas. Uma delas foi o CD Rob & Fab, que saiu por uma gravadora chamada Joss Entertainment, em 1993, e vendeu duas mil (!) cópias. Olha aí.
Rob & Fab (que, olha, é bem legal) saiu só nos Estados Unidos. A dupla tinha se mudado para a Califórnia, na época. E passou pelas mãos de um time de produtores. Essa turma incluiu o próprio Rob Pilatus, além de Volker Barber, Steve Deutsch e Bjorn Thornsrud. E, sim, dessa vez a dupla aparecia cantando todas as músicas. Bom, ao lado de alguns backing vocalistas, mas cantava sim.
O repertório incluiu até uma versão de I want you to want me, sucesso do Cheap Trick. Não deu certo, e em 1997 mais uma vez sobre a batuta de Farian, os dois tentariam voltar usando o nome de Milli Vanilli com o disco Back and in attack. O disco acabou não saindo por causa da morte de Pilatus, em 2 de abril de 1998, por overdose.
Em 2003, Morvan gravou um disco solo, Love revolution. Hoje mora em Amsterdam e atua como DJ, entre várias outras atividades. E lançou um (bom) single em 2012, See the light, ao lado de uma banda chamada Fabulous Addiction. Olha aí.
Cinema
Jogaram o documentário musical brasileiro Som Alucinante no YouTube

Som alucinante, filme de Guga de Oliveira (irmão de Boni, ex-todo poderoso da Rede Globo), lançado nos cinemas em 1971, apareceu pela primeira vez na íntegra no YouTube há poucos dias. O filme traz um apanhado de shows do programa Som Livre Exportação, musical exibido pela Rede Globo entre 1970 e 1971. A produção foi feita no espírito do filme do festival de Woodstock, de Michael Wadleigh, com shows misturados a entrevistas com artistas, músicos, a equipe técnica tanto do festival quanto do filme, e com pessoas da plateia.
Logo no começo, o radialista paulistano Walter Silva (o popular Pica-Pau) resolve perguntar a uma mulher da plateia o que ela espera encontrar no show. Como resposta, recebe risos e um “ah, sei lá, dizem que tá bacana, né?”. Bom, de fato, o formato de festival não competitivo – ou de pacote de shows – ainda não era das coisas mais conhecidas aqui no Brasil.
Tudo ali era meio novidade, tanto o fato de tantos nomes estarem reunidos num mesmo evento, quanto o fato de vários nomes “alternativos”, de uma hora para outra, terem virado grandes atrações de um programa da Globo: Ivan Lins (em ascensão e fazendo seu primeiro show em São Paulo), Gonzaguinha, Mutantes, A Bolha, Ademir Lemos e até um deslocadíssimo grupo americano chamado Human Race – que apresentou uma cover de Paranoid, do Grand Funk. Para contrabalancear e garantir mais audiência ao programa, Elis Regina, Wilson Simonal e Roberto Carlos participaram da temporada de 1971 da atração (que mesmo assim continuou sem audiência, mas com sucesso de crítica). O show levado ao ar nessa temporada serviu de fonte para o documentário.
O que mais chama a atenção em Som alucinante, na real, não é nem mesmo a música. Bom, e isso ainda que o filme apresente uma entrevista bem interessante com um iniciante Gonzaguinha (que faz um excelente discurso sobre “não pensar no mercado e ser você mesmo”), uma Rita Lee aparentemente em órbita falando sobre “é bom ganhar dinheiro com o que se faz, né?”, Mutantes tocando José e Ando meio desligado, A Bolha tocando o gospel-lisérgico Matermatéria, Elis Regina dividindo-se entre os papéis de cantora e mestra de cerimônia. E também várias entrevistas com Milton Nascimento que não vão adiante, de tão constrangido que o cantor estava.
O mais maluco no filme é que a plateia desmaia, e o tempo todo (!). Os fãs começam a empurrar uns aos outros e num determinado momento, a solução da produção é convidar os que estavam em maior situação de vulnerabilidade para subir no palco. Numa cena, um policial carrega uma garota desmaiada e ele próprio quase toma um estabaco.

Companhias indesejáveis na plateia do Som Livre Exportação
Em outro momento, os fãs são puxados ao palco por policiais e pessoas da produção com uma tal intensidade, que aquilo fica parecendo uma tragédia bíblica. Ou um evento que estava mais para Altamont do que para Woodstock, porque era evidente que aquilo estava ficando perigoso. Especialmente porque militares circulavam na plateia e aparecem, em determinados momentos, atrás do palco, o que já explica todo aquele estresse.
Ah, sim a parte do “nós estamos todos reunidos nessa grande festa”, dos Mutantes (que aparece no documentário Loki?, sobre Arnaldo Baptista) foi tirada de Som alucinante. E pelo menos um crítico do Jornal do Brasil, Alberto Shatovsky, detestou a linguagem “moderna” do filme.
A sequência de Roberto Carlos no filme.
E se você não reconheceu o sujeito de bigodes e cabelo black que aparece em alguns momentos no filme, é o Ademir Lemos, do Rap da rapa (lembra?). Era um dos apresentadores do Som Livre Exportação.
Cultura Pop
O 1967 dos Beatles no podcast do Pop Fantasma

Da mesma forma que uma década muitas vezes não começa no ano em que ela se inicia (já havia um “anos 1990” encartado no fim da década anterior), as mudanças vividas pelos Beatles em 1967, ano do disco Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, começaram pelo menos uns dois anos antes.
Mas para todos os efeitos, foi há 55 anos que John, Paul, George e Ringo lançaram um dos discos mais desafiadores da história da cultura pop, tramaram sua volta ao cinema, fizeram duas aparições significativas na televisão (numa delas, lançaram um telefilme que deixou sensação de entalo nas gargantas de muitos fãs), realizaram montes de experiências de estúdio, perderam tragicamente seu empresário e começaram a dar passos rumo à independência. E, ah, graças a um certo composto químico de três letras, sintonizaram dimensões bem diferentes das que os pobres mortais estavam acostumados naquela época.
O último episódio da segunda temporada do Pop Fantasma Documento levanta os causos de uma das épocas mais movimentadas do dia a dia dos quatro de Liverpool. Aumente o volume, ligue-se e sintonize!
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Turn Me On Dead Man, Trudy and The Romance, Dario Julio & Os Franciscanos.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração: Ricardo Schott. Arte: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta!
Cultura Pop
Devo: no YouTube, tem versão “rascunho” do filme The Men Who Make The Music

Raridade por vários anos para muitos fãs do Devo, o filme The men who make the music (1981), realizado pela banda, foi lançado sob o rótulo maluco de “vídeo-LP”. A produção combina imagens de shows do Devo (focando bastante na turnê de 1978) com textos irônicos sobre a indústria da música, além de aparições do controverso personagem General Boy (interpretado por Robert Mothersbaugh Sr, pai dos irmãos Mark e Bob).
O tal conteúdo “anarquista” do vídeo fez com que ele ficasse arquivado por uns dois anos, já que The men who make the music foi terminado em 1979. O lançamento deveria ter acontecido em paralelo com o disco Duty now for the future, tanto que o LP original anuncia um endereço para os fãs comprarem um produto chamado Devo-vision, que sairia pela Time-Life (empresa responsável por arquivar o filme por dois anos, irritada com as mensagens anti-indústria da música do vídeo).
O material ainda aparece intercalado com imagens bem antigas do Devo. O grupo aparece tocando Jocko homo em 1976, em imagens do primeiro curta do Devo, The truth about de-evolution – que também incluía o clipe do grupo em 1974 tocando Secret agent man, igualmente incluído em The men. Nessa época, o Devo tinha uma formação bastante variável. Com pelo menos cinco ou seis músicos gravitando em volta (incluídos aí três irmãos Mothersbaugh), a banda virou quarteto no clipe de Secret agent man.
The men who make the music, por sinal, teve ainda uma versão demo, feita com produção amadora, em 1977. Tá no YouTube. Foi dirigida por Jerry Casale e produzido por Marina Yakubic, que era namorada de Mark na época.
O vídeo (sim, é vídeo, produzido com câmeras de TV) tem diferenças nos diálogos, nos cenários, na qualidade de som e de imagem (bastante rascunhadas) e no fato de que as músicas não aparecem em clipes. Todas são gravadas em versões extremamente cruas, ao vivo num palco.
Uma surpresa para os fãs é que, originalmente, a versão do grupo para (I can’t get no) Satisfaction, dos Rolling Stones, era quase um blues maníaco e lembrava Captain Beefheart. Muito diferente do que se imagina do Devo.
Aproveita e pega The men who make the music, a versão oficial, que também tá no YouTube.
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