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Cultura Pop

Pera, e o tema do programa Jackass, que se chamava… Corona?

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Pera, e o tema do programa Jackass, que se chamava... Corona?

Hoje o que não falta é gente fazendo ligações malucas (e de fundo bastante moralista) entre o conteúdo da série Jackass – exibida pela MTV brasileira na década passada como Jackass, Os Caras-de-pau – e os destinos de certos integrantes da trupe.

No programa, liderado por Johnny Knoxville, os membros faziam bizarrices como mergulhar de escafandro e snorkel em águas cocozentas, introduzir no ânus um carrinho de brinquedo dentro de uma camisinha (e defecar ambos em seguida), comer todos os ingredientes de uma omelete, vomitar tudo e fritar o vômito… e se acidentar bastante nas mais variadas atividades.

A tal “ligação” do parágrafo lá de cima vem pelo fato de alguns dos membros do grupo terem levado o estilo que-se-foda às últimas consequências. Teve gente que se acidentou gravemente, outros penaram com álcool e drogas, e teve gente que morreu. Quem acabou se dando bem foi justamente o líder do programa. Knoxville hoje é ator de cinema e vem se arriscando em filmes mais convencionais.

Um detalhe que muita gente pode não estar se lembrando em relação à série e que não deixa de ser curioso nesses tempos de coronavírus, é que o tema de abertura da série se chamava justamente… Corona. Era a boa e velha música do trio punk americano The Minutemen, gravada no disco duplo Double nickels on the dime, o terceiro da banda (1984).

Lançado pelo selo americano SST, o disco reúne algumas histórias interessantes. Para começar, D. Boon (voz, guitarra), Mike Watt (baixo, voz) e George Hurley (bateria) já haviam gravado um “terceiro disco” antes dele. Que foi engavetado assim que a turma escutou Zen arcade, o disco duplo do Hüsker Dü.

O trio encasquetou que também queria um disco duplo e, com Double nickels pronto, chegaram a escrever na contracapa do álbum “take that Hüskers!” (Mike Watt disse que a ideia não era zoar o trio liderado por Bob Mould, mas homenageá-los). A SST, gravadora das duas bandas, colaborou com a ideia, lançando os dois discos praticamente ao mesmo tempo.

A música Corona foi inspirada por uma viagem que o trio fez ao México e, sim, o nome vem da cerveja Corona. Aliás, quase todo o disco (que tem 45 faixas curtas!) tem faixas em protesto ao racismo, à maneira como os imigrantes são tratados nos EUA e aos problemas enfrentados pelas classes trabalhadoras. No caso específico de Corona, a ideia surgiu quando D. Boon foi a uma festa no México e, no dia seguinte, bêbado e virado, viu uma senhora recolhendo as garrafas vazias de cerveja para trocá-las por dinheiro. “Ele ficou tocado com isso”, recordou Mike Watt aqui.

Watt recordou nesse mesmo papo ter sido consultado pela produção de Jackass a respeito de uma autorização para usar a música na abertura do programa. Mas diz que a ligação entre a canção e a temática de Jackass é confusa e quase inexistente, e que ele mesmo não se tornou fã da atração.

“Eu sei que é usada como música tema do Jackass, aquele programa que mostra gente levando choque com arma taser no saco, mas realmente não tem muito a ver com isso. Isso é uma bagunça; é surreal, a conexão. O que eu mais gostei foi que eles estavam realmente fazendo essa merda, isso não era falso. Sim, gostei disso. Mas não pude assistir mais”, afirmou ele, que viu só o piloto do programa, que mostrava um sujeito vestido com roupa de presidiário indo comprar uma serra na loja de ferragens.

“A polícia aparece na cena e o xerife quase sobe com o carro na calçada. Fiquei numa de: ‘Ok, Eu gosto do conteúdo da realidade aqui’. Depois disso, eu não consigo mais ver essa porcaria, sabe? Mas é por isso que eu os deixei usar a música”, brinca ele, que depois viu a canção do amigo D. Boon (morto em 1985) passar a ser chamada de Jackass Song por gente que não fazia a menor ideia do conteúdo da letra. “Com a música, o D. Boon conseguiu ajudar o pai dele depois de morto, já que o pai dele teve um enfisema”.

Um outro detalhe curioso a respeito de Double nickels é que, à maneira de Works, disco duplo de Emerson, Lake & Palmer, cada um dos três primeiros lados do disco pertenciam a um integrante da banda. O quarto lado era dedicado a sobras de estúdio (incluindo uma parceria entre Boon e Henry Rollins, Storm in my house) e algumas regravações malucas, como Dr. Wu (Steely Dan) e Ain’t talkin’ ‘bout love (Van Halen).

O Minutemen encerrariam atividades com a morte de D. Boon, morto em dezembro de 1985 quando foi cuspido pela porta traseira de uma van (na qual viajava sem cinto de segurança) no Deserto do Arizona. Boon quebrou o pescoço, morreu na hora e acabou se tornando mais um dos integrantes do clube dos 27.

Na sequência, Hurley e Watt montariam o fIREHOSE com o amigo guitarrista Ed Crawford, e a banda duraria até os anos 1990, chegando a entrar na onda de “novos Nirvanas” ao ser contratada pela Sony em 1991. Watt iniciaria carreira solo e, em 2003, integraria até uma formação dos Stooges, que tocaria no Coachella daquele ano. Todos os projetos de Watt são, até hoje, dedicados ao amigo D. Boon.

E pega aí os Minutemen fazendo a maior festa no palco com Corona.

Veja também no POP FANTASMA:
Minutemen: punk em formato acústico, em 1985
– Hüsker Dü lança Zen arcade em Nova Jersey, em 1984

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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