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Crítica

Ouvimos: Art D’Ecco, “Serene demon”

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Ouvimos: Art D'Ecco, "Serene demon"

Art D’Ecco, o enigmático artista canadense que mantém sua identidade real em segredo, tem se destacado como um mestre na arte de revisitar o passado com um olhar voltado para o futuro. Frequentemente comparado a David Bowie e Sparks, ele carrega influências evidentes de The Cars, T. Rex, Roxy Music, Japan e até do indie rock mais recente. Seu visual também evoluiu ao longo do tempo: na capa de In standard definition (2022), lembrava uma fusão entre Iggy Pop, Boy George e Japan. Agora, em sua nova fase, adota um estilo rigorosamente dândi, mesclando a sofisticação de Bryan Ferry com a elegância mod de Paul Weller na era Style Council.

É assim que Art D’Ecco aparece na capa de Serene demon, seu novo álbum, antecipado pela faixa-título — a obra mais ousada de sua carreira até agora. Com mais de sete minutos de duração, a música se desdobra em segmentos distintos e belíssimos, compondo um conto sobrenatural que evoca Bowie, T. Rex, Electric Light Orchestra, Be Bop Deluxe e Jacques Brel. Em um mundo justo, Serene demon seria a nova Bohemian rhapsody (Queen) – embora seu surrealismo vá além do boêmio.

Curiosamente, a faixa-título não é exatamente representativa do restante do álbum. Serene demon oscila entre o sophistipop refinado de True believer e Cooler than this, e momentos que fundem a urgência punk-funk do Gang of Four com os experimentalismos de Japan e Slits. Uma sequência de faixas — Survival of the fittest, Tree of life e The traveller — forma quase uma suíte pós-punk, retomada no encerramento com A change of scenery. Há ainda o híbrido Bowie + Prince em Shell shock e a atmosfera enigmática de Meursault’s walk.

No todo, Serene demon é um disco ambicioso e diverso, mas que ainda soa como um álbum de transição — seja para um possível salto rumo à popularidade, seja para uma fase de experimentações ainda mais radicais.

Nota: 8
Gravadora: Paper Bag Records
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025

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Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

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Ouvimos: Home Is Where - "Hunting season"

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.

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O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).

Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.

Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.

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Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

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Ouvimos: Satanique Samba Trio - "Cursed brazilian beats Vol. 1" (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1

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Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).

Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.

A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.

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Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

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Ouvimos: Mugune - "Lua menor" (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.

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Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.

A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.

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