Reportagens
Luiz Lopez: rock visceral em turnê e disco
Quando a banda Filhos da Judith se dividiu em duas partes, os irmãos Pedro Dias e Luiz Lopez, mesmo continuando unidos no trabalho na banda de Erasmo Carlos (ambos acompanham o Tremendão há oito anos), foram montar seus projetos. Pedro produziu o Fuzzcas e montou a banda TopVox e Luiz foi gravar solo. O primeiro disco, “Primal” e o primeiro single, “Vai”, já chamavam a atenção não apenas pelo som (quase um power pop à carioca, influenciadíssimo por Beatles com boas canções) como também pelos vocais de Luiz. Em várias músicas, o cara berra tanto quanto John Lennon na gravação de “Twist and shout”, feita pelos Beatles. Olha aí “Vai”, single que não foi (sem trocadilho) para nenhum disco de Luiz.
“Parece que eu tô pedindo socorro”, brinca o músico, que soltou no ano passado seu segundo disco, “Visceral”, produzido por ele mesmo e lançado pelo selo Toca Discos. O disco ainda tá precisando rodar o Brasil e vêm mais shows por aí – nesta quarta (22), às 21h, é a vez do Teatro Sérgio Porto, no Rio de Janeiro. No palco, Luiz (voz, guitarra, piano), Alan James (voz, baixo) e Rike Frainer (bateria) tocam as músicas dos dois álbuns e o cantor surge com a mesma interpretação visceral (sem trocadilho) dos discos. E ainda gravou as batidas de seu coração numa faixa.
Luiz, você sai das gravações, ensaios e shows com a garganta doendo muito? Bom, eu passei boa parte da minha vida buscando cantar numa linha mais pro lado da afinação do que pro lado da interpretação, até porque canto com o Erasmo e pra fazer backing vocal você tem que manter a afinação. Mas quis cantar de maneira não-convencional. Tem show que eu saio cansadaço. Em “Eu não quero desacreditar” parece que tô pedindo socorro!
Na letra de “Eu não quero desacreditar”, aliás, tem um verso que fala “apesar da minha cor/apesar de onde eu vim/eles têm que me aceitar/eles têm que me engolir”. Você já se sentiu discriminado? No Brasil, a minoria das pessoas é de raça ariana e mesmo assim rola preconceito, de que você é muito escuro pra fazer rock, ou o preconceito de “pô, você ainda tá nessa de música?”. Quando eu estava escrevendo a letra, pus “apesar da minha dor/apesar de onde eu vim” e coloquei logo “apesar da minha cor”. Era isso que eu estava querendo escrever, quis escrachar a verdade. Vim de uma família muito humilde e isso aparece também em “O otimismo de quem não tem nada”, que é a penúltima música. O disco trata de momentos reais que eu vivi e graças a Deus consegui passar isso na interpretação das músicas. Em “Eu não quero desacreditar” a gente tava até com dificuldade de gravar, porque a gente queria gravar o som do meu coração. Esse bumbo que você ouve na música é o som do meu coração.
Sério? A música é toda guiada pelas batidas do meu coração. Quando a gente teve a ideia, pensamos em chamar um médico, com um aparelho desses de medicina pra resolver essa parada. Mas falei: “Vamos tentar gravar com o microfone”. Encostei o microfone no peito e não saiu nada. Aí corri pela casa, fiz exercícios, dei pulos e quando estava batendo muito forte e eu estava ofegante, tentei de novo. E o microfone captou. Esse disco é cheio dessas coisas, que as pessoas vão descobrindo só no decorrer. A primeira faixa, “Vai passar”, tem umas ondas psicodélicas, e uma mensagem secreta em código morse no final.
E o que diz a mensagem? Ah, não vou revelar, não, é secreta! Só quem entende código morse vai entender.
O disco tem um instrumental chamado “1995 São Cristóvão” que tem até funk no meio. Como surgiu essa ideia? Eu fiz essa música e não sabia onde colocá-la no disco. Eu nunca nem tinha feito música instrumental na vida. E depois veio essa ideia de colocar a batida de funk e ficamos: “Caramba, onde essa música vai entrar?”. Pensei até em abrir o disco com ela, mas fechamos o disco e ela já dá uma pista da liberdade dos próximos trabalhos. O título tem significado. Em 1995 eu morava em São Cristóvão (bairro da Zona Norte carioca) e lá só rolava funk. Foi meu primeiro contato com a música. Eu ouvia aqueles caras cantando aquela batida e pensava: “Eu acho que eu quero fazer música. Quem sabe eu não vou ser funkeiro?” Foi o funk que me despertou. Mas no ano seguinte me apresentaram ao “Anthology” dos Beatles e descobri que queria era fazer rock, e aí foi.
E como você vê o Erasmo depois desse tempo todo acompanhando o Tremendão pelos palcos? Amigo de fé, irmão, camarada, chefe, professor, mestre… É tudo isso aí. É meu chefe, meu amigo. Já passamos bastante da coisa profissional pra virar um lance de companheiro. Ele se sente à vontade pra fazer comentários mais pessoais às vezes, é como se a gente sempre estivesse ali para fazer algo seríssimo, mas sempre tivesse espaço pra relaxar. Ele é um ser de luz, cara. Dificilmente você vê o Erasmo com uma energia ruim. Sabe aquele tipo de artista que depois de tanto tempo dá graças a Deus por causa de cada palco, cada dia e cada pessoa que gosta do trabalho dele? É o Erasmo.
E olha “Visceral” aí!
Foto: Divulgação/Jardel Muniz
Entrevista
Entrevista: Astro Venga volta com EP e anuncia nova formação
Conhecida pelos poderosos shows realizado em lugares públicos do Rio, e por unir repertório autoral a covers repletas de peso, a banda instrumental carioca Astro Venga retorna com Mvtatis, EP de duas faixas, Objeto abjeto e O lobo e o leão (esta, com quase oito minutos). Por acaso, o nome do disco vem da expressão em latim “mutatis mutandis” (“mudando o que se deve ser mudado”), e marca algumas modificações na vida do grupo.
Pra começar, Christian Dias (guitarra), Antonio Paoli (baixo) e Jonas Cáffaro (bateria), que gravaram o material no Estúdio Soma+lab, em Campos dos Goytacazes (RJ), antes da pandemia, aproveitaram para explorar bastante o estúdio como um instrumento – indo bem além da experiência da banda como um “power trio de rua”, que na verdade já passou até pelo Rock In Rio, em 2015 e por palcos como o Circo Voador. Construíram um repertório cheio de climas, com passagens quase progressivas. Percussões e violões surgem para dar mais brilho no som.
A outra mudança é na formação: Mvtatis (lançamento do selo Caravela Records) fecha um ciclo, já que Christian sai do grupo e dá lugar a Dony Escobar (Os Vulcânicos, Matanza), que foi um dos fundadores da banda. Com isso, Mvtatis vira um registro único da formação de Christian, Antonio e Jonas, e o novo trio já parte para novos projetos. Batemos um papo rápido com Antonio Paoli sobre as novidades do Astro Venga. Confira aí (Foto: Fernando Valle/Divulgação).
As duas músicas novas foram gravadas entre 2019 e 2020, e depois veio a pandemia. Como foi deixar esse material guardado por tanto tempo?
Antonio Paoli: O pior não foi só ter guardado o material na pandemia, que já foi uma coisa horrorosa. Foi ter material novo e não poder lançar porque estava com esse EP preso.
A banda está mudando de formação. Como tá sendo lidar com esse clima de chegadas e partidas no grupo, e como estão indo os ensaios?
A troca foi muito tranquila porque o Doni já era o fundador da banda. Então foi praticamente a volta do integrante que fundou a parada. Nesse processo de entrada dele, aproveitamos para redirecionar a banda. Isso porque (citando as músicas do disco) O lobo e o leão apontam para o passado e Objeto abjeto mostra o caminho futuro da banda: mais harmônico, mais colorido, com menos solos, mais temas… Com a entrada do Doni, a gente tá podendo desenvolver isso melhor.
É isso o que está por trás dos títulos das faixas, então…
O lobo e o leão é uma despedida do Chris e um olhar para o passado, uma homenagem a tudo que a gente fez, mas quem aponta os caminhos futuros é o Objeto abjeto. Há muita liberdade na escolha dos títulos. Como não há letra, a gente pode viajar em aliterações e títulos interessantes. As próximas músicas por exemplo que vamos lançar no segundo semestre, vai aí o spolier, são Zoroastro, do Doni, e a Astrodeus, minha. Sempre há alguma mensagem incutida nesses nomes.
Como surgiu a Caravela Records na história? E sobre os próximos shows?
O Dudv da Caravela Records é uma pessoa que acompanha a banda desde os primórdios, tá sempre com a gente e é um apoiador da música autoral. A gente não viu outro jeito se não fazer com a Caravela. Sobre os shows, estamos desenvolvendo algo dentro desse novo formato que pretendemos passar, inclusive com músicas novas além das músicas do EP.
Vocês fizeram parte de uma geração de bandas que tocavam na rua, em eventos ao ar livre, ou em praças. Qual foi o maior aprendizado que veio disso? Houve alguma roubada inesquecível?
Foi muito profícuo o nosso momento na rua. Quase não consigo lembrar de alguma coisa que tenha sido muito furada. O interessante foi meio que educar os guardas municipais e a PM de que havia uma lei que nos garantia de estar ali. Era muito interessante ver que quando nós apresentávamos a lei a eles, eles tiravam foto e mandavam para o batalhão falando da legalidade da ação. Os perrengues ficaram ofuscados pelo carinho recebido das ruas.
O maior aprendizado da rua foi descobrir que o povo consome a arte independente do estilo. E o povo, muito dependente da mídia de massa, fazia da rua um canal para a gente ir diretamente até ele. A gente viu que não há problema nenhum em tocar rock ou tocar um estilo diferente do habitual do país, porque as pessoas vão consumir a cultura.
Como eu disse, independente do estilo a gente tinha uma ponte muito interessante que era a questão das versões que a gente fazia de músicas que estão no inconsciente coletivo mundial. Sempre com um toque autoral muito presente.
Falando nas versões, que eram de músicas como Nuvem cigana (Milton Nascimento), Sítio do Pica-Pau Amarelo (Gilberto Gil), como era a receptividade do público? Acontecia de alguém ser surpreendido com alguma versão e aquilo ser tão inusitado que a pessoa nem reconhecia a música de cara? (pergunto isso porque eu mesmo, quando ouvi Sítio do Pica Pau Amarelo com vocês, fiquei com o riff na cabeça, pensando por alguns segundos ‘gente, de que música é isso?’, e não reconheci de cara)
A ideia de fazer esses medleys foi muito pela intenção também de alcançar um público eclético, em faixa etária e social diferentes. Então a gente via jovens, idosos, pessoas em situação de rua, engravatados, todos se divertindo e dançando. Esse era o nosso público nos espaços públicos, o mais variado possível.
Sobre Nuvem cigana, foi uma coisa muito especial porque todos somos muito fãs de música mineira, e era bem difícil você colocar aquela música dentro no universo de um power trio de rock. Mas acho que o resultado ficou bem interessante. Como eu disse, essa foi nossa primeira ponte com um público, mas isso não impedia da gente tocar as nossas autorais e ser consumido da mesma maneira.
E tinha os medleys, como o do Sítio com Red, do King Crimson, não?
O autoral foi sempre muito presente na banda, então quando a gente meteu a mão para mexer nas versões, isso veio muito naturalmente. Foi até o cerne de várias músicas depois que a gente foi compor. E essa brincadeira de você levar uma música infantil como o Sítio do Gil e colar ela no Red, é diferente e divertido. Então sempre foi um prazer trazer essas músicas para o nosso universo. Temos como base nas nossas influências um tipo de música que seria punk no tamanho e progressivo na forma, com adição de funk de anos 90 e groove swing.
Entrevista
Entrevista: Leandro Souto Maior e o livro “Paul McCartney no Brasil”
Aparentemente, Paul McCartney não está querendo conhecer a nossa batucada. O nome mais histórico do rock a circular em turnê mundial já veio ao Brasil diversas vezes, claro. Mas como ele não costuma interagir muito com nossos artistas, seu suposto desinteresse pela música nacional virou artigo da Folha, escrito por Gustavo Alonso, e ganhou espaço numa entrevista que Pedro Bial fez com ele no Conversa com Bial. O apresentador insistiu em abordar ligações do cantor com o país, e ouviu dele que chegou a assistir a um show de um artista brasileiro em Nova York (“mas não me lembro do nome dele”, esclareceu Paul).
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O tal artista do qual Paul diz não se recordar é Ivan Lins, e existem até fotos do beatle com o cantor – Paul foi a um show dele na megalópole em 2001 e foi cumprimentá-lo no camarim. E agora os tais traços de união do cantor com o Brasil vão estar elencados num livro. Paul McCartney no Brasil, de Leandro Souto Maior, vai sair em breve pela editora Garota FM Books e está em processo de crowdfunding (opa, corre que a campanha acaba no fim do mês e dura só mais essa semana!).
O livro tem prefácio de Samuel Rosa, orelha escrita por Pedro Bial, foto de capa de Marcos Hermes, e traz detalhes da relação de Paul McCartney com o país, apurados com artistas, repórteres, fãs etc. E traz uma série de curiosidades, como a do chaveiro que foi foi chamado às pressas para abrir a porta do camarim do Paul no Estádio do Morumbi, porque a chave havia quebrado na fechadura (o chaveiro assistiu ao show das internas do Morumbi, a convite de Paul, ganhou lanche e ainda recebeu – claro! – pelo serviço).
Leandro, autor também de Jimmy Page no Brasil, adianta mais algumas coisas do livro. Confira:
Qual foi a grande diferença de pesquisa entre o livro do Paul e o do Page? O Page morou no Brasil, o que já deve ter dado um grande diferencial no montante de material, imagino… É isso mesmo, como você falou. O Jimmy Page tem uma história aqui, ele comprou terreno, construiu casa. Foi todo um processo, porque ele passava temporadas às vezes até longas por aqui. O Paul só veio pra tocar.
São histórias bem diferentes, e a do Jimmy foi uma busca por uma história que não tinha sido contada ou estava mal contada. Tive que apurar a nacionalidade da Jimena (ex-esposa brasileira de Page), se é argentina, brasileira ou não. Foi meio trabalho de detetive. O do Paul é um almanaque mesmo, tive que organizar muita coisa. Foram 36 shows por aqui, tá tudo em ordem cronológica. Contextualizei tudo, pus o disco que ele estava lançando, qual o repertório. Acompanhando isso vem o depoimentos de famosos e anônimos. E ainda tem diversas histórias exclusivas, como a do chaveiro!
Falou-se bastante de um suposto desinteresse de Paul McCartney pela música brasileira. Como viu isso? Afinal, ele tem que ter algum interesse? Cara, acho que há uma cobrança… No prefácio do livro, Samuel Rosa destaca que gostaria de ter visto Paul interagindo com a música brasileira, ou fazendo uma visita ao Caetano Veloso, como fez Mick Jagger. Ou quem sabe cantando uma música brasileira, como fez o Bruce Springsteen quando cantou Sociedade alternativa, do Raul Seixas, no Rock In Rio.
Mas ao mesmo tempo, ele arremata esse raciocínio com a frase: “Mas fora isso, não faltou nada! Ele é o cara que ensinou todo mundo a fazer música”. Então, essa coisa de pegar esse aspecto para julgá-lo, fazer qualquer tipo de crítica… Acho um pouco injusto. Mas Paul foi realmente assistir a um show do Ivan Lins em Nova York, fez questão de ir ao camarim cumprimentar o Ivan e a banda, se interessou pelos instrumentos mais tipicamente brasileiros da banda, enfrentou fila para falar com ele. Tem foto dele com o Ivan dessa ocasião.
E mais: antes dos shows do Paul tem o DJ dele tocando, o Chris Holmes, que sempre toca versões de músicas dos Beatles, e eventualmente entram versões de artistas brasileiros. O Marcelo Froes, do selo Discobertas, que lançou diversos títulos com essa pegada de versões dos Beatles, contou que o Chris Holmes chegou a tocar algumas músicas dos CDs dele nas discotecagens. Ele depois contactou o DJ, falou que era do selo que lançou a música, e o DJ disse que achou o disco num sebo nos Estados Unidos. Como o Chris disse que tudo que ele toca, passa antes pelo crivo do Paul, então o Paul escutou a versão feita no Brasil, e aprovou. E Chris ressaltou que o Paul adora versões abrasileiradas, meio bossa nova, das músicas dos Beatles.
Como fã e pesquisador, qual a parte da carreira solo do Paul McCartney que mais te interessa? Nem diria que há uma fase, gosto de vários discos de várias fases. O melhor disco solo dele pra mim é o Ram. Para mim é nível Beatles, incrível esse disco. Um outro que eu gosto é o Band on the run, embora o Band on the run já seja do Wings, não é exatamente carreira solo… Mas também adoro o Flowers in the dirt, um discaço, o que ele veio lançar no Brasil quando veio da primeira vez.
Foram muitos shows dele no Brasil. O que o fã brasileiro dele e dos Beatles tem, que atrai tanto o Paul? Você acredita que ele volta aqui? Todo artista elogia o público brasileiro, diz que é o melhor do mundo. O Jimmy Page falava isso do público brasileiro, falou isso em entrevistas para revistas gringas e brasileiras. Acho que isso é unanimidade, a galera daqui alopra mesmo (risos). Beatles bateu muito no Brasil, a beatlemania no Brasil foi quase contemporânea, rolou ao mesmo tempo.
Tem um texto no meu livro escrito pelo grande jornalista Ricardo Schott (opa!) falando disso! Eles lançavam uma música nova lá e na mesma semana já tinha a versão tocando aqui. O pessoal conhecia na rádio primeiro a versão, depois a original. Teve a Jovem Guarda, que é a versão brasileira da beatlemania, os Mutantes, que são o ápice dos Beatles psicodélicos. Teve o Clube da Esquina, com a música Para Lennon & McCartney…
Sobre ele voltar, se quiser, ele volta ao Brasil. Pelo que eu vi no palco do show dele no Maracanã na última turnê, o Paul estava muito serelepe. Ele não vai estar menos disposto se quiser voltar ano que vem. Bom, você perguntou se ele volta, eu tô já pensando em ano que vem (risos). Ou daqui a dois anos. Se demorar muito, aí acho que ele não volta mais. Mas se for para um futuro próximo, acho que ele tem energia para voltar.
O Nélio Rodrigues e o José Emilio Rondeau fizeram o livro Sexo, drogas e Rolling Stones e disseram que a pesquisa deles para o livro começou nos anos 1960, quando começaram a gostar da banda. E a sua? Diria que começou quando passou a gostar de Paul e dos Beatles? Tem o livro Rolling Stones no Brasil (também do Nélio) que é muito inspirador, foi ele que inspirou o Jimmy Page no Brasil. Eu pensei: “Queria ter feito esse livro, será que tem outro personagem para fazer?” E cheguei no Jimmy Page como um personagem de grande estatura no mundo do rock, e com uma relação para lá de íntima no Brasil.
O Paul é uma sequência disso, venho pesquisando desde os anos 1970, nasci em 1973. Desde que comecei a gostar de Beatles, são bricks on the wall, tijolinhos no muro da minha paixão pela banda, do meu conhecimento da história, das carreiras solo, que acabou descambando em querer escrever um livro sobre o Paul. Beatles é minha banda predileta. Led Zeppelin é minha segunda banda predileta, embora Jimmy Page seja meu guitarrista predileto. Tava faltando eu escrever alguma coisa sobre os Beatles e achei uma história legal que ainda não havia sido contada, ou reunida ou organizada.
Cultura Pop
Aquela vez em que falei com Damo Suzuki
Tem documentário sobre Damo Suzuki rolando no Reino Unido. Sei lá quando vai passar aqui (o In-Edit poderia quebrar esse galho), mas Energy – A documentary about Damo Suzuki fala detalhadamente da carreira do artista japonês que se integrou à banda alemã Can nos anos 1970. E que, após os anos 1980, embarcou numa carreira solo experimental e pra lá de maluca – com direito a shows absolutamente improvisados e músicas feitas na hora.
Dois desses shows rolaram aqui no Rio de Janeiro em maio de 2009, quando Damo se apresentou no Rio, Rock & Blues, que ficava na Lapa, e no Teatro Ipanema – o músico ainda participou de um debate no teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Bati um papo com o artista por e-mail para o Jornal do Brasil, onde eu trabalhava na época. Como o documentário está aí e vale sempre a pena lembrar do nome de Damo, achei a matéria e resolvi publicar novamente aqui no Pop Fantasma. Segue aí embaixo. O título da matéria publicada no jornal não foi dado por mim, e particularmente não gostei dele, mas mantive aí.
Em tempo: Damo está em plena atividade e lançou em 2022 Arkaoda, disco de três longas faixas, gravado ao lado do Spiritczualic Enhancement Center, um “grupo de trance-jazz espectral com uma metodologia psicodélico-punk”.
DAMO SUZUKI, EX-INTEGRANTE DO CAN, SE REVÊ NO ANONIMATO
Publicado no Jornal do Brasil em 15/05/2009
Um show de música improvisada no palco, que faz parte de uma turnê infinita, feita com o auxílio de músicos escolhidos nos lugares em que vai se apresentar (os “mensageiros musicais”, como ele diz). É o que dá para falar, seguramente, sobre as três aparições de Damo Suzuki (ex-Can) no Rio.
O músico traz sua eterna Damo Suzuki’s Network para o Rio Rock & Blues (dia 26), na Lapa, e para o Teatro Ipanema (dia 28). Para abrir os trabalhos, participa, no dia 25, da terceira edição do ciclo de debates do Consórcio de Entretenimento e Cultura Contemporânea, debatendo sobre Entretenimento e Audibilidades Contemporâneas, no Oi Casa Grande.
Bem antes da carreira solo, Suzuki teve uma passagem curta (três anos) pelo grupo progressivo alemão Can. Mesmo assim, muitos fãs especialmente os brasileiros ainda o conhecem como o ex-vocalista da banda, que tinha ainda músicos que se destacaram no cenário vanguardista, como Holger Czukay.
Com o grupo, Suzuki (que fora descoberto pelos colegas enquanto cantava nas ruas de Munique, na frente de um café) gravou os clássicos Tago mago (1971), Ege bamyasi (1972) e Future days (1973). Mas o ex-integrante sequer mantém contato com os ex-colegas. Nem sabe o que andam fazendo.
“Com quantos amigos de infância você ainda mantém contato?” indaga ao repórter. “Passei só três anos no Can, isso representou 5% da minha vida. Os outros 95% combinam mais com meu estilo”.
Mesmo disposto a definir sua obra, deixa claro que o trabalho musical vem mais para confundir do que para explicar.
“Não tenho nenhuma concepção de como as performances serão. Se você já sabe como é o resultado de uma partida de futebol, nem precisa ver o jogo afirma. Criamos tudo de acordo com o tempo e o espaço do momento. Minha música é um processo. É orgânica, natural e parte do compartilhamento de energias”, diz.
VOCAIS SEM LETRAS. Gêneros como rock, eletrônica, jazz e música tribal costumam aparecer em releases de Suzuki para explicar o que sua música abarca. Quem quiser ter uma ideia melhor, pode recorrer aos vídeos de seu trabalho que estão no YouTube. Mas, na hora H, tudo pode mudar.
“Não canto a mesma canção mais de cem vezes, até porque a música que faço não tem como ser repetida. E claro que sempre há situações e reações engraçadas da plateia com relação à música que tocamos”, diz ele, que canta durante os shows, mas sem letras. “Faço um tipo de scat. Quando você tem letras, não está livre. Não faz parte do meu mundo estar preparado antes de começar. A minha música é ela inteira uma mensagem, não preciso de letras”.
As ideias de Suzuki convêm bastante a um artista que diz não gostar de registros de estúdio. E que, atualmente, nem tem se animado muito com a possibilidade de lançar álbuns ao vivo. Seu último registro data de 2006 (Nota de atualização: é o disco Tutti i colori del silenzio, de Damo Suzuki´s Network, mas ainda tem um álbum de 2007, Please heat this eventually, de Suzuki e Omar Rodriguez-Lopez). Apesar de ter um DVD, I was born… I was dead, lançado há pouco por um selo russo, grande parte das suas performances é capturada em vídeos bootleg.
“Lançar discos não é meu mundo. Prefiro convidar as pessoas para ver meu show ao vivo. E música é comunicação, tem que ter audiência, sentencia Suzuki, recorrendo a mais uma metáfora futebolística para falar de música. “Se você assiste a um jogo de futebol na TV, não tem a experiência inteira. É forçado pelo cameraman e pelo diretor. Quando vai a um estádio, tem um ângulo mais pleno, pode ver os fãs de futebol e sentir a atmosfera. E é muito mais interessante ficar num lugar onde as coisas estão acontecendo, não é?”
O time de mensageiros musicais escalado para Suzuki nas investidas brasileiras inclui nomes como o baixista Odeid (ex-Lobão & Os Ronaldos), Bartolo (guitarra, toca na dupla eletro-vanguardista Duplexx), Barrão e Luiz Zerbini (ambos do grupo experimental Chelpa Ferro). Uma turma escolhida pela loja de discos Plano B, que traz o artista ao Brasil.
Detentora de um catálogo volumoso de vinis raros, o endereço da Lapa costuma apresentar shows de música experimental todas as sextas-feiras, com entrada franca. O cardápio inclui shows de músicos inovadores estrangeiros (como Lawrence English, Zbigniew Karkovfky e o guitarrista japonês Tetuzi Akyiama) e brasileiros (entre eles o trio vocal 3 Terrores, os músicos Marcos Campello e Paulo Dantas, o grupo under Zumbi do Mato e o próprio Chelpa).
“Foi o próprio Suzuki que entrou em contato conosco e quis vir. Conheço seu trabalho há muito tempo, desde a época em que tocava no Can”, diz Fernando Torres, dono da loja, que também tocará sons eletrônicos com o artista no Rio, Rock & Blues. “Escolhemos levá-lo para outros lugares, porque o show dele envolve mais estrutura e tem cachê. Não daria para trazê-lo para tocar no esquema comum que usamos nas sextas no Plano B”.
Não deixa, no entanto, de ser instigante imaginar como seria uma apresentação de Suzuki dentro da loja, cravada no começo de uma ladeira na Lapa, com palco mínimo e entra-e-sai de pessoas. Já que, para Suzuki, interessa mais a liberdade do que qualquer outro fator.
“Você se torna criativo quando não tem tanta informação. Da mesma forma que comida demais dá sono, muita informação não te deixa em situações criativas”, afirma.
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