Cultura Pop
Dez clássicos do punk pop dos anos 1990 – descubra!

Como diz aquele ditado das resenhas futebolísticas, “se ficar puto, é pior”: estilos musicais que muito fã radical de rock abominava, como o emo e o punk mais pop dos anos 1990, estão de volta. Jimmy Eat World, que costuma ser definido das duas formas, deixou muita gente feliz ao passar pelo palco do festival Lollapalooza, em São Paulo, e pela lona do Circo Voador, no Rio. E uma banda que daqui a pouco tá por aí são os suecos do No Fun At All, que retornaram em 2013 e se apresentam dia 8 de abril em São Paulo (no Hangar 110), dia 9 em Curitiba (na antiga Moohai) e dia 11 em Florianópolis (no John Bull Pub).
Já o Rancid, que levou fãs às lágrimas ao vir pela primeira vez ao Brasil também no Lollapalooza… bom, se você disser pro vocalista e guitarrista Tim Armstrong que a banda dele é “emo” ou “punk pop”, pode acabar levando uma porrada. Mas não há dúvidas de que o grupo, quase um Clash preparado para os anos 1990, se aproveitou muito do rejuvenescimento do punk que rolou após 1994, quando o Green Day foi tirado da minúscula Lookout e levado para a grandalhona Warner, e o Offspring deu discos de ouro e platina para o pequeno selo Epitaph, por conta de “Smash” (que completa 23 anos justamente no dia do show do No Fun At All em São Paulo).
Aproveite e recorde dez clássicos daquela época em que os três acordes viraram padrão novamente e todo mundo era feliz por causa disso.
“WHEN THE ANGELS SING” – SOCIAL DISTORTION. O termo “pop punk” já vinha dos anos 1980 e era usado para definir bandas como o Social Distortion, que misturava punk e country, e grupos de skate-punk como Agent Orange e T.S.O.L. Recuperado do vício em heroína, o vocalista e guitarrista Mike Ness voltou com o Social Distortion (após hiato de dois anos) e gravou o disco “White light, white heat, white trash”. As músicas que todo mundo viu na MTV foram essa e “I was wrong”.
“BETTER OFF DEAD” – BAD RELIGION. Pronto: até o Bad Religion, ícone do skate-punk de protesto, virava a banda preferida de um monte de gente de uma hora para a outra – e ganhava contrato com a Sony. “Stranger than fiction” (1994), primeiro disco dessa fase, tinha essa música aí.
“SELF-ESTEEM” – OFFSPRING. Se o grunge significava quase “morte antes da desonra”, o Offspring, no ano da morte de Kurt Cobain, conquistava espaço no rádio e na MTV com um som punk que contava a história de um rapaz constantemente gongado por uma garota, mas que estava à disposição sempre que ela queria fazer sexo (“eu sei que ela está brincando comigo/mas tudo bem, porque eu não tenho autoestima”). Os tempos era outros.
“MASTER CELEBRATOR” – NO FUN AT ALL. A defunta gravadora Paradoxx Music responsabilizou-se por licenciar para o Brasil vários CDs de punk lançados entre os anos 1980 e 1990. Um deles foi o terceiro disco do NFAA, “Out of bounds” (1995), e “Master celebrator” virou quase-hit. Ouça e recorde.
“GREEN DAY” – GREEN DAY. A mesma Paradoxx lançou por aqui os primeiros discos da então nova sensação do punk, “1,039/Smoothed out slappy hours” (na verdade uma união dos EPs “1.000 hours”, de 1989 e “Slappy”, de 1990, e do LP “39/Smooth”, de 1990) e “Kerplunk” (1991). Não havia tanta diferença assim do Green Day de 1990 para o de 1994 – havia menos apuro melódico e o batera do grupo até 1990 era o hoje cineasta John Kiffmeyer (o popular Al Sobrante). A maconheiraça faixa que dá nome à banda tocou em rádio no Brasil, com quatro anos de atraso.
“RUBY SOHO” – RANCID. O mais próximo que a geração 1990 chegou de ter um “London calling” (o clássico do Clash) foi com “…And out come the wolves”, terceiro disco dessa banda americana e também mais um álbum que lotou os cofres da Epitaph. E que gerou uma das mais bonitas canções dessa era do punk, com letra romântica e referências ao reggae numa “festa aqui do lado de casa”.
“YOU ARE A KNOB” – FRENZAL RHOMB. Essa banda australiana virou mania no Japão, mais do que no resto do mundo. O gosto por piadas bizarras como a da capa do EP “Dick sandwick” (procure no Google) baniu o grupo de várias rádios. O primeiro disco, “Coughing up a storm” (1995), terminava com mensagens raivosas de um ex-baterista na secretária eletrônica. No segundo, “Not so tough now” (dessa música aí), uma faixa dividida em várias microfaixas com nomes imbecis como “Sinatra sings secret track”, “Secret track The Gospel Version”, “Guess what… secret track”, “The origins of secret track”.
“DON’T CALL ME WHITE” – NOFX. Um dos maiores clássicos dessa banda de Los Angeles, que surgiu em 1983, tem a mesma formação desde 1991, e nunca teve um hiato. Saiu no “Punk in drublic”, disco de 1994 que ganhou uma bela execução em rádio no Brasil. No ano passado, saiu o bom “First ditch effort”.
“PEACEFUL DAY” – PENNYWISE. Essa banda californiana também tá vindo aí (toca 13 de maio no Maximus Festival, em São Paulo, e emenda com show em Curitiba em 14 de maio). “Peaceful day” estava no clássico terceiro disco deles, “About time” (1995, outro CD que a Paradoxx lançou aqui) e pagava muito tributo ao skate-punk dos anos 1980 no refrão e nas linhas vocais.
“I CAN’T STOP FARTING” – THE QUEERS. Quando a onda do punk-pop começou, tinha muita banda que fazia letras politizadas – outras preferiam falar de comportamento, ou de amor, ou de porradas da vida. Uma boa parte delas fazia o mesmo estilo “no brains” que gerou pérolas como “Beat on the brat”, dos Ramones (cujo recrudescimento, nos anos 1990, inspirou muita banda punk). Os americanos do The Queers (literalmente, “os viados”) estavam nessa linha, com canções como essa (“não consigo parar de peidar”, em português). O grupo ainda existe, mas não grava desde 2010.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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