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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

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Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

O Fleetwood Mac nunca foi das bandas mais estáveis do mundo. Era uma banda de blues que foi gradativamente se aproximando do pop, e que mudava de integrantes (e de liderança) a cada disco. Enfim, a banda trocou até de país – começou na Inglaterra, acabou nos EUA. Mas na época que antecedia seu 14º disco, Tango in the night (1987), andava tudo realmente estranho.

Para começar, o disco anterior do FM, Mirage, havia saído em 1982, e os integrantes embarcaram em carreiras solo, algumas mais, outras menos vitoriosas. Lindsey Buckingham (voz, guitarra), que vinha de um hit solo de 1981, Trouble, conseguiu seu lugar ao sol com o single e o disco Go insane (1984). Christine McVie (voz, teclados) e Mick Fleetwood (bateria) gravaram álbuns sem a banda – a primeira com repercussão, o segundo sem nenhuma. John McVie (baixo) ficou na dele. Já Stevie Nicks (voz), que gravava sozinha desde 1981, fez bastante sucesso solo. Inclusive conseguiu êxito o suficiente para ficar em dúvida sobre se valia a pena voltar com a banda.

Não havia nada indicando que o Fleetwood iria voltar, já que os integrantes pareciam felizes separados. Mas não tinha havido uma entrevista sequer da banda falando que os serviços do grupo estavam encerrados e que daí para a frente os fãs que se virassem para acompanhar cinco carreiras solo.

A volta, com Tango in the night, era a verdadeira adaptação do Fleetwood Mac à sonoridade e ao método de trabalho que vigoraram nos anos 1980. Ou seja: programações eletrônicas, vocais modificados com samples, experimentações de estúdio para deixar canções com mais cara de “rádio”, tons latinescos e novelescos para brigar nas paradas com artistas como Madonna (La isla bonita fez sucesso, não?) e derreter os corações das Américas.

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

Nos últimos dias, por causa de um viral do tiktok, Dreams, clássico do FM lançado no poderosíssimo disco Rumous (1977), voltou a virar hit – o que levou álbum a retornar ao Top 200 da Billboard. Como já tem um monte de gente recordando os tempos confusos de Rumours – disco marcado pelos divórcios dos dois casais da banda, e por trocas de farpas em letras de músicas – decidimos dar um salto no tempo e lembrar o segundo disco mais vendido do Fleetwood Mac. O álbum que fez a banda experimentar sucesso de verdade no mundo maravilhoso da MTV, graças aos clipes de Seven wonders, Big love, Everywhere, Isn’t it midnight e Little lies.

Tá aí nosso relatório sobre Tango in the night. Leia ouvindo o disco.

HIATO. Os fãs do Fleetwood Mac estavam acostumados a pausas entre um disco e outro – inclusive, com os dois casais da banda separados e integrantes com os pés afundados na jaca das drogas, só dando um tempo. Após Rumours (1977), a banda lançou o estranho disco duplo experimental Tusk (1979), considerado um fracasso pela Warner, gravadora deles. Em 1980, saiu o duplo ao vivo Live. 1982 foi o ano de Mirage. Mas, se bobear, muitos fãs-de-ocasião acharam que a banda sumiu do mapa depois do mega bem sucedido Rumours.

MAS QUE CASAIS? Se você não sabe, durante Rumours houve a separação dos casais Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, e Christine McVie e John McVie.

SUCESSO E CASAMENTO RÁPIDOS. Stevie Nicks tinha sido a integrante do Fleetwood Mac a voar mais longe como solista. Gravara dois discos muito bem sucedidos – antes mesmo do hiato pós-Mirage, ela já batera recordes com Bella Donna, de 1981. Em 1986, dividiu palcos com Bob Dylan e Tom Petty & The Heartbreakers. Mas a vida pessoal não andava legal. Em 1981, ela tivera a péssima decisão de casar com o viúvo de sua melhor amiga Robin Anderson, que morrera de leucemia após ter tido um filho. Aliás, fez isso porque “achava que ela gostaria que cuidássemos do bebê”. O casamento durou três meses.

VIDA LOUCA. As drogas vinham causando problemas à banda, especialmente a dois integrantes: Stevie Nicks e o baixista John McVie. John tinha problemas com álcool o suficiente para ter uma séria convulsão em 1987. Em 1986, Stevie foi alertada por um cirurgião plástico de que teria problemas sérios no nariz por causa do abuso de cocaína, e que poderia ficar sem voz. Em seguida, internou-se na clínica Betty Ford, procurada por dez entre dez popstars em reabilitação, e largou a droga. No entanto, Nicks continuou bebendo e acabou viciada, ironicamente, na droga que ela tomava para se livrar da cocaína (Klonopin).

POR SINAL, uma das músicas de Tango in the night, Welcome to the room… Sara, escrita por Stevie, foi inspirada em sua estadia na clínica Betty Ford. “Sara Anderson” era o pseudônimo que ela usava ao se internar.

SOM ELETRÔNICO. O começo dos anos 1980, você deve se lembrar ou saber, foi a glória para os fãs de sintetizadores e sons eletrônicos, que dominavam as paradas. O Fleetwood Mac passou de sapato alto sobre isso em Mirage. Mas Lindsey ficou meio obcecado pelo assunto em Go insane, seu disco de 1984, no qual ele tocava todos os instrumentos e substituía as batidas orgânicas pela afamada LinnDrum, que já aparecia em dez entre dez sucessos pop. Foi o pontapé inicial para muita coisa que aconteceria em Tango in the night.

ALIÁS E A PROPÓSITO, Tango in the night seria, de início, um disco solo de Buckingham.

OU MELHOR. Havia dois projetos sendo feitos, o disco de Buckingham e o LP novo do Fleetwood Mac. Ambos os trabalhos correram em paralelo por um tempo, até que Lindsey se juntou aos colegas e levou seu repertório. Mas Mick Fleetwood diz que a banda – em especial ele – persuadiu Lindsey a se juntar aos outros, e que o amigo foi pressionado para concluir o disco.

DASHUT E DROMAN. Quer saber de Tango in the night, pergunte a esses dois. Richard Dashut, que produzira os três últimos discos do FM, havia sido chamado por Christine McVie em 1985 para produzir uma versão de Can’t help falling in love para a trilha do filme A fine mess, de Blake Edwards. O projeto acabou virando uma reunião informal do Fleetwood Mac, com Fleetwood, McVie e Buckingham convidados para tocar na trilha. Stevie continuava em turnê solo.

DASHUT E DROMAN 2. Greg Droman, um jovem produtor e engenheiro de som, foi chamado por Dashut para gravar o projeto. Acabou trabalhando também com Buckingham em Time bomb town, que o músico criou para a trilha do blockbuster De volta para o futuro, de Robert Zemeckis. Acabou sendo convidado para trabalhar em Tango. Na época, Droman era do estúdio Rumbo, de propriedade da dupla Captain & Tennille, em Los Angeles. Por sinal, o local era quase um quartel-general do hard rock e do hair metal: até o Ratt gravou lá.

ALIÁS E A PROPÓSITO, até mesmo parte do Appetite for destruction, do Guns N Roses, saiu das máquinas do Rumbo.

DEZOITO MESES. Foi o tempo em que o grupo, mais produtor e técnico de som, passaram lambendo as músicas de Tango in the night. O material que surgia no novo disco do Fleetwood Mac era quase um projeto dos integrantes não-fundadores da banda, usando o nome do FM. John McVie e Mick Fleetwood não deram pitacos nas composições. Já Lindsey usou e abusou da liderança, dando ideias de como o material deveria soar e trazendo uma referência musical importante para a pequena equipe do disco (o som pop e profundo de Kate Bush).

MAIS GENTE. Outros nomes apareciam nos créditos de composições de Tango. Sandy Stewart compôs o hit Seven wonders com Stevie, e era parceira de carreira solo dela. Eddy Quintela, novo marido de Christine McVie, dividia Little lies com ela, e Isn’t it midnight com ela e Buckingham. Dashut compôs Family man com Buckingham.

ZZZZZZ. Dashut e Droman concordam numa coisa: Tango in the night foi um disco feito tão devagar que todo o processo levou a equipe ao tédio e ao desespero em pouco tempo. Buckingham estava maravilhado com as possibilidades dos samples, das modificações de vozes em estúdio e com qualquer maluquice que pudesse ser feita para mudar vocais ou alterar partes de músicas. Ele, o produtor e o técnico faziam coisas como diminuir a velocidade das canções, triplicar ou quadruplicar várias partes nos canais e depois ajustar o pitch de cada uma dessas partes. Tudo para encontrar novas texturas e tornar Tango in the night uma experiência inesquecível.

CORTA E COLA. Os vocais percussivos de Big love (todos feitos por Buckingham, e não por Stevie) e os climas meio “vamos abrir a Porta da esperança” de algumas introduções (como a de Everywhere e a de Little lies) vêm dessas encucações de Lindsey.

VIDINHA BESTA. Durante as gravações, uma frase repetida por Droman virou quase meme da equipe: “Tédio é a nossa vida”. A equipe passava o dia inteiro envolvida com apenas uma parte da gravação, ou duas partes, para refazer tudo no dia seguinte, porque Buckingham não havia ficado feliz com o resultado. A turma também ficava bastante isolada no Rumbo. Aliás, isolada a ponto de perder a noção do tempo. “Naquela época, os estúdios não tinham janelas. Nunca sabíamos que horas eram. Você saía no corredor para ir ao banheiro ou algo assim, e de repente, você percebe que é noite, daí você perdeu todo o sol do dia”, contou Droman.

PÂNICO. Por causa do estresse, das repetições e do excesso de trabalho, rolou de tudo: até ataques de pânico no jovem Droman. “Eu nem sabia que se tratava disso”, conta. “Nem conseguia dizer o que estava acontecendo. Eu estava meio que pirando”. Logo que saiu Tango in the night, ele estava tão de saco cheio que desligava o rádio se o DJ tocasse Big love.

PÉ NA BUNDA. Antes de Tango, Lindsey havia tido um relacionamento fracassado com a estilista Carol Ann Harris, que vazou para as letras do disco (em Tango in the night e, evidentemente, Caroline), e continuava mal por causa disso. Carol, que trabalharia em vários clipes de artistas conhecidos, escreveu um livro sobre o relacionamento com Lindsey (Storms: My life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac) e contou que já estava cansada das brigas do namorado com a banda, e de seu envolvimento com a cocaína.

BAÚ SEM FUNDO DE GRANA. Tango também foi um disco marcado por um comportamento perdulário típico da época em que as gravadoras ainda tinham verba ilimitada para gastar com seus artistas. Após o começo no Rumbo, o Fleetwood Mac ainda fez gravações na garagem da casa de Lindsey, num trailer alugado que ficava no quintal para não invadir demais a propriedade. A mixagem também foi feita lá, inicialmente em duas máquinas analógicas. O pentelho Lindsey demorava uma semana para mixar cada música com a equipe. Só que ele mudava bastante de ideia sobre o que estava sendo mixado. Para facilitar o processo, mandaram vir uma caríssima e moderníssima máquina digital da Sony.

COMO É QUE MEXE NISSO? Na mixagem, a turma tinha várias fitas digitais que precisavam ser manuseadas com cuidado, numa época em que ninguém sabia mexer direito nessas coisas. Com medo de estragar alguma coisa, Droman usava luvas brancas para mexer no material. O material era todo repicado e colado na base da fita durex.

QUASE DEU MERDA. Quando Tango foi masterizado, apareceu um monte de erros nas emendas. Para evitar problemas, a única solução que o trio de produção e gravação viu pela frente foi colocar as fitas na geladeira do estúdio. Não havia cópia de nada e o risco de um ano de trabalho ir por água abaixo era enorme.

STEVIE SUMIU. As gravações de Tango in the night foram pouco frequentadas por uma das integrantes mais populares do Fleetwood Mac. Stevie Nicks contribuiu com canções, mas estava ocupada demais com a turnê do disco solo Rock a little e quase não ia ao estúdio. Quando ia, ficava tão entediada que começava a beber e gravava os vocais embriagada. Boa parte dos vocais dela em composições de Christine e Buckingham foram tirados. Em When I see you again, por exemplo, vocais dela tiveram que ser remontados e Buckingham precisou cantar parte da música.

DEU TEMPO. Por causa de suas ausências, Stevie perdeu inicialmente a chance de fazer vocais em Everywhere, de Christine McVie – e reclamou disso. Acabou acrescentando vocais quando a música já estava para ser finalizada.

CLIMA BOM, CLIMA RUIM. Testemunhas afirmam que o clima na banda estava até amistoso, apesar do controle de Lindsey e do fato de ninguém se encontrar direito para fazer as gravações na casa dele. Mas o músico costuma dizer que as vidas pessoais dos integrantes estavam em desalinho. “Na época em que fizemos Tango in the night, todos estavam levando suas vidas de uma maneira que não ficariam muito orgulhosos hoje”, contou.

SOBROU COISA PRA CARAMBA. Tango in the night ganhou recentemente, você deve saber, uma edição de luxo com quase três horas. O trio de compositores estava tão prolífico que compôs e gravou muita coisa que não foi usada. Algumas apareceram em singles, como Down endless street, de Buckingham (no compacto de Family man). A You and I, part II, do LP, tinha uma parte I que saiu apenas no lado B do single Big love.

DEU CERTO. Assim que Tango in the night saiu, o maior medo dos fãs e da crítica era que Buckingham tivesse transformado a banda num troço amorfo e sem substância. Embora não tivesse sido um disco queridinho da crítica, o público aderiu rapidamente às novas músicas. Big love virou hit de pista e acabou inserida no contexto da house music, com direito a remix feito por Arthur Baker. Só até 2000, Tango já havia vendido mais de 3 milhões de cópias nos EUA.

CLIPE. Mick Fleetwood lembra que só o clipe do primeiro single, Big love, custou cerca de US$ 250 mil. O músico, que abriu falência no começo dos anos 1980, voltou a sorrir: as vendas do disco novo foram tão boas que houve interesse pelo catálogo antigo da banda, e a grana voltou a pingar.

PERA, NÃO DEU CERTO NÃO. Tango in the night saiu em abril de 1987 e deixou um ferido: Lindsey Buckingham. O músico reclamava que a banda não havia sido solidária com ele e havia feito pressão durante o processo. Tanto que assim que saiu o disco, o músico anunciou que não sairia em turnê.

FEZ MERDA. A banda passou um bom tempo tentando convencer Buckingham a não sair. Em agosto de 1987, ele anunciou que estava pulando fora. A banda marcou uma reunião em 7 de agosto daquele ano na casa de Christine McVie para cobrar pelo menos uma explicação. Só que deu merda: estourou uma discussão bizarra entre Lindsey e sua ex-namorada Stevie Nicks, que acabou com o músico agredindo seriamente a ex-namorada. Buckingham acabou posto para fora da casa e da banda.

DOIS NO LUGAR DE UM. A turnê de Tango seria feita com dois guitarristas, Billy Burnette e Rick Vito. O grupo optou por cortar as músicas de grande sucesso feitas por Lindsey, até mesmo o grande hit Big love. Aliás, a banda deu uns “presentes” aos fãs antigos que ainda acompanhavam a banda, incluindo uma canção dos primórdios do grupo, escrita por Peter Green, I loved another woman. O FM considerou incluir Black magic woman, outro hit dessa fase. John McVie vetou a ideia porque Santana gravou a canção e a transformou em uma música de seu repertório.

ALIÁS E A PROPÓSITO, um show da banda em San Francisco chegou às lojas como… um VHS de Tango in the night (na época, era tendência bandas lançarem shows em homevideo, como se fosse “o disco em vídeo”, muitas vezes com a mesma capa do LP). O VHS de Tango tinha o mesmo título e a mesma capa.

E DEPOIS? Claro que Lindsey Buckingham voltaria ao Fleetwood Mac. No ao vivo The dance, lançado em 1997, a formação de Rumours (1997) e Tango in the night (1987) estaria toda lá. Até lá, o grupo lançaria Behind the mask (1990), sem Lindsey, por sinal o primeiro disco da banda desde 1974 a nem roçar o Top 10. Em seguida, Time (1995), sem Stevie Nicks, sem Christine McVie e com Lindsey como cantor convidado numa das faixas (!).

E STEVIE NICKS? Em 1989, Stevie Nicks voltaria à carreira solo com The other side of the mirror, Top 10 nos Estados Unidos. Por sinal, foi a turnê do Klonopin, já que a cantora estava tão dependente da droga que tomava para se livrar da cocaína (é bastante comum) que diz não ter recordação alguma da tour.

E HOJE? Até novembro de 2019, o Fleetwood Mac circulava por aí com a tour An evening with Fleetwood Mac, sem Lindsey (expulso da banda após uma discussão justamente com Stevie Nicks, com direito a processo nos ex-colegas e “ou ela ou eu”). A formação incluía Fleetwood, McVie, Christine, Stevie, Mike Campbell (guitarra) e Neil Finn (teclados, guitarra e voz). Little lies era a segunda música do set list.

E já que você chegou até aqui pega aí os outros clipes do disco. O de Little lies já apontava para o lado country que o Fleetwood Mac deixaria aparecer em alguns de seus trabalhos posteriores: mostrava a banda circulando numa fazenda abandonada, incluindo cenas maravilhosas de Christine McVie fingindo que tocava piano numa escrivaninha (!) e Lindsey Buckingham usando blazers caríssimos em meio a pedaços de feno e cercas desdentadas. Teve também o clipe de Family man, feito com sobras do de Seven wonders, quando Lindsey já havia saído, mas não está no YouTube.

Com informações dos livros Playing in the rain: Lindsey Buckingham & Fleetwood Mac, de Tyler Martin Sehnal, Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac, de Carol Ann Harris, e Fleetwood Mac: The complete illustrated history, de Richie Unterberger. E de links como esse e esse.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince). E a Paranoid (Black Sabbath).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Fleetwood Mac no POP FANTASMA aqui.

4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

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4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

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  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

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Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

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Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

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Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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