Cultura Pop
Trinta coisas que você já sabia sobre o rooftop concert dos Beatles

“It was 51 years ago today” (“Faz 51 anos hoje”). A data não é redonda, mas quem se importa? O dia 30 de janeiro de 1969, uma quinta-feira (assim como amanhã), entra para a história como o dia da última apresentação ao vivo dos Beatles. O chamado rooftop concert, que tem esse nome porque foi dado no terraço da gravadora Apple.
https://www.youtube.com/watch?v=0MlWejJa6Aw&list=PL_1oLkalvMi6WoLznUxg9D46q3H5ojpUf
Não é exatamente um “show”, na verdade eles tocam as músicas que vinham ensaiando. Para homenagear a data, separamos trinta coisas que você provavelmente até já sabia sobre o show (mas vai que você não sabia de alguma coisa…). E para quem gosta de fatos minuto a minuto, todos eles aparecem na ordem cronológica.
1. A ideia inicial surge na segunda metade de 1968: um show grandioso marcando a volta dos Beatles aos palcos, depois de cerca de dois anos de ausência, um show beneficente que seria veiculado pela TV.
2. O lance avança depois que Paul fica inspirado por um documentário de Picasso onde o famoso pintor aparece fazendo uma tela diante das câmeras e sugere que o mesmo poderia ser feito com seu grupo. Pensando em entusiasmar a galera da banda com um novo projeto, ele propõe que sejam filmados criando, ensaiando (uma coisa mais rock raiz, ao contrário das colagens sonoras e sobreposições de instrumentos que marca discos anteriores como Revolver e Sgt. Pepper’s), depois gravando as músicas ao vivo diante de uma plateia e lançar isso.
https://www.youtube.com/watch?v=5MaFf8pyrZk
3. Até 1968, ninguém havia feito isso antes: um disco ao vivo só de músicas inéditas.
4. O diretor convidado é Michael Lindsay-Hogg, que já tinha feito o Rock and roll circus dos Rolling Stones e filmes promocionais dos Beatles como Hey Jude e Revolution.
5. Começam no dia 2 de janeiro em um estúdio de cinema chamado Twickenham, em Londres. Os planos de Lindsay-Hogg não são pequenos: ele sonha com um show em um anfiteatro romano ou em um deserto, com plateia de várias nacionalidades, raças e credos.
https://www.youtube.com/watch?v=vX6XVePyG-M
6. John chega a pontuar que nunca tiveram que preparar tantas músicas em um espaço de tempo tão curto.
7. Nada é gravado oficialmente no estúdio de cinema, só o áudio das câmeras capturando os ensaios para o documentário.
8. Esse material acaba servindo de base para um sem número de bootlegs (os antigos discos piratas, itens de fã-clubes com ensaios ou shows) que surgem a partir daí.
9. Os Beatles aparecem tocando, além das músicas novas, covers das antigas, de Elvis, Dylan, Buddy Holly.
10. Eles tocam ainda She came in through the bathroom window, Oh darling, Maxwell silver hammer e Something, que só iriam aparecer depois, no disco seguinte Abbey Road.
11. Também rolam músicas que só seriam gravadas nas carreiras solo, como Gimme some truth e Child of nature (que depois vira Jealous guy) de John Lennon; Back seat of my car, Teddy boy e Another day de Paul McCartney; e All things must pass de George Harrison, entre outras.
12. Mas nada acaba ficando muito bem acabado, o clima do estúdio também não ajuda. É clássica a declaração de John, de que “não dá para se fazer boa música às oito da manhã, com pessoas te filmando e luzes coloridas em volta”.
13. É clássica a briga entre Paul e George, flagrada pelas câmeras, que acaba com George resmungando ironicamente “se você não quiser eu não toco… faço qualquer coisa pra te agradar”.
14. Harrison acaba dando mesmo uma vazada da banda nesse período, uns três dias depois desse barraco com Paul – o que se diz, fato nunca comprovado, é que ele teria trocado socos com John no estúdio.
15. Os Beatles então partem para uma sala na Apple, onde se sentem mais em casa.
16. George chama o tecladista Billy Preston, gente boa e que bota panos quentes nas tensões.
17. Até que, no dia 30 de janeiro de 1969, uma quinta-feira, os Beatles sobem no telhado e tocam para uma plateia formada pelo staff da Apple, jornalistas e passantes em geral da localidade.
18. O show dura 42 minutos. No filme Let it be aparece cerca de metade da apresentação.
19. Tudo é gravado em oito pistas pelo célebre engenheiro de som Glyn Johns lá embaixo no prédio, e por isso ele não é uma testemunha ocular do show. Alan Parsons está com ele como assistente.
20. Os Beatles tocam pela hora do almoço de um dia frio pacas e ventando muito. O casacão vermelho que Ringo usa é emprestado da mulher, Maureen, e o de pele que John aparece usando é emprestado da Yoko Ono (George também usa um casaco de peles na ocasião).
21. Dá para ouvir o som lá de baixo, e logo começa a juntar uma galera, que mal consegue ver os Beatles tocando no topo do prédio.
22. É um bairro chique, repleto de ateliês de alfaiates, que reclamam da imposição sonora promovida pelo grupo. E a polícia chega depois de uma denúncia de quebra da sagrada lei do silêncio, mas ninguém vai preso.
23. Ringo reclama que gostaria de ter sido tirado dos tambores à força pelos policiais, que são muito educados ao pedirem o fim do som.
24. Os Beatles tocam Get back, Don’t let me down, I’ve got a feeling, The one after 909, Dig a pony (com direito a um assistente segurando a letra para John, que ainda não está muito familiarizado com ela, conforme se vê no filme Let it be).
25. Eles repetem I’ve got a feeling, Don’t let me down e Get back, esta última tocada de maneira meio displicente por causa da chegada dos homens da polícia.
26. Nenhuma música do Harrison é tocada, registre-se.
27. A apresentação fica conhecida como “the rooftop concert” (“o concerto do telhado”).
28. No telhado, eles são filmados por cinco câmeras, além de outras câmeras pelas ruas capturando a reação das pessoas.
29. No dia seguinte, 31 de janeiro de 1969, os Beatles são filmados tocando novamente, desta vez dentro da Apple, as músicas Let it be, The long and winding road e Two of us.
https://www.youtube.com/watch?v=MPrQwAQE44s
30. John encerra a performance com mais uma tirada clássica: “Queria agradecer em meu nome e do grupo, espero que a gente tenha passado no teste…!”.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
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