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Radar: sete coisas para ficar de olho em 2025
2025 promete, e muito: discos novos legais já confirmados, turnês pelo Brasil (o Oasis vem, né?), nova temporada do nosso podcast Pop Fantasma Documento (bom, aí é a gente puxando a brasa pra nossa sardinha) e muitas coisas que é melhor colocar na agenda para não esquecer. Aqui estão sete delas.
DISCOS NOVOS DE MANIC STREET PREACHERS E FRANZ FERDINAND. Logo em janeiro de 2025 (nos dias 10 e 31, respectivamente) chegam às lojas The human fear, sexto álbum do Franz Ferdinand, e Critical thinking, décimo quinto disco do Manic Street Preachers. Duas bandas separadas por quase duas décadas de diferença, mas cujas carreiras deram o tom para o universo indie de suas épocas. O disco do Franz anda sendo celebrado por mostrar um lado mais “maduro” da banda nas letras – os singles Hooked, Audacious e Night or day revelam uma barulheira indie rock das boas. O do Manic foi definido pelo site Record Collector como “uma reação à era digital descartável”, em que o vocalista Nicky Wire pergunta na faixa-título: “O que aconteceu com seu pensamento crítico?”
OS PASSOS DE ANITTA. Difícil não ver algo parecido com essa coisa que chamaram de “verão Brat“, comandado pelo disco mais recente da Charli XCX, no show da cantora no Réveillon de Copacabana – ou pelo menos algo parecido com o show de Madonna na mesma praia, alguns meses antes. A bem da verdade, esse verão já faz parte da vida de Anitta faz tempo, mas como no Brasil nada se faz sem uma grande dose de polêmica, a Globo abaixou o som da transmissão do show dela na hora da música Capa de revista e Anitta chegou a declarar que adoraria ter convidado Fernanda Abreu para cantar com ela, mas não queria que ela recebesse a mesma saraivada de críticas.
ROCK E INDIE POP DE MINAS GERAIS. Grupos como Varanda e cantoras como Clara Bicho trazem uma cara mais indie e até mais literária para o rock feito em sua terra, abusando de criatividade em letras, melodias, arranjos e desenvolvimento de carreira. No caso do Varanda, que lançou em 2024 o álbum Beirada, a vocalista Amélia do Carmo pinta, escreve livros (Breve viagem ao mercado, de poesias, saiu pela Editora Patuá), faz faculdade de cinema, e ainda trabalha com receitas gastronômicas no Instagram @ameliajanta. Clara, irmã de Gabriel Campos, membro do coletivo Geração Perdida de Minas Gerais, começou despretensiosamente gravando suas coisas em casa e produzindo as capas de seus singles. Da união com o irmão saiu uma dupla chamada Irmãos Bicho, que fez show em novembro. Um EP dela deverá sair em breve (o site Popload adianta que o nome será Cores da TV).
MENORES ATOS E PAIRA. Vindo do Rio de Janeiro e dedicado ao pós-hardcore, o Menores Atos assinou com a Deck em 2024 e já lançou um single, Terremoto, com nome estilizado pela banda em letras minúsculas. O próximo álbum, Fim do mundo, sai em breve e será um disco de 12 faixas dividido nos movimentos Vazio, Em demolição e Depois do sol e da chuva – e claro que a narrativa faz uma analogia com o fim de tudo. O som tem influências de bandas como The Cure e Queens of The Stone Age. O Paira, que vem de Minas (e está no elenco da Balaclava Records), encerrou o ano lançando em novembro uma nova música, Preciso ir, com clipe caseiro feito por eles mesmos. Girando em torno de uma mescla de rock alternativo e drum’n bass, a dupla de Clara Borges e André Pádua lançou o EP 01 em junho, e promete novos lançamentos para 2025.
FCUKERS E LAMBRINI GIRLS. Vindo de Nova York, o Fcukers (que adotou esse nome porque “é um palavrão, mas você muda a grafia para poder colocar em coisas, e não é bem o palavrão”) lançou o sensacional EP Baggy$$ no ano passado (resenhamos aqui) e ajudou a trazer de volta a onda que em outros tempos era chamada de indie sleaze, unindo influências de rock. synth pop e dance music mais pesada – além de várias outras referências no visual dos artistas. A ideia da banda é “apelar para pessoas que querem festejar pra caramba”, e vem dando certo. Lambrini Girls, uma dupla feminina que já foi um trio (foto acima), vai por um caminho parecido, unindo noise-rock e batidas fortes. Preparam o álbum Who let the dogs out para sair nesta sexta, e lançaram recentemente a explosiva faixa Big d*ck energy. “O homem surge em muitas formas, de líderes mundiais a CEOs de tecnologia e humildes softboys. Mas o que os une? A sociedade celebrou seus supostos enormes paus figurativos e literais, que eles constantemente ostentam. Por quê? Masculinidade tóxica”, explica didaticamente a banda.
INDEPENDÊNCIA É VIDA. O boom de gente criando sons em seu próprio quarto deu origem a uma cena de novos nomes que não precisa mais de um batalhão de produtores e compositores de aluguel para fazer um único single. É o que rola com vários nomes citados aqui, de lá de fora ou do Brasil. E também com gente como Tyler, The Creator, Nilüfer Yanya, a jovem britânica Nia Archives e vários outros. Daqui para a frente, isso talvez seja mais comum. Ou não?
E O OASIS, HEIN? Pode ser que eu esteja enganado, mas prepare-se para a modinha de anos 1990, britpop e grupos sumidos que voltam, que provavelmente vai rolar com força em 2025. O Oasis volta depois de 15 anos de briga entre os irmãos Noel e Liam, vai fazer a turnê mais aguardada do ano, tem dois shows agendados no Morumbi (SP) no fim de novembro, e provavelmente vai ocupar os noticiários. Muita gente que mal ligava para a banda vai passar a gostar, gente que não quis nem ir nos shows de Liam e Noel no Brasil (em 2011 o Beady Eye, banda de Liam, fez show no Circo Voador, aqui no Rio!) vai se declarar fã incondicional, histórias dos shows da banda por aqui serão resgatadas. Para quem estava lá, nos anos 1990, resta ou ir aos shows ou escutar discos como Be here now em altíssimo volume. E vave citar que nos dias 7 e 8 de junho tem ninguém menos que Richard Ashcroft, ex-The Verve e amigão dos irmãos Gallagher, fazendo show solo no auditório Ibirapuera, em São Paulo.
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Lançamentos
Radar: dez sons que chegaram até a gente pelo Groover #3
O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais dez nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça.
NAIVE MEN LEADING THE BLIND. São os da foto acima. Basicamente o som dessa banda-dupla de Estocolmo, Suécia, é punk e power pop com boas melodias e volume no talo. Martin Korpi e Niclas Jonsson, criadores do grupo, chegaram até a tocar em bandas de ska-punk no passado, e eram integrantes de grupos que estavam em hiato. “Mas ambos percebemos que tínhamos passado muito tempo nos concentrando em questões menos importantes da vida e decidimos começar a tocar música e gravar juntos novamente”, contam no Groover. Tem um EP vindo aí, e por enquanto, há apenas um single, daqueles para ouvir no último volume.
Ouça: Lover’s tune.
SERGIO GAETANI. A ideia desse músico norte-americano descendente de italianos é bem interessante: e se uma banda tipo Flaming Lips resolvesse criar uma trilha de western spaghetti, com toda aquela ambiência típica? Em busca disso, lá se foi ele montar o álbum The west that never was, uma peça psicodélica de faroeste que tem influências até de The Doors, e que conta “a história de amor, perda, vingança, assassinato e empatia da vida de alguém consumido por um único objetivo: matar o bastardo que assassinou o único amor verdadeiro do nosso herói”.
Ouça: Time from my mind.
MANICBURG. A mistura sonora dessa banda de Nova York é bastante curiosa: o Manicburg une pós-punk e influências dos anos 1960 (psicodelia) e 1970 (o punk de sua própria cidade). O resultado é que o som de músicas como All together now soam como um desdobre punk da música de bandas como Jefferson Airplane, e One for you and one for me parecem referenciadas em bandas como King Crimson e Japan, simultaneamente. O primeiro álbum, epônimo, chegou às plataformas no dia 25 de outubro.
Ouça: All together now.
ABSENTHYA. Essa banda, ou melhor, essa dupla da Itália faz basicamente drone metal – com tendências a soar meio progressivo em alguns momentos, e bem próximo do stoner rock em outros. Até o momento já lançaram dois EPs dedicados a uma sonoridade bastante desértica e fantasmagórica, com faixas extensas, riffs que vão surgindo devagar e ganhando peso, e outras características. O som também tem lá seus lados eletrônicos, com programações, inclusive de bateria.
Ouça: Killer II (part 2).
MOSQUITO CONTROL MUSIC. Trata-se de um projeto novo criado por dois antigos amigos, a partir de recordações de uma época de ouro para eles. “Fazemos heavy dance rock inspirados nas casas noturnas dos anos 1980, quando os toca-discos eram o rei! No sul da Louisiana, o lugar para estar era The Kingfish e o vinil tocado por DJs!”, contam no Groover. Tim Ganard e Bruce Bouillet, produtores, se conheceram nessa época, montaram vários projetos juntos e, em 2023, se reconectaram.
Ouça: The pendulum.
APE BUCKET. Como tem se tornado bastante comum ultimamente, essa banda é um projeto de um cara só – no caso, o músico libanês (radicado na Califórnia) Charbel Saikali. O Ape Bucket seguiu 2024 lançando singles, encerrando com Made up my mind e It is what it is, duas canções com proximidade de bandas como The Clash, Stranglers e Gang Of Four, além do indie rock novaiorquino dos anos 2000. “Eu queria que Made up my mind capturasse vários aspectos de encontrar alguém especial, particularmente o impacto do contato visual e a carga que pulsa em nosso sistema nervoso por causa de uma conexão. É sobre o quanto podemos nos comunicar apenas com um olhar”, conta Charbel, também influenciado pela psicodelia dos anos 1960.
Ouça: It is what it is.
DAMNDEST. Essa dupla de Boston faz uma mescla de new wave, post-rock e som deprê no estilo do The Cure – com vocais graves, batidas secas e melodias flutuantes, com poucos acordes. Shimmer, uma de suas músicas novas, mistura – segundo eles próprios – lados dark e experimentais de bandas como Mogwai e Radiohead. A canção inicia bem simples e vai ganhando uma névoa de guitarras e ruídos na sequência. A faixa já ganhou um clipe.
Ouça: Shimmer.
FUEGO EN CAIRO. Uma banda pós-punk da Espanha que tem em seu som (diz o release deles) “elementos de folk, shoegaze, psicodelia, synth-pop dançante e chamber pop”. Quiero ver quiero ver, single de Stiv (voz e guitarra), Ixi Millas (voz), Javier Montenegro (bateria), Marcelo Castro (guitarra) e Manuel Muñoz (baixo) está mais próximo de um power pop pesado e ágil, com bateria frenética. É uma demonstração do álbum do grupo, que sai em meados do ano.
Ouça: Quiero ver, quiero ver.
LOUP MIRACLE. Vindo da França, esse projeto criado por um músico chamado Vincent Leservoisier é basicamente de ambient eletrônico bastante intenso, com guitarras pesadas e clima distorcido e nublado lá pela metade do novo single, Drive me home. A música veio até Vincent num momento bastante delicado, quando ele havia acabado de perder sua mãe e estava em turnê com uma banda. A faixa está no EP Back to you, que sai em breve.
Ouça: Drive me home.
PLANET OF GHOSTS. Bom nome, o dessa banda (“planeta dos fantasmas”). Na verdade o Planet of Ghosts é uma dupla de Ohio (Estados Unidos), formada por Kasey Ward e Adam Kure, e que tem os anos 1980 na cabeça na hora de compor – mas o lado invernal dos anos 1980, com influências de Echo and The Bunnymen, Teardrop Exlodes, The Sound e outras bandas. “Nós crescemos em uma pequena cidade de Ohio, então não importa o quão bons fôssemos, não havia público. Então, quando ouvimos música em nossas vidas pessoais, tendemos a nos identificar com bandas e artistas que são mais obscuros”, contam.
Ouça: Electric blood.
Entrevista
Entrevista: Quântico Romance, banda de rock gótico do Rio, prepara disco para breve
No Rio de Janeiro, com todo aquele sol e calor, tem uma turma bem numerosa que curte som gótico, synth pop e pós-punk em geral. É uma galera animada que lota festas como a College, no clube Vizinha 123, ou as noitadas dedicadas ao som que rolam no Garage (pico roqueiro clássico que voltou), e que não mede esforços para acompanhar as bandas achegadas ao estilo que vêm tocar no Brasil – shows de The Cure, The Mission e Lebanon Hanover, que rolaram nos últimos tempos, deixaram a turma feliz. Essa cena é fomentada por iniciativas como a do selo carioca Paranoia Musique, que lança bandas como Griza Nokto e o Quântico Romance.
O Quântico Romance lançou clipe e single ano passado (o vídeo de Reprise foi gravado e lançado numa sala de cinema, e transformado em curta metragem ao lado do clipe de Redenção) e está na preparação de um álbum para breve. “A previsão é de sair em abril ou maio, ainda sem título definido, porém muito provavelmente será homônimo de alguma faixa”, conta Karlos Milton Junior (vocal, synths), que divide a banda com Nilton Jardim Junior (guitarras) e Bruno Dorian (bateria eletrônica)
Batemos um papo em duas etapas com dois integrantes do grupo (Karlos e Bruno) e soubemos de algumas novidades. Também conversamos sobre influências cinematográficas na música do grupo, e sobre o sucesso que o The Cure anda fazendo.
Como foi fazer o clipe da música a música Reprise num cinema, e como surgiu essa ideia?
Karlos Junior: Isso aconteceu desde a concepção dela, até porque tem a questão muito forte do refrão, que fala de “reprise, a história desse filme já passou…” O insight que veio na minha cabeça é que essa música conversava com uma história de cinema, só que uma coisa meio “cinemão pipoca”, aquela coisa bem anos 1980 de ir ao cinema e curtir uma comédia, uma coisa de sci-fi, terror… sempre com aquela pegada adolescente.
À medida que a gente foi fazendo a música, a ideia foi crescendo. Fui o idealizador e compositor da música, daí bati o martelo e falei que a melhor vibe para fazer o clipe da faixa seria a gente fazer tudo dentro de um cinema. E a gente simulou um pouco da história. Foi tudo sendo desenvolvido a partir desse insight. A própria música influenciou o audiovisual.
(confira abaixo os clipes de Reprise e Redenção, do Quântico Romance)
Tem filmes que influenciam a estética do Quântico Romance?
Karlos: Tem, e de todas as épocas! Mas no caso do Quântico Romance diria que foram os filmes dos anos 1980 para cá. Mad max, por exemplo…
Bruno: Fuga de Los Angeles, Fuga de Nova York, tanta fuga, né? Filmes da ficção científica ao pós-apocalíptico. A gente retrata isso através da estética, do figurino, de todo o conjunto da obra. A Quântico Romance navega por todas essas vertentes das atmosferas pós-apocalípticas, tendo ao mesmo tempo um ar de tecnologia avançada e futurismo, dentro do próprio cyberpunk e de vertentes como nanopunk e biopunk. Navegamos na cultura pop nessa combinação de futurismo e ficção científica. E também há influência de grandes escritores. Eu citaria o Wilson Rocha, um brasileiro que é autor de Os passageiros do futuro…
Karlos: O Quântico Romance tem um diálogo grande, em termos de cinema, com a cena gótica nacional. Ficção científica, que a gente adora, puxa pro gótico. Também citaria a trilogia Matrix. Eles têm um visual mais para o gótico, as roupas pretas… Aliás existe um visual que eu queria muito fazer para a banda, só que para isso, a gente vai ter que correr atrás de recursos. Eu gosto do visual do Tron, especialmente do Tron Legacy. Se a gente conseguir fazer uma indumentária em neon… acho que super casa com a gente. Temos muita referência dessa coisa meio de fantasia, essa coisa extravagante da ficção científica.
Bruno: Já existem megacidades e metrópoles futuristas no mundo. Você pode observar isso em alguns países asiáticos. O próprio Rio de Janeiro e São Paulo já têm algumas construções nessa vertente. Prédios gigantescos com trabalhos de luz neon, esquinas iluminadas… Já temos a oportunidade de ver isso acontecendo.
Karlos: Painéis de LED…
Bruno: Exatamente. Estamos vivendo o cyberpunk. É como viver na prática o que foi retratado na ficção científica, nos filmes sobre futurismo, nas ideias dos visionários do passado. A gente pode citar grandes nomes, como Nikola Tesla.
Karlos: É uma mistura de tudo. Mas, pra mim, o mais marcante é a influência dos anos 80: aquela vibe de Blade Runner, Mad Max. Depois, nos anos 90 e 2000, tem Matrix. E minha ideia é criar uma variante do Tron que seja bem legal.
Bruno: São as vertentes da distopia, né? Matrix falou, no passado, sobre o nosso presente e futuro. Estamos vivendo isso: as altas tecnologias na web, o advento da internet… Enfim, dá pra perceber isso até nas produções musicais do mundo. A tecnologia está em todo lugar. Nós mesmos, no Quântico Romance, usamos o sistema de home computer music.
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Como foi a produção da nova música, aliás?
Karlos: Reprise era uma música que estava na gaveta. A gente trabalhou nela lá por 2005, 2006. Fizemos os rascunhos na época, mas era com outra banda. Depois, tudo terminou. Eu segui outros caminhos, fui fazer faculdade, deixei a música de lado por um tempo. Quando voltei, compus músicas novas com meus amigos e comecei a revisitar materiais antigos que estavam guardados, procurando algo interessante dentro do synth pop e do pós-punk que valesse a pena retrabalhar. Reprise estava lá, esperando o momento certo para ser desenvolvida.
O que eu precisei fazer de 2006 até agora foi dar uma revisão na letra dela. Também comecei a trabalhar no arranjo, analisando os efeitos, vendo se as guitarras estavam interessantes. Fui adicionando novos elementos, colocando outros efeitos, fazendo novas mixagens… Essa música teve uma jornada de criação até bem longa. Se a gente parar pra pensar, de 2005 ou 2006 até 2024, são quase 20 anos.
Mas acho que isso é algo típico de músicos. Às vezes, você cria algo hoje e só desperta para aquilo depois de um tempo. De repente, começa a achar interessante, começa a considerar válido. Vai muito do momento, da criação. Quando revisei o material, achei que era o momento certo para lançar.
Pra gente, foi interessante lançar esse trabalho agora porque temos acompanhado bastante o cenário alternativo de música. Sabemos que a cena gótica já é algo mais estabelecido, mas percebemos uma cena crescente do synthwave e do retrowave. Por acaso, tive o insight de criar uma música que dialogasse com essa estética. É uma cena que já tem festas recorrentes em alguns lugares do Brasil. Existe um público interessado, mesmo que os artistas ainda não sejam tão conhecidos — eles não são totalmente desconhecidos também. Acho que seria interessante explorar essa estética com apelo aos anos 80. A própria linguagem da música tem essa pegada retrô, e trazer isso pro momento atual da música no Brasil foi uma ideia que casou muito bem. E aí foi legal desenvolver essa concepção.
E teve um lançamento do clipe num cinema para convidados, também, não foi?
Karlos: Sim! A gente queria evocar aquele clima de cinema dos anos 1980. Então, tomei a dianteira da produção, contratei o Cine Joia, fiz os contatos, e acabamos montando uma história com a estética de um thriller dos anos 80. Chamei alguns amigos para interpretar os personagens. É cheio de clichês, mas o diretor abraçou a ideia completamente. Tivemos duas locações principais: uma no cinema, onde a banda aparece assistindo ao filme – com aquela metalinguagem, já que eles também protagonizam o mesmo filme. A outra locação foi no Estúdio Casa de Alice, no Méier. É uma casa de verdade, com dois andares, quarto, cama, jardim… Tem um monte de coisas legais lá. Usamos esse espaço para gravar o restante da história, especialmente as cenas de perseguição.
Tudo isso pode ser visto no curta que acompanha a primeira música e no clipe da segunda música. Foi uma produção cara, especialmente para uma banda underground como a nossa. Não estamos acostumados a fazer algo nessa escala, então tivemos que juntar uma boa quantia de dinheiro pra viabilizar tudo: locação, maquiagem, figurino, maquiagem especial para todos, e, claro, os próprios custos das gravações.
Foi muito caro?
Karlos: Em termos de valor, diria que gastamos algo em torno de dez mil reais, por alto. Não faço ideia de como as bandas amigas da cena — seja do Rio, de São Paulo ou de outros lugares — financiam seus vídeos ou quanto gastam. Às vezes, elas fazem um financiamento coletivo.
No nosso caso, usamos apenas os nossos próprios recursos. Foi caro porque não estamos acostumados a arcar com esse tipo de custo. Mas conseguimos entrar em acordos com todo mundo e parcelar as coisas. Fizemos tudo devagar, tanto que o processo foi esticado: gravamos em maio, junho e setembro. É um custo de investimento que acho interessante para as bandas que conseguem bancar. Se não puderem, tudo bem também. O pensamento tem que ser: “A gente faz o melhor com o que tem.” Se puder fazer algo maior, ótimo; se não, faz o melhor possível com os recursos disponíveis.
Fale mais de como foi a produção do clipe, de quanto demorou…
Karlos: Essa produção levou o ano inteiro, porque gravamos por etapas. A primeira gravação foi marcada para maio, a segunda foi… Se não me engano, foi em agosto. E a terceira etapa conseguimos fazer entre agosto e setembro. Fizemos uma gravação em um estúdio fechado no bairro do Méier, além de já termos gravado algo no Cine Joia. Conversando com o diretor, tivemos essa ideia juntos.
A proposta era fazer um clipe, mas achamos interessante contar uma história que tivesse cara de um curta-metragem. Como precisávamos de mais material, pegamos as músicas Redenção e Reprise e conectamos as duas. Assim, contamos uma história que começa com uma música e vai até a outra.
Aproveitando o insight de gravar no cinema, conversamos com o Bruno, do Cine Joia, e desenvolvemos o conceito. A ideia era criar uma sessão de cinema especial: exibimos o curta e depois mostramos os clipes separados. O sentimento foi de inovação, algo inédito. Até agora, não vi nenhuma banda fazendo uma iniciativa assim. Quisemos trazer algo diferente, algo novo, e isso nos motivou bastante. E como tudo foi feito no Cine Joia, pedimos uma data para realizar uma exibição lá. O resultado foi um evento especial para amigos e fãs, algo que ficou muito marcante para todos.
Como vocês, que são dedicados ao pós-punk, a sons eletrônicos e a uma estética mais melancólica, viram o sucesso do disco novo do The Cure?
Karlos: Eu parei para escutar esse disco uma vez, mas não consegui me aprofundar muito. A gente até se dedica a fazer isso de vez em quando, ouvir discos com mais atenção para ter uma experiência completa. Sobre o sucesso do The Cure, eu diria que já era esperado. É uma banda consagrada, com milhões de fãs ao redor do mundo, e que atrai muita curiosidade, inclusive de pessoas que não fazem parte do fandom deles.
O The Cure tem esse poder de atrair um público novo, uma juventude que começa a descobrir a história da banda, se encanta e acaba absorvendo tudo isso. Acho que o sucesso desse disco é positivo, porque, pelo que escutei, ele não tenta ser comercial. O Robert Smith conseguiu colocar o coração dele nas composições e escrever o que de fato queria.
Isso é algo interessante de se discutir. A música dita “mainstream”, toda vez que eu escuto, parece um pouco plastificada, muito igual. Hoje em dia, temos fórmulas, algoritmos, até inteligência artificial sendo usados para criar música. Isso faz com que a música deixe de ser algo inventivo, inovador, por conta das demandas do público.
A humanidade está muito acelerada e estressada; é uma crise do nosso tempo, e a música acaba refletindo isso. Vi alguém comentando na internet que hoje as músicas têm dois minutos e já entram direto no refrão, sem muita introdução. Antigamente, as músicas tinham introduções mais longas, os versos vinham depois… Hoje, dependendo da audiência, as pessoas nem conseguem esperar 30 ou 40 segundos de introdução.
Isso abre um belo leque de discussões sobre o estado atual da música. Mas, em relação ao The Cure, acho que eles estão perfeitos. Espero que, antes de encerrarem a carreira, ainda deem um pulo por aqui para a gente curtir um pouco mais do trabalho deles.
Tem um álbum inteiro de vocês que já está sendo prometido há algum tempo. Quando sai? O que já tem planejado para 2025?
Karlos: O álbum está 90% pronto. Eu queria que ele tivesse saído este ano, mas como a produção do audiovisual acabou se estendendo um pouco, não consegui agendar o lançamento para novembro ou dezembro. Então, vou precisar sentar com o Diego, do selo Paranoia Musique, e com o pessoal da banda para decidir o melhor momento para lançar em 2025. Ele tem algumas canções inéditas, mas a maioria são novas versões de músicas que já foram lançadas como singles. Acho que essas versões novas são ainda mais interessantes que as originais, então a experiência vai ser muito legal. Minha meta é lançar o álbum pelo menos no primeiro semestre de 2025.
Acredito que nosso público entende essa demora. Pra gente, é um pouco mais difícil manter uma frequência nas produções. Não é como acontece com muitas bandas; nós precisamos trabalhar, juntar recursos e capitalizar, o que nem sempre é algo disponível de imediato. Por isso, às vezes, acabamos adiando as coisas um pouco.
Falem um pouco da ligação do Quântico Romance com o selo Paranoia Musique, que é um caso raríssimo: um selo carioca dedicado a sons góticos, e que ajuda a fomentar uma cena bem legal de darkwave, pós-punk, e sons afins.
Karlos: A relação com o selo é a melhor possível. O criador e presidente do selo é o Diego Oliveira, o Diego Mode. Ele é meu parceiro na Cubus, aliás, foi ele quem idealizou a Cubus, enquanto eu sou o idealizador da Quântico Romance. Quando a gente se conheceu… foi interessante. Nos encontramos em 2003, 2004, em um momento em que ambos começávamos a fazer música por software, principalmente música eletrônica. Desde então, temos feito muitas coisas juntos: shows, festas, eventos.
O Diego tem essa visão de precisar criar algo no sentido de fomentar a cena e unir os artistas. Ele tem essa função e cumpre bem esse objetivo, fazendo a ponte entre os artistas, eventos, casas, produtores e mídias. Ele vai investindo e colocando em evidência as bandas do selo. O foco está em música eletrônica e alternativas, e eu acho que estamos na casa certa, com as pessoas certas.
Além da amizade, que já é longa, temos muito carinho e respeito um pelo outro. As coisas boas que fizemos até agora com o selo são uma conquista coletiva para todo mundo, e tenho certeza de que continuaremos fazendo ainda mais coisas legais no futuro.
Lançamentos
Radar: onze sons que chegaram até a gente pelo Groover #2
O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais onze nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça.
TZUCASA. Nascida em Tókio e criada em Londres, essa artista (cujo nome é uma brincadeira com a expressão “mi casa, tu casa”, misturado com suas raízes japonesas) tem três singles lançados e prepara um álbum chamado 222, inspirado por uma viagem ao Japão em 2024, durante a qual ela descobriu a história de um de seus parentes, Shuu-u Kimura, um policial que virou monge e poeta. Miracle that you’re here, single mais recente, mostra uma espécie de indie soft rock, que tem referências tanto de Pixies e Bjork quanto de Sade.
Ouça: Miracle that you’re here.
VASES. Não é uma banda: é o nome que um músico chamado Ty Baron, morador de Los Angeles, escolheu para o seu projeto, que já tem sete singles lançados e une estilos como industrial, shoegaze e darkwave. Strange mathematics anuncia o EP Pure heat, que está vindo aí. “Essa música fala sobre quando você vê, sem esperança, o fracasso de um relacionamento – tudo por causa de uma pessoa que se destroi e deseja que você possa fazer a dor dela parar”, avisa.
Ouça: Strange mathematics.
VALE CINZA. Do clima calmo de Nova Friburgo (RJ) emerge uma banda de darkwave e pós-punk. “Inspirados pelos vales verdes e cinzentos da região serrana, o grupo captura a essência bucólica, fria e única da cidade em sua música”, contam. O EP epônimo do grupo, para combinar, saiu numa sexta-feira 13 (em dezembro) e tem as faixas Flecha nos olhos, Silêncio e Vale neblina, duas delas produzidas por Dennis Guedes (The Outs).
Ouça: Flecha nos olhos.
THE MC2 PROJECT. Essa banda só tem dois integrantes: Larisa Gorodinski (piano) e Anthony A-man (guitarra). Os não-oficiais Alex Bityutskih e Matt Skellenger colaboram com bateria e baixo, respectivamente. A ideia dos dois é fazer um som que opere entre o metal e o progressivo. O clima do som é a quase ficção científica de bandas como Rush e Dreram Theatre – embora as músicas sejam instrumentais. Larisa e Anthony são também bastante produtivos: de 2022 até agora já foram três álbuns, um por ano.
Ouça: Rising.
STRAIGHT RAZOR. “Uma mistura de synthwave e dark wave com uma batida forte e vocais temperamentais”. Essa definição clínica é dada por Omar Doom, criador do Straight Razor e ator e músico norte-americano de 48 anos – ele interpretou o soldado Omar Ulmer no filme Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino. Também atuou em dois outros filmes do diretor, Death proof e Era uma vez em Hollywood. O primeiro álbum do projeto, Casualty, saiu numa sexta feira 13 (em dezembro).
Ouça: The end.
SWAMP MUSIC PLAYERS. “Somos um coletivo musical retrô futurista apaixonado por swamp rock, swamp blues e cosmic americana”, dizem eles no Groover. Antes que você comece a se perguntar o que significa esse último estilo musical, vale informar que o som dos Swamp Music Players parece um sonho que Neil Young teve na época do malucaço disco Trans (1983), aquele álbum que unia eletrônica, new wave, vanguarda e folk–rock (!). As músicas têm andamentos tortos, influências de blues e country e vocais distorcidos. Nuclear bogeyman, um dos singles mais recentes, fala de uma espécie de “homem do saco” da guerra nuclear.
Ouça: Nuclear bogeyman, claro.
MAGIC ROOM ECHOES. Vamos deixar essa banda do Colorado, Estados Unidos, explicar o próprio som. “Nosso álbum Kingdoms é muito experimental, mas acessível. Nero foi a última música que escrevemos e gravamos. Sua vibe é bem tranquila e há influências muito fortes de dream pop e shoegaze. Você também notará toques de psicodélico, lo-fi e space rock”. Kingdoms, que ganhou também uma simpática edição em vinil, tem outras músicas tão legais e pesadas quanto essa, como New world vulture, Across hare e Feeding snakes, numa onda musical-lírica que une shoegaze e magia.
Ouça: Nero.
DUSTY LUCITE. O som dessa banda de Portland, Estados Unidos, é uma psicodelia relaxante, lembrando um pouco grupos como Pink Floyd, mas com um certo toque de pós-punk em arranjos e andamentos musicais. The rate of change of the rate of change, single mais recente, é uma espécie de valsa neopsicodélica cuja letra fala de temas muito importantes. “A letra é sobre o incômodo desconforto sentido por um mundo onde as emergências climáticas estão aumentando, e os gritos literais dos cientistas do clima estão sendo amplamente ignorados. O clipe revela alguns dos impactos devastadores que as mudanças climáticas infligiram ao mundo ao longo do verão de 2024”, contam no Groover. Overdose de lucidez, enfim.
Ouça: The rate of change of the rate of change.
DIMA ZOUCHINSKI. Se você procurava por um som de rock de garagem cantado por um vocalista que lembra uma mistura de Lemmy Kilmister (Motörhead) , John Lydon (PiL) e Ian Dury, seus problemas acabaram. O britânico Dima, que lançou em agosto o álbum Later fate, é bem próximo disso aí. Ele diz ser um compositor bem produtivo: “escrevo músicas desde os 15 anos, tenho mais de cem composições e praticamente escrevo músicas a cada quinze dias desde então”, afirma no Groover.
Ouça: Drug dealer.
INDIE DOG. O som desse quarteto de Johannesburgo, África do Sul, é basicamente rock clássico com uma certa aparência adulta-contemporânea (um “mix de rock, blues, funk e folk”, como se definem). O grupo começou em 2018 e já gravou dois álbuns (Theory of emotion, o mais recente, saiu em 2023), além de mais dois singles em 2024.
Ouça: Nothing but day.
HAGA187. O som dessa one man band francesa é bem estranho: Peter dos Santos, único integrante do grupo, compõe tudo a partir de linhas de baixo intermitentes, e vai inserindo ruídos, alguns barulhos de guitarra e vocais sempre em tons graves, às vezes lembrando um Serge Gainsbourg bem louco. Todos os álbuns do Haga187 tem a mesma capa, com algumas (poucas) variações – em dezembro saíram Don’t worry I’m only psychotic e A clockwork for breakfast, repletos de uma psicodelia pós-punk (musicalmente, o som de Peter localiza-se entre Wire, Suicide e PiL).
Ouça: Alice follows the rabbit (into a new world).
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