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POP FANTASMA apresenta Black Pantera, “Capítulo negro”

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POP FANTASMA apresenta Black Pantera, "Capítulo negro"

No Dia da Consciência Negra, Charles Gama (guitarra e voz), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo Pancho (bateria), integrantes do Black Pantera, acordaram na maior disposição por causa do lançamento de seu novo EP, o conceitual Capítulo negro, que aconteceria naquele dia. Mas o trio, logo pela manhã, resolveu dar uma conferida na televisão e viu as cenas da morte de João Alberto Freitas, num Carrefour de Porto Alegre (RS), acontecidas um dia antes.

Por uma triste coincidência, as três canções regravadas pelo Black Pantera no disco – o samba Identidade, de Jorge Aragão, Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, do Rappa, e A carne, dos repertórios de Elza Soares e Farofa Carioca – acabaram ganhando novo significado na data. Ainda mais vertidas para o idioma hardcore-metal da banda de Uberaba (MG). “A gente estava alegre com o lançamento. Esse acontecimento pegou a gente de calça arriada”, conta Charles, frisando que esse racismo que todo mundo viu na TV é o do dia a dia.

“A violência contra o povo preto é diária. A cada segundo está acontecendo uma coisa horrível. Hoje pelo menos as coisas viralizam, as pessoas documentam, porque antigamente acontecia tudo em silêncio. Mas ninguém tinha discernimento porque o jornal não noticiava”, afirma ele. Aliás, com o EP do Black Pantera ainda chegando devagarzinho nas playlists dos fãs, ele viu muita gente postar no mesmo dia A carne nas redes sociais, nas versões disponíveis. “Não apoiamos vandalismo, violência, quebra-quebra, mas fica complicado controlar isso, porque todo dia um preto no Brasil é sacaneado. Isso dói”.

ABRE O OLHO, MOURÃO

No mesmo dia, o vice-presidente Hamilton Mourão fez o favor de meter mais lenha na fogueira, dizendo que “no Brasil não existe racismo”. Frase lamentável, que não passou despercebida ao trio. E o que se diz a uma pessoa que está no cargo do Mourão e que fala um negócio desses?

“A opinião dele é a mesma de um grupo de pessoas que prefere tampar os ouvidos para o que está acontecendo no Brasil. O Mourão tem seu adendo de cor, não é um homem genuinamente branco. O Brasil é um país racista sim, as pessoas falam que o negro é mimizento. A palavra ‘mimimi’ tinha que ser banida, a gente tem que entender a dor do outro para poder falar. A cada dia acontece uma notícia estranha como a do João Alberto, e o presidente deveria dar suporte ao povo”, lamenta Charles, que tem vontade de bater um papinho com o vice-presidente para mostrar algumas coisas para ele.

“Não sei o que o Mourão assiste na TV, deve ser um homem muito ocupado. Mas a gente gostaria de conversar com ele com calma, mostrar uns vídeos para ele e perguntar se o que ele está vendo é racismo ou não. E pela quantidade de raças do Brasil, não deveria acontecer o que acontece aqui. Ele deveria abrir o olho”, conta.

GEORGE FLOYD

Em junho, a banda lançou um single em inglês, I can’t breathe, lembrando do assassinato do afro-americano George Floyd por policiais em Minneapolis (EUA). Tanto a canção quanto o clipe saíram na mesma semana da morte, época em que a frase “não consigo respirar” (dita por Floyd antes de ser asfixiado pelos policiais) virou meme.

“A música teve uma repercussão muito boa no Brasil, Austrália, Inglaterra, Portugal. Mas a gente não deveria precisar fazer esse tipo de música, porque não deveria haver pessoas morrendo por conta do racismo. Daria para fazer quase uma música por dia sobre essa merda de racismo”, lamenta o baterista Rodrigo Pancho.

YUKA

Capítulo negro tem duas canções que contam com Marcelo Yuka como co-autor. A carne é parceria dele com Seu Jorge e Ulysses Cappeletti. Todo camburão foi composta por ele e pela formação do Rappa na época (Falcão, Marcelo Lobatto, Nelson Meirelles e Xandão).

“Yuka é uma inspiração muito grande para a gente, um monstro das letras e das composições”, conta Charles. O compositor abordou temas como racismo e violência urbana. Aliás, foi ele mesmo vítima de violência policial, ao levar nove tiros durante um assalto, em 9 de novembro de 2000. E Marcelo Yuka faz parte do conjunto de referências dos três rapazes do grupo.

“O Rappa apareceu com letras maravilhosas falando sobre o cotidiano difícil. Ele mostrava como os fatos eram. É a forma que o Black Pantera trabalha. Yuka é uma inspiração muito grande para a gente. Ele faz muita falta hoje em dia. A gente quando liga o rádio sente falta disso, sem querer desfazer do que toca no rádio hoje”, afirma Charles.

JORGE ARAGÃO

O samba deu em hardcore em Capítulo negro. Identidade, canção abertamente antirracista do sambista Jorge Aragão (“elevador é quase um templo/exemplo pra minar teu sono/sai desse compromisso/não vai no de serviço/se o social tem dono, não vai”, diz a letra), surge no disco em clima afropunk.

“Fui eu quem trouxe a música para a banda”, conta o baterista Rodrigo Pancho. “Eu tocava samba quando era mais novo e gostava muito dessa música. Sempre achei essa música muito forte, com uma mensagem forte. Nunca imaginei tocá-la com uma banda de rock. Quando começamos a fazer A carne, já imaginamos que seria perfeito fazer uma releitura dela. Seria perfeito para o discurso que a banda tem”.

A banda não chegou a falar com o autor sobre a versão. “Espero que ele tenha ouvido, foi feita com muito respeito à obra dele. Quem sabe um dia a gente não faz junto ao vivo”, conta.

TRÊS CLIPES

O EP novo nasceu da ideia de manter a banda ocupada enquanto não podiam entrar em estúdio – o Black Pantera já estava preparado para ir ao Rio gravar o novo álbum, mas com a pandemia, não puderam sair de Minas Gerais. “Ficamos aguardando, mas foram passando dias, semanas, meses. O Charles trouxe A carne para o repertório, e tivemos a ideia de pegar mais três músicas com a mesma temática. Dei a ideia pro Rafa (Rafael Ramos, da Deck, gravadora do trio) e ele topou na hora”, conta Pancho.

Capítulo negro é um álbum visual: cada canção ganhou um clipe. Ou melhor: os clipes fazem parte de uma unidade em três atos, começando com Identidade, indo para Todo camburão tem um pouco de navio negreiro e fechando com A carne. “O tema é o racismo estrutural que vivemos na sociedade”, conta o baterista. O EP não deve virar um álbum, mas até o fim do primeiro semestre de 2021 vem o novo disco da banda – já gravado.

A carreira internacional da banda deu uma parada por causa da pandemia. “Neste ano, era para a gente ter feito turnê em Portugal, a gente ia passar por três cidades e a principal seria Lisboa, numa feira internacional de música. Mas foi tudo cancelado por causa da pandemia. Mas temos feito contato com produtores e festivais e com certeza quando acabar a pandemia vamos lá para fora. EUA e Europa estão nos planos, quem sabe Japão”, diz Pancho.

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Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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