Crítica
Ouvimos: Teto Preto, “Fala”

- Fala é o segundo álbum do grupo paulistano Teto Preto, que também comemora 10 anos do grupo. Na formação CARNEOSSO (Laura Diaz, voz e performance), Entropia (Matheus Câmara, guitarra e eletrônicos) e Sarine (Marian Sarine, percussão e baixos).
- O grupo define o título do álbum como “fala: a primeira arma da humanidade. O negativo do ‘FALO’ que engole espadas”.
- O álbum tem participações de Getúlio Abelha, Jup do Bairro, Saskia e Thiago França, além de um remix do single Te colocar no teu lugar, feito por Clementaum e RKills.
Fala, disco novo do Teto Preto, é música pop, é eletrônico, dançante, até próximo de uma MPB adulta e sofisticada em vários momentos – mas é igualmente um disco cheio de raiva. Essa raiva aparece nas batidas pesadas, nos vocais ríspidos e nas letras, repletas de frases que parecem bem mais típicas do rap do que de outros estilos musicais.
Em termos de máximas espalhadas por Fala, os flashes estouram na cara do ouvinte: “eu nunca ganhei dinheiro com limite”, “a tua grana não compra o que eu sei”, “a chave em que eu opero/não é coincidência/a vida que me espera/transpira violência”, “a cor que eu mais gosto no mundo é a cor do inimigo”, “sou dos males o maior, o abismo permanente”, “eu gostava de você, mas gosto muito mais de mim”.
O álbum começa a mostrar sua vocação pop-a-perder-de-vista na terceira faixa, o synth pop Para sempre vou te amar, com programação rítmica herdada do hi-NRG de I feel love, de Donna Summer, e percussões quase disco. A abertura com A tua onda e Fala trazem peso, vários segmentos musicais, passagens bem pesadas e brasa espalhada para a opressão do dia a dia. O disco ganha um ar meio hip hop, meio reggaeton, em Sem vergonha, com participação de Getúlio Abelha. O mesmo clima, com ares de funk carioca for export, é evocado em Te colocar no teu lugar (que traz Jup do Bairro dividindo vocais).
Poesia crua e tristezas militares (somadas a referências assumidas de Portishead e Yoko Ono) aparecem no blues A cor do inimigo, marcadíssimo pelas guitarras de Entropia, e pelos vocais ágeis de CARNEOSSO. Queda pro alto relembra, entre micropontos de samba, house music, rock eletrônico e relatos do underground, o livro A queda para o alto, do autor trans Anderson Herzer, padroeiro do álbum. E Fala se dá melhor ainda quando o Teto Preto cai de vez no eletrorock com batidão, em Give my money back – quase uma disco music punk, reclamando de calotes e desonestidades em geral, em inglês.
Nota: 8,5
Gravadora: MAMBArec
Lançamento: 31 de outubro de 2024.
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Crítica
Ouvimos: Finn Wolfhard – “Happy birthday”

RESENHA: Finn Wolfhard estreia solo com lo-fi torto, entre Lemon Twigs e Weatherday, misturando barulho, charme retrô e zoeira pop.
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Finn Wolfhard, o Mike Wheeler da série Stranger things, faz – quem diria – música do mesmo mundo invertido do qual seu personagem é frequentador. Seu primeiro disco solo, Happy birthday, é lo-fi purinho, e tem mais cara de mixtape do que de álbum. O volume de experimentações por faixa determina a colocação de Happy birthday numa esquina entre a beleza 60’s 70’s dos Lemon Twigs e a zoeira de estúdio do Weatherday. A faixa-título abre o álbum entre ruídos na abertura e um clima Beach Boys fake, seguida pelo power pop de boas guitarras de Choose the latter, e pelos sons de transmissão que surgem no bubblegum Eat.
Finn contenta-se em soar verdadeiramente mais pop em Objection, balada que lembra bandas como Rapsberries e Badfinger. Mas Happy birthday aposta suas fichas também no slacker rock de Trailers after dark, na grungeira de Crown e em pelo menos três faixas – Everytown there’s a darling, You e Wait – tão grudentas quanto indies, lembrando as produções da gravadora K Records. Provável que os próximos discos de Finn já tragam um equilíbrio maior entre barulho e beleza – depende dele.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Night Shift/AWAL
Lançamento: 6 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Esteves Sem Metafisica – “de.bu.te.”

RESENHA: Projeto da escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, o Esteves Sem Metafísica estreia com um belo disco de art rock, folk e ecos de Beatles, Stereolab e Bowie.
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Com nome tirado de um verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é o projeto musical da escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca. de.bu.te, primeiro álbum, faz lembrar às vezes vozes pouco lembradas, como as de Catherine Ribeiro – e tem uma referência enorme da fase final dos Beatles, em vários momentos. No geral, é um disco de art rock, com vocais que surgem como vento e peças sonoras delicadas, como Proposição, a folk e elaboreada Sóbria (que chega a lembrar Stereolab) e o jazz pop Dar-me de volta e Tenta, que unem noção musical beatle, soins franceses e música popular de Portugal.
Sons que vão encontrando seu próprio ritmo aparecem nos vocais de Não sei ter-te e na vibração celestial de Balada da debutante (que evoca David Bowie). Redenção abre com vocais bem cuidados e ritmo cigano, e ganha tom quase progressivo depois. No final, Montanha isolada vem quase silenciosa, com beleza folk e orquestral, e letra introspectiva. Uma estreia muito bonita.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: FlorCaveira
Lançamento: 20 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Diego Assuf – “Zunindo a gruta da hibernação”

RESENHA: Ritualístico e psicodélico, o solo de estreia de Diego Assuf mistura folk, MPB, sons mântricos e surrealismo à la Manduka, Lennon e Gismonti.
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O carioca Diego Assuf deixa claro qual é a dele logo no começo de seu primeiro disco solo, Zunindo a gruta da hibernação: sons ritualísticos, referências da psicodelia nordestina e de toda uma onda mântrica de voz e violão que muita gente fiicou conhecendo na era dos blogs de MP3 e do Rapidshare (lembra?). Nomes como Manduka – referência assumida, por sinal -, Hawkwind, Paulo Diniz e Paulo Bagunça, além da banda do disco-jogo Persona, emanam da sonoridade do disco.
Esse tom ritualístico surge logo nos dez minutos da faixa-título – que abre o álbum unindo sons acústicos de poucas notas, ruídos de mata e uma vibe lembrando os momentos calmos do King Crimson. Prossegue na música das matas de Hey searcher e invade também músicas como Chautauqua da nova vida (que lembra os voos instrumentais de Beto Guedes), o folk andino + samba montanhês de Se arrastando e o retropicalismo de Meu amigo Mario Carte.
Entre letras libertárias e alguns instrumentais, Zunindo é também o disco do blues folk Navio zen e da pianística Fim do meu ouvido, desconcertante a ponto de lembrar John Lennon, Arnaldo Baptista e Egberto Gismonti juntos nas teclas. Duas curiosidades no álbum: Hollywood, supostamente gravada ao vivo, traz Diego errando de propósito, tendo “brancos” no palco, e ganhando vaias e gritos de “toca Raul!”. E o forró psicodélico O meu sapato, com diálogos sampleados da pornochanchada sanguinária O cafetão, de Francisco Cavalcanti (1982). O tipo de disco que, se tivesse saído por um selo pequeno em 1971, teria virado raridade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Paraíso Perdido
Lançamento: 4 de janeiro de 2025
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