Crítica
Ouvimos: Apeles, “Estasis”

- Estasis é o terceiro álbum do Apeles, projeto musical criado por Eduardo Praça, conhecido por seu trabalho com bandas como Ludovic e Quarto Negro. Dessa vez, as faixas do disco trazem convidados vindos de países como Itália, Coreia do Sul, Reino Unido, Argentina e Grécia – além de brasileiros. Hélio Flanders (Vanguart) divide a direção musical com Eduardo.
- O disco ganhou vários clipes, um para cada faixa, feitos em Super 8, e que foram lançados ao longo de quase um ano. Antes de começar a gravar, foram quatro anos de conversas com cada convidado de cada faixa, para alinhar tudo. “Fomos de amigos a completos desconhecidos”, contou Eduardo ao site Hits Perdidos.
Estasis, terceiro disco do Apeles, poderia fazer parte de alguma zona perdida e underground do synth pop oitentista – colagens sonoras, sons eletrônicos e vocais falados, ou capturados em meio a conversas casuais, acabam compondo uma sonoridade que tem mais cara de experiência musical 360º do que de disco para ser apenas ouvido. Tanto que cada música ganhou seu clipe (em Super 8) e o conceito do álbum é ligado a um clube noturno imaginário. A própria capa do disco já tem um aspecto de portal, de passagem para um universo diferente e repleto de sensações, das mais mágicas às mais depressivas.
Ao contrário dos dois álbuns anteriores do projeto, Eduardo Praça decidiu sair do foco de sua própria banda. Cada faixa tem um convidado diferente (todos de várias partes do mundo) soltando a voz. Como na participação da cantora portuguesa Bernardo na celestial In god’s hands, e do rapper londrino Awate num encontro entre trap e synth pop, Magical/Rational. Ou o italiano Colombre no momento baggy anos 1980 do disco, com Puro (Leviticus 13:1).
Se o Apeles já soava anti-convencional nos discos anteriores, ambos próximos da neo-psicodelia, no novo álbum Eduardo aumenta mais ainda a variedade de estilos – até pela circulação de convidados – e cria canções que soam mais como ambientes sonoros, na linha de LCD Soundsystem, Massive Attack e outros grupos. Estasis promove também encontros entre artistas de origens variadas, como Gustavo Bertoni e YMA na dançante e psicodélica Lábios mentem à distância, ou Hélio Flanders, Jair Naves e a pianista grega Lena Platonos no poema sintetizado Blefe, prova, posse. Resta saber os próximos passos, já que Estasis, diz o próprio Eduardo, fecha uma trilogia.
Nota: 8
Gravadora: Balaclava Records.
Crítica
Ouvimos: Home Is Where – “Hunting season”

RESENHA: No segundo disco, Hunting season, o Home Is Where troca o emo por um alt-country estranho e criativo, misturando Dylan, screamo e folk-punk em faixas imprevisíveis.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O Home Is Where é uma banda emo – mas no segundo disco, Hunting season, eles decidiram que estava na hora de mudar tudo, ou quase tudo. O grupo volta fazendo um alt-country pra lá de esquisito, com referências que vão de Bob Dylan a Flying Burrito Brothers. Sendo que a ideia de Bea McDonald (voz, guitarra) parece inusitada demais para ser explicada em poucas palavras (“um disco que dá para ouvir num churrasco, mas que também dá para chorar”, disse).
Com essa migração sonora pouco usual, o Home Is Where se tornou algo entre Pixies, Sonic Youth, Neil Young e Cameron Winter, com vocal empostado lembrando um som entre Black Francis e Redson (Cólera). Reptile house é pós-punk folk, Migration patterns é blues-noise-rock, Artificial grass tem vibe ligeiramente funkeada e é o tipo de música que uma banda como Arctic Monkeys transformaria num hit – mas é mais esparsa, mais indie, e os vocais chegam perto do screamo.
Hunting season tem poucas coisas que são confusas demais para serem consideradas apenas inovadoras ou experimentais – Bike week, por exemplo, parece uma demo dos Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993). Funcionando em perfeta união, tem o slacker rock country de Black metal mormon, o folk punk de Stand up special e uma balada country nostálgica com vibe ruidosa, a ótima Mechanical bull. Os melhores vocais do álbum estão na balada desolada Everyone won the lotto, enquanto Roll tide, mesmo assustando pela duração enorme (dez minutos!), vale bastante a ouvida.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Wax Bodega
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Satanique Samba Trio – “Cursed brazilian beats Vol. 1” (EP)

RESENHA: Satanique Samba Trio mistura guitarrada, lambada, carimbó e jazz experimental em Cursed brazilian beats Vol. 1
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Como o Brasil insiste em não ouvir o Satanique Samba Trio, vale dizer que a banda brasiliense não é um trio e o som vai bem além do samba – é puramente jazz unido a ritmos brasileiros variados, com ambientação experimental e (só às vezes) sombria. O novo disco é Cursed brazilian beats vol. 1 – que apesar do nome, é o segundo lançamento de uma trilogia (em português: Batidas brasileiras amaldiçoadas).
Dessa vez, a banda caiu para cima de ritmos do Norte, como guitarrada, lambada e carimbó, transformando tudo em música instrumental brasileira ruidosa. O grupo faz lambada de videogame em Lambaphomet, faz som regional punk em Brazilian modulok e Sacrificial lambada, e um carimbó que parece ter sido feito pelos Residents em Azucrins. Já Tainted tropicana, ágil como um tema de telejornal, responde pelo lado “normal” do disco.
A surpresa é a presença, pela primeira vez, de uma música cantada num disco do SST: Aracnotobias tem letra e voz de Negro Leo – talvez por isso, é a faixa do grupo que mais soa próxima dos experimentalismos do selo carioca QTV.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Rebel Up Records
Lançamento: 21 de março de 2025.
Leia também:
-
- Ouvimos: Negro Leo, Rela
- Ouvimos: Residents, Doctor Dark
- Relembrando: The Residents, Meet The Residents (1974)
Crítica
Ouvimos: Mugune – “Lua menor” (EP)

RESENHA: O Mugune faz psicodelia experimental e introspectiva no EP Lua menor, entre Mutantes e King Gizzard.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Trio introspectivo musicalmente vindo da cidade de Torres (RS), o Mugune é uma banda experimental, psicodélica, com design musical esparso e “derretido”. O EP Lua menor abre com a balada psicodélica Capim limão, faixa de silêncios e sons, como se a música viesse lá de longe – teclados vão surgindo quase como um efeito, circulando sobre a música. Duna maior é uma espécie de valsa chill out, com clima fluido sobre o qual aparecem guitarras, baixo e bateria.
A segunda metade do EP surge em clima sessentista, lembrando Mutantes em Lua, e partindo para uma MPB experimental, com algo de dissonante na melodia, em Coração martelo – música em que guitarras e efeitos parecem surgir para confundir o ouvinte, com emanações também de bandas retrô-modernas como King Gizzard & The Lizard Wizard.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 17 de abril de 2025.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?