Notícias
Maurício Barros (Barão Vermelho): solo, finalmente

Isolamento, para Maurício Barros, é palavra de ordem. O tecladista do Barão Vermelho respeitou todos os protocolos da pandemia, ficou em casa e só saiu para o estritamente necessário. Concluiu seu primeiro disco solo, o recém lançado Não tá fácil pra ninguém, à distância, mandando arquivos para o técnico de som mexer.
O músico bateu um papo por telefone com o POP FANTASMA – de máscara, inclusive, já que tinha precisado dar uma saída rápida. Entre protocolos e alguns encontros com os colegas do Barão para acertar a turnê comemorativa de 40 anos do primeiro disco (que começa em 2022), fechou o álbum, repleto de parcerias com nomes como Bruno Levinson, Arnaldo Antunes, Otto (Abra essa porta, uma das melhores), Mauro Santa Cecilia e Bruna Beber.
Maurício também sobe ao palco do Circo Voador no próximo dia 18, mas como integrante do Barão Vermelho, que faz show – tendo na abertura Marcelo Gross (Cachorro Grande). Turnê do disco solo não deve rolar por enquanto. O resto ele mesmo te conta.
Como você resolveu lançar um disco solo? Acho que dos Barões só você e o Peninha (percussionista do grupo, morto em 2016) não tinham disco solo…
Pois é, o Peninha acho que até tinha um, não sei se foi comercializado… Tinha o Gungala, a banda dele. O disco começou, na verdade, a ser rascunhado há bastante tempo. Aos poucos comecei a fazer repertório, a gravar, mas algumas coisas que gravei há bastante tempo. Eu não me concentrei direito quando começou a pandemia, fui deixando de lado. A gravação foi nos últimos anos, estava encaminhado, mas parei para me concentrar no Barão Vermelho (o retorno da banda, com Rodrigo Suricato nos vocais). Fiz aulas de canto, mas isso veio de um desejo de cantar que eu tinha desde o Buana 4 (banda que Maurício teve após sair do Barão no fim dos anos 1980) e da Midnight Blues Band.
Eu cheguei a lançar um single solo, Horizonte perdido (em 2007), fiz até alguns shows nessa época, justamente para ter essa preparação. Fiz fono, tive preocupações, procedimentos para melhorar a voz. Uma coisa que eu posso dizer é que minha carreira solo foi iniciada tardiamente, mas é ativa. Posso a qualquer momento botar música no streaming, vai ficar paralelo com o Barão.
O disco está cheio de parcerias. Como surgiram?
Eu tenho mais facilidade para fazer músicas, embora eu faça letras também, tanto que o disco tem duas letras minhas. No repertório todo eu participei das letras de alguma forma, algumas de forma mais direta. Convidei essas pessoas em primeiro lugar por admirar o trabalho delas. Algumas são mais próximas, só foi o caso de propor “vamos fazer uma música juntos”. O Bruno Levinson e o Mauro Santa Cecília, eu já tenho músicas com eles. A Patricia Polayne é uma cantora sergipana e a gente se encontrou uma vez. Algumas precisei mexer um pouco na letra, a do Arnaldo e a do Fausto Fawcett foram as que eu menos mexi. Acrescentei só o refrão que não tinha na do Arnaldo, o “não vou ficar” eu acrescentei “não vou ficar esperando nem açúcar nem afeto”.
>>> Apoia a gente aí: catarse.me/popfantasma
O nome do disco tem bastante a ver com o que a gente está vivendo, já que de fato não está fácil pra ninguém. Como é lançar um disco com esse nome num tempo desses?
Basicamente é isso que você falou (rindo). Essa música é uma parceria com o Rogério Batalha, e ele é parceiro do Moacyr Luz. Não sei se fui influenciado por essa informação, de que eu sabia que ele era parceiro do Moacyr, mas pensei nela e falei: “Isso é um samba”. Sentei no piano e fiz um samba, que nem é minha zona de conforto, mas ficou legal. Fiz essa composição até antes da pandemia, tinha uma coisa ou outra que eu queria mudar na letra. Botei uma percussão para dar uma onda de samba.
Ela nem estava no repertório, mas estava no meio do ano fechando a ideia do disco e vi que esse seria o nome perfeito. Quando mostrei pro Rogério até disse a ele: “Nessas partes aqui eu quero dar uma cutucada no negacionismo”. Esse negacionismo absurdo e patético que a gente está vivendo hoje. Tem na letra a frase “cansou de ver gente surtar por não confiar no que diz o doutor”. É uma cutucada, mas eu queria que a música não ficasse datada, nem fosse uma música ranzinza ou rabugenta. Queria que fosse uma coisa irônica, bem humorada. E continua esse governo aí fazendo esses absurdos todos, afetando a gente de forma feroz… Vamos ver ano que vem, né?
Falamos do Buana 4, que aliás foi uma banda que chegou a ter música em novela. Como foi essa época?
Eu tinha acho que 24, 25 anos em 1989, por aí. Eu tinha feito essa música que eu lancei como single em 2007, Horizonte perdido, que era uma parceria minha com o Humberto Effe (Picassos Falsos). Ela era para ter entrado no Rock’n geral (disco do Barão de 1987), disco que foi produzido pelo Liminha. Deixou de entrar para entrar uma versão dos Rolling Stones, na verdade de uma música do Bobby Womack (Agora tudo acabou, versão de It’s all over now, gravada pelos Stones em 1964). Não tenho nada contra, mas isso me deixou – não vou esconder – meio triste, desmotivado. Depois da turnê desse disco, saí justamente para tentar alguma coisa minha, um espaço para as minhas músicas, que eu cantasse. Não estava contente com meu espaço no grupo.
Montei o Buana 4, a gente passou um tempo tocando em barzinho, em tudo quanto era lugar. Até que o produtor da novela Top Model, que iria estrear, perguntou se a gente não queria dar uma olhada na sinopse. “De repente vocês fazem alguma coisa para algum personagem…”, ele disse. Daí vimos o personagem do Taumaturgo Ferreira, que gostava de Jim Jarmusch, era grafiteiro, fazia desenhos pelas ruas. Usamos isso na letra, “deixo os meus recados
por onde você possa passar”. Mas o Mariozinho Rocha, que fazia as trilhas sonoras, adorou a música e escolheu como tema de abertura, mesmo ela tendo a ver com o personagem. O disco saiu pela EMI e não aconteceu muita coisa com ele. Tempos depois o Barão me chamou para comemorar dez anos de banda e eu voltei como músico convidado.
O Barão, por sinal, volta aos palcos em breve no Rio. E você, quando faz show solo do disco?
Bom, aí é que está: esse disco é mais a realização de botá-lo no mundo, mais do que qualquer coisa. Nesse momento específico a gente está comemorando 40 anos do primeiro disco do Barão (a estreia do grupo carioca saiu em 1982). O planejado é a gente fazer uma turnê celebrando esses momentos, vai ser um ano de celebrações. Pretendemos brindar nossos fãs com um pouco de coisas acústicas, lados B, coisas que fizemos. Pensamos em algum momento fazer algo no formato audiovisual. Isso vai ocupar a gente – e especialmente me ocupar – no começo do ano. Daí não pretendo fazer nenhum show da minha turnê. Pode ser que depois que acabar a turnê do Barão eu pare para fazer algo…
Mas eu tenho a intenção de fazer um show aqui, outro ali, do meu trabalho. Para mostrar isso tudo, além de canções minhas com outras pessoas. Quero fazer em algum momento, mas não estou preparando uma banda, nem mesmo a logística dá para isso nesse momento
2021 por sinal seria a comemoração de 40 anos do Barão Vermelho. Foi uma frustração não ter podido aproveitar o ano para comemorar nos palcos?
De certa forma foi muito frustrante pelo momento, que agora está voltando a ter alguma normalidade. Nossos companheiros atrizes, atores, músicos, compositores voltando a trabalhar… Mas o Barão sempre comemorou a data do primeiro disco. A turnê de dez anos foi em 1992, como fizemos também há dez anos para comemorar os 30 anos.
Aliás, seu pai, o jornalista Péricles de Barros, foi uma pessoa bem presente no começo da história do Barão Vermelho, e os primeiros ensaios da banda eram na sua casa. Como era isso?
Sim, ele foi bastante presente na minha vida, pra começar. Todos da banda tínhamos muito carinho por ele. A gente ensaiava na minha casa, ele era jornalista do O Globo, ia trabalhar e a gente ficava lá tocando (rindo). Depois ele conseguiu um show que veio a ser o primeiro do Barão Vermelho, na Feira da Providência. Lembro que nem tinha PA pra tocar. Meu pai era diretor de eventos como o Projeto Aquarius, a Chegada do Papai Noel. O Projeto Aquarius, ele criou com o Isaac Karabtschevsky e o Roberto Marinho. Eu e Guto, que éramos amigos de colégio, viajávamos para Brasília com o Coral da Gama Filho, para vermos concertos de música. Conheço o Guto há mais de 40 anos, meus pais tinham muito carinho por ele.
A gente fez alguns eventos com meu pai, como o Rock Concerto, com Barão Vermelho e Blitz na Praça da Apoteose (em 1984, com regência de Isaac Karabtchevsky e orquestra e coro do Teatro Municipal), chegada do Papai Noel… Ele não botava a gente porque eu era filho dele, mas o grupo estando num ponto daquele de sucessos, ele colocaria se pudesse.
Por sinal você tem uma trajetória bem diferente dentro do Barão Vermelho: fundou a banda, depois saiu, voltou como músico convidado e refundou a banda junto com o Guto Goffi. Qual o balanço que você faz disso aí?
É uma trajetória muito diferente da trajetória do universo (rindo). É uma situação meio enrolada, bizarra. Fui que fundei o Barão, a banda começou comigo e com Guto na minha casa. A gente era do mesmo colégio, depois entrou o Dé, depois o Frejat e finalmente o Cazuza. Eu e o Guto somos os membros originais, a gente sempre brinca: “Quem é o membro 000?”, porque a gente começou junto. Quando fui para o Buana 4, eu deixei de ser integrante, mas pouco antes da turnê dos dez anos, eles me chamaram como convidado especial e voltei a tocar com eles. Teve um momento em que o Guto quis voltar oficialmente mesmo, daí eu apareceria nas entrevistas, teria parte executiva na banda.
Eu tinha esse desejo de ter meu trabalho solo, não precisava sair da banda. Estava ali de novo, à vontade, até porque a gente era amigo. Participava da parte criativa da banda, mas era uma situação meio desconfortável que eu criei pra mim mesmo. Imagina, saí da banda, depois voltei como convidado da banda que eu mesmo formei… Realmente é uma parada meio esquisita. Mas ao longo dos anos comecei a compor. Eu já compunha desde o primeiro disco e recomecei a contribuir. Por você é parceria minha com Frejat e Mauro Santa Cecilia. Puro êxtase fiz com Guto Goffi. Meus bons amigos fiz com Guto e Fernando Magalhães. Teve também Cuidado, Nosso mundo, Enquanto ela não chegar.
Eu produzia com eles cada vez mais. Eu dizia que estava bem assim mas no fundo era esquisito. Minhas filhas iam ver o show e eu não estava no cartaz da porta do teatro. Ou eles iam tocar na TV uma música que eu tinha composto. As pessoas começaram a não saber quem eu era. Depois o Frejat me chamou para coproduzir o disco dele, Amor pra recomeçar (2001). Compus a música-título com ele e Mauro. Fiquei tocando 15 anos com ele, e quando o Guto veio falar que queria voltar, e o Frejat disse que não voltaria, porque queria priorizar a carreira solo, decidi que voltaria com o Barão.
O disco termina com Não desista, que também é uma mensagem bem apropriada…
É aquilo que eu costumo dizer: quem canta seus males espanta. E a gente canta para os outros o que a gente quer dizer para a gente mesmo. Tem um pouco isso de perseverança, de “não chegou a hora, continua batalhando”. Isso serviu até para mim em relação ao próprio disco, para continuar trabalhando. E serve para as pessoas que não estão satisfeitas com o que estamos vendo, com as escolhas que estão sendo feitas pelo governo federal. É preciso resistir.
Foto: Marcos Hermes/Divulgação
Lançamentos
Radar: Real Estate, The Dirty Nil, Snõõper, Ministry, Paul Weller, 61 OHMS, tudo junto

Felicidade é quando todas as bandas e artistas que a gente escolhe pro Radar têm nomes pequenos – e cabe todo mundo no título. Hoje tem Radar internacional, unindo novos e veteranos em torno da música nova – e, no caso do Ministry e do Paul Weller, do novo olhar sobre velhas canções. Divirta-se. Em tempo: esse texto era para trazer o clipe novo do Ministry, mas aparentemente ele foi censurado pelo YouTube (Foto Real Estate: Bandcamp).
Texto: Ricardo Schott
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Mais Radar aqui.
REAL ESTATE, “EXACTLY NOTHING”. O Real Estate foi atrás das sobras e achou coisa boa: a coletânea The Wee Small hours: B-sides and other detritus 2011–2025 reúne lados B, faixas perdidas e outtakes desde o início da banda até o disco Daniel (2024). O nome do disco vem de uma música inédita feita nas sessões do terceiro álbum, Atlas (2013), e também acena pra um álbum clássico de Frank Sinatra. Uma raridade pra quem acompanha a banda de Nova Jersey desde o comecinho — ou pra quem quer descobrir as entrelinhas do som deles. Destaque para Exactly nothing, um B-side de 2012 que consegue ser ensolarada e misteriosa simultaneamente.
THE DIRTY NIL, “SPIDER DREAM”. The lash, quinto disco dessa banda punk canadense, tá marcado para sair no dia 25 de julho. Enquanto o álbum não chega às lojas, dois singles, Gallop of the hounds e este Spider dream, servem de vislumbre. A canção é uma balada soft, tranquila, mas trevosa.
Aliás, o cantor e guitarrista Luke Bentham disse que a inspiração da música foi um pesadelo – o tal “sonho de aranha”, do qual ele fala na letra, que tem versos como “ontem à noite eu sonhei que meu corpo estava coberto de picadas de aranha” e “o passado me parece um cemitério que visito todos os dias, faça chuva ou faça sol”. Outra inspiração foi o documentário Get back, sobre as internas do disco-filme Let it be, dos Beatles. “Me inspirei a usar acordes mais vibrantes do que costumo usar”, diz.
SNÕÕPER, “INCOGNITO”. Em 2010 surgiu uma ramificação do punk que logo ganhou a alcunha de eggpunk – na verdade era uma espécie de synthpunk, com herança direta de bandas como Devo e Sigue Sigue Sputnik e uso de teclados baratos. Essa banda de Nashville se considera parte dessa onda, recriando o punk e o hardcore a partir de baterias eletrônicas, teclados e um aparato de gravação que parece sempre disposto a distorcer o som.
Depois de um excelente disco de estreia, Super Snõõper, de 2023 (resenhado pela gente aqui), o grupo retorna com um EP exclusivo para o Bandcamp, Unknown caller – disco gravado em casa, com quatro faixas curtas. A zumbizante Crash out, single do EP, é bem legal – por sinal até o momento é a única que você vai encontrar nas plataformas mais conhecidas. Mas destacamos o clima caótico e intermitente da acelerada Incognito.
MINISTRY, “I’LL DO ANYTHING FOR YOU (SQUIRRELY VERSION)”. O novo clipe do Ministry, uma provocação explícita que chegou a circular pelo YouTube, foi retirado do ar sem qualquer explicação oficial. Quem teve a chance de ver, encontrou o sempre sombrio Al Jourgensen em um modo inusitado — e quase fofo. De terno rosa, marias-chiquinhas no cabelo, óculos em forma de coração e uma camiseta com os dizeres “Eu não sou adorável?”, ele revisita I’ll do anything for you, música da fase tecnopop da banda, regravada no bizarríssimo The squirrely years revisited – álbum dedicado a desenterrar o repertório inicial do Ministry, que ele sempre disse odiar (e que foi resenhado pela gente aqui). No vídeo, que agora só circula em alguns trechos (tem shorts no YouTube e este pedaço no Instagram da banda), há até uma montagem de Vladimir Putin e Donald Trump dividindo um espaguete, ao estilo de A Dama e o Vagabundo. Segue pelo menos o áudio.
PAUL WELLER, “LAWDY ROLLA”/”PINBALL”. Você já deve ter visto, mas não custa falar que vem aí mais um capítulo da trajetória de Paul Weller: o músico britânico anunciou o álbum Find El Dorado, só com releituras de canções que marcaram sua vida, com convidados como Robert Plant, Noel Gallagher, Hannah Peel. Tá previsto para 25 de julho e Weller fez versões de artistas como Richie Havens, Bee Gees e Kinks.
De nomes pouco conhecidos, tem a releitura de Lawdy rolla, música do The Guerrillas – um grupo de músicos de estúdio formado por feras como Manu Dibango (sax) e Slim Pezin (guitarra), que gravou essa “canção de trabalho” em clima jazzy num single de 1969. Essa e Pinball (single de estreia do cantor, apresentador e ator britânico Brian Protheroe) ganharam versões e já saíram como singles.
61 OHMS, “SIGN OF THE TIMES”. Essa banda californiana considera seu single mais recente algo entre “Radiohead, Coldplay antigo ou Muse com um toque moderno” – e faz sentido, mas tudo filtrado por um toque musical que vem lá dos anos 1990 e da paixão pela música-de-guitarra-e-ruído que as bandas da década tinham (entre elas o próprio Radiohead do disco Pablo honey, de 1993). Sign of the times ganhou também um clipe tão imersivo quanto a própria faixa.
Lançamentos
Radar: Armada, Alma Djem, Exclusive Os Cabides, Pablo Lanzoni e outras novas

Sai da frente que hoje o Radar, na nossa edição nacional, abre dando espaço a dois estilos historicamente guerreiros: o punk e o reggae, representados pelo Armada e pela turma do Alma Djem, ambos com coisas novas nas plataformas. MPB, música instrumental e sons indie também surgem por aqui, nessa playlist que não é playlist – isso porque a gente quer que você faça a sua própria playlist na plataforma que você quiser. Ouça, escolha e passe adiante.
Foto Armada (Matheus Machado/Divulgação).
Texto: Ricardo Schott
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Mais Radar aqui.
ARMADA, “LAST OF MY KIND”. Toda a beleza de um hino punk: a banda paulistana revisita Last of my kind, faixa do disco Tales of treason, lançado no ano passado em vinil pela gravadora americana Pirates Press Records, em parceria com a Comandante Records. O Armada aproveitou um show recente em São Paulo para levar a energia do palco (e da platéia!) para um novo videoclipe.
A música é uma homenagem a quem insiste em seguir em frente quando tudo ao redor sugere o contrário — com destaque para o refrão e sua frase emblemática: “eu nunca sei quando desistir”. “Acho que a maioria das pessoas que tem uma banda, ou qualquer tipo de projeto artístico, que consome todo seu tempo, dinheiro, vida pessoal e profissional a troco de praticamente nada, consegue se identificar com essa frase”, afirma o baixista Mauro Tracco, que divide a direção do vídeo com Rapha Erichsen e Rodrigo Braga.
ALMA DJEM feat TATO, “SOBRADINHO”. O grupo de reggae Alma Djem lança Harmonia, terceiro EP do projeto Acústico em São Paulo, iniciado com os EPs Luz e Liberdade. Gravado em julho de 2024, o novo volume traz cinco faixas que falam de amizade, fé, amor e diversidade.
A abertura do EP novo é uma atualizada versão de Sobradinho, clássico de Sá & Guarabyra cuja letra – feita ainda nos tempos da ditadura – é bastante assertiva a respeito dos impactos da ação humana na natureza. A regravação junta Marcelo Mira (Alma Djem) e Tato (Falamansa), retomando uma parceria que já completou duas décadas. O EP tem também participação da banda capixaba Macucos.
EXCLUSIVE OS CABIDES, “PILHA ELETRÔNICA”. Em turnê, e de volta ao repertório de seu álbum mais recente, Coisas estranhas (resenhado por nós aqui), a banda catarinense Exclusive os Cabides decidiu revisitar Pilha eletrônica, uma das melhores e mais instigantes faixas do disco, e transformá-la em clipe. Um clipe, por sinal, tão indie quanto o disco: foi criado a partir de vídeos dos bastidores da turnê, editado pelos integrantes Eduardo Possa (guitarra) e Carolina Werutski (bateria), e é repleto de distorções visuais, para imitar a estética daqueles karaokês de boteco que eram uma febre nos anos 1990 – lembra? E sábado (31) tem show deles no Popload Festival.
PABLO LANZONI, “AVISO DE NÃO LUGAR”. Os sonhos do dia a dia, as utopias que a gente vai construindo na mente, e os desejos de alçar voo e ir além da realidade – misture tudo isso e você vai descobrir o combustível do novo single do gaúcho Pablo Lanzoni. Aviso de não lugar foi feito em parceria músico e poeta Richard Serraria, e mergulha no universo do indie folk idealista, sonhador e contemplativo. O single anuncia o próximo álbum de Pablo, que também vai se chamar Aviso de não lugar, e sai ainda neste semestre, com produção dele e de Leo Bracht.
RENZO PERALES E RP PROJECT, “SONHO RUIM”. Uma música instrumental que “fala” por si própria. Peruano radicado em São Paulo, o guitarrista Renzo Perales mistura camadas de jazz, r&b e até pagodão baiano em Sonho ruim, sua nova faixa com o grupo RP Project, que conta com participações especiais do beatmaker Toperasound e de Bicho Solto (Afrocidade), ambos nas percussões.
Mesmo sem letra, Sonho ruim foi escolhida por Renzo para expressar, por meio da música, os sonhos e dilemas de um imigrante em busca de uma vida nova e próspera em outro país. “Você vive um sonho de oportunidades e abundância que em determinado momento joga contra, parecendo inalcançável”, afirma ele. Quando a música fala, todo mundo entende.
OS PECADOS TROPICAIS, “EU TE VI”. Depois do criativo e ousado single de estreia, Absinto, Luisa Dale (voz), Daniel Ferreira (baixo), Tomás Novaes (bateria) e Nina Goulios (guitarra) retornam com Eu te vi, nova faixa embalada por um indie pop cheio de balanço. Produzida por Paulo Novaes e com lançamento do mitológico selo Kuarup, a canção mistura o swing nacional dos anos 1980 com o lado mais dançante da MPB, em clima solar realçado pelos metais. O primeiro álbum da banda, epônimo, sai em breve. São nove faixas gravadas pelo trio original Luisa, Daniel e Tomás — Nina se juntou ao grupo após as gravações.
Lançamentos
Urgente!: Unknown Mortal Orchestra lança clipe e cria polêmica – e mais

RESUMO: Fãs ficam indignados com música e clipe da Unknown Mortal Orchestra. Pic-Nic lança primeiro disco de inéditas em 14 anos. Produtor do primeiro álbum da Legião Urbana, o jornalista José Emilio Rondeau lança livro sobre os bastidores das gravações.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Mais Urgente! aqui
O Unknown Mortal Orchestra não consegue ficar parado por muito tempo. O grupo experimental liderado por Ruban Nielson lançou há poucos meses o álbum IC-02 Bogotá (que resenhamos aqui) e acaba de anunciar o EP Curse, inspirado nos giallos, filmes de terror italianos dos anos 1970 e 1980. O disco sai dia 18 de julho e tem seis faixas: Aura, Boys with the characteristics of wolves, One hundred bats, Sorcerers of silence e Curse.
Boys…, a segunda faixa, já saiu na frente como single, e é uma canção que pode ser tranquilamente colocada na gavetinha do stoner rock. O clipe da canção, feito pelo próprio Ruban – que é a ”orquestra” da música e toca todos os instrumentos – aumenta a duração em 1m20 com uma espécie de trailer assustador, cuja sonorização (seria a versão inteira dela ou um trecho de outra faixa?) deixa a impressão de que a faixa é bem mais sombria e experimental.
E enfim, muita polêmica envolvida, justamente por causa da música e do clipe: Nielson junta no vídeo vários trechos de antigos filmes, mas bota os personagens para mover os lábios e cantar a letra da faixa. No YouTube, tem uma porrada de gente indignada achando que a música foi feita inteirinha com inteligência artificial – e num canal do Reddit chamado /indieheads, tem uma turma putaça com o evidente uso de IA no clipe.
“Mesmo que a IA fosse usada apenas para economizar dinheiro… Mano, qual é? O vídeo faz referência ao cinema de terror italiano dos anos 70 e 80, essa porcaria foi literalmente feita com dinheiro, rs. Ruban poderia ter feito algo com um charme vintage de verdade, mas acabou apenas afirmando o quão longe ele está do seu auge criativo”, escreveu uma pessoa. Um outro reclamou que o recurso deixa qualquer clipe “cafona”.
Um outro fã da Unknown Mortal Orchestra desencavou uma entrevista de Ruban lembrando que quando estudava Belas Artes, sua faculdade gastou “perversamente” uma bolada de grana para comprar uma engenhoca chamada The Painting Machine (“a máquina de pintar”).
“O assunto passou a ser: essa máquina vai nos substituir? Um monte do meu trabalho passou a ser a resposta à ansiedade de estudar pintura num mundo em que uma máquina pode pintar qualquer coisa”, contou o músico, dizendo que passou a pintar as mesmas coisas repetidamente, até que tudo parecesse “a fria repetição de um autômato”.
Até o momento, Nielson parece disposto a confundir. Sobre o EP da UMO que vem aí, disse no release coisas como: “No coração dos homens, às vezes, há bondades escondidas, mas substanciais, que seriam a diferença, em tempos de infortúnio, entre se encontrar à mercê de um monstro ou de uma criatura mais heroica”, contou.
“Por uma questão de sanidade, podemos nos enganar acreditando que essas lascas prateadas de moralidade são visíveis de fora, mesmo quando sabemos que não são. E, de qualquer forma, muito do que acreditamos ver de fora é uma miragem, especialmente hoje em dia”, completou. Ah, bom.
***
Vai estar em breve nas nossas resenhas, mas vale citar que saiu hoje nas plataformas Volta, disco novíssimo da banda carioca Pic-Nic (Novevoltz/Bonde Music), o primeiro desde o retorno do grupo em 2021. O álbum tem sete faixas novas, participação do rapper Ramonzin, sonoridade com cara punk-disco-grunge no single Aniquilação – que já ganhou clipe – e muita vivência acumulada. O som é novo, mas com ecos dos anos 2000.
***
Por último mas não menos importante (e falaremos melhor disso depois), vale anunciar que na próxima quarta (4 de junho) o jornalista José Emilio Rondeau autografa na Livraria da Travessa de Ipanema o livro Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor (Editora Máquina de Livros). Pois é: além de ser um dos maiores mestres do jornalismo de rock no Brasil (você o encontra semanalmente na newsletter Farol), Rondeau produziu a estreia da Legião, e reúne neste livro os causos – há anos dispersos em entrevistas e artigos. É às 19h, Rua Visconde de Pirajá, 572, Ipanema. Com bis na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, dia 13 de junho, às 15h.
Texto: Ricardo Schott
Ver essa foto no Instagram
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?