Crítica
Ouvimos: Celso Madruga, “Vejo”

- Vejo é o segundo álbum de Celso Madruga, em lançamento independente. Cheio de amigos no universo roqueiro carioca, ele arregimentou amigos famosos como Guto Goffi (bateria), Dicastro (guitarra solo), Da Ghama (voz), Ricardo Palmeira (guitarra), Rodrigo Santos (baixo) e Sergio Serra (guitarra, parceiro dele em Ventania) para tocar no disco.
- Participam também músicos como Marcelo Ferraz, Alex Maldni (ambos guitarra), Alan Lima (bateria em cinco faixas do álbum) e Diogo Milão (baixo).
- A produção foi feita por Alex Maldni e Rick Alves. O álbum é dedicado ao amigo Bernardo Santos, que morreu antes do disco ficar pronto (e é parceiro em três faixas, inclusive a música-título, na qual faz backing vocals).
Cantor e compositor de Niterói (RJ), Celso Madruga não tem vontade de parecer inovador, ou de se aliar ao tipo de rock que está sendo feito agora, nem no Brasil nem no mundo. Tanta certeza acaba sendo uma vantagem: seus dois álbuns (Vejo é o segundo) devem ser analisados pelo prisma de quem tem o rock dos anos 1970 e 1980 na cabeça, incluída aí uma poética (ponto forte dele) influenciadíssima por Cazuza, Raul Seixas, Rita Lee, Jim Morrison. Além de uma musicalidade que aponta para bandas como Barão Vermelho(por acaso Guto Goffi, baterista e fundador do grupo, participa do disco), Sangue da Cidade, Made In Brazil e outros grupos.
Daí que Vejo mostra que a voz de Celso melhorou bastante (apesar de dar umas falhadas no tom grave de Vontade e razão), e o som, cheio de participações especiais, é rock básico, com os dois pés no blues, bem gravado e bem produzido. Na abertura, Fora do sistema é hard rock oitentista, na cola até mais do Lobão de Vida bandida (1987) do que do Barão. Anjo da guarda cansado honra a linhagem blues rock de bandas como O Peso. Blues da Central traz lembranças de Celso Blues Boy e usa o velho truque da gaita imitando barulho de trem – comum no blues norte-americano, mas aqui usado para falar da Central do Brasil, e do vai e vem de passageiros e ambulantes, numa letra bem atual.
Ventania é um blues-rock sombrio, com guitarras bem pesadas, que poderia ter sido gravado por Cássia Eller em 1990/1991, na fase mais roqueira dela. O disco ganha pegadas diferentes em faixas como Álcool e gasolina, um hard rock com base lembrando R.E.M. e as bandas oitentistas influenciadas pelos anos 1960. O mesmo acontece no inusitado samba-bossa-rock de Tudo por você, e na tentativa de progressivo da faixa-título. Vale a pena acompanhar essa história, agora em clima bem mais profissional.
Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 1 de janeiro de 2025
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Crítica
Ouvimos: The Lumineers, “Automatic”

Curto, tranquilo e girando em torno de variações do alt-country, Automatic, o novo disco do duo norte-americano The Lumineers (Jeremiah Fraites e Wesley Schultz são os integrantes), é um álbum carregado na ironia fina – e ela suplanta, muitas vezes, a própria nova seleção de melodias da dupla, que nem sempre acerta no alvo.
No álbum, dá para destacar a abertura com Same old song, country com referências de punk e até de emo, fala sobre insucessos, canções tristes e lança mão de versos como “ei, mamãe, você pagaria meu aluguel? / você me deixaria ficar no seu porão? / porque qualquer um de nós poderia fazer sucesso ou poderia acabar morto na calçada”. A auto-explicativa Asshole é marcada por um piano nostálgico e alguma grandiloquência, com letra falando de um desencontro bem estranho: “a primeira vez que nos encontramos / você me achou um babaca / provavelmente está certa”.
O lado melódico-ao-extremo do pós-britpop bate ponto na faixa-título e em You’re all I got, e também no piano “voador” de Sunflowers, cujo arranjo impressiona pela beleza. So long tem um clima mais classic rock e estradeiro que o resto do disco, com um arranjo que cresce e vai ganhando outros elementos. A doçura do grupo dá aquela enjoadinha básica no country-gospel de Plasticine e patina de vez nas acústicas e chatinhas Ativan e Keys on the table – para recuperar tudo na mistura de despojamento e rigor pianístico quase clássico de Better day, um anti-hino ao vazio que rege a vida de muitas pessoas (“sonhando com dias melhores / assistindo pornô e programa de imóveis na TV”).
Nota: 7
Gravadora: Dualtone
Lançamento: 14 de fevereiro de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Tátio, “Contrabandeado”

A estreia solo do mineiro Tátio, produzida por Chico Neves, é um disco curto, direto, que poderia ter sido lançado pela antiga CBS em 1979 ou 1980 – ou seja: quando revelações da MPB eram lançadas a todo momento e encontravam espaço no rádio e nas trilhas de novela. Contrabandeado é um disco de afirmação, que fala sobre progresso sem regalias, amores fluidos e liberdade (sexual, inclusive) nas grandes cidades.
O tom quase mangue-bit de Radar é emoldurado por versos que dizem “vai ser difícil de controlar/tudo o que vive debaixo do sol”. A democracia e a fartura aparecem no samba-reggae-forró Será que eu sou louco. A MPB mineira clássica é evocada em Seres distantes e na meditativa Anhangabaú. A psicodelia surge no tom mutante do blues Sonho antigo e no ambient brasileiro da faixa-título.
A voz impressionante de Tátio ganha destaque em faixas como a balada do ex bem resolvido Longe de mim (com Zeca Baleiro como convidado) e o forrock apocalíptico de Reza milagreira, que ganha uma excelente participação de Juliana Linhares, e um arranjo em que o uso de eco faz parte do cenário. Contrabandeado é uma renovação da MPB da era da abertura, e um disco que funciona como vingança do oprimido.
Nota: 9
Gravadora: Estúdio 304
Lançamento: 29 de janeiro de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Pedra Lunar, “O caminho rumo ao infinito”

Banda psicodélica de Novo Hamburgo (RS), o Pedra Lunar é um quarteto formado por Gabrieli Kruger (voz e percussão), Bruno A. Henneman (guitarra e backing vocal), Leonardo Winck (baixo e backing vocal) e Felipe Frodo (bateria, percussão e backing vocal). O caminho rumo ao infinito, primeiro álbum do grupo, revela uma sonoridade que quase sempre está mais para 1966 do que para 1968. Algo entre o mod e o psicodélico em faixas como Tudo está no lugar, a quase-faixa título Caminhando rumo ao infinito (esta, com vocais bastante criativos), Livres por aí e Eterna juventude – essa última, com piano lembrando Nicky Hopkins (Rolling Stones) e clima herdado não só de Kinks como do começo do glam rock (David Bowie, T Rex).
Aumentando a variedade do som, o Pedra Lunar ganha tons progressivos em Chuva passageira, clima estradeiro e rock-barroco em Toda essa confusão, vibe entre o power pop e o country rock em Dias de inverno e um som entre Bob Dylan e Raul Seixas em Eu também quero voar. O saldo do disco do Pedra Lunar é bem positivo e promissor, e pega direto na veia de quem curte rock brasileiro setentista, por causa das letras e da argamassa vintage.
Nota: 7,5
Gravadora: Áudio Garagem
Lançamento: 14 de dezembro de 2024.
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