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Um papo com Mario Bross (Wry) sobre disco novo, trajetória da banda e planos para 2022

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Um papo com Mario Bross (Wry) sobre disco novo, trajetória da banda e planos para 2022

Com mais de vinte anos de banda, o Wry, nos últimos tempos, tem lançado discos com bastante velocidade. Ano passado saiu Noites infinitas, o primeiro de inéditas desde 2009. Mário Bross (vocal, guitarra e synth), Luciano Marcello (guitarra e backing vocal), William Leonotti (baixo e backing vocal) e Ítalo Ribeiro (bateria e backing vocal) ainda lançaram Reimagining noites infinitas, com nomes como My Magical Glowing Lens, Adriano Cintra e Geztalt fazendo releituras das faixas do álbum. Tem disco novo aí: em novembro, foi a vez de Reviver, sétimo disco de estúdio, com faixas compostas ao longo dos anos, mas que ficavam de fora dos álbuns do grupo.

A banda de Sorocaba (SP) tem uma trajetória formidável: viveu em Londres entre 2002 e 2008, tocou em um leque de festivais que vai do Bananada (em Goiânia) ao Primavera Sound (na Espanha). E, assim como aconteceu com o New Order (que manteve o clube Haçienda, em Manchester), também conheceram o outro lado do balcão: desde 2009 o grupo mantém o Asteroid Bar em sua cidade natal. O local vem retornando devagar as atividades após as vacinas contra a covid-19 e a flexibilização. Para o ano que vem, já adiantam uma novidade: o grupo, que cantava apenas em inglês no começo, e depois foi gradativamente incluindo canções em português no repertório, vai lançar um disco gravado 100% no idioma pátrio.

Mario Bross contou essas e outras novidades para a gente. E o Wry, desse papo até hoje, já prepara coisa nova: tem versão “natalina, sem guitarras”, de Campo profundo, música do Reviver, em pré-save.

Como tem sido a vida da banda e como está sendo esse retorno dos shows e das atividades fora de casa?

Olá, pessoal! Feliz em fazer essa entrevista para o Pop Fantasma, muito obrigado! (nós que agradecemos) Olha, a banda tem sobrevivido, viu? Difícil até te dizer com clareza, porque toda a situação deixa a gente meio paralisado, tipo, mesmo fazendo as coisas, parece que estamos num estado amortecido. Imagino que quando olharmos para trás daqui alguns anos vamos conseguir ver como realmente estávamos nos sentindo durante 2020 e 2021. Cada um está voltando a atuar fora de casa, como fazer outros trabalhos e ensaios por exemplo, mas ainda existe uma pulga atrás da orelha sabe, é meio estranho.

Como foi a reação da banda quando receberam a notícia de que tudo iria fechar? O disco anterior, Noites infinitas, já estava programado para sair?

A gente estava prestes a anunciar a volta do Circadélica (festival criado pela banda), depois daquele cancelamento de 2018. Já tínhamos o line up, o patrocinador, data e local, e tivemos que parar quando soubemos da pandemia. Vamos ver agora quando poderemos voltar, pois não temos mais certeza, vai depender do patrocínio. Agora o Noites infinitas estava sendo finalizado já, um vocal foi refeito e reescrito já durante a pandemia, assim como a mixagem e a masterização. O tema sobre ansiedade que permeia o disco traduziu bem o período pandêmico, por isso muita gente pensou que o escrevemos já em 2020.

Como foram surgindo as músicas do disco novo? O material veio de músicas antigas que ainda não estão nas redes? Há inéditas?

Era um pensamento que eu tinha. Eu sempre acabava ouvindo muitas delas quando vasculhava meu computador onde tenho pastas organizadas com várias coisas relacionadas a banda. No Reviver tem música bem antiga como uma de 2001 e mais recentes como duas de 2017. A maioria dessas foi gravada pela primeira vez, gravada de novo ou gravada parcialmente durante em 2021. Mas todas sofreram um processo novo para que soassem como um álbum normal e não uma coletânea. Acho que chegamos bem perto disso hehehe. Uma coisa que todas têm em comum é que eram inéditas nas principais plataformas digitais. Algumas delas nunca tinham visto a luz do dia até agora em 2021, outras saíram em versões demo como download em algum lugar do passado ou como bônus.

Vocês estavam há muito sem gravar e saíram logo dois discos subsequentes. Houve mais vontade de criar coisas novas por causa da pandemia, ou já havia a vontade de retomar de vez a carreira discográfica?

Já havia. Quando voltamos no final de 2014, eu já tinha na cabeça tentar manter uma sequência de lançamentos. Tinha pensado em lançar a cada dois anos, mas agora o objetivo é lançar a cada ano. Estamos em modo muito produtivo, trocamos muitas mensagens de ideias que temos, seja de melodia, música inteira, letra. Tá vindo muita música por aí.

No meio do caminho houve o Reimagining noites infinitas. Vocês se animaram com a ideia dos discos reimaginados? Como foi trazer o conceito para o Brasil, e como foram escolhidos os nomes que participaram?

Esse disco também partiu da vontade de lançar vários remixes que as pessoas fizeram para a gente ao longo dos anos. Se você ver, antes do Reimagining noites infinitas, lançamos quatro EPs que somam mais quatorze remixes fora os dez do álbum. A galera que remixou são amigos e amigas que fizemos ao longo do anos, tem gente da nova e velha geração. E vai vir mais por aí, vamos lançar uns remixes de Reviver também.

O que ficou até hoje na banda da experiência em Londres? Quais foram os maiores conhecimentos profissionais adquiridos lá?

Muita coisa ficou e vai estar com a gente a vida toda. Vivemos oito anos em Londres de forma muito intensa. Foi lá que aprendemos como é ser adulto e a pensar no futuro também. A bagagem que carregamos hoje em dia é a soma de duas culturas, a brasileira e a inglesa. O que somos e fazemos hoje, de forma pessoal até, devemos muito ao que fizemos em Londres.

Eu por exemplo, me apaixonei por bar e hoje, com meus sócios, coordeno o Asteroid aqui em Sorocaba. O que mais trouxemos de Londres é tentar não fazer as coisas pela metade, e sim fazer corretamente. Fazer os detalhes com o máximo de capricho e pensar como o outro também. Tipo numa casa como o Asteroid, tentamos pensar como um DJ, público, banda e funcionários, para que possamos dar o melhor para todas as partes, sabe.

Numa entrevista, vocês falaram que na Inglaterra até uma criança de dez anos sabe o que é uma canção pop bem escrita. Como era fazer som lá? A banda começou a se cobrar mais?

Sim, sem dúvidas. Isso aconteceu em 2004, sabe, de querer parar de tocar ao vivo e tentar aprender a fazer músicas melhores, ou de forma mais consciente, estudando bandas conhecidas. Pegamos Nirvana, The Beatles, My Bloody Valentine, Legião Urbana, entre outras, e assistimos muitos documentários, escutamos discografias e lemos biografias. Sei que não foi como entrar em escolas de música, mas esse “estudo” nos trouxe músicas como In the hell of my head, Cancer, Sister, Come and fall, músicas que a galera começou a se identificar muito mais. Where I stand, que começa o Reviver, é fruto direto desse estudo, que incluía Beach Boys e The Byrds. Muitos anos depois, em 2017, entramos em escolas de música, e as músicas de hoje são o resultado do que aprendemos, agora de forma mais técnica. A cobrança continua.

Como vai o Asteroid hoje em dia? Como ficou essa incerteza da pandemia, do governo Bolsonaro, etc?

O Asteroid voltou, e está indo bem, porém, por enquanto só rolê de balada, sem shows ainda. Acho que ano que vem a gente começa a agendar shows uma vez por mês, vamos ver. Temos que pensar muito mais na gente agora, as dívidas são muito altas e fica difícil arriscar. No final do mês a conta vai precisar fechar hehehe

Em 2022 o ritmo de lançamentos vai ser mantido?

Opa! Sim, já estamos ensaiando dez músicas que serão o disco de 2022. Pela primeira vez em português 100%. Estamos bem empolgados com isso viu, os planos já estão sendo desenhados!

Vocês ainda têm muita coisa que não está nas plataformas digitais? Como vai o baú do Wry? Há muita coisa esperando para ser digitalizada?

Olha, creio que ainda temos umas dez músicas da primeira fase do Wry nesse baú da felicidade e nostalgia, hehehe, tem da época da demo Morangoland, lançada em 1995, e que distribuímos 300 cópias. Essas acho que um dia serão gravadas de novo para estarem presentes nas nossas plataformas, tenho muita vontade disso e os caras da banda já sabem também. Tomara que role!

No que a maturidade tem ajudado vocês na hora de compor, fazer coisas, levar a banda adiante?

Acho que lembrar do motivo que nos levou a fazer tudo isso, que sempre foi muito longe da ganância, é o que mais faz a gente continuar criativo e com alegria em fazer. Saber que tem gente ainda ouvindo e prestando atenção. Que tem gente nova nos conhecendo agora. Outra coisa também tem a ver com esse processo de gostar de melhorar, pois acaba influenciando outros âmbitos da nossa vida. Evidentemente não temos vontade alguma de deixar de lado a nossa essência, mas sabemos que o tempo passa e a sociedade muda, daí vem aquilo que sempre carregamos com a gente, desde 1994, que é estar vivendo o momento de forma ativa e intensa, portanto se adaptar faz parte disso também.

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Ouvimos: Melvins, “Tarantula heart”

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Ouvimos: Melvins, "Tarantula heart"
  • Tarantula heart é o 27º disco de estúdio da banda norte-americana Melvins – que, para o lançamento, adotou o nome “The” Melvins. O disco vem sendo gravado desde 2022 e, diz o vocalista Buzz Osborne, “é um disco diferente de tudo que nós já gravamos”.
  • Buzz conta que, no novo álbum, a banda fez as músicas ao contrário: tocou tudo antes de começarem a escrever as canções. A banda se enfiou no estúdio, foi gravando, depois escreveu novas partes para fazer o material se adequar.
  • Para Tarantula heart, o Melvins transformou-se num quinteto: Buzz Osborne (voz, guitarra), Dale Crover, Roy Mayorga (baterias), Gary Chester (guitarra) e Steven Shane McDonald (baixo).

Das bandas que conseguiram fama na onda de Seattle, Melvins era a que mais tentava ganhar os fãs no susto. Dedicaram-se a fazer canções de hard rock aterrador (o tal do sludge metal, em sua pureza), ao contrario de seus colegas. O Nirvana só foi se tornar uma banda realmente gritalhona no fim da carreira, o Mudhoney era rock de garagem dos anos 1960. Em discos como Houdini (1993), Stoner witch (1994) e (A) Senile animal (2006), a ideia do grupo era construir cenários musicais nos quais ninguém gostaria de morar, com direito a uso de paredes de guitarra e duas baterias.

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Nem tudo dos Melvins é realmente necessário de ouvir, ou bom de verdade, já que a fórmula foi perdida durante vários discos que soavam mais como caricaturas – Pinkus abortion technician, disco de 2019 repleto de covers, tinha uma versão de I wanna hold your hand, dos Beatles, que não servia sequer como afronta. Tarantula heart, o novo, põe o grupo nos eixos oferecendo 40 minutos de terror psicodélico. Já rola logo na primeira faixa, Pain equals funny, vinte minutos de pancada sonora, com uma letra que parece revirar seres humanos do avesso.

O novo disco da banda parece se inspirar numa receita musical que tem mais a ver com grupos como Faust e Suicide do que com punk, metal ou coisas do tipo. Allergic to food é o momento Minstry do disco, mas sem eletrônica. She’s got weird arms tem guitarras maníacos e ritmos quebrados percorrendo os quase quatro minutos da faixa. Já Working the ditch é metal arrastado e de poucos amigos (e poucos acordes), a cara de discos do grupo nos anos 2000. E Smiler é a faixa mais prototipicamente metal do álbum. Disco curto e conciso mesmo nas canções grandes, para ouvir muito barulho.

Nota: 8
Gravadora: Ipecac

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Crítica

Ouvimos: Claire Rousay, “Sentiment”

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Ouvimos: Claire Rousay, "Sentiment"
  • Sentiment é o novo disco de Claire Rousay, instrumentista de vanguarda que tem uma discografia bem numerosa. Nascida no Canadá, ela vive em Los Angeles e grava pelo selo Thrill Jockey, gravadora independente norte-americana que vai do metal ao som experimental e que é dirigida por Bettina Richards, uma ex-executiva de A&R da gravadora Atlantic.
  • Claire é uma mulher trans. Passou a falar sobre o assunto em entrevistas em 2019. “Quando as pessoas dizem coisas transfóbicas ou homofóbicas, é como se eu já tivesse ouvido tudo. E muitas das vezes que ouvi isso não foram na internet. Alguém gritou comigo do carro. Ou ficou me encurralando em um bar ou me empurrando ou algo assim. Já ouvi todas essas coisas em situações muito mais extremas”, disse ao Irish Times.

Se for escolher um disco para dar aquela alegrada básica no fim de semana, nem passe perto do novo lançamento de Claire Rousay. Sentiment faz jus ao título: investiga tanto os sentimentos de quem passa por uma fossa abissal, que, como disco de cabeceira, pode ser uma péssima companhia.

A abertura é com 4pm, uma faixa falada, gravada como se fosse um recado na secretária eletrônica. Theodore Cale Schafter, convidado de Claire, avisa que “são 4 da manhã e não consigo parar de chorar” e “nunca me senti tão sozinho e descartado em minha vida, e isso inclui momentos em que perdi amigos, família e até mesmo o que eu pensava ser meu deus”.

Sentiment, pode acreditar, é o disco “pop” de Claire, já que ela é originalmente uma artista de sons experimentais e de música concreta – vários discos dela têm canções que chegam a quase 20 minutos, e que usam e abusam de sons gravados na rua. O novo álbum é pródigo em músicas curtas e investe num material desafiador, mas que, se devidamente rearranjado, ganharia uma cara pop mais definida.

Aparentemente, o recado de secretária da primeira faixa é um recado para quem ouve o disco. Talvez como brincadeira com o “sentimento” do nome, Claire investe em vocais robóticos, cheios de autotune – em faixas como as baladas tristes Head e It could be anything e a vinheta Asking for it. Curiosamente, a impressão que dá é a de estar escutando artistas que habitam um espectro bem diferente (e mais radiofônico) que o dela.

A imagem de capa, com Claire em clima de “ah não, o dia amanheceu e não quero levantar da cama” permeia o disco. Sentiment, afinal, é o álbum do descontrole emocional de Head, do orgulho ferido e da misantropia de Lover’s spit plays in the background e de uma porrada emocional que se chama justamente… Please 5 more minutes, aquela frase que quase todo mundo um dia falou ao acordar. Também é o disco de Sycamore skylight, instrumental com piano ao longe, e ruídos de conversa, quase como num sonho estranho e meditativo. Um som para os momentos em que ficar só, morgando na cama, pode ser doloroso, mas é necessário.

Nota: 7
Gravadora: Thrill Jockey

 

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Ouvimos: Cátia de França, “No rastro de Catarina”

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Ouvimos: Cátia de França, "No rastro de Catarina"
  • No rastro de Catarina é o sétimo disco da cantora, compositora e violonista paraibana Cátia de França. A cantora de 77 anos estreou em disco com 20 palavras ao redor do sol, lançado em 1979 pela CBS (hoje Sony Music).
  • Seus dois discos pela multinacional tinham na ficha técnica nomes como Zé Ramalho, Dominguinhos, Sivuca, Chico Batera, Lulu Santos e Bezerra da Silva (estes dois últimos, antes da fama como artistas solo). E no mesmo ano em que saiu o primeiro álbum, Elba Ramalho gravou Kukukaya (Jogo da asa da bruxa) em sua estreia, Ave de prata.
  • O disco foi gravado ao vivo no estúdio Peixeboi, em João Pessoa (PB), com uma banda formada por Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço), Elma Virgínia (baixo acústico, baixo elétrico e fretless), Beto Preah (bateria e percussões) e Chico Correa (sintetizadores e samplers), que também produziu o álbum ao lado de Marcelo Macêdo. 

20 palavras ao redor do sol, estreia de Cátia de França (1979) era forró e ritmos nordestinos em geral. Mas era psicodelia e era até (com licença poética) rock. Nem era preciso fazer muito esforço para achar elementos do estilo perdidos aqui e ali, porque o disco cabia com folga num guarda-chuva de liberdade musical no qual entravam também o galope pauleira de Alceu Valença, o progressivismo de Zé Ramalho, o blues do Estácio de Luiz Melodia e até o samba-crônica de Martinho da Vila. Uma música com raízes, mas ligada em tudo, e de olho no dia a dia.

Passou tempo, e a discografia de Cátia foi acrescida de outros discos, como o essencialmente nordestino Estilhaços (1980, seu último álbum por uma multinacional) e o curioso Feliz demais (álbum independente de 1985, em cuja capa, curiosamente, surge com um ar desconfiado e nada alegre). Em tempos de CDs e plataformas digitais, ela vem se mantendo bastante ativa nas gravações, voltando agora com esse No rastro de Catarina.

No rastro é um disco basicamente regido pelo renascimento, pela afirmação e pela visibilidade, cujas música valem como crônicas. É o disco de músicas como a psicodélica Fênix, o reggae-blues Em resposta (que caberia bem na voz de Ney Matogrosso), o afrobeat Espelho de Oloxá e o belo soul Negritude, cujos títulos já inserem o ouvinte no universo de Cátia.

Cátia canta também o envelhecimento e o orgulho pela idade avançada e pelo tempo passado, em meio às batidas dançantes de Malakuyawa. Traz recordações de seu passado no bolero Veias abertas e na romântica Indecisão (feita a partir de um poema que ela escreveu aos 14 anos). E encerra com a meditação da balada Meu pensamento II e da violeira Conversando com o rio.

Nota: 9
Gravadora: Tuim Discos (Brasil)/Amplifica Music (outros países)

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