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Djangos mexem no baú e regravam demo de 1997 aos poucos

Mesmo sem conseguir dar shows e sem conseguir ensaiar por causa da pandemia, a banda carioca Djangos voltou, discretamente, com um lançamento comemorativo. Lyle Diniz (baixo), Jj Aquino (bateria) e Marco Homobono (guitarra e voz) mexeram no baú, voltaram à sua demo de 1997, 100 cortes – cujas músicas ainda não haviam sigo gravadas em discos do grupo – e estão regravando as quatro canções do K7, aos poucos. Em 2021 já saíram dois singles do projeto 100 cortes revisitado, com as músicas Bibliografia (lançada em março) e Aeroporto internacional (em outubro).
Batemos um papo com Homobono, que também vem lançando vários materiais off-Djangos (solo, ou acompanhado de amigos como Gilber T) e ele contou sobre como Aeroporto internacional é ligada à sua vivência como ex-morador de um bairro muito pouco citado do Rio de Janeiro. E relembrou a época de Raiva contra oba-oba, a estreia do grupo, de 1998
Como Aeroporto apareceu na sua vida e na do Djangos?
Essa música está numa demo que a gente lançou em 1997, chamada 100 cortes. É uma demo muito importante pra gente porque foi gravada na década de 1990 lá em Curitiba. A gente tinha uma certa facilidade para viajar porque os eventos que aconteciam geravam um dinheiro que dava para pagar a passagem de ônibus, estadia… A gente não ganhava cachê, mas viajava.
Eu nunca tinha nem pensado em ir para lá, mas fui duas vezes no lançamento da coletânea Paredão, que foi no Aeroanta, e depois voltamos porque o Rodrigo Cerqueira, que era baterista do Skuba, fez um evento lá e chamou a gente para tocar. Fomos lá, o Pedro de Luna (jornalista, escritor e autor da biografia do Planet Hemp, Mantenha o respeito, entre outros livros) fez essa ponte para a gente. O Pedro inclusive foi com a gente.
E aí esse show foi até bem importante para a gente porque eu vi uma banda de ska com metais tocando lá. E isso determinou que usaríamos metais, porque eu fiquei encantado com aquilo. Enchi o saco da banda: “A gente tem que ter metais, tem que ter metais!”. O João era muito partidário do esquema de ser só o trio. Mas isso serviu para a gente fazer a parada desse jeito. O 100 cortes, como a gente gravou numa mesa e transformou numa demo, ela vendeu bastante, a galera vendia muito essa demo.
Havia um mercado grande de demos, não?
Havia um mercado aquecido, você vendia demo, mandava pelo correio, era um negócio movimentado mesmo. A galera que trabalhava no Garage – o Max, o Ricardo, o Panda, o Ronald – eles tinham essa sociedade e comercializaram essa fita. O Djangos ia começar a gravar, a compor músicas novas, a gente estava se encontrando em 2020. Mas aí veio a pandemia e a gente parou total. Nesse meio-tempo, começaram a rolar aquelas gravações que cada um fazia uma coisa no seu canto, assim… com vídeos com quadradinhos dividindo, cada um no seu ambiente de casa.
Fizemos um justamente com a música Aeroporto internacional, mas o resultado não ficou bom. Acho que aí tivemos a ideia de pegar a demo, porque ela tem quatro músicas que nunca foram gravadas em lugar nenhum. Pensamos: “Vamos fazer um projeto, 100 cortes revisitado“. Escolhemos duas músicas para começar, que foram Bibliografia e Aeroporto internacional.
Essa música apareceu porque na época, isso lá em 1996, 1997, eu estava escutando o Casa babylon, disco do Mano Negra. Tinha lá uma música chamada El Alakran (La mar esta podrida), que é muito maneira, tem um coral de crianças. E esse disco é cheio de colagens, ele usava muito sampler. Depois o Mano Chao (vocalista) usou isso no disco dele de estreia. Essa música me chamou muito a atenção, porque vem uma voz que diz “aeroporto Mano Negra!”.
Isso ficou na minha cabeça e eu: “aeroporto, aeroporto…”. Eu comecei a falar do Galeão e imaginei o entorno, que era um lugar que eu visitava bastante quando era criança. Eu morava ali onde o pessoal fala que é Higienópolis, perto de Del Castilho, do Complexo do Alemão…
Sim, sim. Um bairro que o carioca não conhece, por acaso. Você fala em Higienópolis e o cara pensa em São Paulo, não no Rio…
Verdade! Mas existe esse bairro, ali perto de Del Castilho, do Jacarezinho. Cresci ali, conheci bem aquela região. Comecei a falar de uma comunidade fictícia que ficava à beira do aeroporto. Não sei posso considerar que a Maré está na cabeceira, pode ser que ela esteja bem distante. Mas imaginei a comunidade em que o pessoal tomava banho na Maré poluída. Fui numa onda que eu acho que é bem Alagados (Paralamas), a mesma geografia que o Herbert Vianna contemplava quando ia para o fundão… foi a mesma que me inspirou ali. Comecei a falar dessa comunidade aí, da coisa de trabalho assalariado, trabalho escravo, “quero minha carta de alforria”…
Tem uma onda parecida mesmo!
É uma filha de Alagados. Eu tava até lembrando aqui que essa música aí… Os Djangos são uma banda independente, a gente faz o que pode em termos de verba para gravar. E essa música levou muito tempo para ser feita. Aconteceram várias coisas, desde computador quebrado, a gente teve que consertar computador para terminar a música. Fiquei duas semanas sem fazer nada nela… O João (Jj Aquino, baterista) eu não vejo há tempos, até mandei uma mensagem para ele e falei: “A gente tem que se encontrar, cara!”. Porque nunca mais eu encontrei com ele.
Desde 2020?
Desde 2020, foi nosso último ensaio. O pai do Lyle morreu há pouco mais de um mês, e o pai dele era meu vizinho, era um grande apoiador da banda desde o começo. Eu tô aqui em Niterói hoje e eu lembro que ele vinha trazer a gente em Niterói, no Gato Preto, no Farol. Foi um cara que ajudou muito a gente. Estive com Lyle e o João não vejo desde aquela época. E aí a gente fez isso tudo separado, o João foi num estúdio, com o maior cagaço, no meio da pandemia. “Vai ter só eu e o cara na outra sala…”, ele disse. Foi lá e gravou duas músicas na bateria.
O Lyle não tinha onde gravar e foi lá em casa. Depois que o Lyle gravou fiquei duas semanas parado, apático. Foi na semana que o Paulo Gustavo (ator) morreu, e aquilo mexeu bastante com muita gente, a perda. E depois na mesma semana teve a matança no Jacarezinho… Cara, eu fiquei deprê, sem atitude, para fazer certas coisas. Isso atrasou um pouco as coisas. A gente não tinha um prazo, não sei se isso é bom ou se é ruim, porque a gente é nosso próprio coordenador, produtor, a gente tem que se cobrar. Mas sempre fui defensor dessa música, falava “tá demorando, algumas coisas são mais cagadas mesmo que as outras, mas essa música é boa!”. E a galera curtiu, muita gente tá falando da música. Bibliografia passou meio em branco…
Eu fui ouvir Bibliografia outro dia, não tinha escutado quando saiu. A letra é bem legal, cita o nome de um monte de artistas, me lembrou até uma playlist do Ronca Ronca…
Pois é, podia ter botado o Ronca Ronca no meio! A letra foi um dos releases que eu escrevia na época. Tinha várias outras coisas, “subwoofer do DJ Marlboro”, mas na hora de fazer a música botei o que dava mais musicalidade. Era um release da banda resumido, de coisas que influenciavam a gente.
Tem mais algo do 100 cortes vindo aí?
A ideia é terminar! Porque tem mais duas músicas. Uma era uma adaptação que a gente fez do “trem maluco quando sai de Pernambuco, vai fazendo tchucotchuco até chegar no Ceará”, a gente cantava em versão mais punk. A galera gostava, pelo apelo da música infantil. E tem um hardcore misturado com reggae que são as duas últimas músicas. A gente quer gravar e botar num EP. Estamos cumprindo o script de lançar singles. Mas a gente é uma banda do milênio passado, a gente gosta mesmo é de álbum, né, cara?
Só que tem uma questão financeira aí, pra você gravar um disco legal precisa de uma grana. A gente é independente, tá correndo atrás aí de editais para bancar um EP num estúdio bem gravado, com uma produção maneira. Ou até um disco mesmo, vamos ver o que vai acontecer. Ou quem sabe alguém da banda ganha na Mega Sena! (rindo)
Eu dei a ideia da gente voltar a ensaiar em casa mesmo, retomar as músicas que a gente estava fazendo, que seriam para um terceiro disco. E pensar em voltar a tocar, né?
Os shows estão voltando, tem o Circo Voador, Audio Rebel… Como você tá vendo esse retorno aí?
Com muito receio. Fui ver um show da banda DKV aqui em Niterói, foi cobrada carteira de vacinação, todo mundo de máscara, tinha distanciamento. Mas esse vírus é traiçoeiro e o pessoal fica falando das ondas, “lá fora já tá na quarta onda, surgiram casos em Londres…” E às vezes as pessoas se comportam como se já tivesse passado, né? Eu tenho muito receio, tipo “ah, vamos ver o Djangos sei lá onde”, aí a pessoa pega covid é entubada e morre. Eu ficaria bolado com isso.
Quero mais segurança para todo mundo, isso só vai vir com o tempo. Vamos ver como as vacinas vão se comportar ao longo do tempo. Esse show que eu fui foi na Sala Nelson Pereira dos Santos, um espaço enorme, um palcão. Pensei: “Isso é o que eu gosto de fazer, mas eu tenho medo”. Prefiro ser prudente nessa hora aí.
Raiva contra oba oba, o primeiro disco de vocês, lançado em 1998 pela Warner, completa 25 anos em 2023, daqui a pouquinho. Como foi a experiência de estar numa gravadora grande?
A experiência da gravadora foi boa para a gente ter acesso a um estúdio, a uma produção, a uma estrutura boa. A gente gravou num estúdio da Barra, de 18h até a madrugada. Fizemos isso durante um mês, todos os dias da semana de segunda a sexta. O João Barone e o Tom Capone (produtores) com a gente. Eu nunca teria estrutura para bancar dois produtores desse porte. Esse fim do ciclo das gravadoras, a gente pegou uma última fase onde a estrutura fonográfica tinha a coisa do advance, que era um dinheiro que a gravadora te pagava baseado numa previsão do quanto você poderia vender. Eles te adiantavam dinheiro, a gente aproveitou essas possibilidades.
Mas eu acho que a banda era muito imatura, falo por mim. A gente não conseguiu se impor, e ao mesmo tempo que a gravadora fez tudo isso, na hora de promover foi alegada falta de verba. Viajamos com dinheiro da gravadora algumas vezes, mas foi um trabalho pequeno, não foi maciço. Teve essa imaturidade, teve a mudança do diretor artístico – porque quem contratou a gente foi o Paulo Junqueiro, e ele depois saiu. O Tom Capone entrou. Às vezes isso pode acontecer, você não está no projeto empresarial de um diretor artístico.
Ele produziu a banda, mas aí ele mudou para a direção artística, e mudou a política do selo?
Mudou. Não tinha nada garantido, a gente era uma banda iniciante. Não recebemos muito apoio para divulgar, ainda mais levando em conta a estrutura empresarial ali. E teve a imaturidade, acho que a gente não conseguiu se impor. Eu era uma pessoa muito sem autoestima, apesar de acreditar nas minhas músicas. Isso dificultou muito. Mas teve seus momentos ótimos. Foi, de qualquer maneira, um grande momento, sou grato por ter tido essa experiência.
E como foi ser produzido pelo João Barone?
Paralamas para mim é paradigma de banda de rock, acompanhei os shows, os discos. E ele tava ali, exigindo da gente, coordenando a execução, comandando coisas nas letras, “isso não tá bom, não, muda!”. Eu lembro até que uma música que fazia relativo sucesso nos shows não foi pro primeiro disco, porque o Barone não curtiu muito. Faz parte da produção.
A gente teve que escolher repertório, o Barone escolheu o que ia entrar. Tem a convivência, de ele escutar a história da gente, a gente ouvir histórias dele. Sou muito fã dele e do Capone, mas na época eu não tinha consciência da magnitude do que estava acontecendo. Hoje eu olho para trás e penso: “Passei um mês convivendo com o Barone!” (rindo). E todo dia. Ele é um grande ídolo do João, que admira muito o Barone. Foi demais.
E acho que a gente conseguiu não ter uma reverência total, tanto que conseguimos discutir coisas dos arranjos. Sempre debati com produtor e tivemos essa liberdade de debater, ele estava aberto. Não iria rolar nada no esquema do Phil Spector, que quando alguém reclamava de alguma coisa, o cara abria a gaveta e mostrava uma arma (risos). Não rolou nada disso nem com ele nem com o Capone, foi um sonho de criança. E a gente era muito novo, eu tinha 24 para 25 anos, só pensava: “Que coisa boa que aconteceu!”
A última vez que a gente conversou foi na época da música Subcarioca, um single solo seu, que falava da situação atual do Rio de Janeiro. De lá para cá, como está sua visão sobre a cidade? Mudaram prefeito, umas outras coisas…
Eu sou pessimista. Você tira os personagens que protagonizam a vida pública, a máquina, o executivo, o legislativo… mas a mentalidade continua. O povo… bom, nós, né? Nós somos alienados. A gente não sabe o que está acontecendo. Isso facilita para que Bolsonaro seja eleito presidente, por exemplo. Essa mentalidade continua, e estamos nessa situação.
Eu prefiro ser realista: a gente vai evoluir sim, mas vai levar décadas para a gente chegar no “o Brasil é uma superpotência que dá valor a seu próprio povo”. Vai demorar muito para reverter isso. Eu costumo dizer que sou uma pessoa muito deprimida e muito feliz, porque qualquer pessoa que seja observadora atenta aos fatos vai olhar para o mundo e dizer que a gente tá fodido. Mas tenho minha mulher, minha família, minha banda, minha música. Isso me faz ser feliz dentro dessa realidade.
Lançamentos
Radar: Real Estate, The Dirty Nil, Snõõper, Ministry, Paul Weller, 61 OHMS, tudo junto

Felicidade é quando todas as bandas e artistas que a gente escolhe pro Radar têm nomes pequenos – e cabe todo mundo no título. Hoje tem Radar internacional, unindo novos e veteranos em torno da música nova – e, no caso do Ministry e do Paul Weller, do novo olhar sobre velhas canções. Divirta-se. Em tempo: esse texto era para trazer o clipe novo do Ministry, mas aparentemente ele foi censurado pelo YouTube (Foto Real Estate: Bandcamp).
Texto: Ricardo Schott
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REAL ESTATE, “EXACTLY NOTHING”. O Real Estate foi atrás das sobras e achou coisa boa: a coletânea The Wee Small hours: B-sides and other detritus 2011–2025 reúne lados B, faixas perdidas e outtakes desde o início da banda até o disco Daniel (2024). O nome do disco vem de uma música inédita feita nas sessões do terceiro álbum, Atlas (2013), e também acena pra um álbum clássico de Frank Sinatra. Uma raridade pra quem acompanha a banda de Nova Jersey desde o comecinho — ou pra quem quer descobrir as entrelinhas do som deles. Destaque para Exactly nothing, um B-side de 2012 que consegue ser ensolarada e misteriosa simultaneamente.
THE DIRTY NIL, “SPIDER DREAM”. The lash, quinto disco dessa banda punk canadense, tá marcado para sair no dia 25 de julho. Enquanto o álbum não chega às lojas, dois singles, Gallop of the hounds e este Spider dream, servem de vislumbre. A canção é uma balada soft, tranquila, mas trevosa.
Aliás, o cantor e guitarrista Luke Bentham disse que a inspiração da música foi um pesadelo – o tal “sonho de aranha”, do qual ele fala na letra, que tem versos como “ontem à noite eu sonhei que meu corpo estava coberto de picadas de aranha” e “o passado me parece um cemitério que visito todos os dias, faça chuva ou faça sol”. Outra inspiração foi o documentário Get back, sobre as internas do disco-filme Let it be, dos Beatles. “Me inspirei a usar acordes mais vibrantes do que costumo usar”, diz.
SNÕÕPER, “INCOGNITO”. Em 2010 surgiu uma ramificação do punk que logo ganhou a alcunha de eggpunk – na verdade era uma espécie de synthpunk, com herança direta de bandas como Devo e Sigue Sigue Sputnik e uso de teclados baratos. Essa banda de Nashville se considera parte dessa onda, recriando o punk e o hardcore a partir de baterias eletrônicas, teclados e um aparato de gravação que parece sempre disposto a distorcer o som.
Depois de um excelente disco de estreia, Super Snõõper, de 2023 (resenhado pela gente aqui), o grupo retorna com um EP exclusivo para o Bandcamp, Unknown caller – disco gravado em casa, com quatro faixas curtas. A zumbizante Crash out, single do EP, é bem legal – por sinal até o momento é a única que você vai encontrar nas plataformas mais conhecidas. Mas destacamos o clima caótico e intermitente da acelerada Incognito.
MINISTRY, “I’LL DO ANYTHING FOR YOU (SQUIRRELY VERSION)”. O novo clipe do Ministry, uma provocação explícita que chegou a circular pelo YouTube, foi retirado do ar sem qualquer explicação oficial. Quem teve a chance de ver, encontrou o sempre sombrio Al Jourgensen em um modo inusitado — e quase fofo. De terno rosa, marias-chiquinhas no cabelo, óculos em forma de coração e uma camiseta com os dizeres “Eu não sou adorável?”, ele revisita I’ll do anything for you, música da fase tecnopop da banda, regravada no bizarríssimo The squirrely years revisited – álbum dedicado a desenterrar o repertório inicial do Ministry, que ele sempre disse odiar (e que foi resenhado pela gente aqui). No vídeo, que agora só circula em alguns trechos (tem shorts no YouTube e este pedaço no Instagram da banda), há até uma montagem de Vladimir Putin e Donald Trump dividindo um espaguete, ao estilo de A Dama e o Vagabundo. Segue pelo menos o áudio.
PAUL WELLER, “LAWDY ROLLA”/”PINBALL”. Você já deve ter visto, mas não custa falar que vem aí mais um capítulo da trajetória de Paul Weller: o músico britânico anunciou o álbum Find El Dorado, só com releituras de canções que marcaram sua vida, com convidados como Robert Plant, Noel Gallagher, Hannah Peel. Tá previsto para 25 de julho e Weller fez versões de artistas como Richie Havens, Bee Gees e Kinks.
De nomes pouco conhecidos, tem a releitura de Lawdy rolla, música do The Guerrillas – um grupo de músicos de estúdio formado por feras como Manu Dibango (sax) e Slim Pezin (guitarra), que gravou essa “canção de trabalho” em clima jazzy num single de 1969. Essa e Pinball (single de estreia do cantor, apresentador e ator britânico Brian Protheroe) ganharam versões e já saíram como singles.
61 OHMS, “SIGN OF THE TIMES”. Essa banda californiana considera seu single mais recente algo entre “Radiohead, Coldplay antigo ou Muse com um toque moderno” – e faz sentido, mas tudo filtrado por um toque musical que vem lá dos anos 1990 e da paixão pela música-de-guitarra-e-ruído que as bandas da década tinham (entre elas o próprio Radiohead do disco Pablo honey, de 1993). Sign of the times ganhou também um clipe tão imersivo quanto a própria faixa.
Lançamentos
Radar: Armada, Alma Djem, Exclusive Os Cabides, Pablo Lanzoni e outras novas

Sai da frente que hoje o Radar, na nossa edição nacional, abre dando espaço a dois estilos historicamente guerreiros: o punk e o reggae, representados pelo Armada e pela turma do Alma Djem, ambos com coisas novas nas plataformas. MPB, música instrumental e sons indie também surgem por aqui, nessa playlist que não é playlist – isso porque a gente quer que você faça a sua própria playlist na plataforma que você quiser. Ouça, escolha e passe adiante.
Foto Armada (Matheus Machado/Divulgação).
Texto: Ricardo Schott
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ARMADA, “LAST OF MY KIND”. Toda a beleza de um hino punk: a banda paulistana revisita Last of my kind, faixa do disco Tales of treason, lançado no ano passado em vinil pela gravadora americana Pirates Press Records, em parceria com a Comandante Records. O Armada aproveitou um show recente em São Paulo para levar a energia do palco (e da platéia!) para um novo videoclipe.
A música é uma homenagem a quem insiste em seguir em frente quando tudo ao redor sugere o contrário — com destaque para o refrão e sua frase emblemática: “eu nunca sei quando desistir”. “Acho que a maioria das pessoas que tem uma banda, ou qualquer tipo de projeto artístico, que consome todo seu tempo, dinheiro, vida pessoal e profissional a troco de praticamente nada, consegue se identificar com essa frase”, afirma o baixista Mauro Tracco, que divide a direção do vídeo com Rapha Erichsen e Rodrigo Braga.
ALMA DJEM feat TATO, “SOBRADINHO”. O grupo de reggae Alma Djem lança Harmonia, terceiro EP do projeto Acústico em São Paulo, iniciado com os EPs Luz e Liberdade. Gravado em julho de 2024, o novo volume traz cinco faixas que falam de amizade, fé, amor e diversidade.
A abertura do EP novo é uma atualizada versão de Sobradinho, clássico de Sá & Guarabyra cuja letra – feita ainda nos tempos da ditadura – é bastante assertiva a respeito dos impactos da ação humana na natureza. A regravação junta Marcelo Mira (Alma Djem) e Tato (Falamansa), retomando uma parceria que já completou duas décadas. O EP tem também participação da banda capixaba Macucos.
EXCLUSIVE OS CABIDES, “PILHA ELETRÔNICA”. Em turnê, e de volta ao repertório de seu álbum mais recente, Coisas estranhas (resenhado por nós aqui), a banda catarinense Exclusive os Cabides decidiu revisitar Pilha eletrônica, uma das melhores e mais instigantes faixas do disco, e transformá-la em clipe. Um clipe, por sinal, tão indie quanto o disco: foi criado a partir de vídeos dos bastidores da turnê, editado pelos integrantes Eduardo Possa (guitarra) e Carolina Werutski (bateria), e é repleto de distorções visuais, para imitar a estética daqueles karaokês de boteco que eram uma febre nos anos 1990 – lembra? E sábado (31) tem show deles no Popload Festival.
PABLO LANZONI, “AVISO DE NÃO LUGAR”. Os sonhos do dia a dia, as utopias que a gente vai construindo na mente, e os desejos de alçar voo e ir além da realidade – misture tudo isso e você vai descobrir o combustível do novo single do gaúcho Pablo Lanzoni. Aviso de não lugar foi feito em parceria músico e poeta Richard Serraria, e mergulha no universo do indie folk idealista, sonhador e contemplativo. O single anuncia o próximo álbum de Pablo, que também vai se chamar Aviso de não lugar, e sai ainda neste semestre, com produção dele e de Leo Bracht.
RENZO PERALES E RP PROJECT, “SONHO RUIM”. Uma música instrumental que “fala” por si própria. Peruano radicado em São Paulo, o guitarrista Renzo Perales mistura camadas de jazz, r&b e até pagodão baiano em Sonho ruim, sua nova faixa com o grupo RP Project, que conta com participações especiais do beatmaker Toperasound e de Bicho Solto (Afrocidade), ambos nas percussões.
Mesmo sem letra, Sonho ruim foi escolhida por Renzo para expressar, por meio da música, os sonhos e dilemas de um imigrante em busca de uma vida nova e próspera em outro país. “Você vive um sonho de oportunidades e abundância que em determinado momento joga contra, parecendo inalcançável”, afirma ele. Quando a música fala, todo mundo entende.
OS PECADOS TROPICAIS, “EU TE VI”. Depois do criativo e ousado single de estreia, Absinto, Luisa Dale (voz), Daniel Ferreira (baixo), Tomás Novaes (bateria) e Nina Goulios (guitarra) retornam com Eu te vi, nova faixa embalada por um indie pop cheio de balanço. Produzida por Paulo Novaes e com lançamento do mitológico selo Kuarup, a canção mistura o swing nacional dos anos 1980 com o lado mais dançante da MPB, em clima solar realçado pelos metais. O primeiro álbum da banda, epônimo, sai em breve. São nove faixas gravadas pelo trio original Luisa, Daniel e Tomás — Nina se juntou ao grupo após as gravações.
Lançamentos
Urgente!: Unknown Mortal Orchestra lança clipe e cria polêmica – e mais

RESUMO: Fãs ficam indignados com música e clipe da Unknown Mortal Orchestra. Pic-Nic lança primeiro disco de inéditas em 14 anos. Produtor do primeiro álbum da Legião Urbana, o jornalista José Emilio Rondeau lança livro sobre os bastidores das gravações.
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O Unknown Mortal Orchestra não consegue ficar parado por muito tempo. O grupo experimental liderado por Ruban Nielson lançou há poucos meses o álbum IC-02 Bogotá (que resenhamos aqui) e acaba de anunciar o EP Curse, inspirado nos giallos, filmes de terror italianos dos anos 1970 e 1980. O disco sai dia 18 de julho e tem seis faixas: Aura, Boys with the characteristics of wolves, One hundred bats, Sorcerers of silence e Curse.
Boys…, a segunda faixa, já saiu na frente como single, e é uma canção que pode ser tranquilamente colocada na gavetinha do stoner rock. O clipe da canção, feito pelo próprio Ruban – que é a ”orquestra” da música e toca todos os instrumentos – aumenta a duração em 1m20 com uma espécie de trailer assustador, cuja sonorização (seria a versão inteira dela ou um trecho de outra faixa?) deixa a impressão de que a faixa é bem mais sombria e experimental.
E enfim, muita polêmica envolvida, justamente por causa da música e do clipe: Nielson junta no vídeo vários trechos de antigos filmes, mas bota os personagens para mover os lábios e cantar a letra da faixa. No YouTube, tem uma porrada de gente indignada achando que a música foi feita inteirinha com inteligência artificial – e num canal do Reddit chamado /indieheads, tem uma turma putaça com o evidente uso de IA no clipe.
“Mesmo que a IA fosse usada apenas para economizar dinheiro… Mano, qual é? O vídeo faz referência ao cinema de terror italiano dos anos 70 e 80, essa porcaria foi literalmente feita com dinheiro, rs. Ruban poderia ter feito algo com um charme vintage de verdade, mas acabou apenas afirmando o quão longe ele está do seu auge criativo”, escreveu uma pessoa. Um outro reclamou que o recurso deixa qualquer clipe “cafona”.
Um outro fã da Unknown Mortal Orchestra desencavou uma entrevista de Ruban lembrando que quando estudava Belas Artes, sua faculdade gastou “perversamente” uma bolada de grana para comprar uma engenhoca chamada The Painting Machine (“a máquina de pintar”).
“O assunto passou a ser: essa máquina vai nos substituir? Um monte do meu trabalho passou a ser a resposta à ansiedade de estudar pintura num mundo em que uma máquina pode pintar qualquer coisa”, contou o músico, dizendo que passou a pintar as mesmas coisas repetidamente, até que tudo parecesse “a fria repetição de um autômato”.
Até o momento, Nielson parece disposto a confundir. Sobre o EP da UMO que vem aí, disse no release coisas como: “No coração dos homens, às vezes, há bondades escondidas, mas substanciais, que seriam a diferença, em tempos de infortúnio, entre se encontrar à mercê de um monstro ou de uma criatura mais heroica”, contou.
“Por uma questão de sanidade, podemos nos enganar acreditando que essas lascas prateadas de moralidade são visíveis de fora, mesmo quando sabemos que não são. E, de qualquer forma, muito do que acreditamos ver de fora é uma miragem, especialmente hoje em dia”, completou. Ah, bom.
***
Vai estar em breve nas nossas resenhas, mas vale citar que saiu hoje nas plataformas Volta, disco novíssimo da banda carioca Pic-Nic (Novevoltz/Bonde Music), o primeiro desde o retorno do grupo em 2021. O álbum tem sete faixas novas, participação do rapper Ramonzin, sonoridade com cara punk-disco-grunge no single Aniquilação – que já ganhou clipe – e muita vivência acumulada. O som é novo, mas com ecos dos anos 2000.
***
Por último mas não menos importante (e falaremos melhor disso depois), vale anunciar que na próxima quarta (4 de junho) o jornalista José Emilio Rondeau autografa na Livraria da Travessa de Ipanema o livro Será! – Crises, genialidade e um som poderoso: os bastidores da gravação do primeiro disco da Legião Urbana contados por seu produtor (Editora Máquina de Livros). Pois é: além de ser um dos maiores mestres do jornalismo de rock no Brasil (você o encontra semanalmente na newsletter Farol), Rondeau produziu a estreia da Legião, e reúne neste livro os causos – há anos dispersos em entrevistas e artigos. É às 19h, Rua Visconde de Pirajá, 572, Ipanema. Com bis na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, dia 13 de junho, às 15h.
Texto: Ricardo Schott
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