Lançamentos
Dadá Joãozinho: unindo Niterói e São Paulo em “Ô Lulu”

Vindo de Niterói (RJ), o artista multimídia João Rocha criou o projeto dadá Joãozinho. Sua mudança para São Paulo inspirou seu novo single, Ô Lulu, que já ganhou clipe dirigido por Miguel Gil, João Rocha e Coisa. A música adianta o primeiro álbum solo dele, que sai em breve. A ideia de João/dadá é unir dois lugares diferentes em termos musicais e cinematográficos, a partir de influências de punk, reggae, pop, rock nigeriano e tropicalismo.
“Canto sobre a busca por conexão, dentro desse contexto das megalópoles, com todas as contradições e demandas que isso inclui. O fator moeda não sai do jogo na história desse trabalho, atravessa a vida toda, e os fluxos que isso implica. Falo sobre a saudade que tanto sentimos quando deixamos nossa casa pra vir achar algo novo nessa cidade e em outras capitais no mundo”, conta, no comunicado de lançamento do single.
O clipe une imagens de Niterói e São Paulo. “O tempo dos sonhos me interessa muito. E o tipo de lógica que se estabelece também. Esse vídeo joga com essa volatilidade de passado, presente e futuro, e mistura esses ambientes nesse movimento constante. Andando quase destacado da realidade, perdido nessa área cinzenta, um sem-lugar”, diz.
Foto: Marina Zabenzi/Divulgação
Crítica
Ouvimos: Sharon Van Etten & The Attachment Theory

- Sharon Van Etten & The Attachment Theory é o sétimo álbum de Sharon, e o primeiro em que ela aparece acompanhada pela banda que inclui os músicos Jorge Balbi (bateria, vibrafone), Devra Hoff (baixo, guitarra e synth), Teeny Lieberson (vocais, synth, programação, piano e guitarra).
- A cantora produziu o álbum ao lado da banda, de Josh Block e Marta Salogni. Também tocou guitarra e fez efeitos de vocoder.
O indie rock de Sharon Van Etten foi feito para desagradar a turma que curte artistas “coerentes”, que seguem carreiras certinhas. Aproximações com estilos como folk, trip hop e synth pop marcaram álbuns mais recentes da cantora, que nos últimos dez anos, vem concebendo discos enquanto cuida de suas próprias metamorfoses: ela se formou em psicologia, trabalhou como atriz (na série da Netflix The OA) e recentemente declarou à Flood Magazine que durante a turnê de seu disco mais recente, We’ve been going about this all wrong, chegou a um ponto em que “estava realmente cansada de me ouvir e fazer todo mundo me ouvir cantar sobre mim”. Naquele período, pediu uma pausa à banda e chegou a questionar se, ao voltarem do hiato, “poderiam apenas tocar”.
O “apenas tocar” que se passou pela cabeça de Sharon faz sentido – a história da música está repleta de artistas que transformaram suas vivências em letras e, em diversos momentos, esgotaram-se de tanto se expor ao público. Um processo que pode levar a abandono de carreira, autoabandono, excessos e outras paradas mais sinistras. Mas acaba que Sharon Van Etten & The Attachment Theory também é um disco “sobre ela”, a fotografia de um momento em que Sharon decidiu voltar acrescentando um rabicho de banda a seu nome. A cantora reduziu o número de participações no álbum, focou num núcleo duro de quatro integrantes (incluindo ela própria) e decidiu retornar fazendo um álbum cuja melhor definição cabe em quatro letras: rock.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Bom, não só isso: Sharon Van Etten & The Attachment Theory é indie rock com tendências oitentistas bem claras e uma vibe próxima dos anos 1980, com pinceladas góticas por todos os lados. Mas é um álbum que busca uma simplicidade dentro da complexidade. E se isso ficou confuso, vale dizer que ele abre numa vibe pós-punk e eletrônica com Live forever – cuja letra repete várias vezes aquela frase popularizada pelo Queen, “quem quer viver para sempre?”.
E vale dizer também que o disco prossegue unindo climas sombrios e operísticos em Afterlife, parte para o rock de garagem perturbador em Indio, soa como um ABBA do mal em I can’t imagine (Why you feel this way), bola uma versão sombria do som do B-52s em Somethin’ ain’t right e junta o New Order de 1981 e o Kraftwerk pré-Autobahn em Idiot box. Em todo o álbum, ressoa uma sonoridade que torna esse disco recomendadíssimo para fãs de bandas como Pretenders, Roxy Music e Japan, além da fase Berlim de David Bowie.
Com músicas chamadas Afterlife e Live forever logo no começo, a estreia da nova banda de Sharon é, sim, um disco mobilizado existencialmente. Os temas variam da morte de um fã dela por doença crônica, até maternidade, apegos, envelhecimento (em Fading beauty, que impressiona pela intensidade da letra e do arranjo espacial e meditativo, lembrando os trabalhos solo de Nico) e os autoenganos e gaslightings da vida.
Estes dois últimos temas, por sinal, surgem numa das melhores faixas do álbum, Southern life (What must it be like). Nessa canção, não há nada do calor do rock sulista norte-americano – pelo contrário, é uma música sombria que poderia ter sido composta em 1982 num canto escuro da Inglaterra. Com direito a versos como “toda a minha vida eu fechei meus olhos/e tropecei com uma mente rebelde/uma criança rebelde, mas que tinha amor/com uma luz brilhando, esquecida”.
Uma outra referência que surge em algumas faixas de The Attachment Theory é a vibe mágica de Siouxsie Sioux e Kate Bush. Os climas gélidos de Trouble e a estrutura “mágica” de I want you here são herdeiros diretos dessa onda, e trilham o álbum num corredor agridoce e solitário, tanto quanto os discos de folk do começo dos anos 1970. Sharon Van Etten pode até ter pensado em “apenas tocar”, mas Sharon Van Etten & The Attachment Theory mostra que sua música continua carregada de significado, emoção e um espírito inquieto que a mantém em constante reinvenção.
Nota: 9
Gravadora: Jagjaguwar
Lançamento: 7 de fevereiro de 2025.
Crítica
Ouvimos: Larkin Poe, “Bloom”

- Bloom é o oitavo álbum da banda de blues-rock Larkin Poe, formada pelas irmãs Rebecca e Megan Lovell. O grupo surgiu em 2010, e antes disso, as duas formavam um trio de bluegrass com a irmã Jessica, o Lovell Sisters. O trio chegou a fazer apresentações acompanhando Elvis Costello em 2009.
- No duo, Rebecca faz os vocais principais e toca guitarra base, enquanto Megan faz backing vocals e fica com a guitarra slide.
- As duas tocaram recentemente em Rosetta, uma das faixas do álbum country de Ringo Starr, Look up.
O bom e velho “para quem gosta de…”, que costuma aparecer em sites de resenhas, vai direcionar o Larkin Poe para fãs de rock clássico e country-rock. Bloom, novo álbum do grupo, soa como se o punk jamais tivesse existido. Nas onze faixas do disco, as irmãs Rebecca e Megan Lovell demonstram influências de Aerosmith, Gary Moore, AC/DC, Led Zeppelin, Rolling Stones fase 1971, Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers, blues e country clássico. Tudo isso sem nenhum cacoete lo-fi, e sem nenhuma brincadeira do tipo sujar o som, ou gravar o vocal como se viesse de uma fita K7, ou de um megafone antigo.
Justamente por isso, é importante dizer – e isso pode angariar narizes torcidos aos montes – que Rebecca e Megan não fazem parte de nenhuma banda indie, a perspectiva de Bloom é de rock clássico radiofônico, e o material parece ter sido feito pensando em quem ouve rock alto ao volante. Isso fica claro em faixas como Mockingbird, um rock sulista que não destoaria de um antigo comercial de cigarros; Bluephoria, tributo ao lado mais suingado de bandas como Led Zeppelin e Deep Purple; e Little bit, uma canção romântica que remete ao toque country de Elton John, Ringo Starr ou Paul McCartney.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Quanto às referências femininas, o som do Larkin Poe carrega a força de Joan Jett, a versatilidade country-rock de Linda Ronstadt e a vibe mística de Stevie Nicks. Especialmente quando as duas irmãs sentam a mão em faixas como o boogie pesado Nowhere fast e a mescla de blues e spiritual God is a woman (excelente letra: “se deus é uma mulher/o diabo também é melhor você se ajoelhar”). Já Pearls é country-rock pesado com letra feminista e raivosa: “Você tenta me dizer o que fazer/você tenta me dizer o que não fazer/eu faço o que eu quero, quando eu quero (…)/eu não te digo como girar seu mundo/fique com suas pérolas”.
Ainda que seja um álbum com estileira setentista, Bloom está bem longe da nostalgia – até mesmo quando se torna um disco ligeiramente 60’s, em faixas como You are the river e na balada country Bloom again, que vêm no encerramento. No geral, é rock competente tocado por duas irmãs que parecem ter sido criadas entre instrumentos musicais. Se o Larkin Poe vivesse no Brasil e tocasse samba, seria um samba de raiz, sem concessões a novidades. E isso tem seu charme.
Nota: 7,5
Gravadora: Tricki-Woo Records
Lançamento: 24 de janeiro de 2025.
Crítica
Ouvimos: Lilly Hiatt, “Forever”

- Forever é o sexto disco da cantora norte-americana Lilly Hiatt, que é filha do cantor e compositor John Hiatt, e é também formada em psicologia.
- “Este foi um disco que foi escrito e gravado uma faixa de cada vez com meu marido Coley. Depois de descartar cerca de 20 músicas que escrevi nos últimos anos, eu queria chegar ao cerne das coisas”, conta ela no texto de lançamento.
- “Tive uma ótima conversa com uma amiga no telefone e ela mencionou que não tinha certeza de onde eu estava. Percebi que também não tinha certeza disso. Foram alguns anos nebulosos depois de 2020, e as peças pareciam estar apenas começando a ser reunidas. Eu me apaixonei, me casei, tive um cachorro, uma casa… coisas com as quais sempre sonhei”, continua ela, dizendo que demorou ate aceitar que estava preparada para sua nova vida. “O tempo está voando, e eu quero estar aqui para tudo, em vez de ficar perdida em meus pensamentos o tempo todo. Meu amor é para sempre”, finaliza.
Lilly Hiatt é filha de John Hiatt, um veterano da música estadunidense cuja carreira atravessa décadas e estilos — do country à new wave, passando por yacht rock, blues e o rock revisionista dos anos 1970. Do pai, herdou a disposição para explorar novos caminhos. E da geração que revelou o pai, ela absorveu, quase por osmose, a vibe dos roqueiros que, não importa para onde sigam, carregam com orgulho suas raízes e tudo o que elas representam.
Daí que, equilibrada entre o country e o alt-country em álbuns anteriores, em Forever, ela retorna partindo para o garage rock, e até para sonoridades aparentadas do grunge em alguns momentos – sem deixar de lado a argamassa country. O disco, bem conciso (29 minutos), abre com Hidden day, rock indie-blues, com certa psicodelia misturada lá. Shouldn’t be, por sua vez, é rock de festa, com algo glam misturado, já que é um boogie que poderia ser uma releitura do T Rex. Ghost é um rock que consegue apontar simultaneamente para o country e para o punk. Os vocais de Lilly parecem ser feitos num megafone, com bastante eco.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O disco novo de Lilly, por sinal, é um disco bastante alegre, quase sem melancolia, em que ela fala sobre dia a dia pessoal, vida amorosa, realização musical e até sobre um “dia secreto” da semana, entre quinta e sexta (“para esta porra de semana/é onde eles guardam o dia escondido/não conte aos seus amigos/guarde para si mesmo”, canta na já citada Hidden day, deixando certa dúvida sobre porque diabos ela não localizou o tal dia no fim de semana). Trabalhando ao lado do marido, o músico de Nashville Coley Hinson, ela reflete sobre o que deve perdurar para sempre na faixa-título — que, liricamente, se torna a peça central do álbum.
Musicalmente, Forever é mais representado pelo revisionismo anos 1960/1970 de Somewhere (uma canção que poderia estar no repertório de Warren Zevon ou Tom Petty), pelo baladão country romântico de Man, pela neopsicodelia oitentista de Evelyn’s house e pela balada Thoughts. Muito embora haja bastante variedade no álbum, cabendo um paredão de guitarras e distorções na faixa-título, e vibes herdadas de David Bowie em Kwik-E-Mart, uma canção sobre a felicidade que existe nas coisas simples. E Forever conquista justamente pela pureza e pela sinceridade em que investe.
Nota: 8
Gravadora: New West Records
Lançamento: 31 de janeiro de 2025
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?