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Lançamentos

Cólera lança novo EP, com convidados

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Cólera lança novo EP, com convidados

Hoje levada adiante pelos veteranos Val (baixo e voz) e Pierre (bateria e voz), além de Wendel Barros (vocal) e Fábio Belucci (guitarra), a banda punk paulista Cólera acaba de lançar um novo EP, Está na hora de mudar, com duas inéditas, algumas regravações e alguns convidados. Edgard Scandurra (Ira!) faz backing vocals e toca guitarra na releitura de Quanto vale a liberdade. Fernando Badaui (CPM 22) solta a voz em outra recordação do Cólera, Dia e noite, noite e dia. Até quando esperar, da Plebe Rude, ganha versão rápida, quase punk-country, mas aberta com cordas e com um solo de violoncelo (feito pelo músico Júlio Peloso), como no original da banda brasiliense.

Complementando, tem as novas Jovem desertor e Repetição constante, e a recordação de uma música pouco lembrada do grupo, Movimentação, do EP É Natal?, de 1988. Segundo um longo papo da banda com o site Rock On Board, o disco foi gravado em tempo recorde no estúdio de Jefferson, baixista das bandas Flicts e Agrotóxico.

“O Val sugeriu gravar uma versão de “Até quando esperar”, eu indiquei uma composição minha pra gente trabalhar, a Movimentação nós já havíamos tocado em ensaios mas não ao vivo e por ser uma faixa não tão conhecida e com uma letra bastante atual, decidimos incluí-la também. Por fim, convidamos o Scandurra para participar da regravação de Quanto vale a liberdade, aproveitando a versão que apresentamos com ele ao vivo em ocasião do show de comemoração dos 40 anos do Cólera no Sesc Pompeia, que ocorreu no final de 2019″, contou Fábio.

O EP serve de batedor, diz a banda na mesma entrevista, para um projeto maior: “Pretendemos fazer um projeto de financiamento coletivo para levantar uma verba para gravarmos um disco novo! Serão pelo menos 8 faixas inéditas, as 6 faixas do EP poderão entrar de bônus, mas de toda forma não farão parte integralmente desse disco novo. Já temos o material e algumas músicas já ensaiadas para gravar no segundo semestre deste ano”, contou o guitarrista.

Crítica

Ouvimos: Saint Etienne, “The night”

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Ouvimos: Saint Etienne, “The night”
  • The night é o décimo segundo álbum de estúdio da banda britânica Saint Etienne, definido pela própria banda como uma continuação do disco de 2011, I’ve been trying to tell you.
  • O disco foi produzido pelo Saint Etienne em colaboração com o compositor e produtor Augustin Bousfield. A banda é formada há mais de três décadas pelo trio Sarah Cracknell, Bob Stanley e Pete Wiggs.
  • Sobre o disco, Wiggs diz que “queríamos continuar o clima suave e espacial do último álbum, talvez até mesmo dobrá-lo. Mas é um álbum muito diferente, não é baseado em samples. Músicas, climas e peças faladas entram e saem enquanto a chuva cai lá fora. É o tipo de disco que gosto de ouvir no escuro ou com os olhos fechados”, diz.

Faz falta a época em que o Saint Etienne era uma grande revelação do indie pop. Foxbase alpha (1991) e So tough (1993) são discos que observam a composição de música pop por ângulos bastante diferentes, recorrendo sempre a cláusulas clássicas (synth pop anos 1980, grupos vocais dos anos 1960, uma mescla de Beatles + Beach Boys, etc) e dando uma sensação de conforto, especialmente por causa da bela voz de Sarah Cracknell.

As pessoas mudam, as coisas mudam, e lá se foi o Saint Etienne dedicar-se cada vez mais a uma música ambient, experimental e abstrata – em que tudo parece ser a trilha sonora de algo, seja das letras inconclusivas do grupo, seja de uma história que está sendo contada no decorrer das faixas. Claro que ficou bonito e isso não se discute, apesar da nostalgia dos primeiros tempos. No caso de The night, o disco novo (cuja capa soa como uma paródia – em clima de lixo industrial – da arte de Three imagnary boys, estreia do The Cure) parece fazer um sobrevoo sonoro e introspectivo nos caminhos percorridos por alguém da juventude até uns 20, 30 anos depois.

Talvez o tal sobrevoo seja na vida do próprio grupo, nas felicidades e nas tristezas. The night é marcado do começo ao fim por um ruído de chuva, que desaparece em poucos momentos, e por uma imagem de “ouro” como o tempo que se esvai. As faixas são interligadas, abrindo com Settle in, que inicia com conversas, como se fosse um papo de piano-bar – até que a música se torna um art pop celestial, e surge a voz de Sarah falando: “Quando você tem vinte ou vinte e um anos, você tem tanta energia e fé/(…) O tempo voa e escapa pelos dedos”. Chegando perto do final, a vinheta Wonderlight traz a cantora declamando, com voz tranquila, sobre a sensação de voltar para casa sozinho e ouvir música até adormecer, como o (quase) fechamento de um ciclo.

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O material novo do Saint Etienne tem partes orquestrais de tirar o fôlego (Half light, Celestial, esta encerrada com ondas sonoras vocais de emocionar) e mexe com sons que parecem vir de longe – como uma trilha sonora distante num filme em que alguém olha a chuva na janela (por acaso na faixa Through the glass), ou uma música indistinguível que aparece num sonho. No caso, a já citada Half light, No rush e Northern countries east – esta, aberta com um instrumental sombrio, como se algo estranho fosse acontecer, mas imediatamente adocicada pela presença de um cravo, que dá uma beleza quase dissonante à música.

When you’re young, levada adiante por um piano simples e por um ritmo que lembra uma célula rítmica de reggae, e o hino Gold, um r&b experimental com piano lembrando Cais, de Milton Nascimento, dão mais variedade ao disco. E, bom, o rótulo “progressivo” é algo que só deve ser tirado do bolso quando realmente valer a pena – no caso de The night, não vale mesmo. Mas enfim, é um disco que tem o tom mântrico de Nightingale, que lembra Peter Gabriel, as vozes sobrepostas (num clima meio Laurie Anderson) de Elliar Carr, e Preflyte, que se fosse lançada nos anos 1980 acabaria ganhando aquele rótulo esvaziado de new age.

De qualquer jeito, o estilo se insinua também no soul celestial de Alone together, uma das raras músicas com bateria-percussão mais distinguíveis, aberta com piano rhodes e guitarra, e seguindo com algo que lembra Holding back the years, do Simply Red. É o encerramento do álbum, apostando na magia da passagem do tempo e no tom introspectivo.

Nota: 9
Gravadora: Heavenly Recordings.

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Crítica

Ouvimos: The Bug Club, “On the intricate workings of the system”

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Ouvimos: The Bug Club, “On the intricate workings of the system”
  • On the intricate workings of the system é o terceiro álbum da banda galesa The Bug Club, formado hoje por Sam Willmett (voz, guitarra) e Tilly Harris (baixo, voz). Eles têm também três EPs, um deles com a antiga formação de trio.
  • O New Musical Express definiu o Bug Club como “a banda mais estranha e prolífica do País de Gales”. Isso porque a banda lançou em 2023 um disco de 47 faixas (!), Rare birds: hour of song. “Se não tivéssemos músicas para escrever e arranjar quando estamos em casa, eu ficaria um pouco louca”, diz Tilly.

O Bug Club já existe há quase dez anos e teve uma origem que volta e meia se insinua nas músicas deles – eram, um trio de blues, que perdeu um dos integrantes (o irmão do vocalista e guitarrista Sam Willmett) e hoje é uma dupla com ele e com a baixista e vocalista Tilly Harris. O tom de voz grave e meio rouco de Sam dá um certo ar rock-clássico para o som dos dois, mas o BC que surge de seu terceiro álbum, On the intricate workings of the system, é um projeto de pré-punk, new wave, garage rock e indie rock, com letras zoeiras, viralatice sonora, batidas robóticas.

A ironia do Bug Club lembra bandas como Ramones e Shonen Knife, embora o som de San e Tilly seja mais aproximado de grupos como Gang Of Four, The Fall, B-52s (quando Tilly solta a voz, especialmente), Pixies, Kaiser Chiefs e até Cramps. Nem sempre a tentativa de falar tudo brincando, mas em tom sério, dá certo: Quality pints repete o título da música várias vezes (diz o release que a ideia é brincar com o dia a dia repetitivo dos shows e turnês) e… sei lá. Pop single é uma brincadeira com o exercício de compor canções pop que soa meio ingênua, como se todo estilo musical não tivesse seus ganchos. We don’t care é engraçadinha mandando todo mundo calar a boca, mas nem tanto.

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Musicalmente, é rock feito para dançar, com caracteres new wave e músicas tão boas de pista quanto os clássicos do The Hives e dos Strokes. Passam com louvor nessa prova War movies, a robótica A bit like James Bond (que quase repete a melodia de War movies), a marcha punk zumbi Best looking strangers in the cemetery e o tom meio Slits, meio Buzzcocks de Lonsdale slipons. A fase inicial do grupo parece invadir Better than good, quase uma faixa-solo de Sam, que soa como uma demo expandida (com violão, voz e batidinha eletrônica) e lembra o power pop garageiro do Presidents Of The USA.

Letra bacana no álbum, tem a de Cold. Hard. Love., uma pensata muito doida sobre corações partidos comprados no supermercado e amores frios. No final, a faixa-título mete protesto na parada: “É maior que você/então cale a sua boca/sobre o sistema!/o maldito sistema/o intrincado funcionamento interno do sistema”. Vale citar que, de modo geral, trata-se de uma banda boa de aproveitamento de espaço: músicas curtas cheias de partes diferentes, refrãos e pontes, o que mostra que eles até mandam bem nas amarras do formato pop – que eles mesmos zoaram, inclusive.

Nota: 7,5
Gravadora: Sub Pop

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Crítica

Ouvimos: Afonso Antunes, “Filho único”

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Ouvimos: Afonso Antunes, “Filho único”
  • Filho único é o primeiro álbum solo de Afonso Antunes, vocalista da banda Alpargatos. O álbum teve direção artística de Rômulo Fróes e produção de Mario Arruda, com colaborações de Nina Nicolaiewsky e Nego Joca. O álbum tem músicas mais antigas ao lado de canções feitas durante a gravação.
  • “A narrativa do álbum é tecida por letras que abordam temas como a relação com o tempo, a ansiedade diante das possibilidades, o medo da morte e a certeza da vida”, diz o texto de lançamento.
  • Além do trabalho como músico, Afonso é professor de português. Com o Alpargatos, ele já gravou três álbuns. “E não sou filho único”, diz no Instagram.

Durante o projeto de seu primeiro álbum solo, Filho único, o gaúcho Afonso Antunes contou com a mentoria de Romulo Froes. A presença do músico, cantor e compositor paulistano é clara no álbum, que apresenta experimentações com samba, canção pop, folk, lo-fi e coisas eletrônicas – um variedade que surge, às vezes, em poucos segundos de diferença.

Filho único, a faixa-título, é bossa-samba-eletrônico, com uma letra que parte de percepções que vão da infância à idade adulta (bom verso: “o leite derramado/quem bebeu?/não fui eu”). Bigorna parte de um samba eletrônico com levada soul para algo até bem próximo do pop gaúcho oitentista na letra. Se eu morresse amanhã é um samba-canção em tom sombrio, com percussão quase cardíaca, cuícas e samples de vozes dando o ritmo. Em cada porto tem seu ambiente introduzido por barulhos de barco ao mar, e prossegue como uma balada com cara blues, marcada pelo uso de cordas. E não é mais rio é um blues violeiro, com letra sobre amores e mudanças, ganhando mais peso e guitarras do meio para o final.

Na segunda metade do álbum, surgem os sons de rua e o tom pop de Porto Alegre 12:30, a delicadeza da balada contemplativa Tanta coisa, as constatações da balada jazzística e ruidosa Pelas seis, com Nina Nicolaiewsky (dos versos: “a TV me falou que é normal/um dia chove, no outro faz sol/um dia morre pro outro nascer/acho que vou desligar a TV”) e a MPB bedroom de Topografia, com voz, violão e ruídos, e letra voltando para o ciclo inicial do álbum, da linha do tempo começando na infância (“bem perto daquele menino que falava errado/e via tão certo”).

Nota: 8
Gravadora: Frase Records.

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