Cinema
Cadê a Shelley Duvall?

O blog Messy Nessy Chic deu uma relembrada, a partir de fotos e textos, num dos rostos mais marcantes da história do cinema: nada menos que Shelley Duvall, a Wendy Torrance de O iluminado.
Costumeiramente lembrada por ter trabalhado num dos mais conhecidos filmes de terror de todos os tempos (e pelos perrengues que passou durante as filmagens), Shelley tem uma história que vai bem além disso. Antes de ser descoberta pelo diretor de cinema Robert Altman, que a dirigiria em filmes como Voar é com os pássaros (1970) e Oeste selvagem (1976), chegou a se formar em nutrição e estava com a ideia de se tornar uma cientista. Logo que apareceu, chamou a atenção não apenas pelo talento e pela espontaneidade, mas pelo tipo físico que fazia com quem fosse chamada de “Twiggy do Texas” (referência à modelo britânica).
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Até aquele momento (foi em 1970, quando Altman estava na terra de Shelley filmando justamente Voar é com os pássaros, e sua equipe), ela não apenas nunca tinha pensado em ser atriz, como também nunca tinha saído do Texas. A equipe do diretor encantou-se com ela, que estava ali por perto, e insistiu por sua convocação para o elenco. Shelley acabou participando de filmes que pertencem não só à história do cinema, como à filmografia da cultura pop, como o musical Nashville (1975), no qual fez groupie Martha. Em 1977, fez o drama Três mulheres, também de Altman, e um papel pequeno em Noivo neurótico, noiva nervosa, de Woody Allen.
Nas filmagens de Noivo neurótico, Shelley conheceu ninguém menos que Paul Simon, com quem teve um relacionamento que marcou época – o casal vivia frequentando a Studio 54, boate da moda em Nova York, e chamava a atenção pelo carisma e pela beleza incomum de ambos. Durou pouco: Shelley apresentou a amiga Carrie Fisher a Simon e o ex-parceiro de Garfunkel se apaixonou pela atriz – com quem ficaria casado por apenas um ano.
Depois viria O iluminado (1980), filme pelo qual Shelley é mais conhecida, inclusive no Brasil. Uma experiência que significou muito para ela, pelo lado ruim e pelo lado bom, digamos assim. Em entrevistas, Shelley afirmou que aprendeu mais sobre seu trabalho no set de Stanley Kubrick do que em qualquer outro filme. Só que – como qualquer fã do filme sabe – as coisas ali não foram muito tranquilas para ela.
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A atmosfera pesada de Wendy Torrance era construída a partir de um tratamento bem estranho dado a Shelley. A atriz não fazia suas refeições com o resto da equipe, era ignorada por colegas e destratada pelo diretor, que tinha decidido que ela precisava se sentir fragilizada para retratar bem o desespero da personagem. Não são apenas declarações dadas ao acaso: dá para ver um pouco disso no vídeo abaixo, que mostra o diretor orientando Shelley de maneira bem rude durante uma das cenas. Shelley, quando perguntada sobre isso, afirma que o clima de bateção de cabeça estava ajudando no trabalho.
Vale dizer que Kubrick não dava no saco apenas de Shelley: ele reescrevia tanto o roteiro que o próprio Jack Nicholson parou de ler os rascunhos. A cena do taco de beisebol, que ela dividia com Nicholson (Jack Torrance) , teve 127 takes. No fim do trabalho, a atriz chegou a presentear o diretor com vários tufos de cabelo que ela perdia, por causa da ansiedade.
Shelley ainda teria uma longa carreira após O iluminado. Trabalhou no infantil Popeye (1981), mais um filme de Robert Altman, no qual interpretou a Olívia Palito (Robin Williams, você deve saber, fez o papel-título). Durante boa parte dos anos 1980 ganhou poucos papéis no cinema e acabou virando idealizadora e produtora de um programa infantil, Fairy tale theatre, exibido entre 1981 e 1986 na TV americana. Em 1991, chegou a gravar dois singles com canções de Natal. Era uma nova fase de carreira.
Shelley encerrou a carreira em 2002, aposentando-se precocemente sem apresentar muitas razões. Os rumores sobre o que está rolando com ela só crescem, ainda mais depois de algumas aparições recentes dela na televisão. Em 2016, ela apareceu na rede CBS, na atração apresentada pelo psicólogo Phil McGraw, famoso por suas aparições no programa de Oprah Winfrey. A atriz disse que estava doente, que precisava de ajuda e que seu amigo Robin Williams, morto em 2014, estava vivo (“ele está mudando de forma”, acrescentou).
A atriz de O iluminado mobiliza até hoje muitos fãs – como os responsáveis pela conta do Instagram @soshelleyduvall, que geraram as fotos que você vê nesse texto. A aparição no programa de Phil foi considerada um abuso por muita gente, já que Shelley não parecia estar muito certa do que fazia ali e estava alternando lucidez com momentos em que parecia mesmo fora do ar. Mas foi o suficiente para muitos admiradores lembrarem do carisma e do talento dela. E de uma época em que rostos incomuns davam novas métricas de beleza para a tela grande.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
Agenda
Parayba Rock Fest: filme que será exibido no evento relembra história de fotógrafo morto por covid

Marcado para este domingo (28) na Areninha Cultural Hermeto Pascoal (Lona Cultural de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro), o Parayba Rock Fest, do qual você ficou sabendo aqui, vai ter shows, DJs, exposições e várias outras atrações. E Michael Meneses, criador do selo Parayba Records e realizador da festa (que também comemora seus 50 anos de idade), vai exibir seu primeiro filme, Ver + – Uma luz chamada Marcus Vini. Michael, que é fotógrafo e professor de fotografia, iniciou o filme como trabalho de conclusão de curso de sua faculdade de Cinema.
“O que eu vou exibir no evento são os 50 minutos que já estão prontos do filme e que apareceram na apresentação do meu TCC. Ainda estou inclusive fazendo pesquisas para ele”, conta Michael, que com o filme, homenageia Marcus Vini, seu melhor amigo (“o irmão homem que eu não tive”, conta), morto por covid. Marcus era fotógrafo e, como Michael, foi professor universitário e cobriu festivais de música como o Rock In Rio.
“Marcus contraiu covid naquela época mais braba da doença, e morreu no dia em que ele deveria estar tomando a primeira dose”, lembra Michael. “Ele foi fotojornalista e curiosamente fazia aniversário no dia 19 de agosto, que é o Dia Mundial da Fotografia. E só soube disso depois que virou fotógrafo. Ele inclusive fez uma foto super importante numa enchente, que foi publicada no jornal Le Monde. A ideia do filme é focalizar o lado humanitário dele, um cara que estava sempre pensando em fazer doação de alimentos, coordenou um curso de fotografia em Madureira (Zona Norte do Rio)“. Antes do evento de Michael, o filme foi exibido também em lugares como a livraria carioca Belle Epoque.
O Pop Fantasma é um dos apoiadores do evento, ao lado de uma turma enorme. Para saber mais e comprar seu ingresso, confira o serviço abaixo.
SERVIÇO:
SHOWS COM AS BANDAS:
Netinhos de Dna Lazara, Benkens, NoSunnyDayz, New Day Rising (NDR) e Welcome To Tenda Spírita.
ALÉM DOS SHOWS:
Exibição do Documentário: VER+ – Uma Luz Chamada Marcus Vini – Direção: Michael Meneses
DJs: Explica e Chorão 3
Expo de fotos dos fotógrafos da Rock Press
Feira Cultural com: Disco de vinil, CDs, DVDs, roupas, livros, fanzines, artesanato, acessórios de moda rock, cultura geek e muito mais
Gastronomia Vegana: Vegazô – A Feira Vegana da Zona Oeste/RJ
DATA: 28 de julho 2024, às 14h.
LOCAL: Areninha Cultural Hermeto Pascoal – Praça 1 de Maio S/N – Bangu/RJ
INGRESSOS: antecipados aqui, na bilheteria da Areninha e na loja Requiem (Camelódromo de Campo Grande).
Foto: reprodução Instagram
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