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Àiyé: experimentalismo 100% solo, ao vivo no Rio

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Àiyé: experimentalismo 100% solo, ao vivo no Rio (na foto: Larissa Conforto)

Baterista, compositora e produtora, Larissa Conforto é a única integrante do projeto experimental Àiyé. Única mesmo: nesta sexta (3), ao abrir o show de Céu no Circo Voador (aqui no Rio), ela deverá estar sozinha na apresentação, cantando e operando a aparelhagem que leva para o palco.

Mais conhecida anteriormente por seus trabalhos no rock (com a Ventre, banda que chegou a tocar no Lollapalooza em 2018) e na MPB (toca com artistas como Paulinho Moska), Larissa se recriou musicalmente na Àiyé, que lançou seu primeiro disco, Gratitrevas, em 2020, pouco antes do isolamento ser decretado no Brasil. O repertório traz o encontro dela com ritmos latino-americanos, experimentalismos musicais e religiosidade afro-brasileira (esse último, um tema que amarra todo o álbum, destacado em faixas como Terreiro).

Criada como um projeto musical prático (“que cabe numa mochila”, diz ela), a Àiyé foi concebida em meio a trabalhos musicais de Larissa em vários lugares, e envolveu mudanças dela para Portugal e para São Paulo. Gratitrevas já estava com uma turnê agendada para o Japão, que não rolou por causa da pandemia. A artista aproveitou para fazer uma turnê de lives, mostrando o trabalho direto do seu estúdio, em casa.

Batemos um papo rápido por Larissa, ao telefone, sobre o show no Circo, a volta aos palcos e sobre como está sendo trabalhar 100% solo.

Como estão sendo os ensaios aí? E como está sendo sua expectativa para o show no Circo Voador?

Cara… pandemia, né? Eu montei uma estrutura aqui em casa. Montei um pequeno estúdio e ensaio tudo no fone. Como sou só eu, é assim que eu ensaio. Deixo montado, às vezes passo todo o show, às vezes volto. O show tem muito improviso, mas para ter improviso você tem que ensaiar muito mais, para conseguir ficar à vontade. Hoje dei uma choradinha, fiquei emocionada (rindo), pensei: “Meu deus do céu, vou tocar tudo isso no Circo Voador sozinha no palco”.

No palco, deve ter muita coisa para ser dita além da música, não? Porque esse tempo todo que a gente passou, nesse desgoverno e em casa… Como você está se preparando para isso?

Eu não sou do tipo que deixa só a música falar, apesar das minhas músicas falarem por si próprias. Eu não programo muito as coisas que eu vou falar, tenho uma ideia do que precisa ser dito para um Circo Voador lotado em tempos de muitas trevas. Temos um fascista no poder, estamos no pós-pandemia, tá vindo outra variante aí, as pessoas querendo ir para o Carnaval… São muitas questões envolvidas, mas sinto que tem muita coisa para ser dita. Talvez tenha mais coisas para serem ditas do que tempo de show (rindo). Mas dei uma organizada nas horas de falar, o que é essencial. Na hora vai sair do coração. Botei alguns temas, mas a emoção vai falar mais forte.

Como você se descobriu como artista solo? Você vinha da Ventre, que foi uma banda independente bem sucedida, tocou no Lollapalooza… E no caso é solo mesmo, porque é você sozinha.

É como se eu fosse uma one woman band. Eu tento explicar isso no release: que eu toco sozinha, que não é só carreira solo com uma banda, que eu realmente toco sozinha. Eu nunca sei explicar sem ser usando essa palavra, apesar de eu achar meio esquisito falar em inglês. Mas eu acho que existe toda uma trajetória, uma história do fazer coletivo. Eu sempre estive em coletivos, comecei a tocar como instrumentista em carreiras dos outros, sempre ajudando os outros a fazer nascer um projeto, um disco, uma turnê.

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Chegou uma hora que… Bom, o retorno de Saturno chega para todo mundo. Mas acho que no fim da Ventre que eu senti isso no peito. Essa necessidade de colocar as minhas ideias, de expressar as minhas coisas. Tudo isso veio quando eu compus a primeira música. Tem a ver com essa necessidade de expressar. E com falta de recursos, porque aí eu fui fazendo em casa, e as músicas eu fui fazendo entre turnês. Quando eu estava no avião e não estava pegando internet, eu ligava o computador, abria o Ableton Live e ia produzindo as músicas. Ia compondo, escrevendo, sempre nesse momento, no ônibus. Viajei para Portugal, fui fazer uma turnê lá. Levei minhas coisas, fiz um show lá meio doideira, instrumental. Acabei me mudando para lá, fiquei seis meses morando lá, terminei o disco lá.

Mas o processo de ser sozinha teve duas vias. A primeira veio do “preciso fazer, e preciso fazer agora, e a única forma que tenho de fazer agora é essa, não vou esperar que venham pessoas!” E a segunda veio do fato de eu precisar fazer de forma viável. Eu precisava de um projeto que coubesse numa mochila, que eu não precisasse nem despachar essa mochila, para eu levá-la comigo em toda em qualquer turnê que eu for fazer com outros artistas. E que assim eu possa levar meu show para outros lugares. Foi assim que eu toquei em Portugal, toquei em Nova York. Aproveitava que estava indo fazer uma turnê, levava o meu projeto na mochila e ia fazendo mais shows. Isso viabilizou também o próprio disco, viabilizou tudo acontecer.

E não à toa, eu dei muito azar mas também dei muita sorte de ter lançado o disco logo no começo da pandemia. Lancei na primeira semana que o Brasil declarou lockdown, dia 20 de março. Caíram todos os shows…

Você tinha uma turnê marcada para o Japão, não era isso?

Exatamente. Eu ia tocar num festival. Enfim: um monte de datas surgindo, eu estava marcando turnê na Europa, ia tocar em três festivais no Brasil. E além de tudo cair, tem a questão das pautas, da assessoria de imprensa… Demora um tempão para se organizar tudo isso, para investir. Eu nem estava mais morando no Brasil, mas estava aqui porque queria lançar o disco aqui, com todo o mundo. De repente tudo fechou, todas as pautas eram sobre covid. Mas por sorte eu tinha um show solo montado. Que eu conseguia fazer de dentro da minha casa. Então eu fiz uma turnê internacional de lives (rindo).

Fiz tudo da minha casa, toquei em Lisboa, Rondônia, Amazonas, no Sul, em tudo quanto era estado do Brasil. E foi meio que me reinventando. Tudo foi meio assim, usando as ferramentas que tinha e surfando na onda do jeito que dava.

E é um projeto que é muito marcado pela reinvenção: você percebe isso nas letras, nas músicas, nas interpretações e na maneira de você fazer, também…

Completamente. Eu também saí de um lugar de baterista, e fui pro lugar de compositora, de protagonista, falando sobre as minhas questões, as coisas que me interessam. Porque muitas vezes me chamavam para fazer coisas de rock. E eu pesquiso ritmos latino-americanos, a identidade latino-americana através dos ritmos e não tinha onde botar isso, escoar as minhas ideias, as minhas pesquisas. Foi tudo para o projeto.

Como você se descobriu produtora? Quando começou a tocar profissionalmente, já pensava em produção?

Eu me formei em Produção Fonográfica. Entrei na faculdade com 18 anos e me formei com 20. E fui trabalhar em gravadora, então sempre trabalhei em produção. Já me formei e fui trabalhar na Biscoito Fino, já estava ali envolvida na produção, no estúdio, na montagem, na gravação. Tive a bênção de acompanhar muito artista grande, medalhão: Maria Bethânia, Gilberto Gil, Moraes Moreira… Depois fui para a Deck, que era uma gravadora muito independente, você tinha que levantar muito mais recursos, e lá fui para A&R mesmo.

Na Biscoito Fino eu era da produção artística e da produção executiva. Estava junto com o A&R, mas não era eu que fazia curadoria ou escolhia repertório. E daí eu acho que sempre meio produtora das minhas bandas também. Comecei a trabalhar como baterista, profissionalmente, aos 17, 18 anos, também. Estava entrando para a faculdade, aprendendo a gravar, comecei a ser DJ porque queria ter um estúdio para poder gravar as bandas. Já tinha essa vontade de tirar som, de fazer as coisas. Mas também por ser mulher, naquela época, eu não conseguia emprego num estúdio. Então fui para o lado da produção, só que sendo assistente.

Mas em todos os projetos em que eu estava, eu sempre fui muito a arranjadora. Mesmo na Ventre, tinha música em que eu fazia as guitarras, pensava nos arranjos, mudava tudo. Sempre gostei muito de interferir nas coisas. Acho que o olhar da instrumentista Larissa já é um olhar de produtora. Mas claro que a realização das ideias, de pegar e botar a mão na massa, foi mesmo com o meu projeto e ele abriu portas para fazer um monte de coisas. Já tinha feito uma trilha ou outra, antes. Mas foi depois que eu fiz um disco inteiro, que eu me coloquei pra produzir outros artistas mais firmemente.

Tem algum trabalho seu vindo aí, de trilhas sonoras, produção?

Tem uma trilha sonora que eu estou fazendo com a Natália Carreira (Letrux), para um série do canal Disney+ chamada Não foi minha culpa, sobre feminicídio. Deve sair no começo do ano. É uma aposta tem forte, tem Malu Mader, Elisa Lucinda. Tem também a carreira solo da Ju Strassacapa, da Francisco El Hombre. O projeto se chama Lazúli, eu produzi uns beats, a Ju animou e acabamos fazendo uma banda. Fizemos eu, a Cris Botarelli, do Far From Alaska, e a Lena Papini, também da Francisco. E tem um monte de pequenos feats, um single ou outro. Também estou produzindo a carreira solo da Roberta Dittz, da Canto Cego. Inclusive mandei pra mix hoje, vai sair ano que vem.

Falando um pouco mais do Gratitrevas, queria que você falasse de O mito e a caverna, que tem um clipe impressionante e é também uma música impressionante. Como surgiram clipe e música?

A música começou a ser feita em 2018. A gente já podia sentir o cheio de enxofre, né? (era a época da última eleição presidencial) A Ventre acabou e eu topei fazer uma turnê com o Vitor Brauer (da banda mineira Lupe de Lupe) que é meu parceiro nessa música. A gente fez uma turnê de três meses num Corsa 96, que foi apelidado de Interceptor (rindo). Fizemos o Brasil inteiro, de Norte a Sul. Foram 36 datas em dois meses e meio, quase três.

Foi muito forte, fizemos a turnê todos vestidos de vermelho, foi bem político. Em cada cidadezinha do interior, de cada estado, fomos falando, “a gente tem que se unir, a gente tem que fazer rede, tem que estar junto, olha isso que tá acontecendo?”. A turnê foi nessa onda, de música de resistência. Eu trouxe várias músicas diferentes que já havia tocado na carreira, não só da Ventre. O Vitor também, e fizemos um show bem assim.

Num desses percursos, se não me engano de Goiânia voltando para Minas, a gente viu um incêndio. Foi uma estrada inteira pegando fogo. Provavelmente era cana, eucalipto que eles botam fogo. Era muito fogo, muito quente. A gente ficou com aquela cena do fogo na cabeça. Passou um tempo, eu fiz essa base, estava produzindo o disco, e falei: “Vitor, bora fazer uma música? Acho que tem que ser meio nervosa, lembra do episódio do fogo?”.

Ele me mandou uma letra, que começava com “corpo sobre corpo”. Eu perguntei: “O que você acha da gente relacionar isso com o mito da caverna? (de Platão)“. Porque a gente passou a turnê inteira ouvindo audiobooks, podcasts e discos, e a gente ia discutindo, era muita filosofia na conversa. Éramos só eu e ele, a gente ia dirigindo às vezes nove, dez horas por dia. E aí mudei grande parte da letra nesse sentido, já relacionando com o mito da caverna. É impressionante como a letra vai ficando mais contemporânea a cada dia que passa.

Para o clipe, eu já tinha essa ideia. Quando a Àiyé nasceu, a primeira coisa que fiz foi uma residência artística a convite do Alexandre Matias (jornalista, criador do site Trabalho Sujo), que fiz no Centro da Terra (espaço cultural independente em São Paulo). Foram quatro segundas-feiras, e foi a primeira vez que eu apresentei a Àiyé. Chamei meus amigos para tocar e cada dia era uma fase da lua no show. Nessa performance, nesses quatro dias, eu já estava com essa ideia de pegar o tema da fase da lua, jogar no Google e projetar tudo o que ia aparecendo. Era uma pesquisa de Google, ia jogando uma por cima da outra, como se fosse uma edição, mas era uma pesquisa. Colocava poesia, imagem, coisas que iam me remetendo, e ia cantando, tocando e improvisando em cima. Fiz todos os dias dez minutos disso, virou uma performance da Àiyé.

Eu queria que o clipe fosse assim, queria levar essa performance para o clipe. E foi isso, chamei o André, que montou o clipe – na quarentena, fiquei hospedada na casa dele. A gente selecionou um monte de arquivos, notícias. Ele fez de maneira brilhante. Teve um parceiro que fez uns 3Ds, mas ele pegou minha ideia bruta e lapidou. Ficou bem poderoso. Gostei muito também! (rindo)

Lançamentos

Radar: Vivendo do Ócio, Anacrônicos, Julieta Social, Saturno Express, Duo Repicado, Fenícia, Insubordinados

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Radar: Vivendo do Ócio, Anacrônicos, Julieta Social, Saturno Express, Duo Repicado, Fenícia, Insubordinados

Mais uma semana começa e, com ela, nossa seleção do Radar – dessa vez dando atenção aos lançamentos nacionais, unindo veteranos (Vivendo do Ócio) e gente que está lançando o primeiro clipe, ou está perto de lançar o primeiro EP ou o primeiro álbum. Ouça tudo no volume máximo!

Texto: Ricardo Schott – Foto Vivendo do Ócio e Paulo Miklos: Vic Zacconi, Juliana Von Ammon, Lucas Seixas/Divulgação

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VIVENDO DO ÓCIO feat PAULO MIKLOS, “BAILA COMIGO”. O grupo baiano volta com sua nova música, e com um convidado tão especial que, mais do que tudo, a música parece ter sido composta especialmente para ele soltar a voz. Baila comigo tem os vocais de Paulo Miklos e é uma música que, talvez não por acaso, tem uma baita cara de Titãs (ex-banda do Paulo, você deve saber).

Além da banda paulistana, o Vivendo diz que nomes como Chaka Khan e Tim Maia também influenciaram a faixa – um balanço meio indie-rock, meio pós-disco, de altas energias e linhas vocais quase faladas. A letra da canção, por sua vez, avisa que é pra seguir em frente, confiar e respeitar o processo.

ANACRÔNICOS, “FEBRE AMARELA”. Banda formada por amigos de infância é outra coisa: Mauricio Hildebrandt (voz e guitarra), Bernardo Palmeiro (guitarra e voz), José Sepúlveda (baixo e voz) e Pedro Serra (bateria) têm histórias que se cruzam desde que eram crianças e brincavam de Beatles, ou de tocar bateria usando panelas e caixas (no caso de Pedro).

Todos mantiveram a amizade e duas décadas depois de se conhecerem, formaram o Anacrônicos, banda que já tem um EP lançado em 2023 e retorna agora com o single gozador Febre amarela, uma mistura de Kinks, grunge, glam rock, funk (graças ao grito “febre amarela!” e ao verso “sai, mosquitinho, sa-sa-sai, mosquitinho!”) e zoeira psicodélica. Em setembro sai mais um EP.

JULIETA SOCIAL, “CASOS DE COLÔMBIA”. Com influência assumida de Radiohead e Chico Buarque, a faixa Casos de Colômbia mistura também emanações de Arctic Monkeys e guitarras em clima de blues pós-punk. A faixa dá o pontapé inicial numa série de lançamentos novos da Julieta Social, uma banda que aposta na criação colaborativa e no encontro entre trajetórias diversas.

Com produção de Rubens Adati e participação vocal de Mariana Estol, a música mete o dedo na ferida das expectativas que, muitas vezes, não representam nada (“nunca que você vai encontrar dentro do armário / algo lendário, é tudo vestuário / sabe aquela luz que a gente vê de madrugada / é quase nada, mas satisfaz a alma”, diz a letra). O clipe, dirigido por Ignácio Fariña, é puro mistério noturno e urbano.

SATURNO EXPRESS, “CONTATOS IMEDIATOS”. Prestes a lançar o álbum Tenho sonhos elétricos, o duo Saturno Express — formado na pandemia por Mariah Rodrigues e Breno Ferrari — aposta em um synthpop “espacial” e cintilante, cheio de ecos de jazz e Clube da Esquina. Um som que te leve direto para uma praia no espaço sideral (mesmo que isso, tecnicamente, não exista). Como cantam em Contatos imediatos, “não custa sonhar”.

DUO REPICADO, “SOL DA CASTANHA”. Primeira faixa do EP de estreia do Duo Repicado, Sol da castanha é um passeio vibrante e delicado por paisagens sonoras brasileiras. Nos quatro minutos da música, Carol Panesi (violino) e Fábio Leal (guitarra) – só os dois, sem mais nenhum outro instrumento – costuram forró, blues, rock e células de reggae com improviso e leveza. A faixa mostra o espírito da parceria: liberdade criativa, diálogo musical e paixão pelos ritmos do Brasil. Tudo com aquele tempero universal herdado da escola de Hermeto Pascoal, de quem os dois são discípulos.

FENÍCIA, “SÃO 2:03 (NEM TÃO COLORIDA)”/”MEU BEM”. Vindo da cidade de Descalvado (SP), o Fenícia investe num som que lembra bastante o romantismo do indie rock nacional dos anos 2000, com riffs melódicos de guitarra e variações rítmicas. O grupo prepara um EP novo para breve e une violões, guitarras, variações rítmicas, emoções e lembranças em São 2:03 e Meu bem, os singles mais recentes.

INSUBORDINADOS, “TRINTA E UM DIAS”. Pior que às vezes são só 30 dias, ou menos: nem sempre o salário dura um mês inteiro. Esse é o ponto de partida do novo single da banda punk Insubordinados, que transforma a quebra do orçamento – mercado, ônibus, cinema, boteco e por aí vai – em hardcore direto e sem rodeios. Vindos de Curitiba, os Insubordinados misturam punk com folk, ska e outros temperos. Trinta e um dias é o primeiro lançamento do grupo desde 2022 e chega pela gravadora Balbúrdia Records.

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Lançamentos

Radar: Lemonheads, Jordan Maye, Leisure, Tenise Marie, Nastyjoe, Jehnny Beth, Billy Ray Norris

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Radar: Lemonheads, Jordan Maye, Leisure, Tenise Marie, Nastyjoe, Jehnny Beth, Billy Ray Norris

Totalmente à vontade no Brasil, Evan Dando volta com os Lemonheads, lança mais um single e anuncia álbum novo para breve – e ele abre o último Radar da semana, com lançamentos internacionais. Evan também puxa uma lista de músicas repleta de questionamentos existenciais e vivências, para ouvir e pensar na vida. Sempre no último volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto Lemonheads: Divulgação.

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THE LEMONHEADS, “IN THE MARGIN”. O Brasil teve grande responsabilidade nas mudanças recentes da vida de Evan Dando, líder dos Lemonheads (ele está radicado por aqui agora, como é público e notório). Love chant, próximo disco do grupo – o primeiro em quase duas décadas – está programado para sair pela Fire Records em 24 de outubro, e foi gravado em parte no Brasil, com produção do multi-instrumentista brasileiro Apollo Nove.

In the margin, o novo single, é uma faixa repleta de riffs, do começo ao fim – uma preferência do próprio Evan, que teve como parceira a compositora e cantora Marciana Jones. “É tipo uma canção de vingança de uma garota da oitava série: ‘Estupidamente deixei os planos de fuga de fora para que pudessem encontrar meu caminho'”, conta. Aliás, o disco novo vai surgir quase ao lado de Rumours of my demise, seu livro de memórias, previsto para sair dia 6 de novembro.

JORDAN MAYE, “TEAR IT DOWN”. Musicista trans de Los Angeles, Jordan é uma artista do punk que começou inspirada pelo rock clássico (“era o que meu pai ouvia”, lembra) e que hoje une guitarras pesadas, climas musicais herdados de Bob Dylan e angústia existencial evocando Buzzcocks e Social Distortion em seu novo single, Tear it down. Uma canção confessional sobre como o “deixar ir” pode ser terapêutico, às vezes. O som é dividido em partes: abre com violão e voz, parte para a ação punk propriamente dita, e lá pelas tantas ganha um segmento entre o punk e o power pop, com palmas e clima levemente beatle.

LEISURE, “MISSING YOU”. Coletivo musical da Nova Zelândia que cruza soul, rock e pop com leveza e sofisticação, o Leisure prepara o lançamento do disco Welcome to the mood para 12 de setembro. O novo single, Missing you, ganhou um clipe gravado ao vivo no Taliesin West, no Arizona — marco arquitetônico criado por Frank Lloyd Wright (1867-1959). A escolha do local tem tudo a ver com o conceito do grupo: dialogar com a ideia de futurismo nostálgico, que Wright já ensaiava nos anos 1930 ao projetar construções que ainda hoje parecem modernas.

TENISE MARIE, “OFF THE RECORD”. Nascida no Iraque e criada na comunidade de Argenta, na Colúmbia Britânica, Tenise lança o álbum Off the record em 11 de julho – e o disco veio de uma viagem à sua terra natal, e do encontro com suas raízes. Tenise se animou para falar de temas como vulnerabilidades, dualidades, aceitação dos problemas da vida, belezas que encontra pelo caminho e outras coisas.

A cândida faixa-título do disco aborda esse reencontro de Tenise, em versos como “foi difícil respirar / minhas cicatrizes são profundas”, e na certeza de que o melhor nem sempre é documentado, mas fica na memória. “Por ter uma herança mista, muitas vezes me senti à margem, puxada em quatro direções diferentes, querendo pertencer a algum lugar. Minha mãe foi adotada e, enquanto ela corajosamente buscava sua família biológica, crescemos desconectadas da nossa cultura materna. Foi ela quem me ensinou o valor da identidade”, conta.

NASTYJOE, “STRANGE PLACE”. Pós-punk ao extremo, e voltado para a mesma cena musical que rendeu bandas como Shame e Fontaines DC, esse grupo francês já tem um EP de estreia e está agora preparando material para o primeiro álbum. Enquanto o disco cheio não sai, tem o clipe de Strange place, uma música confessional sobre um caso amoroso tóxico e destrutivo que vai causando esgotamento – e do qual, mesmo assim, parece impossível escapar (o fim do clipe, aliás, é triste). Além dos grupos mais novos, dá para perceber que o Nastyjoe ama bandas veteranas como The Cure e Buzzcocks, que são a cara do som deles.

JEHNNY BETH, “OBSESSION”. “Imagine Tricky e Jonathan Davis fazendo uma música com Adam Jones, do Tool! Pelo menos na minha cabeça!”. É dessa forma que Jehnny Beth, vocalista da banda Savages, anuncia seu novo single, Obsession – faixa que, por sinal, anuncia seu próximo álbum solo You heartbreaker, you, previsto para 29 de agosto. A música, uma parceria dela com o produtor Johnny Hostile, é brabeira de verdade, explorando obsessões amorosa em clima sombrio e industrial (“estou só desesperada para saber quando ficaremos juntos / não diga nunca! / ei, você / eu te amo, seu heartbreaker!”, diz a letra). “O verso ‘you heartbreaker, you’ deu o título ao álbum, mas, mais do que isso, a música deu o tom ao álbum”, conta ela.

BILLY RAY NORRIS, “I BELIEVE”. Compositor norte-americano ligado ao country, Billy une estruturas de jazz e temas como superação e buscas pessoais em I believe. A letra foi escrita a partir de suas experiências pessoais, que incluíram situações em que ele esteve no limite e precisou tomar decisões bem rápidas. A faixa mistura elementos de pop suave, espiritualidade e uma pegada introspectiva.

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Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

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Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuzaka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)

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DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.

FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.

“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.

JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.

SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…

PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.

Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.

FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.

MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.

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