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Cinema
“Thomasine & Bushrod”, um faroeste black, com trilha do Love
A carreira do diretor Gordon Parks Jr durou poucos filmes – apenas quatro, todos nos anos 1970, já que em 1979, viajando justamente para filmar, ele morreu num acidente de avião em Nairóbi, Quênia.
Ele e seu pai, o senhor Gordon Parks (1912-2006) foram dos poucos diretores negros a conseguirem certo destaque na chamada Nova Hollywood, repleta de cineastas brancos. E ainda assim, boa parte da produção cinematográfica realizada por afro-americanos costumava ser chamada de blaxploitation – gênero multi-tudo que incluía filmes de espionagem, terror e até faroestes protagonizados por atores negros como Pam Grier, Richard Roundtree, Melvin Van Peebles e outros.
Gordon Jr foi o diretor de Super Fly (1972), clássico dessa era, enquanto seu pai dirigiu um filme mais clássico ainda, Shaft (1971). Gordon pai havia tido uma carreira longa como fotógrafo e como consultor de diretores de cinema em Hollywood, antes de abraçar de vez a direção de filmes, que exerceu até os anos 1990. Morreu em 2006 de câncer, aos 93 anos. É tido até hoje como o diretor que pavimentou o caminho para que aparecessem mais cineastas negros em Hollywood. Foi chamado assim inclusive pelo New York Times no ano passado.
O filho, além de Super Fly, tem outras pérolas na filmografia. Entre elas um curioso Romeu & Julieta interracial protagonizado por Moses Gunn e pela estreante Irene Cara: Aaron loves Angela (1975), que está inteirinho no YouTube (abaixo).
FAROESTE
Um filme dirigido por Parks Jr que se tornou um cult do estilo é uma produção que muita gente considera como um Bonnie & Clyde dos filmes afro-americanos dos anos 1970. Thomasine & Bushrod (1974) é um faroeste estrelado por Vonetta McGee e Max Julien, que fala de um casal que, por volta de 1911, no Sul dos Estados Unidos, assalta capitalistas brancos e distribuo o dinheiro entre povos discriminados e segregados.
Vonetta, que morreu em 2010, se tornaria um dos maiores ícones femininos da blaxplotation (mas sempre reclamou do racismo inerente ao termo). Max, com quem estava namorando na época, era o astro principal do filme The mack, sucesso em 1973, e fez o roteiro do faroeste.
Lançado pela Columbia Pictures, o filme costuma entrar e sair do YouTube, onde já esteve inteiro algumas vezes. Atualmente, só alguns trechos podem ser vistos lá, além de um “tributo” com várias fotos.
ARTHUR LEE E LOVE
Thomasine & Bushrod, aliás, tem interesse especial para quem curte psicodelia e rock dos anos 1960. Isso porque ninguém menos que Arthur Lee e sua banda Love foram contratados para fazer o principal tema do filme.
Em 1973, quando Lee foi chamado para fazer a música Thomasine & Bushrod, o Love existia/não existia, ensanduichado entre a carreira solo de Lee (sobre a qual você já leu no POP FANTASMA) e os últimos discos da banda. Apesar do Love sempre ter sido uma banda multirracial, pela primeira vez Lee tinha resolvido montar uma formação da banda só de músicos afro-americanos, com ele acompanhado do guitarrista Melvan Whittington, do baixista Robert Rozelle e do baterista Joe Blocker. É a galera da foto abaixo.
Essa turma gravou em 1973 o disco Black beauty, não lançado na época porque a gravadora Buffalo Records faliu. Só saiu em 2012, pelo selo High Noon, com a música-título do filme como bônus.
CASCAVEL
Thomasine & Bushrod não fez muito sucesso na época e foi recebido de maneira fria por alguns críticos. A Texas Monthly chamou o filme de “um pouco óbvio e derivativo”, e achou fora da realidade a tentativa de incluir temas meio feministas na produção (que retratava os EUA sulistas de 1911).
Já a revista Jet, dedicada ao público afro-americano, revelou um detalhe curioso das internas do filme: Vonetta foi picada por uma cascavel em Santa Fe, Novo México, durante as filmagens. “Está tudo bem agora, mas é irônico porque o script adiantava que a personagem seria picada por uma cascavel. As filmagens não estavam acontecendo quando ela foi picada e o réptil apareceu lá por conta própria”, dizia a notinha.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio
O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
Agenda
Parayba Rock Fest: filme que será exibido no evento relembra história de fotógrafo morto por covid
Marcado para este domingo (28) na Areninha Cultural Hermeto Pascoal (Lona Cultural de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro), o Parayba Rock Fest, do qual você ficou sabendo aqui, vai ter shows, DJs, exposições e várias outras atrações. E Michael Meneses, criador do selo Parayba Records e realizador da festa (que também comemora seus 50 anos de idade), vai exibir seu primeiro filme, Ver + – Uma luz chamada Marcus Vini. Michael, que é fotógrafo e professor de fotografia, iniciou o filme como trabalho de conclusão de curso de sua faculdade de Cinema.
“O que eu vou exibir no evento são os 50 minutos que já estão prontos do filme e que apareceram na apresentação do meu TCC. Ainda estou inclusive fazendo pesquisas para ele”, conta Michael, que com o filme, homenageia Marcus Vini, seu melhor amigo (“o irmão homem que eu não tive”, conta), morto por covid. Marcus era fotógrafo e, como Michael, foi professor universitário e cobriu festivais de música como o Rock In Rio.
“Marcus contraiu covid naquela época mais braba da doença, e morreu no dia em que ele deveria estar tomando a primeira dose”, lembra Michael. “Ele foi fotojornalista e curiosamente fazia aniversário no dia 19 de agosto, que é o Dia Mundial da Fotografia. E só soube disso depois que virou fotógrafo. Ele inclusive fez uma foto super importante numa enchente, que foi publicada no jornal Le Monde. A ideia do filme é focalizar o lado humanitário dele, um cara que estava sempre pensando em fazer doação de alimentos, coordenou um curso de fotografia em Madureira (Zona Norte do Rio)“. Antes do evento de Michael, o filme foi exibido também em lugares como a livraria carioca Belle Epoque.
O Pop Fantasma é um dos apoiadores do evento, ao lado de uma turma enorme. Para saber mais e comprar seu ingresso, confira o serviço abaixo.
SERVIÇO:
SHOWS COM AS BANDAS:
Netinhos de Dna Lazara, Benkens, NoSunnyDayz, New Day Rising (NDR) e Welcome To Tenda Spírita.
ALÉM DOS SHOWS:
Exibição do Documentário: VER+ – Uma Luz Chamada Marcus Vini – Direção: Michael Meneses
DJs: Explica e Chorão 3
Expo de fotos dos fotógrafos da Rock Press
Feira Cultural com: Disco de vinil, CDs, DVDs, roupas, livros, fanzines, artesanato, acessórios de moda rock, cultura geek e muito mais
Gastronomia Vegana: Vegazô – A Feira Vegana da Zona Oeste/RJ
DATA: 28 de julho 2024, às 14h.
LOCAL: Areninha Cultural Hermeto Pascoal – Praça 1 de Maio S/N – Bangu/RJ
INGRESSOS: antecipados aqui, na bilheteria da Areninha e na loja Requiem (Camelódromo de Campo Grande).
Foto: reprodução Instagram
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