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Cultura Pop

The Millennium: cuíca na psicodelia californiana dos anos 1960

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The Millennium: cuíca na psicodelia californiana dos anos 1960

Para uma banda da qual você possivelmente nunca ouviu falar, a história do The Millennium até que está bem documentada. O grupo lançou apenas um LP em 1968, pela Columbia, intitulado justamente Begin. Boa parte da história da banda, você acha aqui nesse link do site Album Liner Notes e nesse outro aqui do blog Galactic Ramble, com direito a recortes de jornais da época.

The Millennium: cuíca na psicodelia californiana dos anos 1960

A gravadora vinha dando uma investida no grupo, a ponto de ter um “to be continued” na contracapa. Agora, para fãs (e futuros fãs) brasileiros, tem um detalhe que chama bastante a atenção: uma das melhores faixas de Begin, To Claudia on thursday, tem uma cuíca (!) como instrumento de percussão. E o instrumento aparece roncando durante toda a faixa, com direito a uma coda bastante engraçada no final. Olha aí. Sim, parece Mutantes.

Não era exatamente uma música comum na história do The Millennium, mais conhecido por pérolas psicodélicas como essas aqui, lembrando Beatles, Byrds e The Who.

A tal cuíca não foi parar lá por acaso. Os integrantes eram fãs de bossa nova e de Tom Jobim. Era uma predileção que virou mania por alguns anos na ensolarada Califórnia, e pegou até nomões como The Doors (é só verificar Break on through, hit da banda). No contato com o guitarrista brasileiro Bola Sete, que se radicara nos EUA, o grupo chegou até o percussionista carioca Paulinho da Costa, que tocava com Bola, e acabou fazendo as cuícas da música.

O Millennium tinha sido concebido como um projeto de estúdio, pelo produtor, compositor e hitmaker Curt Boettcher, sob coordenação de Gary Usher, insider da Columbia que produzira os Byrds. Curt, uma espécie de mini-Brian Wilson, queria fazer um tipo de som que fosse tão ensolarado quanto elaborado, sem esquecer as raízes roqueiras. Acabou ajudando a criar um subgênero que ganhou o apelido de sunshine pop, inspiradíssimo em Beach Boys, e que teve como expoentes o Sagittarius (outra banda-de-estúdio capitaneada por Usher e concebida por Boettcher), o Harpers Bizarre, o Yellow Balloon e o Spanky And Our Gang.

Essa última era liderada pela vocalista Spanky McFarlaine, que chegou a vir ao Brasil, em 1988, como integrante de uma das milhares de formações do The Mamas & The Papas. Por sinal, tudo a ver: vários desses grupos de sunshine pop eram encarados pela crítica como diluidores da banda de California dreamin’.

Boettcher convidou para trabalhar com ele na banda amigos como Lee Mallory, Sandy Salisbuy, Michael Fennelly (os três voz e guitarra, como ele) e Ron Edgar (bateria). Já tinha contatos na Columbia via Sagittarius e outra banda com a qual trabalhara, o Ballroom. Para uma banda que depois nem sequer conseguiria gravar um segundo álbum, o apoio da gravadora foi surpreendente: o Millennium passou seis meses fazendo experimentações de estúdio, conseguiu gravar numa máquina de 16 canais (um luxo na época) e a empresa despejou uma carreta de grana na produção.

Ainda que o disco tivesse chamado a atenção no mercado, as vendagens não foram boas o suficiente. Mudanças na diretoria da Columbia enterraram as ambições do grupo. E cobriram os meses subsequentes numa névoa tão grande que os sete integrantes do Millennium, em entrevistas dadas nas décadas seguintes, mal lembravam quem tinha sido demitido da banda primeiro.

Com o fim do grupo, cada integrante foi se dedicar a projetos particulares. Michael Fennely virou vocalista e compositor do Crabby Appleton, banda que invadiu as paradas em 1970 com o hit Go back e foi considerada “uma promessa” pela Rolling Stone.

https://www.youtube.com/watch?v=CEn6UGDmT6U

Boettcher, por sua vez, tinha um fã ilustre: Jac Holzman, presidente da Elektra. Que acabou contratando o músico para gravar um disco solo, There’s an innocent face, de 1973. O disco mostra o quanto Boettcher foi impactado pelo som de outro músico misterioso dos anos 1970, Emmit Rhodes, com quem havia trabalhado. O álbum de Boettcher não chegou a fazer sucesso, infelizmente. Curt trabalhou como produtor, DJ e músico até morrer, em 1987. No meio dos anos 1970, chegou a montar um grupo com o beach boy Bruce Johnston e com o produtor Terry Melcher chamado California Music, que não foi para a frente.

Cultura Pop

No nosso podcast, Primal Scream do começo à fase de “Screamadelica”

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No nosso podcast, Primal Scream do começo à fase de "Screamadelica"

Dizem por aí que ninguém pode inventar um novo começo, mas sempre dá para inventar um novo fim. No caso de Bobby Gillespie, lá pelo começo dos anos 1980 o que ele mais queria era inventar um novo fim para a vida dele – um fim que o levasse para mais distante possível do subúrbio inóspito da Escócia onde ele havia sido criado. Movimentos como o punk, o glam e, posteriormente, a acid house, foram mudando a vida do vocalista de Bobby, que em 1982 montou o Primal Scream, uma das bandas mais instigantes da história do rock.

E hoje no Pop Fantasma Documento o assunto é a história do Primal Scream, lá do comecinho, até o sucesso com o psicodélico, hedonista e dançante Screamadelica (1992). Uma história de música, de excessos, de festas, shows vazios e lotados, e de luta no meio indie britânico. Ouça em alto volume.

Século 21 no podcast: The Big Day e Caco/Concha.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Crítica

Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”

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Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
  • How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
  • Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.

Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.

No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).

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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).

Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.

Nota: 7,5
Gravadora: BMG

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Crítica

Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”

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Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”
  • 10 remixes traz (como diz o próprio título) dez canções dos Paralamas do Sucesso remixadas. O trabalho foi orquestrado pelo DJ Marcelinho da Lua, que escolheu DJs de diferentes gerações. O trio e o empresário José Fortes também já tinham uma lista com alguns nomes.
  • “Tudo começou quando eu estava num show do Paul McCartney em 2013, quando prestei atenção nas inúmeras releituras de músicas dos Beatles feitas por DJs que tocavam antes do Paul subir ao palco. Fiquei pensando como seria legal se fizessem o mesmo com o repertório dos Paralamas”, contou João Barone, baterista da banda, em seu Instagram.

Lançar um álbum de remixes dos Paralamas do Sucesso é uma ideia tão boa que não dá pra entender como ninguém pensou nisso antes. Discos de remixes de um mesmo artista, aliás, costumam sair bem irregulares, além de cometerem verdadeiras atrocidades. Felizmente, 10 remixes saiu legal, e quase tudo pode ser dançado na pista e ouvido em casa sem (muitos) atropelos.

Em Lanterna dos afogados, Mahmundi deu um ar dançante e viajante à música, e inseriu sua voz como parte das novidades da canção – soou tão bem que ela deveria pensar em fazer outras visitas à obra da banda. Ska, com DJ Marky, virou um cruzamento de ska, reggae e drum’n bass. O beco ganhou remix conceitualmente correto (e bom) do Tropkillaz, em clima funk-reggae, com os vocais de Herbert Vianna filtrados e à frente. Selvagem, nas mãos de Daniel Ganjaman, virou reggae-dub.

No 10 remixes, vale também citar o samba-funk-reggae que surge de O amor não sabe esperar (com Paralamas e Marisa Monte), capitaneado por Pretinho da Serrinha e Bossacucanova. Além do synthpop simultaneamente experimental e cheio de balanço de Mulú em Aonde quer que eu vá, e do redesenho drum’n bossa de Marcelinho da Lua em Mensagem de amor.

Por outro lado, Lourinha bombril rendeu menos do que poderia ter rendido nas mãos do Àttooxxá. Ela disse adeus, com Papatinho, virou um batidão funk pequenininho (com pelo menos um minuto a menos que o original) e sem muitos atrativos. E não sei até que ponto a balada stoniana Saber amar tinha que ganhar um remix techno de botar fogo na pista, que foi para as mãos de Ké Fernandes (Groove Delight).

Nota: 8
Gravadora: Universal

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