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Cultura Pop

Quando o Styx (e a ELO) zoaram a “bancada da bíblia” do Arkansas

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Quando o Styx (e a ELO) zoaram a "bancada da bíblia" do Arkansas

Antes de irmos direto ao assunto, que é o disco Kilroy was here, do Styx – banda que é uma espécie de mescla entre soft rock, progressivo, rock de arena e a onda new wave – vamos a outro papo. Sabe aquela história de músicas que, quando você escuta ao contrário, têm mensagens secretas? Sim, aqueles papos de que havia mensagens satânicas em canções como Stairway to heaven, do Led Zeppelin, ou Another one bites the dust, do Queen?

Bom, isso parecia lenda, ou brincadeira de criança durante os anos 1970 ou 1980. Só que havia uma renca de gente levando isso bastante a sério. Os fundamentalistas cristãos dos Estados Unidos, por exemplo, levantaram essa sandice como bandeira por vários anos. Era um assunto que rolava em programas cristãos de TV, de rádio, etc. E, como se sabe, essa turma era (é) enorme e tinha (tem, até no Brasil) ramificações poderosas na política, nas comunicações, no meio fonográfico, etc.

Olha aí um programa cristão televisivo em que o papo é justamente Stairway to heaven. Com direito a um solo bizarro de um dos pastores, dizendo que o verso “there’s a feeling I get/when I look to the west” é justamente uma menção ao caminho tortuoso que leva ao coisa-ruim.

Uma das músicas que viraram prato do dia a respeito de mensagens secretas foi – acredite – um tema instrumental: When electricity came to Arkansas, dos ex-cadeeiros hard rockers do Black Oak Arkansas. Havia quem escutasse nessa música aí a frase: “Satanás Satanás Satanás, ele é Deus, ele é Deus, ele é Deus” (ouve aí e conta pra gente onde aparece).

Pois foi justamente no senado do Arkansas que surgiu, lá por 1983, uma espécie de “bancada da Bíblia” disposta a aprovar uma lei exigindo que todos os discos contendo backward masking (nome oficial das tais mensagens ao contrário) ganhassem selinhos com avisos, colados pelas gravadoras.

O tal projeto de lei era uma espécie de primo mais velho – e mais miolo mole – das aprontações do PMRC, que surgiria já no fim da década. E envolveu denúncias a respeito de várias bandas, como Pink Floyd, Beatles (Revolution 9 era modelo de música que, se rodada ao contrário, fazia lavagens cerebrais e provocava desgraças) e o próprio Styx, com Snowblind. O hit da banda, lançado em 1981 (e primo da Snowblind lançada em 1972 pelo Black Sabbath), versava sobre os estragos causados pela cocaína. E tinha quem escutasse no refrão, quando o mesmo era rodado na direção oposta, a frase: “Satanás se move através de nossas vozes”. Curte aí.

Foi nessa que duas bandas citadas no tal projeto abilolado partiram para a reação. Em 1983, a Electric Light Orchestra soltou o disco Secret messages, cheio de (o nome já diz) mensagens secretas em todas as faixa e até na capa e na contracapa. Já o Styx, no mesmo ano, aproveitou a deixa para realizar o sonho de toda banda com glacê progressivo: mandou para as lojas uma ópera-rock.

Quando o Styx (e a ELO) zoaram a "bancada da bíblia" do Arkansas

Kilroy was here fala de um futuro sombrio no qual o rock é banido e proibido por um partido cujo nome é MMM (Maioria da Moralidade Musical), que impõe um regime teocrático na música. Robert Orin Charles Kilroy, personagem principal (interpretado pelo vocalista Dennis DeYoung) é uma estrela do rock que some do mercado, aprisionada pelo ditador da MMM (Dr. Righteous, interpretado pelo guitarrista James Young). Enquanto isso, Jonathan Chance, um roqueiro jovem (interpretado pelo guitarrista Tommy Shaw) briga para trazer o estilo musical de volta. Entre uma encrenca e outra, Kilroy decide escapar da prisão usando um disfarce, o que rendeu a letra do primeiro single do disco, Mr. Roboto.

Como acontece em quase todas as óperas-rock, Kilroy was here não foi exatamente um trabalho coletivo. Surgiu da teimosia, da criatividade e do ego de um dos integrantes do grupo – no caso o vocalista Dennis DeYoung. O Styx decidiu que o público merecia uma experiência mais aprofundada com o repertório novo, que tinha lá suas quedas pelo multimídia. O grupo lançou um curta-metragem do disco (veja abaixo) e fez questão de que os primeiros shows fossem em espaços mais intimistas (teatros, casas pequenas), para que todo mundo pudesse prestar atenção em detalhes.

“Lugares intimistas? Mas o Styx não é uma banda de rock de arena?”, você pode estar se perguntando. Bom, o grupo viu a necessidade de uma mudança de rota assim que viu os boletos chegando. Para levantar mais dinheiro, mudaram toda a turnê para (enfim) arenas, ginásios e espaços imensos. O fracasso inicial se transformou em sucesso e o disco até que vendeu muito bem: fala-se em mais de dois milhões de cópias. Uma turma enorme levando pra casa a ópera-rock-paródia do grupo.

Kilroy was here acabou sendo o último disco de estúdio do Styx até 1990: a banda terminou em 1984, voltou no fim da década, terminou de novo outras vezes e ainda está na ativa. A ópera-rock causou um monte de tensões internas na banda, com Tommy Shaw e James Young (ainda presentes na formação atual) reclamando que Dennis DeYoung queria limpar a sonoridade da banda e transformá-la em algo mais radiofônico. Seja como for, DeYoung está em carreira solo até hoje e volta e meia faz shows no estilo “a voz do Styx”, alguns deles com orquestra.

Aproveita e pega aí o disco do Styx e o do ELO.

Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

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Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

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  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

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