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Cultura Pop

Relembrando: Captain Beefheart and The Magic Band, “Bluejeans & moonbeams” (1974)

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Relembrando: Captain Beefheart and The Magic Band, "Bluejeans & moonbeams" (1974)

Num mundo ideal, Don Van Vliet (o popular Captain Beefheart) poderia ter tido um desenvolvimento de carreira parecido com o de Beck – o artista fora dos padrões que consegue popularidade e alguns hits, e se mantém em gravadoras de alto porte. Ou quem sabe o mundo todo poderia ter sido diferente: as “cadeias” de selos indies que se tornariam comuns a partir dos anos 1980 poderiam já estar na ativa lá pelos anos 1960 e 1970.

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Fato é que, até hoje, existe uma fase quase-mainstream da discografia de Captain que permanece pouco conhecida ou celebrada. Até mesmo pelos fãs de um disco anti-comercial como o duplo Trout mask replica, o terceiro do Capitão, lançado em 1969. Em 1972, ele migrou para a Reprise e gravou seu único disco lançado apenas com seu nome, The spotlight kid. A partir daí, entre trabalhos realizados com produtores best-sellers como Ted Templeman, Beefheart e sua banda foram buscando fazer discos mais ligados ao hard rock e ao blues-rock. Com direito a sonoridades que parecem unir Velvet Underground, Frank Zappa e Fleetwood Mac, se é que é possível.

A mudança era necessária: os músicos da Magic Band sobreviviam de empréstimos paternos, Captain não ganhava grana o suficiente pagar todo mundo direito e sua banda já estava cansada de ser tratada como lixo pelo patrão. Em 1974, o disco Unconditionally guaranteed foi marcado por baixas vendagens e por críticas negativas (os jornalistas que adoravam a fase inicial do músico odiaram os discos mais “formais”). Após esse disco, todos os integrantes da Magic Band debandaram – e formaram a banda de blues country Mallard, bem menos sucedida ainda.

Bluejeans & moonbeams, disco seguinte de Captain, saiu em novembro de 1974 e foi gravado com uma nova formação da Magic Band – que, com o tempo, havia deixado de ser “his Magic Band” e ganhou um “the” no nome. O cantor recrutou músicos como Dean Smith (guitarra) e Ty Grimes (percussão), além de convidados como Mark Gibbons (teclados). Com essa turma, gravou um álbum que geralmente é tido como um item perdido em sua discografia, já que biógrafos do músico costumam classifícar Bluejeans como seu pior disco. Segundo testemunhas, a gravação foi problemática: Beefheart, sem interlocutores entre os músicos, mal conseguiu transmitir suas ideias para eles. Michael Smotherman, tecladista do álbum, lembrou-se certa vez que o cantor nem sabia onde deveria pôr voz em suas próprias canções.

Nem tanto: Bluejeans tem excelentes músicas e é um disco no qual o capitão focou mais em soltar a voz como um blueseiro, enquanto sua banda fazia um som que variava entre blues, rock e soul – como em Party of special things to do, Rock’n roll evil doll, Twist ah luck, Captain’s holiday, e em Same old blues, de J.J. Cale. Os fãs da antiga possivelmente ficaram assustados com o romantismo da balada de piano Further than we’ve gone (que lembra Demis Roussos), do prog de FM da faixa-título e da espacial Observatory crest – esta, a mais bela faixa do álbum.

O disco possivelmente assustou também por causa de um certo convencionalismo que ninguém esperaria do cara que gravou Trout mask replica. Muita coisa no disco lembra o desvio “espetaculoso” que a carreira de Bob Dylan sofreria no disco duplo ao vivo At budokan (1978), mas sem toda aquela grandiloquência. No fim das contas, as vendagens e a repercussão do álbum não foram lá essas coisas. Bluejeans & moonbeams, hoje, não está nem nas plataformas digitais.

Mas pelo menos naquele moment0, a história teve final feliz, já que o Capitão permaneceu em gravadoras como Sire e Warner até se recolher do mundo da música, no começo dos anos 1980. Até morrer, em 2010, o cidadão Don Van Vliet permaneceu um cara mais ligado às artes plásticas do que à música, mas seu legado musical foi celebrado por nomes como Frank Black, PJ Harvey e John Frusciante, entre muitos outros artistas.

Cultura Pop

No nosso podcast, Primal Scream do começo à fase de “Screamadelica”

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No nosso podcast, Primal Scream do começo à fase de "Screamadelica"

Dizem por aí que ninguém pode inventar um novo começo, mas sempre dá para inventar um novo fim. No caso de Bobby Gillespie, lá pelo começo dos anos 1980 o que ele mais queria era inventar um novo fim para a vida dele – um fim que o levasse para mais distante possível do subúrbio inóspito da Escócia onde ele havia sido criado. Movimentos como o punk, o glam e, posteriormente, a acid house, foram mudando a vida do vocalista de Bobby, que em 1982 montou o Primal Scream, uma das bandas mais instigantes da história do rock.

E hoje no Pop Fantasma Documento o assunto é a história do Primal Scream, lá do comecinho, até o sucesso com o psicodélico, hedonista e dançante Screamadelica (1992). Uma história de música, de excessos, de festas, shows vazios e lotados, e de luta no meio indie britânico. Ouça em alto volume.

Século 21 no podcast: The Big Day e Caco/Concha.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Crítica

Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”

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Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
  • How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
  • Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.

Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.

No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).

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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).

Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.

Nota: 7,5
Gravadora: BMG

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Crítica

Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”

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Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”
  • 10 remixes traz (como diz o próprio título) dez canções dos Paralamas do Sucesso remixadas. O trabalho foi orquestrado pelo DJ Marcelinho da Lua, que escolheu DJs de diferentes gerações. O trio e o empresário José Fortes também já tinham uma lista com alguns nomes.
  • “Tudo começou quando eu estava num show do Paul McCartney em 2013, quando prestei atenção nas inúmeras releituras de músicas dos Beatles feitas por DJs que tocavam antes do Paul subir ao palco. Fiquei pensando como seria legal se fizessem o mesmo com o repertório dos Paralamas”, contou João Barone, baterista da banda, em seu Instagram.

Lançar um álbum de remixes dos Paralamas do Sucesso é uma ideia tão boa que não dá pra entender como ninguém pensou nisso antes. Discos de remixes de um mesmo artista, aliás, costumam sair bem irregulares, além de cometerem verdadeiras atrocidades. Felizmente, 10 remixes saiu legal, e quase tudo pode ser dançado na pista e ouvido em casa sem (muitos) atropelos.

Em Lanterna dos afogados, Mahmundi deu um ar dançante e viajante à música, e inseriu sua voz como parte das novidades da canção – soou tão bem que ela deveria pensar em fazer outras visitas à obra da banda. Ska, com DJ Marky, virou um cruzamento de ska, reggae e drum’n bass. O beco ganhou remix conceitualmente correto (e bom) do Tropkillaz, em clima funk-reggae, com os vocais de Herbert Vianna filtrados e à frente. Selvagem, nas mãos de Daniel Ganjaman, virou reggae-dub.

No 10 remixes, vale também citar o samba-funk-reggae que surge de O amor não sabe esperar (com Paralamas e Marisa Monte), capitaneado por Pretinho da Serrinha e Bossacucanova. Além do synthpop simultaneamente experimental e cheio de balanço de Mulú em Aonde quer que eu vá, e do redesenho drum’n bossa de Marcelinho da Lua em Mensagem de amor.

Por outro lado, Lourinha bombril rendeu menos do que poderia ter rendido nas mãos do Àttooxxá. Ela disse adeus, com Papatinho, virou um batidão funk pequenininho (com pelo menos um minuto a menos que o original) e sem muitos atrativos. E não sei até que ponto a balada stoniana Saber amar tinha que ganhar um remix techno de botar fogo na pista, que foi para as mãos de Ké Fernandes (Groove Delight).

Nota: 8
Gravadora: Universal

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