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Cultura Pop

Relembrando: Aztec Camera, “Knife” (1984)

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Relembrando: Aztec Camera, "Knife" (1984)

A rede social que tem aparições mais recentes do músico escocês Roddy Frame, líder da banda-de-um-homem-só Aztec Camera, é o Twitter. No começo do ano, ele apareceu por lá para agradecer aos fãs que lhe enviaram mensagens de aniversário (completou 59 anos em 29 de janeiro). Existe uma conta oficial no Instagram que não é atualizada desde 2020. O site oficial continua no ar, mas não há mais datas de shows.

Já na busca do Google, a notícia mais recente envolvendo o nome de Frame saiu em março, e não tem nada a ver com música: o jornal britânico Daily Record descobriu que o pai de Fergus Owens, zagueiro do time Hamilton Accies, é nada menos que Campbell Owens, baixista mais duradouro do AC. Fergus diz que não vê seu pai como uma “celebridade”: “Meu pai estava em uma banda, e eu não sinto que eles estavam no grande momento – ele mesmo dirá isso – mas eles eram bastante famosos”, contou.

Por mais que o Aztec Camera tenha sido uma banda (vá lá) conhecida no meio do indie rock britânico, tudo que acontecia naquela época era mais ou menos eclipsado pelos Smiths, ou por qualquer outra banda de selos como Rough Trade e Factory que se destacasse mais. E como acontece com várias bandas daquele período (uma lista que inclui Durutti Column, Woodentops, Microdisney, Railway Children), ela ganhou um aspecto duradouro de “a minha banda”, aquele grupo que pode até não ter feito sucesso massivo, mas que traz lembranças de uma época legal.

O “grande momento” do grupo citado pelo filho de Campbell é relativo: a versão pra baixo do AC para Jump, do Van Halen, saiu num lado B de single, chamou a atenção justamente por não ter sido feita para ninguém sair dando pulos, e fez sucesso. O primeiro álbum, High land, hard rain (1983), chegou nos 200 mais da Billboard – na posição 129, mas chegou. Numa época em que o pop sofisticado pedia uniões de power pop, rock dos anos 1960, new wave e até toques de jazz e música brasileira, lá vinham Roddy e seus colegas inserindo balanço no novo rock inglês (no hit Walk out to winter), tentando emplacas baladas de violão anos 1950 nas paradas (The bugle sounds again) e unindo folk, country e new wave (The boy wonders).

Rolaram algumas mudanças até Knife (21 de setembro de 1984), o segundo disco, que surgiu mais comercial e mais focado. Roddy mudou-se para Nova Orleans (Estados Unidos), assinou com a Warner, passava os dias ouvindo o disco Infidels, de Bob Dylan, transformou o Aztec Camera finalmente num projeto particular e decidiu que Mark Knopfler (Dire Straits) produziria o disco.

Roddy Frame não apenas decidiu: ele passou a compor músicas que acreditaria que Mark gostaria de trabalhar. Foram saindo power pop latinescos como Still on fire, um jangle pop lindíssimo e cínico em relação aos Estados Unidos (Just like the USA), baladas nostálgicas (Head is happy – heart’s insane, Backdoor to heaven), um folk deprê lembrando Dylan e John Lennon (The birth of the true). E fechando, a faixa-título, um pop sofisticado e melancólico de quase dez minutos, com todos aqueles pós-progressivismos que ficaram famosos nesse tipo de som (ritmo lento, tom “climático”, discretas guitarras slide, o indefectível solo de baixo fretless).

Knopfler, segundo Roddy, era menos ligado a tecnologias digitais, e mais ligado a escolha de microfones e amplificadores. Foi o que garantiu uma sonoridade “diferente” e mais orgânica para o disco, ainda que houvesse muitos sintetizadores. Depois viriam um álbum repleto de programações e teclados, Love (1987), e o único disco de “pós-punk” de fato do Aztec Camera, Stray (1990), que incluía até um tentativa de soar como um primo pop dos Pixies (Get outta London). Roddy bem depois disso, passaria a usar seu próprio nome em álbuns lançados entre 1998 e 2014. Hoje, anda precisando mandar notícias.

Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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Crítica

Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

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Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”

A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.

O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).

O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.

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  • Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
  • Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators

Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.

Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.

Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records

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