Lançamentos
Radar: Cameron Winter, Suzanne Vega, Model/Actriz e outros sons novos

Outro dia perguntaram porque é que nós, do Pop Fantasma, não fazemos playlists. Olha, é uma boa ideia, viu? – e até que já fizemos algumas no passado. Mas cada textinho do Radar é uma playlist imaginária, com seis músicas novas (e volta e meia alguma canção recentemente recordada em relançamentos) que fez nossa cabeça e ocupou nossa mente e nossos ouvidos. A dessa terça tá aí. Faça você mesma/mesmo sua playlist e ouça com a gente.
Foto Cameron Winter: Reprodução Bandcamp
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CAMERON WINTER, “LSD”. O cantor da banda norte-americana Geese gosta de causar – e de bagunçar certezas. Heavy metal, seu primeiro álbum solo (2024) é uma perversão da estética do blues-rock e do country rock do começo dos anos 1970. Soa como se, em 1969, os Rolling Stones tivessem chamado Syd Barrett (ex-Pink Floyd) para assumir a guitarra deixada por Brian Jones – e não Mick Taylor. LSD, um out take do disco, sai agora, e é uma loucura melódica unindo emanações de Syd, Radiohead e Beach Boys.
SUZANNE VEGA, “ALLEY”. Não paramos de ter MUITA curiosidade em relação ao próximo álbum de Suzanne Vega, Flying with angels, que sai nesta sexta-feira (2) pelo selo Cooking Vinyl. Tudo indica que vem aí um mergulho ousado nas possibilidades do rock alternativo, dividido entre ruído e delicadeza. Alley, o novo single, é um pós-punk sombrio que faz lembrar Siouxsie & The Banshees mergulhados em trevas folk, ou um curioso encontro entre o The Damned de Black album (1980) e Rita Lee. Alguns apostaram em Mazzy Star como referência — e olha que faz sentido, hein?
MODEL/ACTRIZ, “DIVA”. O Model/Actriz está de volta: Pirouette, o próximo disco da banda de electropunk, chega nesta sexta-feira (2). Diva, novo single, nasceu de forma despreocupada — segundo o vocalista Cole Haden, bastou trocar a caneta por uma taça de vinho para tudo fluir. Inspirado em encontros casuais e romances efêmeros das turnês, a letra de Diva mistura diversão e melancolia: “Conheci um cara em Copenhague / Ele era gay, mas tinha uma namorada / Conheci um cara em Amsterdã / Fechei o bar e depois o beijei”, canta Haden. Para ele, a canção lembra aqueles momentos em que a frivolidade de uma noite dá lugar à saudade no amanhecer — quando dois estranhos percebem que talvez nunca mais se reencontrem.
A DEEPER HEAVEN, “HIGH”. Wild Nothing, DIIV, Beach Fossils e veteranos como New Order e Echo and The Bunnymen inspiram o som enevoado do A Deeper Heaven, projeto de Brighton, Inglaterra. Rock psicodélico e tranquilo, feito para soar suave até quando sobe o volume. High, faixa-título do novo EP, já entrega essa sensação de olhar direto para o sol, sem óculos escuros. Na sexta (2), às 15h, o clipe da faixa estreia no YouTube.
CASSETTES ON TAPE, “NIGHT DRIVE”. Sem lançar álbuns novos há quase uma década, o Cassettes On Tape, de Chicago, ainda guarda um fascínio indie college dos anos 1980-90. Night drive, seu novo single, é grave, distorcido, sombrio, e remete ao Movement do New Order. Baixo, guitarra e vocais em clima de tensão até a explosão do refrão, com riff de sintetizador e parede de guitarras. No Instagram, rede social a qual nem se dedicam muito (231 seguidores apenas!), limitaram-se a dizer: “há novas faixas a caminho” — e deixaram o mistério no ar.
JAMES, “TOMORROW”. Veteranos de Manchester, o James prepara para novembro o filme-disco Live at the Acropolis, gravado em Atenas em julho de 2023. Um passeio pelos hits mágicos dessa banda que, no Brasil, já foi chamada nas rádios de “os novos Smiths” (ironicamente, surgiram antes). Um desses clássicos é Tomorrow, do álbum Whiplash (1997), cujo clipe chegou a passar na MTV Brasil e agora retorna remasterizado ao YouTube da banda. Vale ver de novo — como se fosse lançamento.
Crítica
Ouvimos: Preoccupations – “Ill at ease”

RESENHA: Preoccupations lança Ill at ease, seu melhor disco: pós-punk denso, melódico e sombrio, com ecos de R.E.M., Smiths e Interpol.
Existe algo bem forte no som da banda canadense Preoccupations (ex-Viet Cong – a alcunha mudou porque a banda começou a ter shows cancelados devido ao nome considerado ofensivo) que lembra uma mescla de Interpol, R.E.M. e Smiths. O tal “algo” inclui: vocais fortes, letras apocalípticas, climas pesados, mas tudo amaciado com vibes bem melódicas.
Ill at ease (algo como “constrangido”, “pouco à vontade”) leva essa receita ao máximo e é o melhor disco de Matt Flegel (baixo, vocais), Mike Wallace (bateria), Scott “Monty” Munro (guitarra, sintetizador) e Daniel Christiansen (guitarra) até o momento. Musicalmente é o retrato da transformação do pós-punk em, mais que um estilo musical, uma senha de compreensão musical, e uma chave de leitura para clima estranhos.
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É o que rola em Focus, uma canção sobre mal do século e culpa (“o diagnóstico é / estou fazendo o meu melhor / para esquecer tudo o que sei / mas não consigo me livrar da vergonha dos erros que cometi / deve ter acontecido aqui há mil anos’). E no pós-punk eletrônico de Bastards, uma canção que põe a nu a pose daquele ser humano que só pensa em grana e fama, mas com metáforas de fim de mundo: “talvez, quando você sentir tudo desmoronando / não há mais nada aqui para aproveitar / acho que estamos prontos para o asteroide”.
O disco aponta também para uma união entre a crueza do punk e o som dos já citados R.E.M. e Smiths (Andromeda), sons que lembram David Bowie (a faixa-título e Retrograde – essa última na onda da fase Berlim) e pós-punk robótico na cola de Can e New Order, simultaneamente (Panic). Sken tem experimentações rítmicas a rodo no começo, a ponto de confundir a/o ouvinte, e, finalizando, Krem2 é um blues pós-punk gótico e sombrio. Enfim, Ill at ease traduz inquietações com arranjos emocionantes, atmosferas densas e um senso constante de tensão.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Born Losers Records
Lançamento: 9 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Men I Trust – “Equus asinus”

RESENHA: Men I Trust lança Equus asinus, disco nostálgico e etéreo com folk desolado, pop barroco, emanações da música francesa, e clima de trilha soft porn das antigas.
Demoramos para resenhar o disco do Men I Trust, Equus asinus, lançado em março, e acabou que a banda canadense já cumpriu o que havia prometido e soltou nas plataformas Equus caballus, novo álbum e “outra face” do disco anterior.
São de fato dois discos com astrais bem diferentes um do outro – Caballus fica para uma próxima resenha, mas Asinus investe fortemente numa nostalgia ligada ao pop barroco, à música francesa e… aos temas de antigos filmes soft porn. Pois é: faixas como Girl, Bethelehem e The landkeeper caberiam bem em algum filme da franquia Emmanuelle, ou em alguma produção liberalzaça rodada numa praia deserta.
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Também é um disco marcado por estruturas musicais ligadas ao folk desolado, como em Unlike anything (“quando minha mão se for, você será o mesmo / você é diferente de tudo que eu conheço / você ainda é aquele que não pode ser domado”), I don’t like music, Frost bite, a celestial Burrow. Moon 2 é uma balada jazzística, psicodélica, derretida, que soa como uma viagem bem estranha – e é seguida por um instrumental de piano, What matters most.
Na real, o que o Men I Trust fez foi dividir seu som em dois lados diferentes, e colocar cada lado em cada disco – e a face tranquila e enevoada surge em Equus asinus. É uma opção que acaba cobrando algumas coisas do grupo: mesmo que Asinus tenha algumas músicas excelentes, o cansaço acaba vencendo várias vezes, e fica a impressão de um disco bem maior do que seus quase 45 minutos.
A curiosidade fica por conta da capa, que mostra uma foto num clima nada sexy: um casal no quarto, o homem passando roupa, a mulher de costas. Pode ser uma autozoação, mas fica na memória o que alguém disse do disco no site Album Of The Year: “Desculpe, mas a ironia não pode salvar esta capa”. E é verdade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Independente
Lançamento: 19 de março de 2025
Crítica
Ouvimos: Scar – “Lado A: O óbvio ululante” (EP)

RESENHA: Scar, de Nilópolis, lança Lado A: O óbvio ululante: synthpop com pegada 80s, vaporwave e referências de videogame, pagode e Turma da Monica.
Synthpop de Nilópolis (cidade da Baixada Fluminense, Rio), feito por uma banda-de-uma-mulher-só, com referências que vão de trilhas de videogames dos anos 1990 a histórias da Turma da Monica. O Scar, comandado pela musicista Isis Cardoso, vai além disso, apresentando no EP Lado A: O óbvio ululante quatro faixas que falam sobre amores, distâncias, batalhas diárias, transporte público, e uma noção de synthpop que passa principalmente pelo pop adulto dos anos 1980 e pelo retrofuturismo.
Shinji, a faixa de abertura, fala sobre o dia a dia de alguém que trabalha o dia inteiro (em telemarketing, como sugerem o início e fim da faixa), em meio a uma trama de programações, vocais e synths que remete tanto a Yellow Magic Orchestra quanto a grupos de pagode, tudo funcionando como se tivesse sido gravado no quarto. Maktub invade as áreas da Orchestral Manoeuvres In The Dark, do Ultravox e de Marina Lima, unindo observações do urbano e do existencial (“já estive tanto no lugar errado / já estive tanto no mesmo lugar”).
Na segunda metade do EP, Coisas tem batida seca e pós-punk, que evolui para algo sintetizado, ensolarado e tropicalizado, com pandeiro e percussão no fim. Tamagochi, aberta pelos incríveis versos “semana passada você passou com seu Chevette / com seus óculos escuros / com o seu walkman / e disse pra ouvir a fita que você gravou” une synthpop, pagode e clima vaporwave, como se desse início a um sonho em que várias perspectivas de futuro se confundem.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Quarto Escuro Sounds
Lançamento: 3 de maio de 2025
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